terça-feira, 30 de junho de 2020

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT, parte II (Resumo do livro "O colapso do figurino francês", de Nildo Ouriques, 3/5).


Foto – Um petucano.
- A vitória da chapa Lula-Alencar em 2002 não abriu as portas para um debate sobre o socialismo. Pelo contrário, liquidou com qualquer vestígio de luta anticapitalista. Destarte, representou uma adesão da parte do polo operário à ordem burguesa sem constrangimentos (página 54 e 55).
- O petucanismo, do ponto de vista político, seria o reino onde as divergências políticas são apenas cosméticas, com o objetivo de criar uma nação democrática e moderna, com “inserção soberana” na ordem global (página 56).
- Em sua tese “La teoria marxista de la dependencia”, publicada na UNAM em 1995, Nildo Ouriques diz que a esquerda petista radical mantem uma interpretação teórica sobre o capitalismo periférico e como o Brasil nela se insere que no essencial coincide com os postulados de FHC (página 56).
- Lá ele diz que as divergências partidárias entre os grandes partidos não representavam problema algum para que ambos os partidos se entendessem no essencial (página 56).
- A administração petista da ordem instaurada pelo tucanato foi consequência necessária da comunhão teórica entre os dois blocos. Concomitantemente, o debata nas ciências sociais é com FHC hegemonizado em São Paulo (página 57).
- Na ausência de divergências teóricas de fundo, sobra a disputa partidária para iludir e enganar o público e ocupar parte do mundo universitário com quinquilharias ideológicas e divergências a respeito de questões secundárias. A tal ponto que o debate sobre “economia política” é reduzido a opções de política econômica (página 57).
Reflexão VII – Sobre a adesão do PT à ordem vigente a partir de 2002 com a primeira eleição de Lula, em meu entendimento isso tem mais haver com pactos de bastidores tais como a carta aos brasileiros e os compromissos deles decorrentes, sobre os quais Rui Costa Pimenta falou em algumas ocasiões. Segundo o dirigente do PCO (Partido da Causa Operária), a elite brasileira aceitou a vitória de Lula em 2002 com a intenção de impedir que as agitações sociais que à época ocorreram em países como a Venezuela, Bolívia e Argentina chegassem ao Brasil (cuja situação social já era potencialmente explosiva dado que 57 milhões de pessoas passavam fome nos últimos anos do governo FHC). E assim, Lula poderia fazer Bolsa Família e outros programas sociais enquanto que não mexeria em certos pontos sensíveis. Ou seja, a típica manobra de abandonar os anéis para preservar os dedos. Algo ao qual a elite brasileira poderia se dar ao luxo na época, dada a conjuntura econômica mundial pré-crise de 2008.

Reflexão VIII – Em suas obras, Jessé Souza diz que FHC recriou a República Velha (1889 – 1930), a ponto de fazer do Estado brasileiro um mero orçamento a ser dividido pela elite dos proprietários do dinheiro, no qual a taxa SELIC chegou a ser elevada a 45%. Daí que surgiram esquemas de corrupção como Privataria Tucana, Banestado, mensalão mineiro e tantos outros. Esquemas esses que movimentaram um montante de dinheiro muito maior que qualquer “mensalão” do PT. E é esse Estado que o PT assume a partir de 2002, no qual a fração financeira do capital é quem comanda o processo econômico. Diante de tal situação, o PT adota uma política de caminhar pelas brechas do sistema, que deu certo até certo ponto. Mais precisamente, até 2015.
Reflexão IX – A respeito da comunhão teórica entre petistas e tucanos, não seria uma situação cujas condições para concretização já estavam postas há muito tempo, quiçá desde antes da chegada do PT à Presidência da República, e se acentuando após o PT chegar ao poder? Ainda mais quando lembramos que em vida Brizola e Darcy Ribeiro chamavam o PT de “esquerda que a direita gosta” e “galinha que cacareja pela esquerda e bota ovos pela direita” e que os referenciais teóricos de tucanos e petistas são os mesmos (Raymundo Faoro, Sérgio Buarque, etc...)? O mesmo Brizola que uma vez disse que tucanos e petistas têm suas cabeças inseridas dentro do sistema neoliberal.

Reflexão X – Obviamente que em grande medida FHC hegemonizou o debate nas ciências sociais devido ao fato de que nomes da CEPAL, do ISEB e da teoria da dependência como Ruy Mauro Marini, Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra, Alberto Guerreiro Ramos, Álvaro Vieira Pinto, André Gunder Frank e outros foram silenciados e exilados pela ditadura. A tal ponto que Marini teve algumas obras publicadas no Brasil depois de mais de 40 anos (isso passados mais de 20 anos depois de seu falecimento, ocorrido em 1997), além do fato de que o silêncio que paira sobre os nomes deles continuou mesmo depois do fim da ditadura cívico-militar (e para isso foi instrumental a polêmica que FHC e Serra travaram com Ruy Mauro Marini em 1978).
Reflexão XI – Falando em questões secundárias, as diferenças entre Republicanos e Democratas nos EUA, Socialistas e Republicanos na França, Trabalhistas e Conservadores na Inglaterra e SPD e Democracia Cristã na Alemanha também não são secundárias, estando de acordo no essencial estipulado pela estrutura de poder que comanda os quatro países em questão por trás das cortinas?
Reflexão XII – E teria sido esse debate sobre “política econômica” condicionado pelos pactos de bastidores que o PT teve que assinar com a elite brasileira, de modo a não em pontos sensíveis como a dívida do país (tanto interna quanto externa), Bolsa Banqueiro e outras mamatas dos donos do poder financeiro?

sábado, 27 de junho de 2020

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT, parte II (resumo do livro "O colapso do figurino francês", de Nildo Ouriques, 2/5).


