sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

As mazelas do mundo 4.0 e a questão da dublagem (parte II)

 

Foto – Logo do movimento dublagem Viva.

Mais uma vez, a respeito da polêmica envolvendo o uso da inteligência artificial na dublagem.

Nos últimos dias, vários dubladores, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro, ante a ameaça que o uso da Inteligência Artificial vem exercendo sobre os trabalhos deles, fizeram várias manifestações em redes sociais e até lançaram um movimento, o “Dublagem Viva”, com a intenção de regulamentar o uso da tecnologia na dublagem. Segundo o movimento Dublagem Viva, há coisas que a máquina, por mais aprimorada que seja, é incapaz de reproduzir. Até porque a máquina não é um ser vivo, e sim uma coisa.

Foto – Imagem que circula em redes sociais como o Facebook, que reflete o posicionamento de dubladores quanto à questão da Inteligência Artificial e à ameaça que ele representa aos empregos deles.

Em massa os dubladores fizeram manifestações em redes sociais, nas quais, como esta aqui da dubladora Sandra Mara Azevedo (a primeira dubladora da Chiquinha no Chaves, da Patty Pimentinha em Snoopy e da Kronika em Mortal Kombat 11), na qual exige uma dublagem viva:

https://fb.watch/pQhZ659AVL/

E esta de Miriam Fischer (voz da Lilica em Tiny Toons, Pumyra em Thundercats, Charlene em Família Dinossauro, Botan em Yu Yu Hakušo e Pandora em Cavaleiros do Zodíaco):

https://www.facebook.com/reel/718988436991067

Mais estes de Gabriela Milani (voz da Uniqua em Backyardigans, Star Borboleta em Star versus as Forças do mal e Sky em Patrulha Canina):

https://www.facebook.com/reel/1824468947967476

https://www.facebook.com/reel/913725910426957

Este de Angélica Santos (voz do Cebolinha em Turma da Mônica, Oolong na franquia Dragon Ball, Kimie Watanabe em Rugrats: os Anjinhos, Esmeralda em Cavaleiros do Zodíaco e Stinky em Hey Arnold!):

https://www.facebook.com/524984684/videos/4450233861869224/

Este de Carlos Falat (voz de Skeeter em Doug, Cell Júniors em Dragon Ball Z, Eugene em Hey Arnold!, Phil deVille em Rugrats: os Anjinhos e Arthur em As aventuras de Babar):

https://www.facebook.com/reel/1124706228695640

Este de Fábio Moura (voz do Šura de Capricórnia em Cavaleiros do Zodíaco, Avan em Fly: o pequeno guerreiro, Monge em Samurai Warriors, narrador de Pokémon):

https://www.facebook.com/reel/1098718157984465

E por fim este de Dado Monteiro (voz de Clifford em Clifford: o gigante cão vermelho, Vegeta em Dragon Ball Kai e do Broly na franquia Dragon Ball):

 https://www.facebook.com/reel/322694570112633

Trata-se de um movimento de escala global, encabeçado pela “United Voice Artists”, que luta pelos direitos da classe no mundo inteiro e reivindica que os profissionais da voz não sejam substituídos pela nova tecnologia, e que esta deveria ser usada apenas como uma ferramenta de auxílio. Outras organizações em outras partes do mundo também surgiram com essa mesma intenção.

Segundo o manifesto do próprio movimento em questão:

“A IA não deve ser usada para reproduzir vozes de atores em outros idiomas para Língua Portuguesa Brasileira a finalidade de substituir os dubladores. É essencial preservar a expressão vocal, emoção e interpretação artística que os profissionais trazem para o processo de dublagem. A tecnologia deve ser vista como uma ferramenta complementar, não como um substituto”.

Eu, como fã da arte de longa data, estou do lado dos dubladores nessa questão. Não apenas por uma questão de princípio e por ser fã da arte desde os anos 1990, além de se tratar de uma situação na qual o próprio ganha-pão deles está em jogo. Fico eu imaginando com os meus botões o balde de água que não será para aqueles que no presente momento tanto estudaram para conseguir um DRT e começar a exercer a profissão, e de repente vem uma nova tecnologia e coloca todo o esforço deles a perder. Ou mesmo daqueles que há muitos anos estão no meio, já consolidados.

No Brasil, a arte da dublagem tem uma história quase centenária. A primeira produção a receber dublagem no Brasil foi “Branca de Neve e os Sete Anões”, em 1938, por meio da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e que contou com a participação de figuras como os cantores Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo. Nos anos seguintes, a dublagem brasileira passou a ser considerada uma das melhores de todo o mundo por conta de fatores como bons atores, compreensão da fala, técnicas sonoras e lealdade ao texto original, por vezes adaptando os roteiros das produções com expressões nossas (vide o caso do “Eu sou Toguro” em Yu Yu Hakusho). Espero chegarmos a 2038, o ano em que a arte completar seu centenário no país, ainda sendo exercida por pessoas de carne e osso, e não por máquinas e aplicativos. Eu sei que é pedir muito dado o contexto de Quarta Revolução Industrial em que vivemos, mas não custa sonhar.

