sexta-feira, 15 de julho de 2022

Resenha do episódio "Meninas na Mesa" (South Park - 7x23)

 

Foto – Cena do episódio “Meninas na Mesa”, de South Park.

Recentemente, um travesti que se diz mulher foi filmado dentro do banheiro feminino em uma escola de Minas Gerais. Esse ocorrido chegou ao conhecimento do vereador belo-horizontino Nikolas Ferreira (político ligado ao Partido Liberal, figura essa da qual não nutrimos grande simpatia).

Uma polêmica entre ele e as políticas do PSOL Bella Gonçalves e Iza Lourença irrompeu, com bate-boca na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte. Além disso, a influenciadora digital Laura Sabino chamou o vereador do PL para uma luta por meio de suas redes sociais. Mas não é sobre isso em específico que quero falar na presente resenha.

Quero aproveitar o episódio em questão para fazer uma resenha do episódio de South Park “Meninas na Mesa” (em inglês “Board Girls”). A propósito, lembrando que anteriormente também fizemos resenha de outro episódio de South Park, o 14 da temporada 6.

O episódio em questão foi lançado no dia 13 de novembro de 2019 pela rede Comedy Central, sendo o episódio de número 304 de South Park e o sétimo da temporada 23. Pois se trata de um episódio que aborda justamente esse assunto: a invasão dos espaços femininos por parte de homens cirurgicamente mutilados que passam a se considerar a si mesmo mulheres.

O episódio em questão começa mostrando o dia a dia do casal Dama de Fibra e Diretor PC e seus filhos, os bebês PC. Enquanto o casal treina para a Competição das Mulheres Fortes, os bebês PC (cinco ao todo) assistem a alguns desenhos e filmes animados na televisão, entre eles Mulan.

Em seguida, na escola primária de South Park, o diretor PC anuncia na quadra de basquete, perante todos os alunos da escola, que a esposa dele irá participar da competição das Mulheres Fortes em Morrison. O anúncio é seguido por um discurso motivacional por parte da Vice-Diretora, exortando as garotas a participarem dos jogos escolares e dos clubes.

Na cena seguinte, em uma das salas da escola, lá estão Cartman, Stan, Butters, Scott e Clyde jogando um jogo de tabuleiro, até que o conselheiro Mackey abre a porta da sala e apresenta ao quinteto duas garotas, Tammy e Nicole. Sob o pretexto de que os clubes são inclusivos, as duas garotas entram para o clube de Cartman.

Diante das garotas, Cartman diz que hoje é dia de “Dugens and Dragons”. Por isso, não teria como elas jogarem, visto que para isso teriam que criar personagens e outras coisas mais. Mas, para a surpresa dele e dos outros garotos presentes na mesa, as duas já criaram os personagens delas, no que os deixou boquiabertos. Os garotos não sabem o que fazer diante das recém-chegadas.

Em Morrison, Colorado, tem início a 6ª competição anual das Mulheres Fortes. Enquanto a atual campeã do torneio, a Dama de Fibra, se aquece, um repórter a entrevista e lhe faz algumas perguntas. Ao saber que essa é a primeira vez em que o torneio terá uma competidora trans, a Dama de Fibra fica contente, até saber de quem se trata: Heather Swanson. Que, segundo as palavras da própria, se assumiu como mulheres duas semanas antes disso e quer competir para poder espancar mulheres enquanto fica exibindo seus músculos.

A competição transcorre, e algo salta aos olhos: Heather Swanson consegue feitos impensáveis para as outras competidoras femininas, e vence a Dama de Fibra no cabo de guerra. Ela se sagra vencedora da competição ao fim de tudo e se diz a mais forte de todas. No carro, junto com o marido e os cinco filhos, a Dama de Fibra volta para casa, cabisbaixa, não se conformando com o resultado final da competição.

Na sala do conselheiro Mackey Butters, Cartman e Scott se queixam da presença de garotas nos jogos deles. No refeitório da escola, junto de Kyle, Stan e Kenny, discutem uma maneira de como virar o jogo contra as garotas.