Foto - Petucanismo: as duas faces de Janus.
- Devido a uma combinação de fatores e circunstâncias, a “escola paulista de sociologia” teve o triunfo que teve principalmente a partir do regime civil-militar de 1964 a 1985 (página 22).
- Começa com a expulsão de figuras como Theotônio dos Santos e Ruy Mauro Marini por Zeferino Vaz em 1964 e a criação da Unicamp em 1966. No que favoreceu tanto o liberalismo nas ciências sociais quanto a hegemonia paulista no país (página 22).
- Posteriormente, a hegemonia liberal consolidou o apelo ao “pluralismo”, abrindo espaço para a dissidência, de tal forma que a crítica bem comportada à ditadura representou ao mesmo tempo o fortalecimento do regime e o posterior elogio à ditadura (páginas 22 e 23).
- No Brasil as ciências sociais pensam a partir das seguintes dualidades: “moderno x atrasado”, “democrático x autoritário”, que embalam o desenvolvimento intelectual paulista, a tal ponto que não sabem pensar fora de tais categorias. No que fez com que a temática do subdesenvolvimento fosse relegada a uma posição subalterna e secundária (página 23).
- Tal temática era colocada para debaixo do tapete e subalternizada ao revelar que as ilhas de modernidade eram provas inequívocas de que o Brasil poderia ser tão quanto a Europa ou os EUA (página 23).
- O desenvolvimento uspiano das ciências sociais se desenvolveu contra a teoria marxista da dependência, a qual no Brasil foi representada por figuras como Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos, Vânia Bambirra e outros (páginas 24 e 25).
- Na economia política, a perspectiva dessa gente sempre esteve centrada na tentativa de uma articulação da classe operária com os interesses da burguesia industrial paulista. Tal estratégia, em tese, iria assegurar em latitudes tropicais resultados iguais ou melhores ao que os europeus conquistaram, sem passar pelos horrores das revoluções (página 26).
- O comportamento da maior parte da sociologia paulista nessa questão é em essência similar ao da intelectualidade francesa do século XIX em relação aos clássicos da literatura russa (página 27).
- A partir de 1964, intelectuais de grande estatura tais como Álvaro Vieira Pinto, Alberto Guerreiro Ramos e outros passam a ser amplamente ignorados e até hoje grande silêncio sobre eles paira (página 31).
- Ao mesmo tempo em que a sociologia paulista era fomentada pela elite por razões óbvias, a esquerda (e sua influência no resto do país) também foi tributária dessa construção teórica e compartilhou o orgulho de sua “escola paulista de sociologia” (página 37).
- Segundo Florestan Fernandes, tanto a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras quanto a Escola Livre de Sociologia e Política eram um projeto do que ele chamou de “liberalismo esclarecido” destinado a renovar o poder dos “estratos dirigentes das classes dominantes, empenhadas na defesa da hegemonia paulista” (página 37).
- Segundo Nildo Ouriques, o que ele chama de “figurino francês” consiste do velho colonialismo intelectual e seu corolário: a tentativa de perpetuar no Brasil o desconhecimento da importante contribuição latino-americana e seu pensamento crítico no desenvolvimento de nossas ciências sociais (página 44).
- Mesmo com um operário no comando da presidência do Brasil, isso não significou um rompimento radical do tucanato paulista. Continuou a operação destinada a limitar o espaço teórico do radicalismo político. No Brasil, os partidos políticos não produzem reflexão sistemática sobre os grandes problemas nacionais, mas são eficazes na produção de bordões necessários para justificar a dominação de classe (páginas 51 e 52).
Reflexão IV – No que tange ao dualismo, ao que me parece, não é levado em consideração, por exemplo, que dualidades binárias como “autoritário x democrático” e “moderno x atrasado” na verdade são dois elementos opostos entre si que formam parte de uma unidade contraditória, como o yin e o yang do taoísmo, as faces do deus Janus na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami Sama da franquia Dragon Ball. Haja vista, por exemplo, que a estrutura autoritária advinda do fascismo continuou a existir na Itália mesmo após a queda de Mussolini, dessa vez debaixo de um verniz democrático. Ou que a miséria afro-asiática em grande medida é o alimento da prosperidade das nações metropolitanas.
Reflexão V – Pode-se observar muito bem a presença do dualismo binário no discurso de muitos partidos da esquerda brasileira, entre eles o PSOL do qual Nildo Ouriques faz parte e o PSTU, quando determinado regime se fecha por uma questão de sobrevivência e é obrigado a se usar da força para tal. E diante de tais situações, o PSOL e o PSTU são os primeiros a prestarem apoios às revoluções coloridas mundo afora, geralmente apoiadas por multibilionários como George Soros e os irmãos Koch, como no caso da Líbia, do Egito e da Síria a partir de 2011 por meio da Primavera Árabe (vulgo Pesadelo Árabe) e o Euromaidan na Ucrânia em 2014 (que levou a Ucrânia a um estado de guerra civil permanente e entropia social que se arrasta até hoje – e que é o que a Sara Winter quer trazer para o Brasil quando fala em “ucranizar o Brasil”). O PSTU também chegou a prestar apoio à derrubada de Dilma Rousseff por meio da retórica “fora todos”. Para eles, basta determinado regime usar-se de um pouco de repressão contra determinados indivíduos que pronto. Em nome da liberdade, dos direitos humanos e da democracia, esse regime tem que cair porque usa métodos autoritários, é ditatorial e está contra o povo. Começam a entoar mantras do tipo fora Assad, abaixo Maduro, Evo Morales tem que cair e outros do tipo. Tal discurso binário também está presente quando esses partidos se posicionam na arena internacional contra a Venezuela bolivariana, a ponto de fazerem discursos a favor da queda de Nicolás Maduro diante da oposição reacionária venezuelana. Pelo fato de ter comparecido à posse de Nicolás Maduro, Gleisi Hoffmann recebeu críticas de Luciana Genro (a mesma Luciana Genro que não poucas vezes se posicionou a favor da Operação Lava Jato e em 2014 prestou apoio ao golpe de Estado na Ucrânia) e alfinetadas de Fernando Haddad e Tarso Genro. Ou mesmo na maneira como eles olham a Coreia do Norte e as outras experiências socialistas do século passado. Esse é um bom exemplo de como o discurso da esquerda brasileira não apenas se pauta por discursos binários vindos da sociologia uspiana, como também em muito repete o discurso da direita. É uma das frentes na qual o fenômeno ideológico petucano se manifesta.
Reflexão VI – E paradoxalmente, o curioso é que essa mesma esquerda geralmente é a primeira a pedir leis mais rígidas quando o assunto envolve algo que diz respeito às pautas identitárias que eles tanto defendem. Acham que problemas como a homofobia, o racismo e a misoginia serão resolvidos criando novas leis e reforçando as já existentes para que tais males sejam combatidos. Mal sabendo que tais leis podem muito bem serem usadas de firma similar a que a Lei da Ficha Limpa foi usada: a Lei da Ficha Limpa foi promulgada em 2010 pelo governo Lula e apoiada pela grande maioria dos partidos de esquerda à época, excetuando-se o PCO. Oito anos depois, essa mesma lei foi usada para impugnar a candidatura Lula. Ou seja, é aquela velha máxima de Maquiavel: para os amigos os favores, para os inimigos a lei. Acaso um Alexandre de Moraes ou um Deltan Dallagnol da vida será mais rígido com quem, em um caso trivial envolvendo homofobia e/ou racismo: com o Aécio Neves ou com a Érika Kokay? Ganha um doce quem souber a resposta. Não a toa que Rui Costa Pimenta uma vez chamou tais partidos de esquerda de esquerda chave de cadeia.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT, parte II (resumo do livro "O colapso do figurino francês", de Nildo Ouriques,1/5)



