Foto
– Cell (ainda na primeira forma) com o homem mais rico de Ginger Town em mãos.
Recentemente, me inteirei a respeito da
seguinte notícia: de que o presidente do conselho administrativo da filial do
Banco Santander em Portugal, Antônio Vieira Monteiro, teve sua vida ceifada
pelo Coronavírus-19. Ele foi a segunda vítima do vírus em Portugal. Ao saber
desse fato, invariavelmente me lembrei de uma passagem de Dragon Ball Z, mais
precisamente da saga de Cell.
Lançada originalmente no Japão em mangá em
1991 e transformada em anime pela Toei Animation um ano mais tarde, a saga de
Cell foi exibida no Brasil pela primeira vez em agosto de 2000 pelo canal a
cabo Cartoon Network e em novembro do mesmo ano na Rede Bandeirantes, dando
continuidade ao sucesso que Dragon Ball Z vinha fazendo desde o ano anterior. Eu
mesmo acompanhei na época da exibição original os episódios exibidos dessa saga
via Cartoon Network e Bandeirantes. Tal como as demais sagas de Dragon Ball Z,
foi dublada nos estúdios da finada Álamo, sob a direção de Cassius Romero (voz
de Dai Kaiošin e vários personagens menores, além de personagens como Hagen de
Merak em Cavaleiros do Zodíaco, Homem-Sereia em Bob Esponja, Crocodine em Fly o
Pequeno Guerreiro e Mestre Indra em Šurato) e Wellington Lima (voz de personagens
como Raditz, Bardock, Taopaipai e Madžin Buu no anime, além de outros
personagens como Hadžime Saitou em Samurai X e Kano em Mortal Kombat 10 e 11).
Algo digno de nota a respeito da sexta saga
da obra de Akira Toriyama (cuja trama foi inspirada no filme O Exterminador do
Futuro) é que Cell, ao contrário de Vegeta e Freeza antes dele e Madžin Buu
depois dele, originalmente não era para ser o vilão-mor da saga. Tal papel,
segundo os planos originais do criador de Dragon Ball, caberia aos androides 19
e 20 (haja vista no próprio mangá Trunks diz que os androides que tocaram o
terror em seu mundo foram os números 19 e 20). Mas eles não agradaram ao editor
de Akira Toriyama na época, Kazuhiko Torišima. Na opinião de Torišima, 19 e 20 eram
um gorducho e um velhote, e assim não serviam como vilões. Depois, Toriyama
criou os androides 16, 17 e 18. E esses também não agradaram a Torišima, que
achou que 17 e 18 são uns pirralhos e que tal como 19 e 20 também não serviam
como vilões. Então Toriyama resolveu criar um novo inimigo, dessa vez algo
totalmente novo: o androide Cell. Este, por seu turno, foi aprovado por
Torišima, principalmente depois que alcançou a forma perfeita. Ou seja, Cell (dublado
no Japão por Norio Wakamoto e no Brasil pelo finado João Batista em Dragon Ball
Z e por Raul Schlosser em Dragon Ball GT e Dragon Ball Kai) originalmente não era
nem para existir segundo os planos originais de Toriyama.
Foto
– Página do mangá original em japonês, na qual Trunks diz a respeito dos
androides que destruíram seu mundo.
Depois de vencerem os androides 19 e 20 e
serem surrados e humilhados por 17 e 18, Goku e seus amigos descobrem por meio
do noticiário que os habitantes da cidade de Ginger sumiram de forma repentina
e misteriosa. Após fusionar-se com Kami Sama, Piccolo vai até Ginger, e
descobre que o sumiço em questão foi obra de uma criatura monstruosa, que mais
tarde revelou-se tratar-se de mais uma das criações do Doutor Gero, o androide
Cell, que diferente dos demais androides emite ki e possui o DNA de guerreiros
como Goku, Vegeta, Piccolo, Freeza, Rei Cold, Nappa e outros.