Por meio do movimento Dublagem Viva o primeiro passo foi dado, agora veremos como a situação desenrolar-se-á. A organização dele em um movimento como esse é importante, do contrário o olho da rua os aguarda. Ou subempregos como os Ubers, iFoods e OnlyFans (para as garotas) da vida. Lembrando que foi por meio da organização e de protestos massivos que, por exemplo, o pessoal que trabalha com vaquejada (atividade muito comum no Nordeste brasileiro e que movimenta considerável montante de dinheiro por lá, e mais os empregos diretos e indiretos que a mesma gera) logrou impedir que seu meio de vida fosse destruído por canetadas de togados em 2016 (com direito a protestos massivos na Esplanada dos Ministérios por parte de vaqueiros nordestinos).

Foto – Manifestações contra a proibição da vaquejada, 2016.

Coloquemos as coisas em perspectiva. Como já dito na primeira parte, isso não é nada de novo na história da humanidade: se lermos algum livro de história, veremos que lá atrás, na Primeira Revolução Industrial, na Inglaterra do século XVIII, invenções como o tear mecânico geraram não apenas massivo desemprego, além de cidades como Londres, Bristol, Manchester, Liverpool, Birmingham e outras, por conta do êxodo rural causado pelas políticas de cercamentos nos campos, ficarem inchadas e superpovoadas, com muitas pessoas tendo que viver de mendicância e pequenos furtos para poder sobreviver. Em outras palavras, isso nada mais é que o desemprego tecnológico em sua versão 4.0. Nada de novo no front, diz o velho ditado.

E mais uma vez reitero: os dubladores precisam entender que o jogo é pesado e que estão lidando com pessoas e interesses poderosos. É um jogo que envolve Grande Reset, Agenda 2030, Klaus Schwab e todo o admirável novo mundo que essa gente, encastelada em locais como o Fórum de Davos e o Vale do Silício e que se aproveita de tragédias como pandemias e desastres naturais (incluindo a Covid-19) para levar adiante a agenda macabra deles, pretende criar.

Por fim, algumas reflexões a respeito deste assunto – soube que na Internet há alguns engraçadinhos que estão fazendo pouco caso dessa situação hoje vivida pelos dubladores, como no caso deste print:

O sujeito em questão até parece o Mussum naquele esquete dos Trapalhões em que o personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos Bernardes Gomes, em discussão com o Dedé, fica falando que “o governo tá certis” em aumentar o preço de certos itens, até ficar sabendo do aumento do preço da cachaça (o mé tão amado por ele). Quero ver só que ele vai achar a hora em que ele perder o trabalho dele para alguma máquina ou aplicativo. Só espero que ele não chore e nem fique chateadinho quando esta hora chegar. Quando chegar a hora dele de ficar sem lugar para sentar na Dança das Cadeiras. É uma fala típica de sujeitos que não se colocam na pele do outro e não tentam entender o motivo pelo qual os dubladores estão se manifestando da forma como estão.

Pegando um gancho com este ponto, ai vem o pulo do gato: quem não me garante, por exemplo, de que a dublagem na verdade no presente momento nada mais é que um balão de ensaio para que lá na frente outras profissões também sofram ataque similar por meio da Inteligência Artificial? Ainda mais em um momento em que a Inteligência Artificial, a Robótica e outras tecnologias similares estiverem em um patamar ainda mais adiantado?

E mais uma coisa: com toda essa história de Inteligência Artificial e outras novas tecnologias, será que pessoas como Bill Gates, Elon Musk (um transhumanista convicto que afirma, entre outras coisas, que o futuro da humanidade está na fusão do homem com a máquina) e outros produtores de tecnologia não estão jogando a humanidade em um rumo bem perigoso? Será que bem diante de nossos olhos não está sendo gestado o mundo do Exterminador do Futuro, no presente momento? Pois como disse um dos arautos do Grande Reset e da Agenda 2030, Klaus Schwab, “você não terá nada e será feliz sobre isso”.

Foto – Klaus Schwab e sua “profecia” sobre o futuro da humanidade.

Fontes:

Campanha Dublagem Viva quer regulamentação no uso de IA em dublagens. Disponível em: https://meups.com.br/noticias/dublagem-viva-regulamentacao-ia-em-dublagens/

Dublagem Viva. Disponível em: https://dublagemviva.com.br

Dublagem Viva – Profissionais se unem para pedir regulamentação do uso da Inteligência Artificial. Disponível em: https://cinebuzz.uol.com.br/noticias/entretenimento/dublagem-viva-movimento-inteligencia-artificial.phtml

Um comentário:

  1. Não acho que a regulamentação da dublagem vai resolver o problema envolvendo o uso de inteligência artificial. Pelo contrário, só vai piorar. A IA veio pra ficar. No caso, não vejo problema em introduzir, ao menos, uma ou duas vozes de dubladores já finados, desde que isso não prejudique os dubladores que ainda vivem e estão na ativa.

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