Foto – Petucanismo.
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Em 2002 o PT chega ao poder após três derrotas consecutivas nos pleitos
eleitorais anteriores. Uma vez no poder, o PT, com Lula e Dilma, desenvolveu
uma série de políticas sociais, essenciais para um país de desigualdade social
abissal como o Brasil. Entretanto, pecou por ter feito tais políticas sem um
discurso articulado acerca do que se estava fazendo e sem a narrativa
deliberada de um projeto nacional alternativo ao projeto liberal até então
vigente (página 155).
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Por ter sido gestado no mesmo ambiente pseudocrítico construído em São Paulo a
partir de 1934, o PT mostrou-se prisioneiro da mesma visão de mundo de sua
contraparte, o PSDB. Assim teve grandes problemas em lidar com o discurso
moralista de fachada desde o escândalo do mensalão em 2005 (página 155).
Reflexão
IV – Percebe-se que não apenas o PT padece desse mal. Praticamente todos os
partidos de esquerda do país padecem, exceto partidos de pequena expressão como
o PCO. A tal ponto que setores expressivos da esquerda, incluindo o PSOL
chegaram ao ponto de não apenas jogarem confetes para as revoluções coloridas
promovidas mundo afora por multimilionários como George Soros e os irmãos Koch
como também de mostrarem-se simpáticos à Operação Lava Jato. Que é comandada
por juízes e procuradores extremamente reacionários que pensam que o lugar de
políticos de esquerda não é discursando em palanques ou não presidência do
país, mas atrás das grades apodrecendo como se fosse um cadáver em
decomposição. Logo eles que em conluio com a mídia venal não tiveram o menor
pudor em usar-se do aparato repressivo e policial do Estado para derrubar Dilma
e prender Lula em um processo no mínimo duvidoso.
Reflexão
V – No tempo do impeachment de Collor, enquanto que Brizola viu todo o jogo
político que se escondia por trás do impeachment e se posicionou contrário à
destituição do político alagoano, o PT fez massiva campanha a favor da queda de
Collor. Esse é um bom exemplo do fato de que o PT padece do mal de repetir
discursos e falas da direita, incluindo o moralismo tacanho de fachada que desde
1954 vem sendo usado pelas elites sempre que o Estado é ocupado por políticos
que não são de seu agrado e que tentam promover uma política social mais
inclusiva. Também pode-se dizer que a raiz profunda do impeachment de Dilma
está no impeachment de Collor, na medida em que deu um precedente para que tal
dispositivo legal seja usado nessas brigas de poder.
Reflexão
VI – Hoje em dia, Bolsonaro repete o mesmo discurso de “ética na política” do
qual o PT se valia antes de chegar ao poder. Ele, que chegou ao poder graças à
terra arrasada que a Lava Jato fez no sistema político brasileiro e que
surfando na onda do antipetismo e do tal combate à corrupção criou uma imagem
de forasteiro do sistema (que não corresponde à realidade, diga-se de passagem)
que veio para moralizar a coisa toda. A julgar por alguns pronunciamentos
entrevistas dele, olha o problema da corrupção da mesma que os tucanos e é
igualmente influenciado pelas ideias de Buarque, Faoro e outros representantes
do liberalismo conservador vira-lata tanto quanto os petistas. De que o centro
da corrupção está nos políticos e não no sistema financeiro, de que o mercado é
o espaço das virtudes por excelência em contraposição ao Estado malvado e
vicioso, etc... Bem provavelmente, o político carioca mais cedo ou mais tarde
cairá na mesma armadilha que os petistas caíram (ou será que já está caindo
agora que estão vindo à tona ligações dele e de sua família com as milícias
cariocas?).
Reflexão
VII – Em “A elite do atraso”, Jessé Souza menciona nas páginas 188 e 189 um
trecho de artigo de autoria de Fernando Haddad publicado na Revista Piauí em
junho de 2017. Nesse artigo em questão, o ex-prefeito de São Paulo defende
ideais similares às do ministro Luís Roberto Barroso e do procurador Deltan
“Power Point da Convicção” Dallagnol a respeito do problema da corrupção no
Brasil. Mais recentemente, já candidato à presidência da República pelo PT,
sondou para o STF o mesmo Joaquim Barbosa que no julgamento do mensalão prendeu
José Dirceu e José Genoíno sem provas e que em entrevista falou que a Lava Jato
e o juiz Moro vinham fazendo um bom trabalho (quando bem que poderia naquele
momento ao invés disso questionar o bilionário prejuízo econômico e social que
a Lava Jato deixou em nome de um pretenso combate à corrupção), a despeito de
ter errado na questão do Lula. Depois que soube que Haddad elogiou o juiz do
Banestado, decidi anular meu voto. Isso para não falar das recentes alfinetadas à Gleisi Hoffmann depois que a atual presidente do PT compareceu à posse de Nicolás Maduro na Venezuela. Com políticos de esquerda que assim pensam e
agem, quem precisa de Bolsonaro, Witzel et caterva?
Reflexão
VIII – Desde 1954 usam a ladainha da corrupção sempre que se quer tirar do
poder alguém que não é do agrado dos poderosos de plantão. Assim foi com
Vargas, com Jango, com Lula e Dilma. Nesses casos, a história do combate à
corrupção nada mais é que uma cortina de fumaça para a politicagem de certos
grupos políticos e suas ramificações em instâncias de poder como a imprensa e
os tribunais. E, infelizmente, vejo a esquerda cair como patinho nesse conto do
vigário. E enquanto continuar a cair nesses contos do vigário a esquerda vai
continuar a ser feita de gato e sapato pela direita nessas situações. A
corrupção por si mesma é a menor das preocupações daqueles que acusam seus
adversários políticos do momento. Afinal, quem é a grande beneficiária dos
esquemas de corrupção se não a própria elite dos proprietários que
politicamente é representada por partidos como o PMDB, o PSDB e o DEM (antigo
PFL)?
Reflexão
IX – Achar que na Itália derrubaram o Berlusconi só por causa de bunga-bunga,
Rubygate e outros escândalos relacionados a vida particular do ex-cartola do Milan é ser no
mínimo muito ingênuo. Ou que na Coréia do Sul derrubaram a Park Geun Hye só por
causa de Rasputina, que a Dilma foi deposta por causa de pedaladas fiscais, que
o Lula foi preso por causa de tríplex e sítio em Atibaia, que a Cristina está
para ser presa por causa de cadernos K e acordos com o Irã e tantos outros
exemplos.
Interessante sua análise... Mais um motivo pra começar a ler a obra de jesse souza.
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