Foto – Cartaz do
filme “Animais Fantásticos”.
Dando sequência à primeira parte do artigo Animais
Fantásticos e Sailor Moon, publicado na sequência do spin-off da série de
livros Harry Potter e na onda da pequena censura chinesa ao filme, trago aqui a
segunda parte. Mais uma vez, falando sobre os dias em que os Estados Unidos, os
mesmos Estados Unidos que hoje despontam na produção de conteúdo LGBT em
desenhos destinados ao público infanto-juvenil, censuravam esse mesmo tipo de
programa vindo de fora, em especial do Japão. Agora falando sobre o caso de
Sakura Card Captors.
Foto – Pôster de Sakura Card Captors.
Tal qual
Sailor Moon, Guerreiras Mágicas de Reyarth, Corrector Yui e outras obras
famosas aqui no Brasil, Sakura Card Captors pertence ao gênero garota mágica
(em japonês mahō šodžo). Conta sobre as aventuras da jovem garota de 10 anos
Sakura Kinomoto. Órfã de mãe, Sakura vive junto com seu pai e seu irmão na
cidade fictícia de Tomoeda, e sua vida vira de cabeça para baixo quando ela,
acidentalmente, abre um livro misterioso chamado Livro Clow.
Desse livro
saem 52 cartas mágicas que pela força de uma tempestade vento causada pela
magia da carta Vento, as quais são levadas e espalhadas por toda a cidade de
Tomoeda. A partir desse momento, com a ajuda do guardião das cartas Kerberos
(um ser similar a um animal de pelúcia bem pequeno), Sakura tornou-se a
encarregada de captura-las novamente.
As aventuras
de Sakura Kinomoto foram originalmente publicadas em 1996, nas páginas da
revista de publicação mensal Nakayoši, a mesma revista que publicou outras
obras do gênero garota mágica como Sailor Moon, Guerreiras Mágicas de Reyarth, Tokyo
Mew Mew (Super Gatinhas no Brasil) e outras tantas. A publicação durou até
2000, e 50 capítulos divididos em 12 edições foram publicadas no total. Uma
nova sequência, “Clear Card Hen”, foi lançada em 2016, também pelas páginas da
Nakayoši.
O estúdio
responsável pela publicação foi o Clamp (o mesmo estúdio que publicou obras
conhecidas no Brasil tais como Guerreiras Mágicas de Reyarth, xxx Holic,
Angelic Layer, Chobits, Tokyo Babylon, RG Veda e outras), um estúdio formado
nos anos 1980 atualmente composto por quatro integrantes femininas.
Foto – As quatro integrantes do estúdio Clamp. Anime Expo 2006.
Em 1998, a
obra do Clamp ganhou uma versão animada por parte do estúdio Madhouse. 70
episódios, veiculados pela emissora NHK entre 7 de abril de 1998 e 21 de março
de 2000, foram produzidos ao todo, mais dois filmes e quatro OVAs. Como o anime
foi produzido quando o mangá ainda estava em produção, algumas sequências
inexistentes nos quadrinhos, os chamados fillers (não raro malvistos por parte
do fandom de obras advindas de algum mangá), foram criados na versão animada de
forma a evitar que esta alcançasse a história do mangá. Cartas adicionais foram
criadas exclusivamente para a versão animada (no mangá são 19, ao passo que no
anime são 52), assim como a personagem Li Meiling, a prima de Šoran.
Como não
poderia deixar de ser, em decorrência do grande sucesso em seu país natal, Sakura
Card Captors deu o ar de sua graça no Ocidente. E a empresa encarregada de
trazer a obra do Clamp aos Estados Unidos foi a canadense Nelvana (empresa
famosa pela produção de desenhos como As aventuras de Babar, Inspetor
Bugiganga, O Pequeno Urso, Ursinhos Carinhosos, as aventuras de Tintin e
Backyardigans, entre outros. Adquirida em 2000 pela Corus Entertainment).