Foto – Petucanismo.
Dando continuidade à minha série de resumos sobre a temática do petucanismo, trago aqui um resumo que fiz do livro “O colapso do figurino francês: crítica às ciências sociais no Brasil”, de Nildo Ouriques, reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e presidente do IELA (Instituto de Estudos Latino-Americanos). Depois de trabalhar com “A classe média no espelho”, de Jessé Souza (que em momento algum cita o termo petucanismo em suas obras, muito embora dedique boa parte de seus livros à questão das similaridades ideológicas entre a esquerda e a direita brasileira de modo geral, sem ficar preso a determinadas legendas partidárias em específico), resolvi fazer o mesmo com o livro de Nildo Ouriques, tendo em vista que ele, junto com Gilberto Felisberto Vasconcellos, que é um dos principais usuários do termo petucanismo. O livro em questão foi escrito em 2015, e dessa forma vocês não o verão falar nada sobre bolsonarismo e outros fenômenos políticos mais recentes da política brasileira.
- Segundo Paulo Arantes, a experiência filosófica da USP era uma espécie de “departamento francês de ultramar” (francês département français d’outre-mer). Durante décadas, a missão francesa reproduziu considerável dose de colonialismo como se fosse um grito de emancipação intelectual (página 19).
- Segundo Gilda de Melo e Souza, o ambiente acadêmico uspiano em seus primórdios era uma espécie de enclave francês em terras brasileiras. A tal ponto que a música francesa era por lá muito popular (página 20).
- Inicialmente limitado ao ensino de filosofia, o figurino francês se expandiu para todas as áreas de conhecimento da USP. Com o passar do tempo, valendo-se da posição no centro econômico do país, seu padrão tornou-se exemplo para todo o Brasil tão rapidamente quanto a consolidação do sistema de pós-graduação nacional permitiu (página 21).
Reflexão I – Obviamente que o “figurino francês” de que Nildo Ouriques fala se alimenta de toda uma tradição de influência cultural francesa pré-existente dentro da sociedade brasileira, que remonta aos primórdios da história brasileira, foi muito forte no século XIX e primeira metade do século XX e que as altas classes da época usavam como um sinal de distinção social em relação ao “populacho” (o que mostra que já naquela época tais estamentos já agiam como uma espécie de Bélgica no Congo, uma Holanda no Suriname ou uma França no Haiti, com uma visão de mundo de costas para o Brasil profundo e de frente para a Europa, em especial para Londres e Paris). Tal influência pode ser notada em várias construções arquitetônicas em estilo art nouveau ou art decot, reformas urbanísticas baseadas na reforma feita pelo barão Haussmann em Paris (como a feita no Rio de Janeiro pelo prefeito Pereira Passos nos anos 1900), lojas comerciais com nomes em francês, entre outras manifestações. Ou seja, o dito “figurino francês“ não surgiu do nada.
Reflexão II – A partir de meados do século XX, a influência cultural francesa no Brasil perde terreno e é suplantada pela influência cultural estadunidense. O fato é que enquanto tivermos uma classe dominante e alta classe média que pensam que são europeus, americanos e japoneses perdidos nos trópicos e não houver uma afirmação do legal cultural íbero-afro-indígena, potências hegemônicas vêm e vão e tal situação repetir-se-á como um círculo vicioso ad eternum. Se daqui um tempo a China suplantar os EUA em tal posição, nossas elites vão começar a sonhar com Pequim, Šanghaj, Kaifeng, Hong Kong, os templos Šaolin e Wudang, entre outros lugares do antigo Império do Meio e a se acharem como chineses perdidos nos trópicos. E se depois de um tempo suponhamos que a Índia suplante a China em tal posição. Vão começar a sonhar com Varanasi, Nova Délhi, Bangalore, Bombaim, Boliwood, Ranthambore e outros lugares da Índia. E assim sucessivamente. Culturalmente, o Brasil continuará a ser como uma criatura sem uma coluna vertebral que o sustente e que vive de acordo com as modas vindas de fora.
Reflexão III – No dia 15 de fevereiro de 2019, Marcel van Hattem, deputado federal eleito pelo partido NOVO, soltou a seguinte pérola: que o Brasil é pobre por sua colonização ibero-católica, ao contrário do norte da Europa, que a partir do século XVI aderiram à reforma protestante e suas várias vertentes (https://salveroma.com/2019/02/18/marcel-van-hattem-defende-que-brasil-e-pobre-por-sua-colonizacao-ibero-catolica-diferente-dos-paises-nordicos-protestantes/?fbclid=IwAR2TZBFwHRbwR44QXZIKir2w49450qA-9X91NQs34T4zyeyUeyq5dYUNWsI). Já foi citado por aqui várias vezes que a colonização portuguesa tem sido culpada pelo atraso do Brasil em relação às grandes potências desde o século XIX, com o contexto geopolítico internacional que surgiu a partir da Revolução Industrial criando um clima favorável para o surgimento de tais ideias e concepções errôneas. E pelo visto o batavo Van Hattem, um dos partidários mais ardorosos do Escola sem Partido, não leva em consideração que a calvinista Holanda deixou para trás países miseráveis como Suriname e Indonésia. Isso para não falar do fracasso que foi o Brasil holandês no século XVII.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Opinião - caso Floyd, por Sergej Stillavin (texto traduzido do russo)


