domingo, 22 de março de 2020

Ginger Town é aqui.



Foto – Cell (ainda na primeira forma) com o homem mais rico de Ginger Town em mãos.

Recentemente, me inteirei a respeito da seguinte notícia: de que o presidente do conselho administrativo da filial do Banco Santander em Portugal, Antônio Vieira Monteiro, teve sua vida ceifada pelo Coronavírus-19. Ele foi a segunda vítima do vírus em Portugal. Ao saber desse fato, invariavelmente me lembrei de uma passagem de Dragon Ball Z, mais precisamente da saga de Cell.
Lançada originalmente no Japão em mangá em 1991 e transformada em anime pela Toei Animation um ano mais tarde, a saga de Cell foi exibida no Brasil pela primeira vez em agosto de 2000 pelo canal a cabo Cartoon Network e em novembro do mesmo ano na Rede Bandeirantes, dando continuidade ao sucesso que Dragon Ball Z vinha fazendo desde o ano anterior. Eu mesmo acompanhei na época da exibição original os episódios exibidos dessa saga via Cartoon Network e Bandeirantes. Tal como as demais sagas de Dragon Ball Z, foi dublada nos estúdios da finada Álamo, sob a direção de Cassius Romero (voz de Dai Kaiošin e vários personagens menores, além de personagens como Hagen de Merak em Cavaleiros do Zodíaco, Homem-Sereia em Bob Esponja, Crocodine em Fly o Pequeno Guerreiro e Mestre Indra em Šurato) e Wellington Lima (voz de personagens como Raditz, Bardock, Taopaipai e Madžin Buu no anime, além de outros personagens como Hadžime Saitou em Samurai X e Kano em Mortal Kombat 10 e 11).
Algo digno de nota a respeito da sexta saga da obra de Akira Toriyama (cuja trama foi inspirada no filme O Exterminador do Futuro) é que Cell, ao contrário de Vegeta e Freeza antes dele e Madžin Buu depois dele, originalmente não era para ser o vilão-mor da saga. Tal papel, segundo os planos originais do criador de Dragon Ball, caberia aos androides 19 e 20 (haja vista no próprio mangá Trunks diz que os androides que tocaram o terror em seu mundo foram os números 19 e 20). Mas eles não agradaram ao editor de Akira Toriyama na época, Kazuhiko Torišima. Na opinião de Torišima, 19 e 20 eram um gorducho e um velhote, e assim não serviam como vilões. Depois, Toriyama criou os androides 16, 17 e 18. E esses também não agradaram a Torišima, que achou que 17 e 18 são uns pirralhos e que tal como 19 e 20 também não serviam como vilões. Então Toriyama resolveu criar um novo inimigo, dessa vez algo totalmente novo: o androide Cell. Este, por seu turno, foi aprovado por Torišima, principalmente depois que alcançou a forma perfeita. Ou seja, Cell (dublado no Japão por Norio Wakamoto e no Brasil pelo finado João Batista em Dragon Ball Z e por Raul Schlosser em Dragon Ball GT e Dragon Ball Kai) originalmente não era nem para existir segundo os planos originais de Toriyama.