Com vistas a
adequar a obra do CLAMP ao público masculino, a Nelvana adaptou toda a série,
fazendo alterações na cronologia, enredo, trilha sonora e resumindo-a a 39
episódios, além de rebatizá-la como Cardcaptors e colocando o Šoran como
protagonista, ao passo que a Sakura foi transformada em coadjuvante.
Foto – Sakura e Tomoyo.
Uma das
principais censuras às quais o anime foi submetido é relacionada à melhor amiga
de Sakura (rebatizada de Sakura Avalon na versão americana), Tomoyo Daidōdži
(rebatizada de Madison Taylor).
Tomoyo é a
melhor amiga de Sakura, e pelas entrelinhas percebe-se que a primeira tem uma
queda pela segunda. Filha de uma mãe empresária muito rica, Sonomi Daidōdži,
Tomoyo faz de tudo para agradar Sakura. E não só isso: Tomoyo, que ficou muito
feliz ao saber do fato de que a amiga se tornou Card Captor, passou a
acompanha-la nas missões, a provê-la com roupas especiais para as missões e até
a filmá-la.
Na dublagem
americana, a queda de Tomoyo por Sakura é removida e todo diálogo aludindo aos
sentimentos dela pela amiga foram editados de forma a soarem como nada mais que
um sentimento platônico.
Foto – Touya (direita), Sakura (meio) e Yukito (esquerda).
Como já ditto
antes, Sakura tem um irmão mais velho chamado Touya. Gentil, atlético e bem
sucedido entre as mulheres a ponto de ter muitas delas sob seus pés. Durante
certo tempo, namorou uma das professoras do colégio, Kaho Mizuki.
Seu melhor
amigo é Yukito Tsukiširo (Julian Star na dublagem americana). O mesmo Yukito ao
qual Sakura demonstra ter uma queda no começo da obra. Pois bem, Touya e Yukito
possuem sentimentos não ditos um ao outro, a ponto de o primeiro sacrificar seu
poder sobrenatural para salvar a vida do segundo.
Essa relação
entre o irmão e o melhor amigo do irmão de Sakura é riscada por completo da
dublagem americana e os dois são apresentados como amigos bem próximos.
Foto – Šoran e Yukito.
Outro objeto de censura por parte da versão americana de
Sakura Card Captors envolvendo a relação entre Yukito e Li Šoran. Em um primeiro
momento, tanto Šoran quanto Sakura sentem atração por Yukito, o melhor amigo do
irmão de Sakura. O primeiro costuma fugir ou ficar envergonhado na presença de
Yukito, ao passo que a segunda fica toda animada ao vê-lo (a ponto de na
dublagem brasileira dizer “ai, ai, ai Yukito!”). No fim da história, os dois
Card Captors ficam juntos, e a dublagem americana também tratou de remover tal
triângulo amoroso.
Foto – Sonomi e Nadešiko, as mães de Tomoyo e Sakura.
Falemos agora a respeito de Sonomi Daidōdži, a mãe de Tomoyo
e dona da Companhia Daidōdži (uma grande companhia de brinquedos), e a finada
mãe de Sakura e Touya, Nadešiko, que faleceu quando a protagonista tinha três
anos. Sonomi e Nadešiko são primas de primeiro grau, e aqui cabe um parênteses:
no Japão um relacionamento entre primos de primeiro grau não são considerados
errados e primos até podem se casar legalmente.
Na obra, a mãe de Tomoyo adora a sobrinha, tratando-a como
se fosse a própria filha dela. Posteriormente, revela-se que a senhora Daidōdži
amou a mãe de Sakura desde o jardim de infância. A tal ponto que Sonomi passou
a odiar Fudžitaka Kinomoto, o pai de Sakura e Touya, depois que a prima o
trocou por ele e a culpa-lo pela morte dela. A versão americana, de forma a
evitar confusão, omitiu isso e as apresentou como amigas ao invés de primas.
Foto – Rika (esquerda) e Professor Terada (direita).