Foto – O túmulo dourado de George Floyd, no qual ele foi enterrado.
Vi fotografias da despedida de Floyd, cuja morte tornou-se sinal para um banditismo massivo nos Estados Unidos: o enterraram em um caixão dourado!
O cinismo é de primeira grandeza: delinquente, drogado e semi-vagabundo, do qual em vida não tinha 20 dólares no bolso, despediram desse mundo em um caixão dourado, de uma tampa da qual seria o suficiente para que Floyd resolvesse todos os seus problemas materiais!
Quem pagou por tal caixão e porque estimaram tanto a morte da vítima de um policial? A resposta é simples: pagaram os clientes dos motins, que planejaram o assassinato ostensivo de Floyd e, além disso, ligaram os bandos bem organizados para insuflarem aos saques todo o fundo social.
Uma cadeia fina de eventos surge: primeiro o coronavírus cria uma situação, quando nos EUA o desemprego cresce para algumas dezenas de milhões de pessoas (embora sob Trump a economia cresceu e até antes do anúncio da pandemia o desemprego foi reduzido), e depois se inicia o roubo de rua, no qual deveriam se juntar todos esses novos desempregados. Como resultado por volta de novembro as chances de Trump de se reeleger para um segundo mandato deveriam desaparecer.
Evidentemente que a luta entre os globalistas e o capitalismo nacional chegou ao ponto de ebulição: os globalistas já estão preparados para destruir uma vida pacífica no país mais rico do planeta, apenas para não permitir a seus oponentes tomar o poder total. O instinto animal os força a lutarem até o fim, embora os recursos econômicos dos globalistas se esgotaram: começando a partir de Reagan, a economia cresceu com empréstimos, com taxa de juros continuamente decrescentes, e quando esta taxa tropeçou no zero, desapareceu o sentido do investimento – os depósitos pararam de dar lucro. De modo a que os globalistas estão condenados, mas eles não têm coragem o suficiente para reconhecer seu fracasso.
E mais. Surpreende-me de forma extrema que muitos dos nossos meios de comunicação denominam o que acontece nos Estados Unidos como “protestos” – até parece que os jornalistas intencionalmente colocam um sinal de igualdade entre a insatisfação de pessoas e os crimes de criminosos, que destroem lojas e pilham propriedade privada. É compreensível a qualquer um que as ligações entre a violência policial contra negros e a destruição de lojas particulares são nulas, mas os jornalistas insistentemente continuam a falar “protestos”, como se no idioma russo não tenha outras palavras para a descrição de uma guerra civil organizada intencionalmente.
Fonte: Sergej Stillavin (postagem do grupo do VK Volk Gomofob/Волк Гомофоб no dia 15 de junho de 2020).
Meus comentários
Como nós estamos vendo, a morte de George Floyd nas mãos de um policial branco norte-americano gerou uma comoção tamanha que protestos no mundo inteiro contra o “racismo” e o “preconceito”, a tal ponto que desencadeou uma onda de vandalismo e pichações a estátuas de figuras históricas como Cristóvão Colombo, Padre Antônio Vieira (ele, que era um mestiço que defendeu os indígenas do Brasil), Leopoldo II, Winston Churchill, Gandhi e outros tantos. Também chegaram ao ponto de fazerem a HBO tirar de sua grade o filme E o Vento Levou e a crucificarem publicamente a J. K. Rowling (autora de Harry Potter) nas redes sociais. Entre outras coisas.
No busto do rei Leopoldo II, rei da Bélgica entre 1865 a 1908, em Ghent manifestantes o pintaram de vermelho e escreveram as seguintes palavras: “não consigo respirar”, em homenagem a George Floyd. O que me perturba muito a respeito de todas essas manifestações que a morte de George Floyd desencadeou no mundo inteiro é o fato de que esses antifas de plantão não se darem conta de que está fazendo apologia a um bandido. Um bandido que, muito embora tenha sido vitimado pela truculência da polícia norte-americana, cometeu não menos que nove assaltos entre 1997 a 2007, sendo dois a mão armada.
E que, diga-se de passagem, tais atos de vandalismo dizem muito mais não sobre quem Leopoldo II, Churchill, Cristóvão Colombo, Padre Antônio Vieira, Edward Colston e outros foram em vida, mas sobre quem são os manifestoches que perpetraram sobre tais atos, em especial sobre a ONG Black Lives Matter. Marionetes de gente como o megaespeculador George Soros e figurões do Partido Democrata como o casal Clinton, Barack Obama, Bernie Sanders e Joe Biden, que acham que vão mudar alguma coisa na situação dos negros derrubando estátuas de pessoas que já morreram há muito tempo e que acham que com tais atos vão apagar a história e poder reescrevê-la a seu bel prazer, bem ao estilo 1984. E que não se dão conta de que são massa de manobra do Deep State norte-americano em seu intento de influenciar o pleito eleitoral em favor dos democratas (quem acha que golpes e revoluções coloridas não acontecem nos EUA está muito enganado, diga-se de passagem).
De forma análoga, a crucificação virtual a qual J. K. Rowling foi submetida nas redes sociais (assim como o escrutínio ao qual o técnico de vôlei Bernardinho foi submetido por grupos afins depois de ter dito corretamente que Tiffany é um homem) diz muito mais não sobre quem é a mãe de Harry Potter, mas sobre quem são aqueles que a chamam de transfóbica e palavras afins. Pessoas que acham que determinados grupos, independente do que façam, não podem ser criticados se não você é homofóbico, transfóbico, racista, machista, preconceituoso e tudo de ruim (mas para os quais determinados grupos são mais dignos de tolerância e respeito que outros). E depois hipocritamente se espantam quando se deparam diante do Gabinete do Ódio comandado pelo 02 (vulgo Pavão Misterioso) e do 03. Aliás, que diferença há entre o que a mãe de Harry Potter (que durante certo tempo deu endosso a tais pautas progressistas) sofreu recentemente nas mãos dessas militâncias politicamente corretas virtuais e o que o Gabinete do Ódio fez com a Joice Hasselmann (que primeiro surfou na onda da Lava Jato e depois na do bolsonarismo até que foi engolida pela mesma onda), depois que esta se desentendeu com os filhos mafiosos do Bozo? Nenhuma, em essência.
Depois não fiquem surpresos se figuras como Bolsonaro e outras afins continuarem a pintar a esquerda como se fosse uma defensora de bandidos e retóricas similares e o povão dar a razão a tais retóricas. E se nas próximas eleições europeias vermos a derrota acachapante que Jeremy Corbin sofreu diante de Boris Johnson na Inglaterra se repetir em muitos outros países europeus. E assim os populistas de direita capitaneados por Steve Bannon vão continuar a pisotear tais esquerdistas eternamente.
Diga-se de passagem, Bolsonaro pode cair hoje em decorrência dos inquéritos nos quais o nome dele, de seus filhos e de seu faz tudo Fabrício Queiroz estão envolvidos até o pescoço (entre eles o das notícias falsas e o do assassinato de Marielle Franco e o motorista dela, ocorrido há dois anos) que enquanto a esquerda não mudar tal atitude em relação à bandidagem que será questão de tempo surgir outro político de seu naipe e com o mesmo discurso demagógico de “bandido bom é bandido morto” (desde que não se trate dos bandidos amigos dele, obviamente).

