sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Filho de Bolsonaro quis repetir no Brasil a descomunização ucraniana (notícia traduzida do russo).

O Deputado do Congresso Nacional do Brasil Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente da nação Jair Bolsonaro, propôs proibir o uso de simbologia comunista e nazista.

Ele apresentou ao Parlamento um projeto de lei correspondente. Propõe-se a proibir “a fabricação, comercialização, difusão e demonstração” de coisas com “a imagem da foice e do martelo, da estrela de cinco pontas ou da suástica” com o fim de “propaganda do comunismo e do nazismo”.

Pela violação da proibição se propõe a punir com a pena de prisão o prazo penitenciário de nove a 15 anos, relata a TASS.

Eduardo Bolsonaro também apela para renomear “ruas, linhas, praças, pontes, edifícios e estabelecimentos sociais”, nomes dos quais são associados ao comunismo ou ao nazismo.

O filho do Presidente do Brasil confessou que a ele “inspirou a lei ucraniana”. Ele não esconde que almeja proibir principalmente os símbolos comunistas.

Além disso, o Deputado na verdade equipara os crimes do Holocausto à fome massiva na União Soviética no começo dos anos 1930, que implicou em numerosas vítimas nos territórios da Ucrânia, Bielorrússia, Cáucaso setentrional, região do Volga, Ural meridional, Sibéria Ocidental e Cazaquistão. Ele também atribui à liderança da União Soviética responsabilidade pelo atraso das operações militares na Europa no fim da Segunda Guerra Mundial com o objetivo da formação de um bloco de nações socialistas e a criação da “cortina de ferro”.

Eduardo Bolsonaro é o líder do Comitê da Câmara dos Deputados para Relações Internacionais e Defesa Nacional. Ele segue visões ultradireitistas.

Kiev de todas as formas enfatiza a “oposição” da Ucrânia contra a União Soviética, esquecendo sobre os territórios recebidos da União Soviética, sem os quais não poderia existir a Ucrânia moderna.

Nos quadros da descomunização na Ucrânia houve renomeações de milhares de objetos geográficos e outros, e milhares de monumentos derrubados (1300 deles eram monumentos a Vladimir Lenin).

Meus comentários:

Foto – O tweet de 03 sobre o Projeto de lei 4425/20.

Impressionante notar que tal notícia não tem sido veiculada de forma massiva na imprensa brasileira, enquanto que na imprensa russa houve repercussão e da qual tomei conhecimento por meio do Cristiano Alves, dono do blog A Página Vermelha e do canal do You Tube Vozcom, um dos poucos que estão dando a devida atenção a essa notícia que nós aqui estamos reproduzindo. Na Internet brasileira vi essa notícia sendo divulgada em sites como o TV247, a revista Fórum e o blog da Cidadania do lado da esquerda, e do lado da direita sites e blogs como o República de Curitiba, assim como em sites em francês, italiano, espanhol, inglês e russo. Aposto que se o 03 resolvesse criar uma lei que proíbe o uso da bandeira arco-íris a esquerda brasileira estaria em polvorosa. Diria que era um ataque à democracia e aos direitos humanos fundamentais de determinados grupos minoritários. Pelo visto não foi à toa que Diego Fusaro disse em entrevista do ano passado que as esquerdas atuais deixaram de ser vermelhas para serem cor de rosa e trocaram a foice e o martelo pelo arco-íris.

Primeiro de tudo, é interessante notar que o 03 quer usar da força de um projeto de lei, o projeto de lei 4425/20, para criminalizar o comunismo e o nazismo sob o pretexto de que ambas as ideologias mataram milhões de pessoas no século passado.  Para justificar seu posicionamento, 03 diz que essa medida é para impedir futuros genocídios e chegou ao ponto de postar no Twitter dele duas imagens, uma do Holodomor e outra do Holocausto nazista. E detalhe: a foto atribuída como sendo do Holodomor na verdade é uma foto da fome ocorrida em Madras, na Índia britânica, entre 1876 a 1878.

Foto – O tweet em questão de 03, no qual atribui ao Holodomor uma foto da fome de Madras, ocorrida entre 1876 a 1878.

Mas e o sionismo do qual ele, seu pai e seus irmãos são partidários, como esse fica na equação (há fotos de 02 e 03 em Israel com camisa do Mossad e da IDF)? O sionismo que antes de 1948 colaborou ativamente com os antissemitas tanto da Rússia tzarista (vide encontro de Theodor Herzl com Plehve em São Petersburgo, então capital russa) quanto do caso Dreyfus e da Alemanha nazista (vide acordo Ha’avara, que em grande medida ajudou a viabilizar economicamente a existência de Israel), grupos sionistas de guerrilha como o Irgun, o Haganah e o Lehi (nos quais participaram muitas figuras que depois se notabilizaram na vida política israelense, entre eles Itzhak Šamir, Menachem Begin, Itzhak Rabin e Levi Eškol – e o curioso é que Bolsonaro e os filhos dele muito encheram a boca para falar do passado de Dilma e outros petistas e nunca soltaram um piu sobre o passado guerrilheiro das primeiras lideranças de Israel) promoveram vários atentados e assassinatos antes da fundação de Israel (como o do hotel Rei David em 1946 e o assassinato do conde sueco Folke Bernadotte em 1948). Isso para não falar do que vem fazendo na Palestina desde 1948. Ou seja, criminalizemos apenas quem convém a nós.