Quando deu de cara com Cell, Piccolo o viu
segurando em seu braço esquerdo um homem careca engravatado. Ele é ninguém
menos que o homem mais rico da cidade. Desesperado, esse homem em questão pede
para que o namekiano[1]
o salve, dizendo que lhe pagaria todo o dinheiro que quisesse caso o salvasse.
O que é inútil, pois Cell o mata e o absorve por meio do ferrão de sua cauda. Dessa
forma o homem mais rico da cidade de Ginger teve sua vida ceifada pelo baratão,
assim como teve início o embate entre Piccolo e Cell. E o resto é história.
Percebe-se que em sua busca por perfeição,
Cell, tanto no futuro de onde veio quanto na linha do tempo normal, não poupou
ninguém em cidades como Ginger e outras. Pobres, ricos, classe média, homens,
mulheres, crianças, idosos, jovens, pessoas de pele escura ou clara, nenhum
deles escapou de tornarem-se parte daquele que depois veio a se tornar a
entidade perfeita. Em cenas existentes apenas no anime, Cell também pode ser
visto ceifando a vida de um time inteiro de futebol americano.
E certamente o mesmo pode ser dito a
respeito, por exemplo, do morticínio causado por Vegeta e Nappa na saga de
Vegeta na cidade onde os dois saiyanos aterrissaram na Terra, pelos androides
17 e 18 nas linhas do tempo de Cell e de Trunks, por Madžin Buu nas várias
cidades por ele destruídas e por Goku Black e Zamasu em seu plano de extermínio
dos seres humanos (este último na saga Black de Dragon Ball Super). Com a
diferença que enquanto esses deixaram para trás escombros e ruínas por onde
passaram, Cell adotou um expediente mais cirúrgico. Matou os habitantes das
cidades, mas ao mesmo tempo deixou para trás a infraestrutura delas intacta.
Diga-se de passagem, andando pelas ruas de minha cidade nesses últimos dias de
quarentena, a impressão que tive foi justamente essa. De que estava andando não
pelas ruas da minha cidade, mas nas ruas de Ginger depois que Cell matou e
absorveu todos os seus habitantes, reduzindo-as a verdadeiros desertos de
concreto sem uma única alma viva andando em suas ruas.
E da mesma forma que Cell ceifou várias
vidas em sua busca por perfeição independente da posição social da pessoa em
questão, com o Coronavírus-19 não é nada diferente, tendo em vista o que
aconteceu com um presidente do Banco Santander de Portugal. Os ricos podem se
defender de forma mais eficiente da pandemia (incluindo aqueles que possuem
bunkers em suas respectivas casas), mas isso não muda o fato de que eles também
estão sujeitos a terem suas vidas ceifadas pela mesma. Pois da mesma forma que
toda a riqueza de impérios e reinos como a China Song e Khwarezm não os
impediram de serem conquistados pelos mongóis no século XIII e toda a riqueza
do homem mais rico de Ginger não o impediu de ser morto e absorvido por Cell,
toda a riqueza desse presidente do Santander em questão não o impediu de ser
morto pelo Coronavírus-19.