sábado, 13 de junho de 2020

Tolerastia, ou o paradoxo da tolerância: resenha do episódio 93 de South Park (6x14).



Foto – Cena do episódio “O campo de morte da tolerância”, 93º episódio de South Park.

Em artigos publicados anteriormente, fiz menção a um episódio de South Park. Mais precisamente, ao 14º episódio da sexta temporada, “O campo de morte da tolerância”. Agora é a hora de falarmos a respeito desse episódio (que é o 93º episódio de todo o desenho), veiculado na TV estadunidense originalmente em 20 de novembro de 2002.
Como todos nós sabemos, South Park é um famoso desenho norte-americano criado pelos animadores Trey Parker e Matt Stone que é veiculado pelo canal Comedy Central desde 1997, e que hoje conta com 23 temporadas e 307 episódios ao todo. Destinado ao público adulto, é notório por sua narrativa baseada em um humor negro, surreal e satírico que abrange um grande número de temas.
O episódio se inicia com a volta do Senhor Garrison à escola depois que ele foi readmitido pela diretora Victoria, só que dessa vez como professor da quarta série. Ela garante ao Senhor Garrison que de forma alguma será despedido por conta de suas preferências sexuais (ele que nas primeiras temporadas do desenho era um homossexual enrustido).  Mas, ao fim da conversa com a diretoria Victoria, essa diz que não pode demiti-lo por causa das novas leis que dão ao direito a um processo milionário e cita um caso em Minnesota no qual um cidadão de lá abriu um processo legal em que ele ganhou uma bolada de US$ 25 milhões. Então o senhor Garrison tem uma brilhante ideia: ele resolve armar um escândalo para que ele seja demitido por causa de sua preferência sexual de forma a mover um processo milionário contra a escola e ganhar uma bolada milionária.
No dia seguinte, o Senhor Garrison volta à escola, após a morte da senhora Diane Engasga Peru (originalmente Ms. Diane Choksondik). As crianças não gostam nem um pouco de rever esse velho conhecido delas como professor (dessa vez sem a tradicional companhia do Senhor Chapéu), a ponto de Kyle dizer as palavras “ele não”. Mas, no lugar do Senhor Chapéu, o professor calvo traz um novo companheiro, seu bofe, o Senhor Escravo (personagem esse que nesse episódio faz sua estreia no desenho). E ele submete as crianças a uma verdadeira sessão de sadomasoquismo GLBT claramente visando uma demissão por causa de sua orientação sexual não tradicional seguida de uma indenização milionária. O Senhor Garrison, após dizer que não ia tolerar palhaçadas na aula, começa a bater o Senhor Escravo nas nádegas com um porrete cinzento. E novamente diz que não vai tolerar palhaçadas na aula.
Após a aula, Cartman, Kyle e seus amigos apresentam suas queixas a seus pais, dizendo que a aula não foi nada legal e contando sobre o fato de que o Senhor Garrison voltou com um assistente e que ambos são muito gays, a ponto de fazerem questão que o mundo saiba que eles assim são e usarem sua sexualidade não tradicional visando certos fins. A mãe de Kyle responde que não se pode discriminar os homossexuais. E Stan responde que a dupla é muito gay. O pai de Stan, por seu turno, responde que ele o surpreende muito e que achou que ele saberia respeitar as pessoas pelo que elas são. Stan tenta contar toda a história a seus pais e de seus amigos, mas ele é interrompido por seu pai, indignado com o comportamento de seu filho e que ele e os demais pais não criaram filhos preconceitos. A mãe de Kyle endossa as palavras do pai de Stan e sugere um passeio ao Museu da Tolerância.
Dito e feito. As crianças e seus pais fazem um passeio pelo assim chamado Museu da Tolerância. Um museu que se propõe a tratar de assuntos como a dinâmica do preconceito e da intolerância nos EUA, segundo a funcionária do mesmo. Cartman, após passar pelo túnel das ofensas, parece gostar do que está vendo. Em seguida os visitantes chegam ao Hall dos Estereótipos e a eles são mostrados figuras de cera que segundo a funcionária do museu “representam como pessoas intolerantes rotulam as minorias”, e passam pelo laboratório das descobertas da intolerância. Cartman, ao quer ver que a funcionária disse que as pessoas precisam aprender a respeitar pessoas pequenas, deficientes e até mesmo gordinhos como ele, resolve tirar vantagem da situação com toda essa história de tolerância depois que a funcionária disse que se ele escolheu comer coisas engordativas é uma escolha que deve ser respeitada. Ao término do passeio, na parte externa do mesmo museu, vemos a mesma funcionária dizer que as pessoas devem ser aceitas como são e pelo que elas gostam e em seguida expulsar a grito um fumante sob o pretexto de que não se pode fumar no museu e chama-lo de “f.d.p”. Em seguida o mesmo fumante é chamado de “tuberculoso” pelo pai de Kyle, “bafo de cinzeiro” pela mãe de Stan, “idiota” pelo pai de Butters e ainda recebeu um “fora daqui” do pai de Tweek. A visita ao museu termina com o pai de Butters dizendo que as crianças devem respeitar o Senhor Garrison e o Senhor Escravo como eles merecem.
