domingo, 18 de março de 2018

O caso Marielle Franco e a colombização do Brasil.



Foto – Marielle Franco (1979 – 2018).
Coxinha politicamente analfabeto pertencente às alas mais reacionárias da classe média e defensor do Brasil de figuras como Paulo Skaf, João Paulo Lemann, as famílias Villela, Setúbal e Marinho, dos barões do agronegócio, dos juízes e desembargadores fura-teto (entre eles os Judges Murrow e Bretas e os desembagrinhos[1] que votaram a favor da condenação de Lula) e outros elementos da elite do atraso, meus parabéns, pelo visto seu sonho está tornando realidade. O Brasil não está se transformando em uma grande Venezuela, Cuba ou Coreia do Norte como você tanto deseja. O teu pesadelo não se tornou realidade, só que para teu infortúnio o Brasil está para se transformar em algo infinitamente pior: uma nova Colômbia ou um novo México. Onde vigora um regime de narco-terror de Estado altamente truculento para com seus opositores e onde muito perigoso é criticar o governo, os cartéis, as milícias e as grandes empresas (e lembrando que os dois países são aliados dos Estados Unidos). E a morte da vereadora psolista Marielle Franco (morta com três tiros na cabeça e um no pescoço junto com o motorista do carro onde estava), ocorrida em 14 de março de 2018 e que foi antecedida nos últimos anos por um crescente número de mortes de ativistas de direitos humanos, é sintomática disso.
Primeiramente, é uma morte lamentável. Fica nossas condolências a ela, seus familiares e amigos (assim como ao motorista de seu carro). Certamente, sua morte foi encomendada por aqueles que ela periodicamente denunciava. E quem eram os alvos das denúncias da política fluminense, eleita vereadora pelo PSOL em 2016? Temos nossas discordâncias ideológicas como o que ela e seu partido, o PSOL (que prega um liberalismo de esquerda xerocado do Partido Democrata estadunidense), mas isso não muda o fato de que Marielle Franco era crítica da intervenção federal no Rio de Janeiro e da Polícia Militar, frequentemente denunciava abusos de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes (incluindo denúncias ao 41º batalhão do PM, o “Batalhão da Morte”), assim como a máfia dos ônibus e a violência miliciana. Também foi escolhida como há pouco para ser a relatora da Comissão da Câmara dos Vereadores que ia acompanhar a intervenção militar.
Isso está inserido dentro de um contexto em que o narcotráfico estende seus tentáculos dentro das instituições políticas brasileiras, a começar por fatos como o advogado do PCC Alexandre de Morais ter sido nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, o fortalecimento de facções criminosas ligadas ao PCC em vários estados da nação, mais escândalos envolvendo aviões e helicópteros carregados de drogas em fazendas de políticos, enfraquecimento proposital das fronteiras por parte do governo Temer e revelações feitas por grandes traficantes sobre o grau de influência que eles possuem nas esferas municipal, estadual e federal, a execução de 14 candidatos na região da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro (assim como muitos outros em várias partes do país).
Mas o mais triste disso tudo não é nem a morte em si, e sim a repercussão que ela gerou. Em redes sociais como o Twitter, falam que ela foi morta por ser mulher, negra, GLBT. Sobrou até para os eleitores de Jair Bolsonaro. Para nós do RTM, que somos partidários da direita dos valores e da esquerda do trabalho, isso é irrelevante para baixo e enojados nos sentimos dessa politização que tem sido feita em torno de sua morte. Ou será que o Marcelo Freixo não será um das próximas vítimas no momento em que ele começar a criticar as UPPs e baixar a guarda? Marielle não foi morta por ser GLBT, mulher ou negra. Um discurso desses é tão ou mais estúpido e alienante quanto o discurso dos elementos da direita que falam que ela era associada ao narcotráfico (versão essa divulgada pela desembagrinha Marília Castro Neves [a mesma que soltou um dos chefões da máfia dos ingressos na Copa do Mundo] e posteriormente desmentida pelo procurador Sidney Madruga), que isso foi uma ação entre bandidos e discursos afins, já que não tocam no ponto nevrálgico da questão.
Diga-se de passagem, algo para mim no mínimo bem curioso e intrigante é que a morte do policial civil Lucas Gomes Arcanjo, ocorrida no ano retrasado sob circunstâncias igualmente suspeitas (tendo sido encontrado em sua casa com uma gravata amarrada no pescoço na janela de seu quarto), na época não teve a mesma repercussão que a morte de Marielle agora está tendo. Lucas Gomes Arcanjo, que também era negro, em seus últimos anos de vida fez uma série de denúncias com provas contra Aécio Neves, incluindo seu envolvimento com o narcotráfico e até mesmo um esquema de lavagem de dinheiro junto com Antônio Anastasia (o mesmo Anastasia que quando foi governador de Minas Gerais usou e abusou de pedaladas fiscais e depois foi um dos relatores do impeachment de Dilma Rousseff). Em seu último vídeo postado no You Tube, podemos ver o policial angustiado, indignado e revoltado não só com a parcialidade da justiça brasileira como também da mídia brasileira (incluindo a Rede Globo). Mas por que escolhi falar de Lucas Gomes Arcanjo em específico e não dos inúmeros policiais mortos nessas operações contra o tráfico, entre outros? Pelo simples fato de que tanto Lucas Gomes Arcanjo quanto Marielle Franco espalharam m* no ventilador para o lado de representantes do aparato repressor do Estado profundo brasileiro e suas ligações nebulosas com o narcotráfico e outras organizações criminosas (ligações essas que o filme Tropa de Elite 2 muito bem mostra, diga-se de passagem) e por eles tiveram suas vidas ceifadas, para servirem a população de exemplo sobre o que irá acontecer a quem fizer a menor contestação a seu poder.