Foto – Carlos Bolsonaro com camisa do Mossad e Eduardo Bolsonaro com camisa da IDF em Israel. Foto de 2016.

A propósito, há uma foto de 2016 na qual 02 e 03 desfilam pelas ruas de Jerusalém em que o primeiro veste uma camisa do Mossad e o segundo uma camisa da IDF de Israel. A mesma IDF que cometeu crimes de guerra em ações militares na Faixa de Gaza em 2008/2009 e 2014. Além disso, há fotos do mesmo 03 trajando uma camiseta homenageando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais torturadores da ditadura civil-militar brasileira. O mesmo Ustra que, segundo as palavras de Bozo pai durante a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, era o pavor de Dilma Rousseff. Que moral será que o 03 pensa que tem para propor uma lei dessas? Nenhuma.

Foto – Eduardo Bolsonaro com camisa homenageando Carlos Alberto Brilhante Ustra, finado em 2015.

Assim vemos como as peças todas se encaixam. O elo Bolsonaro-Ucrânia fica cada vez mais evidente. Em meio à pandemia da Covid-19, vimos manifestações nas ruas a favor do Presidente miliciano na qual apareceram bandeiras do Pravyj Sektor, um dos grupos paramilitares de Extrema Direita que desempenharam papel decisivo no golpe de Estado do Euromaidan na Ucrânia há seis anos. Por causa de pessoas dessa estirpe que o povo da Crimeia quis voltar a ser parte da Rússia e os russos étnicos da Ucrânia oriental proclamaram as Repúblicas de Donetsk e Lugansk. E sem esquecer as mensagens no Twitter nas quais a Sara Winter disse que era preciso “ucranizar” o Brasil.

Foto – A bandeira rubro-negra do Setor de Direita em manifestação pró-Bolsonaro. São Paulo, 2020.

A presença da bandeira do Setor de Direita (segundo matéria do blog da Cidadania de junho foi trazida pelo instrutor de segurança Alex Silva (residente na Ucrânia desde 2014 e que veio ao Brasil para abrir uma filial de academia de tiro e táticas militares) em manifestações bolsonaristas não passou despercebida. Veículos de comunicação como a Revista Veja e o blog da Cidadania reportaram tal ocorrido na ocasião. E em resposta à Veja o embaixador da Ucrânia no Brasil, Rostyslav Tronenko, publicou uma nota na qual afirma que tais símbolos não tem nenhuma relação com neonazismo, que a bandeira rubro-negra simboliza a terra ucraniana e que seu uso remonta ao século XVI por cossacos e que o tridente é o brasão oficial do Estado ucraniano desde os tempos de São Vladimir de Kiev (isso sendo que o estado ucraniano moderno é uma construção do século XX). Para respondê-lo, usemos o jacaré do bom e velho Brizola. A bandeira em questão usa as cores da do Setor de Direita (que por sua vez também são as mesmas usadas pela colaboracionista OUN-UPA na Segunda Guerra Mundial), usa essas cores em conjunto com o tridente ucraniano na mesma estética do Setor de Direita e estava no meio de uma manifestação em favor de um político de extrema direita. Como essa bandeira não é a do Setor de Direita, e como ela, dado o contexto em questão, não está vinculada a movimentos e políticos de extrema direita? Ainda mais quando vemos que o terceiro filho desse mesmo político em questão quer introduzir no Brasil uma lei que criminaliza o nazismo e o comunismo baseada na lei existente na Ucrânia?

E, diga-se de passagem, mais uma vez o governo Bolsonaro destila sua macaquice, já que se trata de uma lei que existe em países da Europa oriental como a Ucrânia, a Letônia e a Lituânia (na primeira desde 2015, na segunda desde 2013 e na terceira desde 2008), que servem basicamente para blindar os colaboradores dos nazistas desses países todos ao mesmo em que fazem de Hitler um boi de piranha. Ou seja, Hitler, Goebbels, Goering, Hess, Rosenberg e companhia limitada são jogados para serem devorados pelas piranhas, enquanto que Bandera, Šukhevič e outros colaboradores locais dos nazistas atravessam o rio ilesos (os quais inclusive chegaram a formar divisões da Waffen SS). No caso brasileiro, vão criminalizar por meio dessa lei esdrúxula figuras como Lula, Brizola, Jango, João Amazonas, Nelson Werneck Sodré e Luís Carlos Prestes e ao mesmo tempo serão acobertados Sílvio Frota, os terroristas do atentado ao Riocentro em 1981, o coronel Ustra e outros torturadores do período civil-militar, os assassinos da Marielle, o Ronnie Lessa, o Adriano da Nóbrega e outros milicianos amigos da família Bolsonaro. Esses vão ser os bois que atravessarão o rio sem arranhão algum.