Em seguida, mais uma aula, que começa com o Senhor Garrison se queixando do fato de que ninguém veio demiti-lo. Então ele submete as crianças a mais uma seção de sadomasoquismo GLBT, com direito ao Senhor Garrison enfiando um tubo de ensaio no orifício anal do Senhor Escravo e em seguida um hâmster. O que deixa as crianças boquiabertas. Terminada a aula, Kyle, Stan e Cartman vão ao refeitório e conversam com o Chief a respeito do que viram na aula do Senhor Garrison. As crianças se queixam ao cozinheiro da escola de que são intolerantes, e ele responde perguntando a que são intolerantes. Kyle responde “a viados”. Chief replica do motivo pelo qual são intolerantes a tais pessoas, sendo que não deveriam ser assim. Stan conta a respeito do assistente do Senhor Garrison e que perto dele se sente mal. Chief responde que o incômodo em relação a gays ocorre pelo fato de as pessoas terem seus próprios problemas e pergunta “o que me incomoda tanto no comportamento deles?”. Kyle responde que é pelo modo como o professor dele enfiou o hamster no c* do Senhor Escravo. Kyle e Stan se questionam se são homofóbicos e dizem que não querem ser preconceituosos. Então o Chief responde que há uma grande diferença entre gays e o Senhor Garrison.
Após a conversa com as crianças, Chief vai até a diretoria ter uma conversa com a Diretora Victoria a esse respeito. Enquanto isso, começa a jornada do hâmster para sair do corpo do Senhor Escravo, guiado por um sapo vestido de uma capa, uma coroa e munido de um cetro. A diretora chama o Senhor Garrison (animado, achando que está para ser demitido) após ouvir as palavras de Chief. A diretoria diz que os alunos estão incomodados com os métodos de ensino dele, e o professor começa a achar que o plano dele está funcionando. Mas no fim a diretora resolve mandar o Chief para um seminário sobre tolerância sob a alegação de que demonstrou intolerância em relação ao comportamento do professor, o que obviamente deixa o cozinheiro da escola enfurecido.
As crianças e seus pais se reúnem na sala do diretor Mackey. Mackey se queixa do fato de que as crianças se recusam a assistir aulas com um professor homossexual. Stan diz que não vai assistir aula com o Senhor Garrison, e em seguida é repreendido por seu pai, que por sua vez acha que ele não aprendeu nada no Museu da Tolerância. Os pais das crianças se mostram insensíveis aos argumentos de seus filhos nem mesmo quando Butters diz que as duas bibas mataram um hâmster no meio da aula. O pai de Butters se enfurece com seu filho e Mackey chega a conclusão de que as crianças não tem outra saída a não serem enviadas ao Campo de Concentração da Tolerância, algo que os pais das mesmas aprovam.
Dito e feito. As crianças são enviadas ao chamado Campo da Tolerância de Devitzen, um campo bem ao estilo nazista no qual as crianças são forçadas a fazerem uma série de trabalhos diante de um guarda cuja feição lembra muito a de Heinrich Himmler, um dos homens mais poderosos da Alemanha na era nazista, só que mais cabeludo. A partir de então, todas as cenas no campo são em preto e branco. O guarda diz que as crianças ali estão por não aceitar os outros e seus estilos de vida e que vão trabalhar dia e noite até aprenderem a aceitar os outros enquanto tais. “Aqui a intolerância não será tolerada”, conclui o guarda em seu discurso às crianças do campo.
Enquanto isso, na escola, o Senhor Garrison desabafa ao Senhor Escravo que não importa o que faça, não o despedem. Ele não se conforma com o fato de que dias mais tarde irá receber o troféu de Professor Corajoso no Museu da Tolerância. O Senhor Escravo, por seu turno, diz a seu amante que ele precisa mostrar aos pais das crianças que tipo de “bicha louca” ele é. E o Senhor Garrison, por sua vez, tem uma ideia para o dia da entrega do prêmio.
No campo de Devitzen, o guarda ordena às crianças presas que elas devem fazer desenhos de pessoas de diferentes raças e orientações sexuais se dando bem e que elas não podem discriminar ninguém nos desenhos. Ao ver Kyle pintando um urso, o guarda se enfurece e diz que ele tem que pintar só o que ele ordenar. O guarda chega a apontar um revólver na cabeça de Kyle, e esse faz um desenho do jeito que ele quer.
Na escola, o senhor Escravo sente dores no estômago, pois o hâmster, em sua jornada para sair dele, ali está. Então o Senhor Garrison dá a seu namorado um laxante. No campo, as crianças continuam a desenharem desenhos com temática sobre tolerância feito escravos, dessa vez com macarrão. Até que Kyle desmaia, mas Stan o acode para que ele não para a atividade diante da aproximação dos guardas. No banheiro, Cartman vê duas crianças escondidas que pedem para não serem denunciadas que já não aguentam mais trabalhar tanto.
No Museu da Tolerância, a premiação se inicia. A funcionária do museu enfim dá o prêmio ao Senhor Garrison, que veio ao museu vestido com uma fantasia para lá de cafona e montado no Senhor Escravo como se fosse seu cavalinho. Ai os pais das crianças se dão conta sobre a verdade a respeito do que seus filhos vinham falando o tempo todo. O Senhor Garrison começa seu discurso dizendo que sonhou que disse que o seu amante era um cara de pau. E o Senhor Escravo pergunta por que não sonhou que ele era um pau no c*. “Não, eu tinha o pau no c*”, respondeu Garrison. E mesmo assim recebeu aplausos da plateia, sob a alegação de que ele é muito corajoso e um grande ser humano. Impressão essa que não é compartilhada pelos pais de Kyle, Stan, Cartman, Tweek e Butters, que olham tal cena com perplexidade.
O Senhor Garrison, por seu turno, responde que se sente feliz pela premiação, mas que se sente ainda mais feliz por chupar o órgão sexual masculino. Os pais de Stan, Kyle, Butters, Tweek e Cartman continuam perplexos, enquanto que o resto da plateia aplaude os dois. O Senhor Garrison, vendo que seu plano não está funcionando, pede para que o Senhor Escravo comece a cantar uma música. Ele começa a dançar, mas de repente sente novamente dores no estômago. Que se explicam pelo fato de que o hâmster resolveu o enigma e está para sair do corpo do Senhor Escravo.