Foto – Página do mangá original em japonês, na qual Trunks diz a respeito dos androides que destruíram seu mundo.
Depois de vencerem os androides 19 e 20 e serem surrados e humilhados por 17 e 18, Goku e seus amigos descobrem por meio do noticiário que os habitantes da cidade de Ginger sumiram de forma repentina e misteriosa. Após fusionar-se com Kami Sama, Piccolo vai até Ginger, e descobre que o sumiço em questão foi obra de uma criatura monstruosa, que mais tarde revelou-se tratar-se de mais uma das criações do Doutor Gero, o androide Cell, que diferente dos demais androides emite ki e possui o DNA de guerreiros como Goku, Vegeta, Piccolo, Freeza, Rei Cold, Nappa e outros.
Quando deu de cara com Cell, Piccolo o viu segurando em seu braço esquerdo um homem careca engravatado. Ele é ninguém menos que o homem mais rico da cidade. Desesperado, esse homem em questão pede para que o namekiano[1] o salve, dizendo que lhe pagaria todo o dinheiro que quisesse caso o salvasse. O que é inútil, pois Cell o mata e o absorve por meio do ferrão de sua cauda. Dessa forma o homem mais rico da cidade de Ginger teve sua vida ceifada pelo baratão, assim como teve início o embate entre Piccolo e Cell. E o resto é história.
Percebe-se que em sua busca por perfeição, Cell, tanto no futuro de onde veio quanto na linha do tempo normal, não poupou ninguém em cidades como Ginger e outras. Pobres, ricos, classe média, homens, mulheres, crianças, idosos, jovens, pessoas de pele escura ou clara, nenhum deles escapou de tornarem-se parte daquele que depois veio a se tornar a entidade perfeita. Em cenas existentes apenas no anime, Cell também pode ser visto ceifando a vida de um time inteiro de futebol americano.
E certamente o mesmo pode ser dito a respeito, por exemplo, do morticínio causado por Vegeta e Nappa na saga de Vegeta na cidade onde os dois saiyanos aterrissaram na Terra, pelos androides 17 e 18 nas linhas do tempo de Cell e de Trunks, por Madžin Buu nas várias cidades por ele destruídas e por Goku Black e Zamasu em seu plano de extermínio dos seres humanos (este último na saga Black de Dragon Ball Super). Com a diferença que enquanto esses deixaram para trás escombros e ruínas por onde passaram, Cell adotou um expediente mais cirúrgico. Matou os habitantes das cidades, mas ao mesmo tempo deixou para trás a infraestrutura delas intacta. Diga-se de passagem, andando pelas ruas de minha cidade nesses últimos dias de quarentena, a impressão que tive foi justamente essa. De que estava andando não pelas ruas da minha cidade, mas nas ruas de Ginger depois que Cell matou e absorveu todos os seus habitantes, reduzindo-as a verdadeiros desertos de concreto sem uma única alma viva andando em suas ruas.
E da mesma forma que Cell ceifou várias vidas em sua busca por perfeição independente da posição social da pessoa em questão, com o Coronavírus-19 não é nada diferente, tendo em vista o que aconteceu com um presidente do Banco Santander de Portugal. Os ricos podem se defender de forma mais eficiente da pandemia (incluindo aqueles que possuem bunkers em suas respectivas casas), mas isso não muda o fato de que eles também estão sujeitos a terem suas vidas ceifadas pela mesma. Pois da mesma forma que toda a riqueza de impérios e reinos como a China Song e Khwarezm não os impediram de serem conquistados pelos mongóis no século XIII e toda a riqueza do homem mais rico de Ginger não o impediu de ser morto e absorvido por Cell, toda a riqueza desse presidente do Santander em questão não o impediu de ser morto pelo Coronavírus-19.
Antes de tudo, a pandemia de Coronavírus-19 está mostrando ao mundo o fracasso do neoliberalismo, especialmente quando vemos que países com estados fortes como a China e as duas Coreias souberam lidar muito melhor com a crise que os países ocidentais afligidos por décadas de neoliberalismo e suas políticas de concentração nas mãos de uma pequena gama de multimilionários, em especial aqueles ligados ao setor financeiro. Em países como os Estados Unidos, tais políticas implicaram em sistemas de saúde pública frágeis, nos quais apenas os muito ricos têm condição de pagar tratamentos muito caros (haja vista o caso do dublador norte-americano Robert Axelrod, finado ano passado aos 70 anos de idade. Notável por ter dublado personagens como o Lord Zedd em Power Rangers, tiveram que fazer vaquinhas virtuais na Internet para arcar com os custos do tratamento da doença que veio a ceifar a vida dele). Sob o governo de um imbecil miliciano que vive contestando cientistas e não tomando as medidas adequadas para contornar a crise e se metendo a causar crises diplomáticas com a China em um momento extremamente delicado, não é de se surpreender que o vírus venha a causar muitas mortes no país (e nisso Bozo mais uma vez mostra a todos nós que ele acha que ser Presidente é o mesmo que ser o político do baixo clero que ele foi nos últimos 30 anos – ao passo que os filhos debilóides dele acham que eles não são os filhos do Presidente da República, mas de um Deputado Federal qualquer do Rio de Janeiro. Como diz o velho ditado, filho de peixe, peixinho é). Ou será que Bozo, de fato, na verdade de tudo está fazendo para que o Brasil vire um grande Milicianistão aos moldes do Haiti de Papa Doc, do morro carioca e da Colômbia de Pablo Escobar?
E mais do que isso: essa crise evidencia a todos nós a grande contradição do neoliberalismo e seu discurso de demonização do Estado – de que o Estado é o demônio encarnado na Terra até que a crise aperta. Quando isso ocorre, eles recorrem ao mesmo Estado que eles tanto demonizam para salvar bancos e outras grandes empresas da falência. Com o Coronavirus-19, o neoliberalismo recebeu uma sentença de morte, e seu sepultamento será questão de tempo, em nada diferente do que aconteceu com o liberalismo clássico na sequência da crise de 1929.
Eu, do fundo do meu coração, espero que essa novela termine o mais rápido possível, e que as previsões mais apocalípticas a respeito dos efeitos desse vírus no Brasil não aconteçam. Para que lá no fim do ano o Presidente miliciano não venha com a desculpa de que a economia do país foi mal por causa da pandemia, e assim o usando para a desviar a atenção de sua incompetência.
Aqui deixo minha mensagem final a todos – Fora Bolsonaro!!!!! Fora familícia!!!! Diga não à transformação do Brasil no grande Milicianistão que o nosso Presidente débil mental tanto quer!!!!

Foto – Roupas de habitantes de Ginger Town depois de terem sido absorvidos por Cell.
Fontes:
Dragon Ball Z – 15 things you never knew about the androids (em ingles). Disponível em: https://screenrant.com/androids-17-18-dragon-ball-trivia-facts-gero/
Dubladores Dragon Ball Z, GT, Kai e Super. Disponível em: https://dragonballz.fandom.com/pt-br/wiki/Dubladores_Dragon_Ball,Z,GT_E_Kai
Presidente do Santander morre em Santander vítima do corona vírus. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/presidente-do-santander-morre-em-portugal-vitima-do-coronavirus-18032020
Quando Toriyama quis encerrar Dragon Ball – Parte VI. Disponível em: https://namekusei.wordpress.com/2012/06/17/quando-toriyama-quis-encerrar-dragon-ball-pt-vi/
Robert Axelrod AKA Lord Zedd from POWER RANGERS is dealing with complications from surgery (em ingles). Disponível em: https://geektyrant.com/news/robert-axelrod-aka-lord-zedd-from-power-ranger-is-dealing-with-complications-from-surgery

NOTA:

[1] Aqui uso um termo diferente do que foi usado na dublagem brasileira do anime e nas edições brasileira do mangá. Em japonês, o termo usado na dublagem do anime e nas edições do mangá, namekuseidžin, significa “pessoa do Planeta Namek”. Sendo “Namek” o nome do Planeta em questão, “sei” estrela e/ou planeta e “džin” a palavra japonesa para pessoa. Assim, resolvi aqui adotar os nomes usados na dublagem estadunidense do anime, só que adaptados ao português.


Um comentário: