Foto – Fausto Silva, o Faustão.
Em
12 de maio de 2018 Rogério Betin (notório por ter feito várias denúncias de
supostas irregularidades e trambiques envolvendo Felipe “Malakoi do hebraico” Neto)
postou um vídeo em seu canal comentando a respeito do recente desabafo do
apresentador Fausto Silva, o Faustão, onde ele se recusou a cantar a música
“hoje é um novo dia” por achar que não há clima para isso (a ponto de dizer que
o tal “novo dia” nunca chega) e que só isso fará quando realmente for um novo
dia. Faustão também fez críticas ao governo Temer. O apresentador global disse,
entre outras coisas, que o governo nada faz para a população e a rouba. Faremos
algumas considerações a esse respeito.
Primeiro
de tudo: grande coisa o Faustão ter tecido críticas ao presente governo.
Criticar o governo e os políticos que ai estão a coisa mais fácil do mundo é. É
como bater em bêbado de rua. Queria muito ver se Fausto Silva teria peito para
espalhar merda no ventilador para cima de bancos, especuladores, agiotas e
outros atravessadores financeiros que patrocinam veículos da grande mídia como
a própria Rede Globo (os quais também compram políticos e juízes para que eles
legislem em seu favor). Como já dito aqui no blog várias vezes antes, o sistema
financeiro é onde a boca de fumo da corrupção se encontra. Queria ver se uma
denúncia contra o sistema financeiro, seus representantes (Itaú, Bradesco,
Santander e outros) e o bolsa banqueiro que enche os bolsos dessa gente por
meio das altas taxas de juros com que se paga o serviço das dívidas interna e
externa iria ao ar em plena tarde de domingo.
Também
gostaria muito de ver se a Rede Globo ia deixar o Faustão espalhar merda para o
lado do Judge Murrow, do Judge Bretas e outras estrelas da Lava Jato e cobrar
explicações sobre as denúncias do Tacla Duran, as relações do casal Moro com o
advogado e padrinho de casamento Carlos Zuccolotto, sobre o auxílio-moradia e
outros benefícios que eles ganham e que ajudam a turbinar seus salários à
revelia da lei, sobre o caso Banestado, sobre o fato de terem reduzido as penas
daqueles que fizeram delação contra Lula (entre eles Alberto Yousseff e Nestor
Cerveró) e quem sabe até falar sobre as relações do Judge Murrow com o doleiro
Dario Messer. No que seria no mínimo uma bela de uma torta na cara no esquema
Car Wash (diga-se de passagem, no caso específico da corrupção dentro do poder
judiciário, vejo veículos midiáticos direita falarem sobre isso, mas nunca
colocarem o nome das estrelas da Car Wash no meio). Quem sabe até espalhar a
merda em cima do ventilador da própria Globo a respeito de como ela foi salva
no primeiro governo Lula, os R$ 2 bilhões que deve de impostos ao governo de
sonegação fiscal, os negócios escusos da Globo na transmissão de jogos de
futebol e outros trambiques na qual a emissora da família Marinho está
envolvida.
A
julgar por suas falas, tanto Faustão (que em determinado momento cobra que as
pessoas votem melhor e diz que “urna não é penico”) quanto Rogério Betin
parecem ignorar o já aqui citado fato de que a boca de fumo da corrupção não
está nos políticos, e sim no sistema financeiro. Tais políticos, como Jessé
Souza aponta em suas obras, são como os aviõezinhos do narcotráfico: aqueles
que fazem o serviço sujo dos traficantes, se expõe à polícia e que ficam com as
sobras do saqueio que fazem.
Faustão
também diz que o Brasil é o único lugar do mundo onde o Governo nada faz por
você e que ele te rouba. Faustão parece ignorar o fato de que no mundo
capitalista o Estado tem seu caráter de classe (algo que Karl Marx constatou em
meados do século XIX), e um governo como de Michel Temer, um representante
orgânico da elite do atraso, não é exceção. O governo Temer nada faz por você
pelo simples motivo de que ele está ai justamente para esse fim. Para esfolar o
povo em nome do sistema financeiro nesse período de crise econômica. Michel
Temer e sua canalha ao poder foram alçados para servir e remunerar por meio do
serviço da dívida, perdão de dívidas do imposto de renda (como os R$ 25 bilhões
perdoados ao Itaú pelo vampirão) e aplicação de uma draconiana política neoliberal
de arrocho e retirada de direitos (da qual o PT jamais se atreveria a fazer na
intensidade que essa gente deseja) nesse momento de crise econômica o sistema
financeiro e seus representantes (sem esquecer de seus sócios menores que também
especulam com as altas taxas de juros, tais como industriais, multinacionais,
agronegócio, fundos de pensão, empresas de mídia e outros).