Foto – Lucas Gomes Arcanjo (1971 – 2016).
Dentro desse estado profundo associado ao crime organizado não apenas estão políticos como Zezé Perrella e Aécio Neves como também figuras como grandes empresários, juízes, advogados, desembargadores, policiais e outros bacanas (entre os quais possivelmente se incluem, por exemplo, os delegados aecistas que ofenderam Dilma nas redes sociais durante o pleito presidencial de 2014). Ou será que o traficante Breno Borges, filho de uma desembargadora, conseguiu aqueles 130 quilos de maconha e de munições (incluindo armas usadas só pela PF e pelo PCC) do nada? Ligações essas que Paula Marisa parece ignorar, a julgar por suas falas em seu vídeo sobre o caso.
Algo também digno de nota é o vídeo que Nando Moura postou sobre o recente ocorrido, onde ele fala que a Rede Globo está a beatificando em seus programas. Isso, assim como a veiculação da música “eu só quero ser feliz” no Domingão do Faustão dias antes, tem de ser visto dentro do contexto da queda de braço entre Michel Temer e a Rede Globo (sobre o qual falamos no artigo anterior), com a Vênus Platinada utilizando esse caso para alfinetar o vampirão e abrir caminho para que suba ao poder o favorito do momento da emissora da família Marinho, Rodrigo Maia. Em outras palavras, a emissora da família Marinho está politizando essa morte do seu modo e visando seus fins escusos de sempre.
O deputado Lindbergh Farias se pronunciou a respeito do caso, condenando a execução da deputada carioca. Entre outras coisas, Lindbergh disse que a política de guerra contra as drogas é um eufemismo para uma política de massacre aos pobres (e com os auspícios das alas mais reacionárias da classe média, diga-se de passagem) e que a guerra às drogas é um fracasso total. Concordo com a primeira assertiva, mas não com a segunda. A guerra às drogas é de fato um fracasso total como certos setores da esquerda liberal pós-moderna apregoam ou será que na verdade ela foi feita para ser um fracasso, tendo em vista que o tráfico de drogas é um comércio bilionário onde pessoas poderosas da política e do grande empresariado estão envolvidos (entre eles o megaespeculador George Soros)? Será que em algum momento a guerra às drogas se propôs e realmente quis resolver tal problema, que nem foi feito com sucesso estrondoso na China durante a era Mao em relação ao problema do ópio? Olhando por esse prisma, a guerra contra as drogas de forma alguma é um fracasso. Pelo contrário. Nunca que essa gente vai querer matar sua galinha dos ovos dourados.
Em seu vídeo a respeito do caso, Eduardo Guimarães disse que o assassinato de Marielle Franco é um recado a todos aqueles que se opuserem ao novo governo, às autoridades instituídas e seus negócios escusos. Em um sentido mais amplo, sim concordo com o blogueiro. E em um sentido mais restrito é um recado daqueles que comandam as milícias e o tráfico de que eles não vão admitir contestação a seu poder e que as consequências muito duras serão para aqueles que resolverem espalhar seus podres à população.