Ou seja, estamos caminhando para uma situação na qual você poderá desfilar tranquilamente pelas ruas vestindo uma camisa homenageando o coronel Ustra e até mesmo bandeiras de grupos de extrema direita como o Setor de Direita, ao mesmo tempo em que pode pegar de 9 a 15 anos por usar a foice e o martelo ou a suástica.

Eu, particularmente, acho o 03 pior e bem mais perigoso que o próprio pai. Ele, que chegou a falar em um novo AI-5 e que bastava um cabo e um soldado para fechar o Congresso. Também foi indicado por Steve Bannon (de cuja prisão nós não comemoramos, diga-se de passagem, por tratar-se de uma clara demonstração de força do Deep State norte-americano – que é muito pior que qualquer Bannon da vida) para ser o líder sul-americano do The Movement, a internacional de extrema direita capitaneada por Steve Bannon. Que é o verdadeiro ministro das relações exteriores do governo Bolsonaro, sendo Ernesto Araújo um mero boneco de ventríloquo. E que chegou a ser cotado para ser o embaixador do Brasil em Washington por seu próprio pai e que na época foi ridicularizado por ele ter sido um mero fritador de hambúrgueres enquanto morou nos EUA  e por seu péssimo inglês, sendo que tratou-se de uma clara manobra para criar um elo direto da família Bolsonaro com a extrema direita norte-americana e europeia, com Bannon e com o Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim Isa). E o pior é que a esquerda, nessa e em tantos outros episódios, caiu nessa isca jogada pela direita.

Foto – Eduardo Bolsonaro e Bannon juntos em 2018, no aniversário do líder do The Movement.

Fontes:

Bannon anuncia Eduardo Bolsonaro como líder sul-americano de movimento de direita populista. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/02/bannon-anuncia-eduardo-bolsonaro-como-lider-sul-americano-de-movimento-de-ultradireita.shtml

Carta da Embaixada da Ucrânia ao diretor de redação da Veja. Disponível em: https://brazil.mfa.gov.ua/pt/news/carta-da-embaixada-da-ucrania-no-brasil-ao-diretor-de-redacao-da-veja

Dono de bandeira neonazista treina grupos paramilitares. Disponível em: https://blogdacidadania.com.br/2020/06/dono-de-bandeira-neonazista-treina-grupos-paramilitares/

Eduardo Bolsonaro apresenta projeto de lei em que tenta equiparar comunismo ao nazismo. Disponível em: https://www.brasil247.com/brasil/eduardo-bolsonaro-apresenta-projeto-de-lei-em-que-tenta-equiparar-comunismo-ao-nazismo

Eduardo Bolsonaro: falsificador dublê da história. Disponível em: http://apaginavermelha.blogspot.com/2020/09/eduardo-bolsonaro-falsificador-duble-de.html

Esteban Hernandez – Entrevista com Diego Fusaro: idiotas de esquerda combatem um fascismo inexistente e aceitam o mercado. Disponível em: https://legio-victrix.blogspot.com/2020/08/esteban-hernandez-entrevista-com-diego.html

La historia de los líderes de lo terrorismo sionista-israeli (em espanhol). Disponível em: https://www.nodo50.org/pretextos/isrrael1.htm?fbclid=IwAR1kCpchrHJoIoVhmaVBcoc4jSyIL3nEjrKSVqlpGTKK6hzKhHvuRnONGf0

Сын Болсонару захотел повторить в Бразилии украинскую декоммунизацию (em russo). Disponível em: https://vz.ru/news/2020/9/2/1058127.html

The hidden history of Zionism (em inglês). Disponível em: https://mail.islam-radio.net/historia/zionism/schoenman_zionazi.html

Zionism and anti-Semitism: a strange alliance through history (em inglês). Disponível em: https://mail.islam-radio.net/historia/zionism/zistrngallianc.html

Um comentário:

  1. Não é a toa que os casos de infecções - e até mesmo de reinfecções - seguidos de óbitos seguem subindo sem parar, após um período de refreada. Essa multidão eufórica saindo às ruas, a maioria de eleitores dos Bolsonaros, está colaborando para este cenário caótico, se infectam e saem disseminando o vírus deliberadamente, e a tendência são os hospitais entrarem em colapso, ao ponto de ter que escolher quem será salvo. Triste dilema! Não fosse por esse bando de energúmenos empedernidos, crentes que a pandemia já passou, poderíamos estar um pouco melhor agora, mas estão repetindo os mesmos erros cometidos durante a gripe espanhola, em 1918. E pior: já temos quase QUATRO VEZES o número de óbitos durante a influenza dos primeiros decênios do século XX (que é de até 35 mil mortes). Como levar um presidente assim a sério? E como disse o economista Carlos Schroer, do canal "Brasileiro Sem Fronteiras" do Youtube, este homem precisa ser imediatamente removido do poder, e PRESO!

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