E
achar que governos que nada fazem pela população é uma jabuticaba exclusiva do
Brasil é ser no mínimo muito ingênuo e politicamente analfabeto. Ou será que
ele já ouviu falar de governos como os de Carlos Salinas de Gortari no México,
Carlos Andrés Perez na Venezuela (durante cujo governo aconteceu o famoso
Caracazzo), Gonzalo Sánchez de Lozada na Bolívia, Augusto Pinochet no Chile,
Carlos Menem e Mauricio Macri na Argentina e de Boris Jel’cin na Rússia, os
quais aplicaram em seus respectivos países a mesma agenda neoliberal que aqui
FHC aplicou e Michel Temer aplica no presente momento (e que a própria Globo
quer que seja aprofundado)? Ou mesmo Ronald Reagan e sua reaganomics nos EUA e
Margareth Thatcher na Inglaterra (onde cortes em programas sociais foram feitos
e cujas políticas inspiraram as políticas neoliberais aplicadas na América
Latina nos anos 1990)? E Rogério Betin endossa tais críticas de Faustão ao
governo, o qual taxa o governo de incompetente e que gesta mal os recursos da
nação. Mal sabem eles que a parte do leão da má gestão dos recursos públicos
não é para remunerar o funcionalismo público, empresas estatais ou para
investir em programas sociais, e sim para remunerar o rentismo financeiro por
meio do sistema da dívida e as altas taxas de juros (taxas essas que Dilma
Rousseff tentou reduzir em seu primeiro governo, mas que não teve o devido
sucesso devido à resistência dos setores da economia ligados ao sistema
financeiro).
Faustão
demonstrou um analfabetismo político que a uma emissora como a Rede Globo,
envolvida em todo tipo de trambique e falcatrua, é muito conveniente. E assim
mais uma vez os políticos são utilizados como bode expiatório das mazelas que
afligem o cidadão comum e ajudando a perpetuar nas pessoas a falaciosa ideia da
corrupção apenas entre os políticos, nunca do setor privado. Em outras
palavras, a corrupção apenas do prefeito Quimby, nunca do Senhor Burns. Mas o
que mais impressionou ai não é nem a “fulanização da corrupção” feita pelo
próprio Faustão, e sim a hipocrisia e o cinismo da Rede Globo, tendo em vista
que desde o segundo governo Vargas nos anos 1950 a Globo vive sabotando e
difamando todo governo e qualquer de caráter popular que resolva dar alguma
atenção à população mais carente do país.
Sobre
o fato de Rogério Betin ter dito que em países do Primeiro Mundo as pessoas não
quererem levar vantagem em tudo como aqui no Brasil, eu particularmente tenho
minhas vidas. Será que essa é uma jabuticaba exclusiva do Brasil? E será que no
Primeiro Mundo comportamentos similares não existam, ainda que não sejam tão
disseminados e escancarados como por aqui?
E
sobre o fato de no programa ter sido veiculada a música “eu só quero ser
feliz”, da dupla de rappers Cidinho e Doca (originalmente lançada em 1995) e da
indagação de Rogério Betin sobre o fato de a Rede Globo ter veiculado
propositalmente e de forma esquematizada e combinada não só essa música como
também críticas ao governo Temer, Rogério Betin diz que a Globo está dando uma
alfinetada no governo. Assino embaixo com que o Betin disse, tendo em vista a atual
quebra de braço entre Michel Temer e a Rede Globo (em parceria com setores do
Judiciário e do Ministério Público) e
que a emissora da família Marinho quer Temer fora da presidência para que em
seu lugar entre uma figura como o Rodrigo Maia para aplicar o mesmo ajuste
neoliberal que Temer está fazendo, só que de forma ainda mais draconiana. O
primeiro round da quebra de braço o vampirão venceu. O segundo está apenas
começando. É justamente nesse contexto que o “eu só quero ser feliz” no
programa do Faustão se insere.
Ou
será que a Rede Globo, a mesma Rede Globo que no tempo em que Leonel Brizola
foi governador do Estado do Rio de Janeiro era contra os CIEPs e muito
satanizou a iniciativa de Darcy Ribeiro e do político gaúcho (a ponto de ajudar
no desmonte dos CIEPs e os investimentos em educação popular feitos na época),
está realmente preocupada com o bem-estar dos moradores das favelas? A mesma
Globo que apresenta funkeiros ostentação e Anitta como a voz da favela (sendo
que em realidade não passam de produtos enlatados da indústria fonográfica que
vende à todos nós uma realidade falsa das favelas e que ajudam a manter a situação
de exclusão social nas próprias favelas, na medida em que não tocam nas mazelas
do sistema que gera todo esse quadro de exclusão social e glamouriza a própria
favela), mas que em momento algum está interessada que haja uma política de
inclusão social das pessoas que moram nas favelas. E pode ter certeza que fosse
o favorito do momento da Rede Globo que estivesse fazendo a intervenção nas
favelas que a emissora da família Marinho não ia aplicar uma alfinetada dessas
em rede nacional. Ou seja, indiferente estaria para com o bem-estar das pessoas
que nas favelas moram. É uma mera preocupação de fundo politiqueiro dentro de
um contexto de briga de poder.
