Foto – Nelson Piquet
Souto Maior.
Como nós vimos nos últimos meses, Nelson Piquet, tricampeão
pela Fórmula 1 nos anos de 1981, 1983 e 1987, passou por todo um escrutínio nas
mãos da justiça brasileira depois que descobriram depois de um ano que ele
utilizou-se da palavra “neguinho” para se referir ao piloto britânico Lewis
Hamilton, campeão pela Fórmula 1 nos anos de 2008, 2014, 2015, 2017, 2018, 2019
e 2020, ao comentar em entrevista ao podcast Motorsports Talks sobre o acidente
ocorrido no Grande Prêmio da Inglaterra de 2021 entre Lewis Hamilton e Max
Verstappen.
O escrutínio foi tal que Piquet não só teve que pagar R$ 5
milhões a ONGs para lá de duvidosas, como também foi excluído do paddock da
Fórmula 1. A pecha de racista também recaiu sobre o piloto brasiliense, que
também foi massivamente cancelado em redes sociais pela beautiful people.
Em decorrência da polêmica envolvendo Hamilton, muitos
detratores de Piquet saíram de suas tocas e aproveitaram a oportunidade para
fazer uma espécie de malhação de Judas em cima dele. Incluindo aqueles que se
aproveitaram da ocasião para fazer as típicas comparações em tom depreciativo
com o Ayrton Senna e até se lembrando de episódios como a ausência dele no
velório de Senna em 1994. A ponto de dizer que Piquet tinha inveja de Senna por
conta do fato de o segundo ser mais popular que o primeiro. Assim como a
imprensa brasileira, com o qual Piquet nunca teve um bom relacionamento desde
os tempos em que ele ainda era piloto.
Gostaria de aproveitar essa resenha para lembrarmos a todos
de um episódio ocorrido há três anos, no Grande Prêmio da Áustria. Como também
quero mostrar por meio dessa resenha os duplos padrões que os dirigentes da
Fórmula 1 vêm adotando nessa questão, assim como os detratores de Piquet.
A história é a seguinte. Em 2020, por conta da pandemia da
Covid-19, uma série de corridas do calendário da Fórmula 1 foram canceladas ou
mesmo adiadas. De tal modo que a temporada 2020 começou não em 15 de março com
o Grande Prêmio da Austrália como previsto originalmente (e como vem sendo há
muitos anos no calendário da Fórmula 1), e sim no dia cinco de julho com o
Grande Prêmio da Áustria, que teve lugar no circuito Red Bull Ring (antigo
Österreichring e A-1 Ring), no município de Spielberg.
Na mesma época, as ruas não só dos Estados Unidos como
também de outras partes do globo foram tomadas por massivos protestos depois
que o afro-americano George Floyd foi morto nas mãos da polícia
norte-americana. Antes do início da corrida, Lewis Hamilton liderou uma
manifestação em frente à linha de chegada contra o racismo, colocando um dos
joelhos no chão. Todos os pilotos utilizaram camisetas de cor preta com a
inscrição “End Racism” (“fim ao racismo”), exceto Lewis Hamilton. O piloto da
escuderia Mercedes apareceu com uma camiseta de cor preta com a inscrição
“Black Lives Matter”, fazendo clara alusão ao movimento estadunidense.
Entretanto, nem todos os pilotos se ajoelharam: o holandês
Max Verstappen (Red Bull Racing), o monegasco Charles Leclerc (Ferrari), o
espanhol Carlos Sainz Jr. (McLaren), o russo Daniil Kvjat (Alpha Tauri), o
finlandês Kimi Räikkönnen (Alfa Romeo Racing) e o italiano Antonio Giovinazzi
(Alpha Romeo Racing) se recusaram a se ajoelhar e ficaram de pé. Kvjat, embora
tenha usado uma camiseta clamando pelo fim do racismo, explicou o motivo da
recusa em se ajoelhar. Que para ele, dentro da mentalidade russa, só se ajoelha
pela pátria, pela bandeira e/ou por Deus.
Já os outros 14 pilotos, com Hamilton à frente, se
ajoelharam.
Foto – Pilotos ajoelhados antes do início do Grande Prêmio da Áustria de 2020. Hamilton no meio, sem máscara.
E as coisas não param por ai: na mesma corrida o mesmo
Hamilton “tatuou” o símbolo do Black Lives Matter (grupo esse do qual grande
parte de seus militantes são brancos) no capacete dele, como podemos ver na
foto abaixo.
Foto – Capacete de Hamilton com a insígnia do Black Lives Matter. Grande Prêmio da Áustria de 2020.