Longe dali, Heather Swanson aparece na casa do diretor PC e da Mulher de Fibra só para esfregar na cara deles que ela os venceu na competição. Ela fica se exibindo perante os bebês, e o diretor PC pede para que ela vá embora da residência deles. Os dois começam a trocar farpas. O diretor PC diz que embora seja um grande defensor dos transexuais, diz que Heather é uma péssima competidora. Heather, por seu turno, acusa o diretor PC de ser transfóbico. No fim, a Mulher de Fibra apazigua os ânimos entre as duas partes e Heather Swanson vai embora, mas ainda assim se gabando do título que obteve.

Depois de uma breve passagem pela escola entre os meninos e as garotas, vemos uma entrevista com Heather Swanson. No meio da entrevista ela começa a provocar a Mulher de Fibra em rede nacional e a desfiá-la. Enfim, revela-se quem na verdade é Heather Swanson: Blade Jaggerd, ex-namorado da Mulher de Fibra, que após o término do namoro dos dois prometeu voltar para se vingar dela.

Na escola, enfim os garotos conseguem o sossego para poder jogar como queriam. Até que por meio de Butters ficam sabendo que as meninas fundaram os clubes de jogos próprios dela. E o conselheiro não deixa que os meninos fiquem no espaço deles sob a alegação de que isso não permitido por conta da nova política da escola. O que, obviamente, deixa os garotos nem um pouco contentes com o que acabaram de ouvir. Uma política que, segundo as palavras de Stan, é imbecil.

Em um parque, o diretor PC, sentado em um banco depois de ver que passou a ser taxado de transfóbico por conta de uma briga que teve com Heather Swanson (vulgo Blade Jaggerd), desabafa com a mulher. Ele começa a chorar, temendo a reação dos bebês depois de tanto ensinar a eles a serem pessoas tolerantes, em especial em relação a minorias. O diretor PC desabafa e diz que não derrubou Heather Swanson por ser transexual, e sim por se tratar de um babaca e ex-namorado dela.

Na quadra da escola, os diretores reúnem as crianças para um aviso. Confessam que estão tendo uns problemas e que estão lutando muito para resolvê-los. E chamam Heather Swanson/Blade Jaggerd para palestrar para os alunos da escola. Jaggerd então abre o jogo: que nesse mundo só uma única coisa importa – ser o melhor. E que a vice-diretora ensina as meninas a serem fortes, mas que nas competições só chega em segundo lugar. Depois de provocar e humilhar o diretor PC e dizer que ninguém se espelha em vencidos, afirma que todas as vezes em que vence uma mulher ele se sente o melhor e que por isso ele é o melhor.

Então Tammy e Nicole a chamam para enfrenta-las em jogos de tabuleiro. Swanson/Jaggerd é vencido pelas meninas, e afirma que elas só venceram porque decoraram todas as regras dos livros, que quando joga esse tipo de jogo apenas quer ser um pirata ou um astronauta e que isso não é justo. Com ele Cartman concorda. O episódio termina com Cartman e Jaggerd fundando o próprio clube deles, as garotas cantando vitória, o diretor PC tomando coragem para entrar em casa e encarar os próprios filhos dele e junto com a Dama de Fibra tendo uns momentos felizes com eles.

O que o episódio em questão mostra? Como não poderia deixar, esse episódio causou muita polêmica e até foi taxado de transfóbico e rótulos similares. Mas, pelo que li, eles não entenderam a mensagem que o episódio quis de fato passar.

Primeiro de tudo, é um episódio que diz muito mais não sobre atletas trans no esporte feminino em si (que por si só já é um contrassenso, diga-se de passagem), mas sim sobre as pessoas que apoiam esse tipo de coisa sem se dar conta das consequências perigosas que isso, inexoravelmente, trará. Pessoas essas que comumente confundem tolerância com aceitação, verdadeiros tolerastas.

Nele vemos o diretor PC enfim ser picado pela serpente de cujo ovo ele mesmo veio chocando desde a temporada 19 (é só assistirem aos episódios das temporadas anteriores para verem isso). O diretor PC, assim como a Mulher de Fibra, é o típico sujeito que bate palmas para esse tipo de coisa como uma forma de sinalização de virtude, sem se dar conta de que está chocando o ovo da serpente que lá na frente irá picá-lo.