Faustão
também diz que a reforma da previdência é necessária. Tal reforma está sendo
feita sob o pretexto de que a previdência é deficitária. Entretanto, não se diz
o real motivo desse déficit. Tal déficit decorre do fato de que o atual
governo, assim como os anteriores, desviaram recursos da previdência para
remunerar o já citado bolsa banqueiro e suas altas taxas de juros. Também nunca
falam que a esmagadora maioria dos aposentados ganham menos de três salários
mínimos e que o que realmente onera a previdência, além da já citada
renumeração do bolsa banqueiro, é uma casta de aposentados privilegiados
composta por militares, desembargadores, juízes, militares, promotores,
políticos e outros (os quais não raro passam de forma hereditária suas
aposentadorias a seus filhos e netos) que ganham aposentarias altíssimas,
geralmente de R$ 20 mil para cima. A reforma da previdência deveria ser feita
em cima dessa gente, não em cima de quem ganha no máximo três ou quatro
aposentadorias. A verdade é que essa conversa é um pretexto, uma cortina de
fumaça para o sistema financeiro colocar seus tentáculos no sistema previdenciário.
Essa é, diga-se de passagem, uma velha conversa da parte dos neoliberais
brasileiros. Nos anos 1990 Enéas chegou a falar sobre isso. Talvez, Faustão e
tantos outros globais sejam a favor dessa reforma pelo fato de a emissora em
que trabalha ser dona do maior grupo de empresa privada do país, o Mapfre,
segundo reportagem do Conversa Afiada. Ou seja, a reforma da previdência que a
Globo quer não é para cortar na carne dessa casta de funcionários públicos
privilegiados, e sim para esfolar o povo mais humilde em nome dos lucros do
rentismo financeiro. Afinal, ela é a principal porta-voz do rentismo na mídia
brasileira.
Em
seu vídeo a respeito do pronunciamento de Faustão, Nando Moura disse que
Faustão é um escravo cujo pensamento se encontra acorrentado àquilo que a
empresa quer que ele diga e que esse é o pior tipo de escravo que pode existir.
Também disse que Felipe Neto seguiu caminho similar. O mesmo Felipe Neto que,
entre outras coisas, nos tempos do “Não faz Sentido” dizia que chegaria o dia
em que seria errado a pessoa ser heterossexual e que hoje fica contrariado
quando alguém se manifesta a favor de censura a cenas de beijos GLBT em
desenhos destinados ao público infantil (garoto do cabelo colorido, se você
tanta questão faz de ver cenas desse tipo em desenhos, o que acha de procurar
um anime dos gêneros yuri e/ou yaoi? Quem sabe até um moe ou um ecchi? Tenho
certeza que você vai adorar).
Sobre
o que aconteceu tanto com Faustão quanto com Felipe Neto Jessé Souza dá uma
pista do que pode ter ocorrido com os dois nas páginas 115 e 116 do livro “A
Radiografia do golpe”. Nos dois últimos decênios a imprensa passou por uma
grande mudança estrutural onde se dá uma absoluta verticalização de comando,
que permite um controle muito maior de cima para baixo. Com isso, há a extinção
dos debates nas redações dos jornais e aqueles que gostam de discutir são
taxados de chatos e/ou problemáticos. Produz-se assim uma homogeneidade de
pensamento em conformidade com o processo de obrigatória obediência vertical e
se instaura uma competição pela obediência e antecipação dos auspícios dos
chefes em cima. Tendo em vista que o showbusiness está inserido dentro dessa
mesma estrutura, bem provavelmente o mesmo tipo de coisa acontece nesse meio. Assim
para alguém ter sucesso e alçar altos voos nesse meio é preciso andar na linha
imposta pelos chefes do showbusiness, e isso inclui pensar da mesma forma que
eles. Ou seja, ser a favor de todos esses progressismos morais que a maior
parte da população rejeita. E com Faustão e Felipe Neto não seria nem um pouco
diferente. No que ajuda a explicar como que o Felipe Neto do “Não Faz Sentido”
se tornou o “Garoto colorido”.
Fontes:
Doutor
Enéas e Ciro Gomes falam sobre a previdência. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PgdFjAwhirw&ab_channel=SEM-ISMOS
Faustão
detonando a Globo e o Governo ao vivo! Completo! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zIzOvXP2CvA&ab_channel=RogerioBetin
FAUSTÃO
– O escravo milionário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KJ4muBH9Ar8&t=38s&ab_channel=NandoMoura
Globo
é dona da maior empresa de previdência privada! Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/economia/globo-dona-da-maior-empresa-de-previdencia-privada-
Jessé
Souza: a esquerda pensa com categorias de direita. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2017/08/08/jesse-souza-a-esquerda-pensa-com-categorias-da-direita/
Não
canto mais essa p**** de hoje é um novo dia Desabafa Faustão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I2xqRFLOlvY&ab_channel=CanalHaHaHa%21%21%21
Souza,
Jessé. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado. Rio de
Janeiro: LeYa, 2016.
Sempre quando a globo (ou alguma carinha famosa de lá) fala alguma coisa, já fico com o pé atrás (mesmo quando a opinião deles está de acordo com a minha).
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