Antes de tudo, a pandemia de Coronavírus-19
está mostrando ao mundo o fracasso do neoliberalismo, especialmente quando
vemos que países com estados fortes como a China e as duas Coreias souberam
lidar muito melhor com a crise que os países ocidentais afligidos por décadas
de neoliberalismo e suas políticas de concentração nas mãos de uma pequena gama
de multimilionários, em especial aqueles ligados ao setor financeiro. Em países
como os Estados Unidos, tais políticas implicaram em sistemas de saúde pública
frágeis, nos quais apenas os muito ricos têm condição de pagar tratamentos
muito caros (haja vista o caso do dublador norte-americano Robert Axelrod,
finado ano passado aos 70 anos de idade. Notável por ter dublado personagens
como o Lord Zedd em Power Rangers, tiveram que fazer vaquinhas virtuais na
Internet para arcar com os custos do tratamento da doença que veio a ceifar a
vida dele). Sob o governo de um imbecil miliciano que vive contestando
cientistas e não tomando as medidas adequadas para contornar a crise e se
metendo a causar crises diplomáticas com a China em um momento extremamente
delicado, não é de se surpreender que o vírus venha a causar muitas mortes no
país (e nisso Bozo mais uma vez mostra a todos nós que ele acha que ser
Presidente é o mesmo que ser o político do baixo clero que ele foi nos últimos
30 anos – ao passo que os filhos debilóides dele acham que eles não são os
filhos do Presidente da República, mas de um Deputado Federal qualquer do Rio
de Janeiro. Como diz o velho ditado, filho de peixe, peixinho é). Ou será que
Bozo, de fato, na verdade de tudo está fazendo para que o Brasil vire um grande
Milicianistão aos moldes do Haiti de Papa Doc, do morro carioca e da Colômbia
de Pablo Escobar?
E mais do que isso: essa crise evidencia a
todos nós a grande contradição do neoliberalismo e seu discurso de demonização
do Estado – de que o Estado é o demônio encarnado na Terra até que a crise
aperta. Quando isso ocorre, eles recorrem ao mesmo Estado que eles tanto
demonizam para salvar bancos e outras grandes empresas da falência. Com o
Coronavirus-19, o neoliberalismo recebeu uma sentença de morte, e seu sepultamento
será questão de tempo, em nada diferente do que aconteceu com o liberalismo
clássico na sequência da crise de 1929.
Eu, do fundo do meu coração, espero que
essa novela termine o mais rápido possível, e que as previsões mais
apocalípticas a respeito dos efeitos desse vírus no Brasil não aconteçam. Para
que lá no fim do ano o Presidente miliciano não venha com a desculpa de que a
economia do país foi mal por causa da pandemia, e assim o usando para a desviar
a atenção de sua incompetência.
Aqui deixo minha mensagem final a todos – Fora
Bolsonaro!!!!! Fora familícia!!!! Diga não à transformação do Brasil no grande
Milicianistão que o nosso Presidente débil mental tanto quer!!!!
Foto
– Roupas de habitantes de Ginger Town depois de terem sido absorvidos por Cell.
Fontes:
Dragon Ball Z – 15 things you never knew about the androids (em ingles).
Disponível em: https://screenrant.com/androids-17-18-dragon-ball-trivia-facts-gero/
Dubladores Dragon Ball Z, GT, Kai e Super.
Disponível em: https://dragonballz.fandom.com/pt-br/wiki/Dubladores_Dragon_Ball,Z,GT_E_Kai
Presidente do Santander morre em Santander
vítima do corona vírus. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/presidente-do-santander-morre-em-portugal-vitima-do-coronavirus-18032020
Quando Toriyama quis encerrar Dragon Ball –
Parte VI. Disponível em: https://namekusei.wordpress.com/2012/06/17/quando-toriyama-quis-encerrar-dragon-ball-pt-vi/
Robert Axelrod AKA Lord Zedd from POWER RANGERS
is dealing with complications from surgery (em ingles). Disponível em: https://geektyrant.com/news/robert-axelrod-aka-lord-zedd-from-power-ranger-is-dealing-with-complications-from-surgery
NOTA:
[1]
Aqui uso um termo diferente do que foi usado na dublagem brasileira do anime e
nas edições brasileira do mangá. Em japonês, o termo usado na dublagem do anime
e nas edições do mangá, namekuseidžin, significa “pessoa do Planeta Namek”.
Sendo “Namek” o nome do Planeta em questão, “sei” estrela e/ou planeta e “džin”
a palavra japonesa para pessoa. Assim, resolvi aqui adotar os nomes usados na
dublagem estadunidense do anime, só que adaptados ao português.
Muito bom!!!
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