Foto – Cena do
episódio “Meninas na Mesa”, de South Park.
Recentemente,
um travesti que se diz mulher foi filmado dentro do banheiro feminino em uma
escola de Minas Gerais. Esse ocorrido chegou ao conhecimento do vereador
belo-horizontino Nikolas Ferreira (político ligado ao Partido Liberal, figura essa
da qual não nutrimos grande simpatia).
Uma polêmica
entre ele e as políticas do PSOL Bella Gonçalves e Iza Lourença irrompeu, com
bate-boca na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte. Além disso, a
influenciadora digital Laura Sabino chamou o vereador do PL para uma luta por
meio de suas redes sociais. Mas não é sobre isso em específico que quero falar
na presente resenha.
Quero aproveitar o episódio em questão para fazer uma resenha do episódio de South Park “Meninas na Mesa” (em inglês “Board Girls”). A propósito, lembrando que anteriormente também fizemos resenha de outro episódio de South Park, o 14 da temporada 6.
O episódio em questão foi
lançado no dia 13 de novembro de 2019 pela rede Comedy Central, sendo o episódio
de número 304 de South Park e o sétimo da temporada 23. Pois se trata de um
episódio que aborda justamente esse assunto: a invasão dos espaços femininos
por parte de homens cirurgicamente mutilados que passam a se considerar a si
mesmo mulheres.
O episódio em
questão começa mostrando o dia a dia do casal Dama de Fibra e Diretor PC e seus
filhos, os bebês PC. Enquanto o casal treina para a Competição das Mulheres
Fortes, os bebês PC (cinco ao todo) assistem a alguns desenhos e filmes
animados na televisão, entre eles Mulan.
Em seguida,
na escola primária de South Park, o diretor PC anuncia na quadra de basquete,
perante todos os alunos da escola, que a esposa dele irá participar da
competição das Mulheres Fortes em Morrison. O anúncio é seguido por um discurso
motivacional por parte da Vice-Diretora, exortando as garotas a participarem
dos jogos escolares e dos clubes.
Na cena
seguinte, em uma das salas da escola, lá estão Cartman, Stan, Butters, Scott e
Clyde jogando um jogo de tabuleiro, até que o conselheiro Mackey abre a porta
da sala e apresenta ao quinteto duas garotas, Tammy e Nicole. Sob o pretexto de
que os clubes são inclusivos, as duas garotas entram para o clube de Cartman.
Diante das
garotas, Cartman diz que hoje é dia de “Dugens and Dragons”. Por isso, não
teria como elas jogarem, visto que para isso teriam que criar personagens e
outras coisas mais. Mas, para a surpresa dele e dos outros garotos presentes na
mesa, as duas já criaram os personagens delas, no que os deixou boquiabertos.
Os garotos não sabem o que fazer diante das recém-chegadas.
Em Morrison,
Colorado, tem início a 6ª competição anual das Mulheres Fortes. Enquanto a
atual campeã do torneio, a Dama de Fibra, se aquece, um repórter a entrevista e
lhe faz algumas perguntas. Ao saber que essa é a primeira vez em que o torneio
terá uma competidora trans, a Dama de Fibra fica contente, até saber de quem se
trata: Heather Swanson. Que, segundo as palavras da própria, se assumiu como
mulheres duas semanas antes disso e quer competir para poder espancar mulheres enquanto
fica exibindo seus músculos.
A competição
transcorre, e algo salta aos olhos: Heather Swanson consegue feitos impensáveis
para as outras competidoras femininas, e vence a Dama de Fibra no cabo de
guerra. Ela se sagra vencedora da competição ao fim de tudo e se diz a mais
forte de todas. No carro, junto com o marido e os cinco filhos, a Dama de Fibra
volta para casa, cabisbaixa, não se conformando com o resultado final da
competição.
Na sala do
conselheiro Mackey Butters, Cartman e Scott se queixam da presença de garotas
nos jogos deles. No refeitório da escola, junto de Kyle, Stan e Kenny, discutem
uma maneira de como virar o jogo contra as garotas.
Longe dali,
Heather Swanson aparece na casa do diretor PC e da Mulher de Fibra só para
esfregar na cara deles que ela os venceu na competição. Ela fica se exibindo
perante os bebês, e o diretor PC pede para que ela vá embora da residência
deles. Os dois começam a trocar farpas. O diretor PC diz que embora seja um
grande defensor dos transexuais, diz que Heather é uma péssima competidora.
Heather, por seu turno, acusa o diretor PC de ser transfóbico. No fim, a Mulher
de Fibra apazigua os ânimos entre as duas partes e Heather Swanson vai embora,
mas ainda assim se gabando do título que obteve.
Depois de uma
breve passagem pela escola entre os meninos e as garotas, vemos uma entrevista
com Heather Swanson. No meio da entrevista ela começa a provocar a Mulher de
Fibra em rede nacional e a desfiá-la. Enfim, revela-se quem na verdade é
Heather Swanson: Blade Jaggerd, ex-namorado da Mulher de Fibra, que após o
término do namoro dos dois prometeu voltar para se vingar dela.
Na escola,
enfim os garotos conseguem o sossego para poder jogar como queriam. Até que por
meio de Butters ficam sabendo que as meninas fundaram os clubes de jogos
próprios dela. E o conselheiro não deixa que os meninos fiquem no espaço deles
sob a alegação de que isso não permitido por conta da nova política da escola.
O que, obviamente, deixa os garotos nem um pouco contentes com o que acabaram de
ouvir. Uma política que, segundo as palavras de Stan, é imbecil.
