segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT (resumo do livro "A classe média no espelho", de Jessé Souza, parte 2/5)



Foto – Petucanismo.
- Em 2002 o PT chega ao poder após três derrotas consecutivas nos pleitos eleitorais anteriores. Uma vez no poder, o PT, com Lula e Dilma, desenvolveu uma série de políticas sociais, essenciais para um país de desigualdade social abissal como o Brasil. Entretanto, pecou por ter feito tais políticas sem um discurso articulado acerca do que se estava fazendo e sem a narrativa deliberada de um projeto nacional alternativo ao projeto liberal até então vigente (página 155).
- Por ter sido gestado no mesmo ambiente pseudocrítico construído em São Paulo a partir de 1934, o PT mostrou-se prisioneiro da mesma visão de mundo de sua contraparte, o PSDB. Assim teve grandes problemas em lidar com o discurso moralista de fachada desde o escândalo do mensalão em 2005 (página 155).
Reflexão IV – Percebe-se que não apenas o PT padece desse mal. Praticamente todos os partidos de esquerda do país padecem, exceto partidos de pequena expressão como o PCO. A tal ponto que setores expressivos da esquerda, incluindo o PSOL chegaram ao ponto de não apenas jogarem confetes para as revoluções coloridas promovidas mundo afora por multimilionários como George Soros e os irmãos Koch como também de mostrarem-se simpáticos à Operação Lava Jato. Que é comandada por juízes e procuradores extremamente reacionários que pensam que o lugar de políticos de esquerda não é discursando em palanques ou não presidência do país, mas atrás das grades apodrecendo como se fosse um cadáver em decomposição. Logo eles que em conluio com a mídia venal não tiveram o menor pudor em usar-se do aparato repressivo e policial do Estado para derrubar Dilma e prender Lula em um processo no mínimo duvidoso.
Reflexão V – No tempo do impeachment de Collor, enquanto que Brizola viu todo o jogo político que se escondia por trás do impeachment e se posicionou contrário à destituição do político alagoano, o PT fez massiva campanha a favor da queda de Collor. Esse é um bom exemplo do fato de que o PT padece do mal de repetir discursos e falas da direita, incluindo o moralismo tacanho de fachada que desde 1954 vem sendo usado pelas elites sempre que o Estado é ocupado por políticos que não são de seu agrado e que tentam promover uma política social mais inclusiva. Também pode-se dizer que a raiz profunda do impeachment de Dilma está no impeachment de Collor, na medida em que deu um precedente para que tal dispositivo legal seja usado nessas brigas de poder.
Reflexão VI – Hoje em dia, Bolsonaro repete o mesmo discurso de “ética na política” do qual o PT se valia antes de chegar ao poder. Ele, que chegou ao poder graças à terra arrasada que a Lava Jato fez no sistema político brasileiro e que surfando na onda do antipetismo e do tal combate à corrupção criou uma imagem de forasteiro do sistema (que não corresponde à realidade, diga-se de passagem) que veio para moralizar a coisa toda. A julgar por alguns pronunciamentos entrevistas dele, olha o problema da corrupção da mesma que os tucanos e é igualmente influenciado pelas ideias de Buarque, Faoro e outros representantes do liberalismo conservador vira-lata tanto quanto os petistas. De que o centro da corrupção está nos políticos e não no sistema financeiro, de que o mercado é o espaço das virtudes por excelência em contraposição ao Estado malvado e vicioso, etc... Bem provavelmente, o político carioca mais cedo ou mais tarde cairá na mesma armadilha que os petistas caíram (ou será que já está caindo agora que estão vindo à tona ligações dele e de sua família com as milícias cariocas?).
Reflexão VII – Em “A elite do atraso”, Jessé Souza menciona nas páginas 188 e 189 um trecho de artigo de autoria de Fernando Haddad publicado na Revista Piauí em junho de 2017. Nesse artigo em questão, o ex-prefeito de São Paulo defende ideais similares às do ministro Luís Roberto Barroso e do procurador Deltan “Power Point da Convicção” Dallagnol a respeito do problema da corrupção no Brasil. Mais recentemente, já candidato à presidência da República pelo PT, sondou para o STF o mesmo Joaquim Barbosa que no julgamento do mensalão prendeu José Dirceu e José Genoíno sem provas e que em entrevista falou que a Lava Jato e o juiz Moro vinham fazendo um bom trabalho (quando bem que poderia naquele momento ao invés disso questionar o bilionário prejuízo econômico e social que a Lava Jato deixou em nome de um pretenso combate à corrupção), a despeito de ter errado na questão do Lula. Depois que soube que Haddad elogiou o juiz do Banestado, decidi anular meu voto. Isso para não falar das recentes alfinetadas à Gleisi Hoffmann depois que a atual presidente do PT compareceu à posse de Nicolás Maduro na Venezuela. Com políticos de esquerda que assim pensam e agem, quem precisa de Bolsonaro, Witzel et caterva?
Reflexão VIII – Desde 1954 usam a ladainha da corrupção sempre que se quer tirar do poder alguém que não é do agrado dos poderosos de plantão. Assim foi com Vargas, com Jango, com Lula e Dilma. Nesses casos, a história do combate à corrupção nada mais é que uma cortina de fumaça para a politicagem de certos grupos políticos e suas ramificações em instâncias de poder como a imprensa e os tribunais. E, infelizmente, vejo a esquerda cair como patinho nesse conto do vigário. E enquanto continuar a cair nesses contos do vigário a esquerda vai continuar a ser feita de gato e sapato pela direita nessas situações. A corrupção por si mesma é a menor das preocupações daqueles que acusam seus adversários políticos do momento. Afinal, quem é a grande beneficiária dos esquemas de corrupção se não a própria elite dos proprietários que politicamente é representada por partidos como o PMDB, o PSDB e o DEM (antigo PFL)?
Reflexão IX – Achar que na Itália derrubaram o Berlusconi só por causa de bunga-bunga, Rubygate e outros escândalos relacionados a vida particular do ex-cartola do Milan é ser no mínimo muito ingênuo. Ou que na Coréia do Sul derrubaram a Park Geun Hye só por causa de Rasputina, que a Dilma foi deposta por causa de pedaladas fiscais, que o Lula foi preso por causa de tríplex e sítio em Atibaia, que a Cristina está para ser presa por causa de cadernos K e acordos com o Irã e tantos outros exemplos.

Um comentário:

  1. Interessante sua análise... Mais um motivo pra começar a ler a obra de jesse souza.

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