sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A língua portuguesa é machista? (texto tirado do Facebook com comentários meus).

 

Como esta página trata de nomes, finalmente, tomei fôlego para opinar sobre a tal da “gramática inclusiva” que tenho visto nas universidades e em alguns grupos ativistas.

Alegando que a língua portuguesa seria machista, muitos têm empregado palavras que seriam “neutras”: usam outro grafema no lugar da vogal (amig@s, alunes, diretor_s, professorxs), os dois gêneros em todas as frases (os caros seguidores e as caras seguidoras talvez se sintam cansadas e cansados de ler coisas assim) ou apresentam as duas vogais (as/os prezadas/os amigas/os já devem ter lido algo assim).

O grande problema dessa percepção machista da gramática portuguesa é confundir gênero gramatical com gênero/sexo biológico (ou identitário). O gênero gramatical não reflete necessariamente o sexo da pessoa. Caso contrário, teríamos que fazer uma revisão profunda em palavras como ‘a criança, a vítima, a testemunha, a pessoa’, nas quais os masculinos não estariam contemplados. O poeta, o canalha, o déspota, o motorista seriam menos homens porque a palavra termina com <a>?

Isso é uma característica que herdamos do latim. No latim, há os gêneros masculino, feminino e neutro. O neutro serve para coisas, grupos de homens e mulheres (ou machos e fêmeas) e grupos onde o sexo não é relevante. Com a evolução do latim para o português, apenas por uma questão de similaridade de pronúncia, o gênero neutro se mesclou ao masculino. Por exemplo, ‘amicus’ (masc.) e ‘amicum’ (neutro) viraram amigo em português; ‘amica’ ficou amiga.

Então, a palavra masculina não se refere só a homem.

Se alguém disser “não tenho amigo algum”, entendo que ela não tem amizade com nenhuma pessoa. Se quiser salientar que não tem amigos do sexo masculino, terá que dizer “eu não tenho amigo homem”. Isso é porque amigo, naquele contexto, não denota sexo (é neutro).

Já o feminino, é um gênero muito particular, bem marcado. As mulheres têm um gênero gramatical que as identifica como grupo. Em “as professoras” não há dúvidas da composição, 100% feminina. Se a Língua Portuguesa fosse machista, os homens teriam um gênero que os representasse como grupo, só deles.

Depois de procurarem cabelo em ovo, os acusadores da gramática machista apresentam “soluções” que não são práticas. Vejamos...

Apresentar os dois gêneros deixa qualquer texto cansativo. Já li artigos que empregam o tempo todo “professoras e professores”, “alunas e alunos”, “todos e todas” e confesso que essa inclusão dos gêneros em prol de uma pretendida igualdade gramatical tornou a leitura pesada e bem menos convidativa. Usar “os/as jogadores/as” tiram também a fluidez da lida.

Normalmente, quem adota <x>, <@> e similares para não marcar o gênero, negligencia deliberadamente mais outros aspectos práticos. Esses grafemas tornam as palavras impronunciáveis, gerando desconforto à leitura e, principalmente, à pronúncia. Como se lê “alunxs”?

Além disso, o que se chama de “gramática inclusiva” acaba contraditoriamente excluindo outros grupos (!). Palavras com <x> e <@> não ajudam disléxicos, estrangeiros, cegos que usam aplicativos de leitura, pessoas com todo tipo de problema de visão, alunos em fase inicial de alfabetização, pessoas com dificuldade cognitiva de leitura, e outras mais.

Por esses e outros motivos, uso de <@>, <x> e similares tem criado uma aversão em parte da população. Muitas pessoas deixam de aderir a campanhas e movimentos importantes só por causa disso. Já ouvi estudantes dizerem que não participam “dessas coisas de calourxs” por causa da escrita. Então, acho que se essa prática afasta em vez de agregar, não vale a pena.

Eu coaduno com o movimento pela igualdade entre os gêneros, mas acho que levá-lo para o campo gramatical, acusando a existência de uma “gramática machista”, é algo desnecessário e que não agrega à causa. Nesses casos, perdem-se tempo e foco em questões gramaticais em detrimento aos de ordem prática, que é o que realmente interessa.

Fonte: Postagem da página Facebook “Nomes Científicos”, 05/08/2019.

Meus comentários:

Hoje começam a falar em uma gramática neutra, que visa, supostamente, uma maior inclusão das assim chamadas pessoas de sexualidade não-binária. Um até propõe a criação do sistema “ile” de pronomes. Que m* será que certas pessoas têm na cabeça para pensar numa coisa dessas? Essa gente não raro me passa a impressão de que eles falam como se fossem o Mussum. Que por sua vez perto dessa gente parece um professor de português e dos bons. Na prática, o que se vê é a língua portuguesa sendo submetida a uma verdadeira tábula rasa e sendo mutilada de forma similar a que uma boa parte dessas mesmas pessoas que propõem gramática neutra foram quando se submeteram à cirurgia de "mudança" de sexo.