É o mesmo Black Lives Matter que em 2020 promoveu uma série
de arruaças e motins nas ruas dos Estados Unidos e da Europa. Nos quaiscidadãos brancos eram forçados e intimidados a se ajoelharem perante osmilitantes do movimento, além de sofrerem toda sorte de humilhações nas mãos deles.
E é também o mesmo Black Lives Matter que no ano passado foi declarado pelo polêmico rapper Kanye West (que também é negro) como uma fraude, um engodo. Nas redes sociais do Rapper ele postou uma mensagem dizendo o seguinte: “todo mundo sabe que Black Lives Matter foi um engodo. Agora está acabado. Você é bem vindo”.
Foto – Mensagem de Kanye West sobre o Black Lives Matter no Twitter dele. Quatro de julho de 2022.
Hamilton é o típico sujeito que apoia certas pautas e
movimentos como forma de sinalização de virtude perante o público. Tal qual
faz, por exemplo, figuras como o cantor Justin Bieber quando aparecem por aí
prestando apoio a grupos como o PETA e outros desse tipo.
O piloto afro-britânico chegou a comemorar a condenação de
Piquet e soltou as seguintes pérolas em postagens na conta do Twitter dele:
“essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte”.
Mas, pelo visto, para alguém como Hamilton na Fórmula 1 há lugar para o racismo
do bem que ele endossa por meio do apoio ao Black Lives Matter.
E a coisa não para por ai. Vejamos o posicionamento da
Mercedes, a equipe da qual Hamilton faz parte desde 2013:
“Condenamos nos termos mais fortes qualquer uso de linguagem racista ou
discriminatória, de qualquer tipo. Lewis liderou os esforços do nosso esporte para
combater o racismo, e ele é um verdadeiro campeão da diversidade dentro e fora
da pista. Juntos, compartilhamos a visão para um automobilismo diversificado e
inclusivo, e este incidente destaca a importância fundamental de continuar
lutando por um futuro melhor”.
Certa vez, mais precisamente nas eleições de 2010, o
Tiririca disse que pior do que está não fica. Mas ele se equivocou redondamente
e o posicionamento oficial da Fórmula 1 mostra bem isso:
“A linguagem discriminatória ou racista é inaceitável sob qualquer
forma e não tem parte na sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso
esporte e merece respeito. Seus esforços incansáveis para aumentar a
diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o qual estamos
comprometidos na F1”.
E para fechar com chave de ouro, o posicionamento da FIA
(Federação Internacional do Automobilismo), uma das principais entidades do
automobilismo a nível mundial:
“A FIA condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista
ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral.
Expressamos nossa solidariedade a Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu
compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor”.
Outra pérola que Hamilton soltou a respeito do caso
envolvendo Nelson Piquet: “Gostaria de reconhecer o governo do Brasil, acho
incrível o que eles fizeram ao responsabilizar alguém, mostrando às pessoas que
isso não é tolerado”. Ou seja, uma fala que claramente endossa o jogo sujo que
é movido contra o ex-piloto e que um dia, inexoravelmente, chegará a todos nós.
Foto – Lewis Hamilton com camisa do Black Lives Matter. Grande Prêmio da Áustria de 2020.
Por conta de seu apoio ao Black Lives Matter, Hamilton até
tomou um puxão de orelha da parte de Bernie Ecclestone, o velho dirigente da
Fórmula 1, que certa vez foi taxado pelo próprio Hamilton de “ignorante” e “mal-educado”
por comentários sobre racismo e diversidade na Fórmula 1 e que foi atacado por
dizer que “em muitos casos negros são mais racistas que brancos”.
Segundo Ecclestone, Hamilton está sendo usado pelo Black
Lives Matter e que eles estão ganhando muito dinheiro com isso. “Eu disse ao
pai dele. ‘Lewis tem que ser cuidadoso’, por que ele está sendo usado por
pessoas que estão apoiando este Black Lives Matter e eles estão tomando muito
dinheiro disso. E ninguém sabe aonde isso vai”, disse o velho dirigente ao Telegraph.
Ecclestone ainda disse que se ele ainda estivesse a cargo da
Fórmula 1 gestos tais como ajoelhamentos antes das corridas não aconteceriam.
Mas enfim, é aquela coisa. Como Lewis Hamilton é partidário
do racismo do bem, ele não é submetido a escrutínio algum. As pessoas até acham
lindo e maravilhoso ele se dizer a favor do Black Lives Matter, dizer-se vegano
(ele inclusive chegou ao ponto de forçar uma dieta vegana ao cachorro da raça
buldogue dele), pintar o capacete dele com as cores do movimento da sopinha de
letras (vide Grande Prêmio da Arábia Saudita do ano retrasado) e outras
“sinalizações de virtude”. Ao contrário do Nelson Piquet, o coisa ruim, o
racista irremediável que odeia negros e tem inveja do Hamilton.