Foto – Senhor Garrison discursando no Museu da Tolerância.
Até que o Senhor Garrison, vendo que seus tiros saíram pela culatra, resolve revelar a todos de uma vez o seu jogo e suas reais intenções nessa história toda. E dá a plateia uma verdadeira aula do que é realmente tolerância. Diz que o comportamento que ele demonstrou nesses dias todos não é próprio de um professor. Alguns membros da plateia dizem que o museu ordena que as pessoas devam ser tolerantes. E o Senhor Garrison responde “tolerantes, mas não estúpidos” e que o fato de tolerar algo não significa que você tenha que aprovar essa mesma coisa e que nesse caso o nome mais correto do Museu é o Museu da Aceitação. Diz em seguida que tolerar significa suportar e que você pode até tolerar um menino chorando ao seu lado no avião ou uma forte gripe, mas que isso ainda te deixa p* da vida. Em seguida, Garrison profere alguns palavrões. E então Randy Marsh chega à conclusão de que os meninos na verdade não odiavam homossexuais, mas o modo como o Senhor Garrison vinha agindo desde que voltou a dar aulas na escola, e então os pais das crianças resolvem salvar seus filhos. Garrison pergunta se podem demiti-lo para que ele receba a bolada milionária. A diretora Victoria, vendo todo o jogo de Garrison, responde que tem uma ideia melhor: leva-lo ao mesmo campo de concentração para o qual as crianças foram enviadas. As crianças são salvas, enquanto que o Senhor Garrison e seu companheiro são enviados a Devitzen, sob a alegação de que Garrison não tolera nem mesmo seu próprio comportamento. E assim o episódio se encerra, com o hâmster enfim saindo do corpo do Senhor Escravo e sendo coroado como o Rei Hâmster por seu feito.
Qual é a mensagem que o episódio em questão passa e por que falar dele em específico? Mostra muito bem quem são esses ditos arautos da tolerância e da diversidade e o quão hipócritas e nefastos eles são. Ou como podemos carinhosamente, tolerastas. E retrata muito bem aquilo que eu chamo de o paradoxo da tolerância: os arautos da tolerância pedem para que as pessoas sejam mais tolerantes para com determinados grupos causando repulsa e ódio nas mesmas. E isso na prática é o mesmo que lavar sangue com sangue, ou mesmo querer apagar um incêndio com gasolina. Na ânsia por querer resolver o problema, o resultado é diametralmente oposto: o problema no fim das contas se agrava e muito. E não só isso. O próprio episódio mostra que para esses arautos da tolerância determinadas pessoas e grupos são mais dignas de serem toleradas que outras, como pode ser visto na cena do fumante no museu. Como também para eles os grupos aos quais eles pedem mais tolerância não podem ser criticados de forma alguma não importa o que façam. Do contrário, todo aquele que os critica é tudo de ruim e mais um pouco. Preconceituoso, machista, homofóbico, racista, fascista, nazista e tudo quanto é porrete linguístico são destinados a todos aqueles que critiquem a atitude de tais grupos.
Trata-se de um episódio que chama a atenção pela atualidade, já que foi veiculado originalmente em 2002. Um tempo distante, no qual ainda não existiam You Tube, Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp e outras redes sociais nas quais essas militâncias politicamente corretamente possam destilar suas mensagens odientas sob o pretexto de combater males como o racismo, o preconceito e a intolerância. Pelo visto, continuam as mesmas em relação àquela época e pouco ou nada aprenderam nesse tempo todo.
Tais pessoas estão à frente dos protestos gerados pela comoção em torno do recente caso do assassinato de George Floyd nos EUA por um policial branco. Tais protestos, entre outras coisas, chegaram ao ponto de vandalizar, pichar e destruir várias estátuas e monumentos ao redor do mundo, entre eles estátuas do rei Leopoldo II na Bélgica e de Cristóvão Colombo nos EUA. Uma coisa é bem visível nessas manifestações: que a maioria esmagadora dos manifestoches delas são brancos e não negros. O tipo da gente que em vida Malcom X condenava, por acha-los uns demagogos que exploravam a causa dos direitos dos negros americanos para explorá-los e usá-los como peões em seus jogos políticos. Como toda moda podre que vem de fora invariavelmente acaba chegando por aqui, esses tolerastas de plantão estão sugerindo a derrubada de monumentos históricos em São Paulo tais como aqueles dedicados a Pedro Álvares Cabral, a Borba Gato, aos bandeirantes e ao Anhanguera, sob a alegação de que eles escravizaram e mataram negros e indígenas. Em Lisboa, vandalizaram uma estátua do Padre Vieira Lima.
E não para por ai. Esses tolerastas recentemente literalmente crucificaram J.K. Rowling, a criadora da série de livros Harry Potter. Na semana passada, J.K. Rowling foi crucificada nas redes sociais por alguns desses tolerastas que a acusaram de “transfóbica” e outros rótulos afins após comentar no Twitter um artigo da Devex com as seguintes palavras: “Pessoas que menstruam. Tenho certeza de que costumava haver uma palavra para essas pessoas”. O ator Daniel Radcliffe, que interpretou Harry Potter nos cinemas, saiu em defesa desses grupos, certamente querendo sair bem na fita com tais militâncias.
E essa não é a primeira vez que a mãe de Harry Potter é crucificada nas redes sociais desse jeito: em dezembro do ano passado, a autora foi acusada de transfobia nas redes sociais por defender a pesquisadora Maya Forstater, que perdeu o emprego em março do ano passado após se posicionar contra uma legislação que permitiria que as pessoas trans se identificassem com outros gêneros e dizer que “homens não podem se transformar em mulheres” (uma verdade mais cristalina que a água, diga-se de passagem – como já disse em artigo anterior, quando alguém faz cirurgia de mudança de sexo, na verdade se transforma em uma bolacha Oreo em formato humano).