Primeiro de tudo, alguns detalhes gramaticais: como dito acima, gênero gramatical e gênero biológico não são a mesma coisa. E sabiam que a nossa língua possui alguns pronomes neutros? A língua portuguesa faz parte do ramo neolatino da família linguística indo-europeia, junto com o espanhol, o francês, o italiano, o romeno e outras línguas menores. E no latim, assim como em idiomas como o russo (diga-se de passagem, no russo existem palavras diferentes para o gênero gramatical e o gênero biológico – a palavra para o primeiro é rod/род, enquanto que a para o segundo é pol/пол), o polonês e o alemão, há o gênero neutro (chamado de gênero médio no russo, ou srednij rod/средний род). Por algum motivo, dentro da língua portuguesa, tal gênero foi com o tempo sendo absorvido pelo gênero masculino, mas alguns resquícios dele sobraram, como é o caso dos pronomes demonstrativos isso, isto e aquilo e as declinações dos mesmos: disso, disto e daquilo (caso genitivo), nisso, nisto e naquilo (caso preposicional) e àquilo (caso dativo). Resquícios de gênero neutro também podem ser encontrados, por exemplo, no inglês por meio do pronome pessoal it e no espanhol por meio dos pronomes demonstrativos eso, esto e aquello. Tendo em vista tal fato, para que ficar criando novos pronomes neutros? Para que ficar inventando moda? Não acham melhor usar os pronomes neutros que já existem em nossa língua? E mais: se acham que vão acabar com o preconceito desfigurando e mutilando a língua portuguesa, eles estão muito enganados. Só irão jogar ainda mais lenha na fogueira. E é por causa de pessoas que falam em tais porcarias que existem pessoas como Bolsonaro, Crivella, Feliciano, Malafaia, Damares e outros dessa estirpe.

E segundo: essa história de linguagem neutra não surgiu do nada. Tem toda uma série de precedentes cujas raízes profundas remontam ao politicamente correto dos últimos 30 anos e todos os “não me toque” decorrentes disso. A partir dai o politicamente correto criou seu próprio projeto de novilíngua limpinha e cheirosinha bem ao estilo 1984, sobre a qual o professor José Paulo Netto fala em palestra de 2012, na qual, entre tantas outras coisas, favela não pode mais ser chamada enquanto tal, agora é tudo comunidade. Negro agora é afrodescendente, índio agora é povo originário, entre outros tantos exemplos. Tipo de linguagem esse que a Professora Lilia Schwarcz, recentemente cancelada nas redes sociais por causa da crítica feita ao novo clipe da Beyoncé, é apologista sob o pretexto de combater o racismo. Segundo as palavras do próprio José Paulo Netto, isso é uma hipocrisia pequeno burguesa que não muda nada na realidade concreta das pessoas e/ou dos lugares em questão. A periferia carioca continua sendo um local miserável, sem água, sem esgoto, cujos habitantes levam uma vida bem precária debaixo do tacão da polícia e da milícia. Os ditos povos originários continuam tendo suas terras invadidas por grileiros, garimpeiros e madeireiros e mortos por jagunços de grandes fazendeiros. E por ai vai. E parafraseando o que foi dito pelo professor mineiro na palestra em questão, não contem conosco para o politicamente correto.

E uma indagação: o terraplanismo, que é advogado por muitos partidários do presidente Bolsonaro, é comumente tido, e com razão, como uma teoria anticientífica. Mas e a ideologia de gênero, que advoga milhares de gênero, gêneros fluídos, a existência de pessoas de gênero não-binário e que para a pessoa o que importa não é o que ela é, mas o que ela acha que é (ou seja, a fantasia subjetiva dela – assim, se fulano de tal acha que é um transformer, então ele é um transformer. E ai de quem disser um piu contrário a isso, que será na hora cancelado), porque que não é vista da mesma maneira? E sendo que eles vivem dando tapas na cara da ciência o tempo todo e não são enquadrados enquanto tais? Por que como disse em artigo anterior, a ideologia de gênero nada mais é que o terraplanismo da esquerda identitária. Eles se queixam dos terraplanistas e a crença deles no formato plano da Terra, sendo que nesse ponto eles não ficam nem pouco atrás deles. É por não tratar essa gente como Napoleões de hospício que esse tipo de coisa acontece.

Um comentário:

  1. Palavras como "criança", "cônjuge", "vítima", "testemunha" e "indivíduo" são substantivos sobrecomuns, por isso não se escrevem em masculino ou feminino, mas sempre com o artigo que lhe faz concordância. Palavras como "motorista", "atendente", "cliente", "hóspede", "visitante" e outras similares são substantivos comuns de dois, pois quando pronunciadas no masculino ou feminino, sua pronúncia e grafia não mudam, apenas o artigo que as inicia. Essa esquerda lacradora já passou de todos os limites do ridículo!

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