Parafraseando o grande escritor francês Émile Zola (1840 –
1902) durante o caso Dreyfuss, eu acuso esses detratores do Piquet que o
cancelam e batem palmas pela condenação dele no presente momento por conta do
episódio envolvendo Lewis Hamilton de serem uns hipócritas que batem palmas
para o racismo do bem e fecham os olhos para o fato de o mesmo Hamilton ser
apoiador de um grupo que é abertamente racista contra brancos e partidário da
supremacia negra. E de não se darem conta de que estão abrindo os portões do
inferno para que o Brasil venha a ser tomado por uma grande caça às bruxas
identitária, na qual a menor crítica a certos grupos vai ser passível de
cancelamento em redes sociais pela mesma beautiful
people que cancelou o Nelson Piquet, seguido de condenações nos tribunais e
multas milionárias a serem pagas a ONGs bem duvidosas. Um grande esquema de
extorsão sendo montado sob o pretexto da justiça social e do combate a mazelas
como o racismo e outras tantas, e com o caso envolvendo o tricampeão servindo
de balão de ensaio desse mesmo esquema.
Foto – Capacete de Lewis Hamilton com as cores do movimento da sopinha de letras. Grande Prêmio da Arábia Saudita de 2021.
Por fim, quero deixar bem claro uma coisa a alguns
desavisados: não estou aqui para justificar eventuais erros da parte de Piquet
com base no apoio de Hamilton ao Black Lives Matter e outras causas e
movimentos que ele faz para sinalizar virtude perante o público. Como diz o
ditado, dois errados não fazem um certo. Também não estou aqui para entrar no
mérito das escolhas políticas que Piquet fez ou deixou de fazer nos últimos
anos. Isso não vem ao caso agora.
A questão aqui é outra, é mostrar a hipocrisia e os dois
pesos e duas medidas dos detratores dele (incluindo a famigerada beautiful people que se ofende por
qualquer coisa) que o cancela como também dos dirigentes da Fórmula 1 que
excluíram Piquet do paddock da Fórmula 1 sob o pretexto do racismo pelo fato de
que o tricampeão se referido a Hamilton como “neguinho”, ao passo que o mesmo
Hamilton pode aparecer por aí desfilando e declarando apoio ao Black Lives
Matter que nada acontece a ele. Pelo contrário, até batem palmas a ele e o exaltam como exemplo de piloto.
Fontes:
Grande Prêmio da Áustria de 2020. Disponível em: Grande
Prêmio da Áustria de 2020 – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
F1: Lewis Hamilton poderia pegar até um ano de prisão por
dieta vegana do cachorro. Disponível em: Hamilton
poderia ser preso por dar dieta vegana ao cachorro (uol.com.br)
Hamilton rebate Piquet após ser chamado de “neguinho”:
“vamos mudar a mentalidade”; F1 e Mercedes repudiam ato do brasileiro.
Disponível em: Hamilton
rebate Piquet após ser chamado de 'neguinho': 'Vamos mudar a mentalidade'; F1 e
Mercedes repudiam ato do brasileiro - ESPN
Kanie West celebra vidas brancas e diz que Black Lives
Matter é uma fraude. Disponível em: Kanye
West celebra vidas brancas e diz que Black Lives Matter é uma fraude
(tenhomaisdiscosqueamigos.com)
Kvyat explica o motivo por que não se ajoelhou na Áustria.
Disponível em: F1
– Kvyat explica por que não se ajoelhou na Áustria (autoracing.com.br)
Lewis Hamilton ‘being’ used by Black Lives Matter, claims
Bernie Ecclestone (em inglês). Disponível em: Lewis
Hamilton ‘being used’ by Black Lives Matter, claims Bernie Ecclestone | The
Independent
Para apoiar igualdade, Hamilton “muda” e traz “Black Lives
Matter” em capacete. Disponível em: Para
apoiar igualdade, Hamilton muda e traz 'Black Lives Matter' em capacete -
Notícia de Fórmula 1 - Grande Prêmio - Notícia de Fórmula 1 - Grande Prêmio
(grandepremio.com.br)
Para Lewis Hamilton, movimento Black Lives Matter foi
fundamental na conquista do sétimo mundial de F1. Disponível em: Para
Lewis Hamilton, movimento Black Lives Matter foi fundamental na conquista do
sétimo mundial de F1 - GQ | Esportes (globo.com)
Pilotos explicam por que não se ajoelharam em protesto
contra o racismo. Disponível em: GP
da Estíria: Pilotos explicam por que não se ajoelharam em protesto contra o
racismo (uol.com.br)