Foto – A postagem de J. K. Rowling em questão.
Por conta dos protestos contra o racismo (com os quais nós não comungamos e que eu particularmente vejo como uma espécie de revolução colorida que visa afetar os resultados das próximas eleições norte-americanas em favor de Joe Biden, o candidato o democrata – quer seja sangrando Trump aos poucos, quer seja o derrubando, algo que o Deep State dos EUA vem tentando desde que o laranjão se tornou Presidente), o canal por streaming HBO Max tirou de sua grade o filme clássico E o ventou levou, pelo fato de o filme lançado em 1939 retratar escravos conformados e heroicos proprietários de escravos. Aqui no Brasil, fala-se já faz há alguns anos em censurar um dos grandes autores clássicos da literatura brasileira, Monteiro Lobato (cuja obra entrou no domínio público em 2019), principalmente por causa da obras como “Negrinha” e “Caçadas de Pedrinho”, por suposto conteúdo racista.

Foto – Monteiro Lobato (1882 – 1948).
O episódio em questão fala justamente sobre pessoas desse tipo, que em nome do combate ao racismo e ao preconceito não apenas depredam monumentos e estátuas, como também falam em censurar Monteiro Lobato e outros autores clássicos tidos como racistas. E que sob o pretexto de combater o preconceito acha bonito ver jogadores transexuais como o Tiffany jogarem em competições femininas (o que mostra que essa gente não tem moral nenhuma em dizer que aqueles que acreditam em bizarrices como design inteligente e terraplanismo, já que eles vivem o tempo todo dando bofetadas na cara de áreas da ciência como anatomia e fisiologia humana). E é por causa de pessoas como esses tolerastas que hoje vemos a esquerda (que parafraseando Brizola é uma esquerda que o sistema gosta) a nível global sendo pisoteada pelos chamados populistas de direita, entre eles o italiano Matteo Salvini, o britânico Boris Johnson, a francesa Marine Le Pen e o húngaro Viktor Órban, ou mesmo movimentos como os alemães Pegida e AfD e os italianos Cinco Estrelas e Lega Nord.
Aliás, falando nesses políticos de direita, que diferença há entre esses tolerastas e os partidários do Bolsonaro, a KKK e outros grupos de extrema direita que usam da violência (quer seja física ou retórica) contra seus inimigos de ocasião? E que diferença há entre os tolerastas que acusam nas redes sociais de homofóbicos, transfóbicos e outros adjetivos afins para o Gabinete do Ódio comandado pelo 02 e pelo 03? Que diferença há entre esses militantes antirracistas que vandalizaram várias estátuas pelo mundo para o que o Estado Islâmico fez com monumentos como o Leão de Palmyra na Síria? Que diferença há entre o ódio que pessoas como a J.K. Rowling recebe nas redes sociais sempre que profere algum comentário que não é do agrado de certas militâncias ou quando o Bernardinho foi crucificado por dizer que o Tiffany é um homem e o que o Gabinete do Ódio fez com todos aqueles que se desentenderam com Bolsonaro desde que ele se tornou Presidente (entre eles o finado Bebbiano, Joice Hasselmann, Sérgio Moro, João Dória, Wilson Witzel e outros)? Em essência, nenhuma. Se um dia esses sujeitos se olharem no espelho, certamente verão uma imagem de um bolsominion lhes dizendo “eu sou você e você sou eu”. Pode-se dizer inclusive que o Gabinete do Ódio ai está para passar a essas militâncias politicamente corretas tal mensagem.
E não apenas isso: essas manifestações e atos de vandalismo dizem muito mais não sobre quem foram em vida Colombo, Padre Vieira Lima, Leopoldo II ou qualquer uma dessas figuras históricas que tiveram monumentos a eles dedicados pichados e depredados ou que venham a sofrer vandalismos similares mais adiante, mas sim sobre esses tolerastas de hoje e suas militâncias politicamente correta que acham que vão resolver problemas como o racismo e o preconceito contra determinados grupos agindo dessa forma, como se fossem uma espécie de KKK de esquerda e censurando autores como o Monteiro Lobato como eles mesmos tivessem seu próprio index. Dessa forma só vão continuar a alimentar os já citados populistas de direita dos quais eles tanto se queixam.  São uns idiotas que não apenas não se dão conta do fato de que eles podem derrubar e vandalizar quantas estátuas de Leopoldo II, Colombo, Padre Vieira Lima, Colston, dos bandeirantes e outras tantas que as estruturas de poder do sistema continuarão intactas, que sabem nada de história e que acham que a história é como se fosse uma luta maniqueísta de mocinho contra bandido malvadão. Fulano de tal matou não sei quantos e escravizou x povo, então deve ser execrado e ter toda a memória a ele destruída e depredada como se fosse lixo. Então bora irmos para Samarkand e Taškent vandalizar as estátuas de Tamerlão e para Ulan-Bator vandalizar a estátua equestre de Čingis Khan, entre tantos outros exemplos. São gado tal qual os bolsominions. São bolsominions de esquerda, para ser mais exato.

Foto – O discurso do Senhor Garrison no Museu da Tolerância (em inglês).
Fontes:
A censura contra a cultura nacional: polêmica sobre Monteiro Lobato. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/a-censura-contra-a-cultura-nacional-polemica-sobre-monteiro-lobato/
“A political football”: When Malcom X, American Muslim minister and human rights activist, warned African Americans about liberals (em inglês). Disponível em: https://www.opindia.com/2020/06/malcolm-x-warning-african-americans-white-iiberals-conservatives-political-pawns/
Daniel Radcliffe responds to J. K. Rowling’s tweets about gender identity (em inglês). Disponível em: https://edition.cnn.com/2020/06/08/entertainment/daniel-radcliffe-responds-jk-rowling-trans-tweets-trnd/index.html
“E o Vento levou” é retirado da plataforma de streaming após protestos contra o racismo. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/06/10/e-o-vento-levou-e-retirado-de-plataforma-de-streaming-apos-protestos-contra-o-racismo.ghtml
J. K. Rowling é acusada de transfobia após se posicionar sobre polêmica. Disponível em: https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/12/19/j-k-rowling-e-acusada-de-transfobia-apos-se-posicionar-sobre-polemica.htm