Além das
censuras acima citadas, também houve outras censuras, incluindo a omissão do
fato de que os pais de Sakura se casaram quando a mãe tinha 16 de anos e o pai
25 (segundo as alterações feitas pela dublagem americana, Nadešiko apenas se
apaixonou por Fudžitaka aos 16 e só depois disso os dois se casaram) e a
eliminação de referências de qualquer teor romântico na relação entre a aluna
Rika, de 10 anos, e o professor Terada, 20 anos mais velho (no lugar, a reação
de Rika é apresentada como sendo uma timidez em relação ao professor e à
autoridade dele).
No Brasil,
Sakura Card Captors foi um dos muitos animes que vieram na trilha do sucesso de
Pokémon e Dragon Ball Z no fim dos anos 1990. E, diga-se de passagem, foi a
segunda obra do Clamp a vir para cá, visto que em 1996 o SBT para cá trouxe
Guerreiras Mágicas de Reyarth (que à época veio junto do primeiro Dragon Ball,
de Street Fighter II Victory e de Fly).
Sakura Card
Captors recebeu dublagem por parte do tradicional estúdio paulista BKS, sob a
direção de Denise Simonetto na primeira temporada e de Patrícia Scalvi na
segunda e terceira temporadas. A voz da protagonista, por seu turno, ficou a
cargo de Daniela Piquet (que na mesma época dublou a Serena em Sailor Moon e a
Misao em Samurai X e mais tarde veio a dublar a Demi Lovato em produções como
Camp Rock e Sunny entre Estrelas).
A emissora
responsável por trazer as aventuras de Sakura ao Brasil foi o Cartoon Network pelas
mãos da distribuidora Cloverway (responsável pela distribuição do anime por
toda a América Latina) e da empresa Imagine Action DáLicença, do empresário Luiz
Angelotti, que antes distribuiu para cá Dragon Ball Z, Digimon e outros. Por
isso que muitas dessas alterações vistas nos EUA não vieram ao Brasil, como a
do título e do protagonista do desenho. Entretanto, as alterações relacionadas
às relações românticas não convencionais essas sim foram omitidas da versão
brasileira. Estreou em 1º de novembro de 2000, junto com Sailor Moon R.
O mangá, por
seu turno, veio em maio de 2001 junto com Samurai X, no formato meio-tankobon,
com 24 edições semanais sendo publicadas ao todo, sendo os primeiros títulos
lançados pela editora JBC. Na TV aberta, foi veiculado pela Rede Globo em 2001
e em 2006 passou a ser exibido pelo canal Boomerang, depois que este fez uma
radical reformulação de sua grade. Mais recentemente, ganhou uma exibição pela
Loading TV em 2020.
O mangá, por
seu turno, ganhou uma nova edição em 2012 com páginas coloridas e em 12
edições, no formato tankobon. Outros produtos licenciados também foram lançados
no Brasil, incluindo álbum de figurinhas, revistas de passatempo e até mesmo
uma revista especial por parte da editora Conrad que rendeu nove edições.
Fontes:
Card Captor Sakura. Disponível em: Cardcaptor
Sakura – JBox
Card Captor Sakura; Tudo sobre CARD CAPTORS, o anime
retalhado pelos EUA. Disponível em: Card
Captor Sakura: Tudo sobre CARD CAPTORS, o anime retalhado pelos EUA | Midori
Hoshi (wordpress.com)
10 coisas que você precisa saber sobre Sakura Card Captors.
Disponível em: 10
Coisas que você precisa saber sobre Sakura Card Captors! (legiaodosherois.com.br)
15 ways
CardCaptor Sakura had to be censored in America (em inglês).Disponível em: Ways Cardcaptor Sakura Had To Be
Censored in America | ScreenRant
7 animes censurados no Ocidente! Disponível em: 7
animes censurados no ocidente (omelete.com.br)
O que há de errado com Card Captor Sakura? Ou... porque o
Yošiyuki Terada deveria ser preso? Disponível em: O
Doutor Nerd: O QUE HÁ DE ERRADO COM CARDCAPTOR SAKURA? OU... POR QUE O YOSHIYUKI
TERADA DEVERIA SER PRESO? (doutornerds.blogspot.com)
Top 8: Animes Clássicos polêmicos! Disponível em: Top 8: Animes
Clássicos Polêmicos! | Coxinha Nerd
Nenhum comentário:
Postar um comentário