Tendo em vista tais fatos, será que um dos motivos pelos quais derrubaram Dilma Rousseff ano retrasado por meio daquele processo fraudulento e fazem o que fazem com Lula não teria sido a instalação de um Estado narco-terrorista similar ao que já existe na Colômbia e no México (tipo de Estado esse que certamente também será implantado na Venezuela caso Nicolás Maduro e o regime bolivariano seja deposto) e que sirva de rota de abastecimento de droga para os EUA e outros mercados das nações hegemônicas? E que é isso que o Plano Atlanta reserva não só para o Brasil como também para toda a América Latina, de forma a criar estados-zumbis (tal como feito no Mundo Islâmico com a Líbia e o Iraque e como tentam fazer na Síria desde 2011) em toda a região que estejam em uma situação de entropia e desagregação interna tal que muitos anos, talvez décadas ou até séculos, demorem para atingir o patamar socioeconômico em que estavam até recentemente e que não desafiem e sejam servis aos Estados Unidos tal como a Colômbia e o México o são e assim afirmando a posição hegemônica de Washington no continente americano? Tendo em vista que no Afeganistão os Estados Unidos derrubaram o Taliban do poder para restabelecer o tráfico de ópio e heroína que os partidários do Mullah Omar tinham desbaratado (nada muito diferente do que a Inglaterra fez no século XIX nas guerras do ópio contra a China, diga-se de passagem), não descarto essa possibilidade.
O que Manolo Pichardo soltou em suas falas a respeito do Plano Atlanta certamente apenas é a ponta do iceberg, e aquela reunião onde ele esteve presente em 2012 de penetra certamente não foi a única em que tais planos foram traçados. Talvez, apenas daqui a 40 anos (no mínimo), quando documentos relativos a essa articulação supranacional forem enfim liberados e tornados públicos, saberemos de tudo o que foi delineado nessas reuniões, quem foram os atores políticos e jurídicos ali presentes, entre outras coisas. E até lá muitos de nós já estaremos mortos. Como também questão de tempo será aqui no Brasil aparecer grandes traficantes do porte de um Pablo Escobar ou de um El Chapo se nada for feito contra. Diga-se de passagem, não vejo a esquerda brasileira dando a devida atenção ao Plano Atlanta.
Fontes:
Aécio e Anastasia – Negócios escusos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NU6u0ZtCA_k&ab_channel=ROBERTOSTARCKLEMOS
Colunistas do COTV: “Marielle Franco – execução sob a proteção da intervenção militar”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bDw-gXAxvcw&ab_channel=CausaOperariaTV
Cresce o número de assassinatos de ativistas de direitos humanos no Brasil, aponta Anistia Internacional. Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/cresce-o-numero-de-assassinatos-de-ativistas-de-direitos-humanos-no-brasil-aponta-anistia-internacional/
Filho de desembargadora solto na madrugada de sexta é considerado de alta periculosidade pela PF. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2017/07/23/filho-da-desembargadora-solto-na-madrugada-de-sexta-e-considerado-de-alta-periculosidade-pela-pf/
Lindbergh: morte de Marielle representa o fracasso da política de “guerra às drogas”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fnawAnzgMAU&ab_channel=PTnoSenado
Lucas Gomes Arcanjo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucas_Gomes_Arcanjo
Marielle Franco – SANTA da Rede Globo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cXgRCPoY9Kw&ab_channel=NandoMoura
Morte da vereadora foi “recado à esquerda”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HbWL-HmyVqk&ab_channel=BlogdaCidadania
O desabafo de Lucas Gomes Arcanjo em seu último vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=egoKb2jznag&ab_channel=GilbertoLima
Vereadora assassinada no Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c6nLoUKqdms&t=7s&ab_channel=PaulaMarisa

NOTA:


[1] Termo que Paulo Henrique Amorim utiliza para se referir aos desembargadores João Pedro Gebran Neto, Victor Laus e Leandro Paulsen de forma irônica e sarcástica.

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