Foto – Petucanismo.
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A falta de um projeto alternativo explica em grande medida não apenas a
colonização do PT pelo discurso do moralismo de fachada elitista como também
errático e vacilante em questões fundamentais, incluindo em relação ao aparato
jurídico-policial do Estado (página 157).
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Mesmo pessoas inteligentes e politicamente argutas acham que basta ter um
projeto econômico alternativo que, de forma espontânea ou mágica, as pessoas
vão compreender seu significado e seu benefício. Entretanto, não entendem a
importância de se elaborar uma narrativa, um projeto articulado, ao elitista.
Do contrário, não se sabe em que sentido reformar o Estado, o Judiciário ou a
política (páginas 157 e 158).
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A falta de um projeto alternativo impossibilita um ataque ao núcleo do rentismo
e da expropriação elitista, como o tentado por Dilma em seu primeiro governo.
Sem tal projeto, Dilma viu-se forçada a recorrer à Rede Globo, braço do
rentismo na imprensa, para explicar a luta política à população nos seus
próprios termos. Ou seja, foi forçada a lutar no campo do inimigo (página 158).
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Sem um projeto político de longo prazo, é viável promover a ascensão social de
setores inteiros (como parcelas dos pobres e a massa da classe média), mas a
narrativa da paternidade deste esforço corre sério risco de ser perdida para
Igrejas e outros atores sociais nas cidades do Centro-Sul. Como também se faz o
serviço sujo para o inimigo, como no caso das leis que criaram o aparato legal
durante o governo Dilma que hoje é usado para colocar o PT na ilegalidade e
para atacar a democracia (página 158).
Reflexão
X – Da seguinte forma o moralismo de fancaria da direita opera: cria uma
máscara para o rançoso reacionarismo de pessoas como Mayara Petruso (a mesma
Mayara Petruso que em 2010, após a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra
no pleito presidencial daquele ano, postou mensagens ofensivas aos nordestinos
no twitter e que por isso foi severamente punida) na qual perante a sociedade o
dito cujo pode bancar o campeão da moralidade que odeia a corrupção
(especialmente quando a corrupção em questão vem do PT). Foi graças a tal
máscara que a direita começou a sair do armário a partir das manifestações de
2013, algo que se agravou ainda mais depois que se iniciou a Farsa Jato e do
qual Jair Bolsonaro capitalizou.
Reflexão
XI – Lembremos do caso da Lei da Ficha Limpa, promulgada em 2010, ainda no
segundo governo Lula. Na ocasião, o único partido de esquerda que se posicionou
contrário à Ficha Limpa foi o PCO, que viu a armadilha que o PT estava criando
para si mesmo, na medida em que delegava ao Judiciário um poder ainda maior
para fazer suas politicagens, especialmente em situações de alta polarização
ideológica como a que vivemos hoje em dia. Ainda mais levando em consideração
que o Judiciário historicamente sempre foi aparelhado pela Casa Grande (a ponto
de pedigree e o capital de relações pessoais e familiares muito pesar para
alguém alcançar altos cargos na magistratura) ao longo da história brasileira.
E mais recentemente a Lei da Ficha Limpa foi usada para impugnar a candidatura
de Lula nos eleições presidenciais de 2018. O que é o juiz, se não um político
que veste toga? Pelo visto a esquerda tupiniquim, à exceção do PCO, não se dá
conta disso. Ou será que é a toa que nos Estados Unidos Republicanos e
Democratas colocam na Suprema Corte juízes alinhados ideologicamente a eles?
Reflexão
XII – A meu ver, o grande erro do PT nos 13 anos em que ficou no poder não é a
tal da corrupção, e sim a complacência para com a Rede Globo e outros veículos
da mídia venal. A tal ponto que a Vênus Platinada recebeu cerca de R$ 6 bilhões
do Governo Federal em investimentos de publicidade entre 2003 e 2013,
provavelmente pensando que assim domaria o dragão com ração e que com o PT a
Globo não ia fazer com eles as mesmas coisas que fez com Brizola no tempo em
que o político gaúcho foi governador do Estado do Rio de Janeiro (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0509200524.htm; https://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre-os-gastos-de-publicidade-do-governo/). O mesmo Brizola que tinha planos de
rever a concessão da Rede Globo caso fosse eleito presidente. Algo um tanto
similar ao que Hugo Chávez fez na Venezuela quando em 2007 não renovou a
concessão da RCTV (a mesma que foi o braço midiático do golpe de 2002). Tanto
Brizola quanto Chávez perceberam a importância de se criar um veículo de comunicação
com o povo de forma a contrapor-se à guerra midiática dos oligopólios
midiáticos: o primeiro criou o jornal “Tijolaços” no tempo em que foi
governador do RJ, e Chávez criou o programa “Alô, presidente”, que era
veiculado todo domingo na TV venezuelana. Infelizmente, o PT não teve a mesma
percepção aqui no Brasil e ficou à mercê da guerra midiática da mídia venal, em
especial a partir de 2013.
Reflexão
XIII – Por isso que é muito importante o trabalho de base ir até a favela, como
disse o Mano Brown (https://www.youtube.com/watch?v=dP1qtvtvwEY). Do contrário, o indivíduo que saiu
da pobreza por meio dos programas sociais dos governos petistas atribui sua
melhora de vida a Deus ou a seu esforço e mérito próprio simplesmente. Dessa
forma, nascem os chamados pobres de direita, verdadeiro exército de Donas
Florindas (vulgo Velha Coroca) que não apenas começam a olhar com ojeriza
pessoas que ainda estão na mesma situação na qual ela estava antes como também
a bater e chamar de gentalha e xingamentos afins os Seus Madrugas da vida e a
acreditar em contos da carochinha como a meritocracia e o self-made-man e a votar em políticos que governam apenas para o 1%
mais rico tais como Dória e Bolsonaro. Como o PT esqueceu o trabalho de bases
com o tempo, tais pessoas tornaram-se presas fáceis para as mentiras do cartel
mafioso midiático (apud Osvaldo Bertolino) e da pregação da Igreja do Edir
Macedo, do Silas Malafaia, do Valdomiro Santiago e sua teologia da prosperidade
(que nada mais é que o velho discurso calvinista de que a riqueza material de
uma pessoa é um sinal de salvação divina. Diga-se de passagem, é muito
lamentável ver uma pessoa se dizer Católica e apregoar tais discursos de fundo
calvinista. Afinal, o céu calvinista é o céu dos irmãos Koch, do George Soros,
do CEO da Nestlé, da família Quandt [a família mais rica da Alemanha e donos da
BMW], do Jorge Paulo Lemann, do barão de Rothschild e outros multimilionários).
Reflexão
XIV – Uma coisa é certa: não foi nada que surgiu esse exército de fascistinhas
que chama Bolsonaro de mito e fica de tempos em tempos fazendo a pose da
arminha com as mãos. Tal pessoal, em grande medida influenciado pela pregação
ideológica de Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim Isa) e seu
conspiracionismo em torno do Foro de São Paulo e do famigerado marxismo
cultural, por filmes como Tropa de Elite e programas policiais como o do
Ratinho e do Datena, saiu do armário em massa a partir das manifestações de
2013 e engrossou o coro a favor da queda de Dilma e da prisão de Lula. Ou seja,
a direita esteve todo esse tempo fazendo de gato e sapato a esquerda na disputa
por hegemonia ideológica.