Eles, de início, acham lindo e até exortam e encorajam as garotas a tomarem os espaços dos garotos na escola. E em um primeiro momento também acham bonito o próprio espaço da Mulher de Fibra sendo invadido por homens biológicos que se dizem sentir mulher por dentro em nome da inclusão de minorias e da diversidade. Até que os problemas começam a aparecer quando eles se deparam com alguém mal-intencionado invadindo o espaço dela (e de com esse sujeito vencendo as mulheres no próprio campo delas com a maior facilidade do mundo e obtendo façanhas que elas apenas podem sonhar).

No fim das contas, abriram os portões do inferno. E é essa a ferida que o episódio em questão toca. De que esses lacradores em questão, que não raro vivem aplicando bofetadas no bom senso e na lógica, nunca se dão conta dos problemas que estão a criar em nome da agenda ideologia deles. E que se essa invasão de espaços ocorre, é porque há gente que acha isso lindo e até apoia.

E detalhe: são os mesmos lacradores de plantão que dizem defender a ciência quando é para atacar tipos como terraplanistas, criacionistas, anti-vacinas e outros desta estirpe. Os chamam de negadores da ciência. Tratam a ciência como se fosse uma espécie de Santa do Altar que não pode ser questionada em hipótese alguma. Mas, quando a mesma ciência vai contra ou não está de acordo com os dogmas deles, a conversa muda de tom por completo (sendo que os primeiros ao menos colocam o dedo na ferida e questionam a lisura da ciência que nós temos hoje, ainda que por vias tortas).

Em sua eterna busca por aquilo que eles chamam de justiça social, tipos como o diretor PC e a Mulher de Fibra (ou mesmo as referidas vereadoras do PSOL) de tudo fazem. Incluindo achar maravilhoso esse tipo de situação. Tudo em nome da inclusão e do combate ao preconceito. E não se dando conta de que pessoas mal-intencionadas podem se aproveitar dessa situação em favor deles para levar adiante vinganças particulares, por exemplo.

Em nome da inclusão e do combate ao que eles chamam de preconceito, homofobia, transfobia e outras palavras afins, eles acham lindo e maravilhoso coisas como, por exemplo, que os espaços femininos sejam cada vez mais invadidos por homens biológicos, vide casos de transgêneros no esporte feminino (onde é muito comum, por exemplo, atletas que eram medíocres nas competições masculinas começarem a se destacar uma vez que entram nas competições femininas – vide o caso do jogador de vôlei Tiffany). Não é de se surpreender que em um caso dessa natureza, essa mesma gente ache lindo que homens cirurgicamente mutilados estejam também aparecendo em banheiros femininos de escolas. Tudo em nome da inclusão, da diversidade e do combate ao preconceito. E dos portões do inferno que eles mesmos estão abrindo e dos ovos de serpente que eles estão chocando.

Foto – Mais uma cena do episódio em questão.

Fontes:

Debate – Nikolas Ferreira x esquerda (homem TRANS em banheiro feminino). Disponível em: Debate - Nikolas Ferreira x esquerda (Homem TRANS em banheiro feminino) - YouTube

Garotas de Tabuleiro. Disponível em: Garotas de Tabuleiro | Wiki South Park | Fandom

Influenciadora de MG convoca vereador do PL para briga – “Luta justa”. Disponível em: Influenciadora de MG convoca vereador do PL para briga: "Luta justa" (metropoles.com)

South Park recebe críticas por episódio com atletas trans. Disponível em: South Park recebe críticas por episódio com atleta trans - 14/11/2019 - UOL Esporte

Um comentário:

  1. Muito elucidativo esse texto!

    Sim, essa camarilha formada por justiceiros sociais e lacradores, em nome de uma pretensa tolerância e inclusão, vão só criando um demônio ainda mais terrível, o qual eles não poderão conter, futuramente.

    No campo da ciência, a pandemia pela qual passamos - e ao que parece, já terminou - ficaram naquele debate incansável sobre vacinar ou não contra o coronavírus. Eu, a meu ver, não acho viável ter uma vacina em tempo recorde, por mais que a ciência e a tecnologia avancem, já que um vírus ou patógeno sofre mutações constantes, e até se ter uma vacina eficaz, demoram-se anos de pesquisas e testes. Não é uma tarefa simples.

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