Em um parque,
o diretor PC, sentado em um banco depois de ver que passou a ser taxado de
transfóbico por conta de uma briga que teve com Heather Swanson (vulgo Blade
Jaggerd), desabafa com a mulher. Ele começa a chorar, temendo a reação dos
bebês depois de tanto ensinar a eles a serem pessoas tolerantes, em especial em
relação a minorias. O diretor PC desabafa e diz que não derrubou Heather
Swanson por ser transexual, e sim por se tratar de um babaca e ex-namorado
dela.
Na quadra da
escola, os diretores reúnem as crianças para um aviso. Confessam que estão
tendo uns problemas e que estão lutando muito para resolvê-los. E chamam
Heather Swanson/Blade Jaggerd para palestrar para os alunos da escola. Jaggerd
então abre o jogo: que nesse mundo só uma única coisa importa – ser o melhor. E
que a vice-diretora ensina as meninas a serem fortes, mas que nas competições
só chega em segundo lugar. Depois de provocar e humilhar o diretor PC e dizer
que ninguém se espelha em vencidos, afirma que todas as vezes em que vence uma
mulher ele se sente o melhor e que por isso ele é o melhor.
Então Tammy e
Nicole a chamam para enfrenta-las em jogos de tabuleiro. Swanson/Jaggerd é
vencido pelas meninas, e afirma que elas só venceram porque decoraram todas as
regras dos livros, que quando joga esse tipo de jogo apenas quer ser um pirata
ou um astronauta e que isso não é justo. Com ele Cartman concorda. O episódio
termina com Cartman e Jaggerd fundando o próprio clube deles, as garotas
cantando vitória, o diretor PC tomando coragem para entrar em casa e encarar os
próprios filhos dele e junto com a Dama de Fibra tendo uns momentos felizes com
eles.
O que o
episódio em questão mostra? Como não poderia deixar, esse episódio causou muita
polêmica e até foi taxado de transfóbico e rótulos similares. Mas, pelo que li,
eles não entenderam a mensagem que o episódio quis de fato passar.
Primeiro de
tudo, é um episódio que diz muito mais não sobre atletas trans no esporte feminino
em si (que por si só já é um contrassenso, diga-se de passagem), mas sim sobre
as pessoas que apoiam esse tipo de coisa sem se dar conta das consequências
perigosas que isso, inexoravelmente, trará. Pessoas essas que comumente
confundem tolerância com aceitação, verdadeiros tolerastas.
Nele vemos o
diretor PC enfim ser picado pela serpente de cujo ovo ele mesmo veio chocando
desde a temporada 19 (é só assistirem aos episódios das temporadas anteriores
para verem isso). O diretor PC, assim como a Mulher de Fibra, é o típico
sujeito que bate palmas para esse tipo de coisa como uma forma de sinalização
de virtude, sem se dar conta de que está chocando o ovo da serpente que lá na
frente irá picá-lo.
Eles, de
início, acham lindo e até exortam e encorajam as garotas a tomarem os espaços
dos garotos na escola. E em um primeiro momento também acham bonito o próprio
espaço da Mulher de Fibra sendo invadido por homens biológicos que se dizem
sentir mulher por dentro em nome da inclusão de minorias e da diversidade. Até
que os problemas começam a aparecer quando eles se deparam com alguém
mal-intencionado invadindo o espaço dela (e de com esse sujeito vencendo as
mulheres no próprio campo delas com a maior facilidade do mundo e obtendo
façanhas que elas apenas podem sonhar).
No fim das
contas, abriram os portões do inferno. E é essa a ferida que o episódio em
questão toca. De que esses lacradores em questão, que não raro vivem aplicando
bofetadas no bom senso e na lógica, nunca se dão conta dos problemas que estão
a criar em nome da agenda ideologia deles. E que se essa invasão de espaços
ocorre, é porque há gente que acha isso lindo e até apoia.
E detalhe:
são os mesmos lacradores de plantão que dizem defender a ciência quando é para
atacar tipos como terraplanistas, criacionistas, anti-vacinas e outros desta
estirpe. Os chamam de negadores da ciência. Tratam a ciência como se fosse uma
espécie de Santa do Altar que não pode ser questionada em hipótese alguma. Mas,
quando a mesma ciência vai contra ou não está de acordo com os dogmas deles, a
conversa muda de tom por completo (sendo que os primeiros ao menos colocam o
dedo na ferida e questionam a lisura da ciência que nós temos hoje, ainda que
por vias tortas).
Em sua eterna
busca por aquilo que eles chamam de justiça social, tipos como o diretor PC e a
Mulher de Fibra (ou mesmo as referidas vereadoras do PSOL) de tudo fazem.
Incluindo achar maravilhoso esse tipo de situação. Tudo em nome da inclusão e
do combate ao preconceito. E não se dando conta de que pessoas mal-intencionadas
podem se aproveitar dessa situação em favor deles para levar adiante vinganças
particulares, por exemplo.
Em nome da
inclusão e do combate ao que eles chamam de preconceito, homofobia, transfobia
e outras palavras afins, eles acham lindo e maravilhoso coisas como, por
exemplo, que os espaços femininos sejam cada vez mais invadidos por homens
biológicos, vide casos de transgêneros no esporte feminino (onde é muito comum,
por exemplo, atletas que eram medíocres nas competições masculinas começarem a
se destacar uma vez que entram nas competições femininas – vide o caso do
jogador de vôlei Tiffany). Não é de se surpreender que em um caso dessa
natureza, essa mesma gente ache lindo que homens cirurgicamente mutilados
estejam também aparecendo em banheiros femininos de escolas. Tudo em nome da
inclusão, da diversidade e do combate ao preconceito. E dos portões do inferno
que eles mesmos estão abrindo e dos ovos de serpente que eles estão chocando.
Foto – Mais uma cena do episódio em questão.
Fontes:
Debate –
Nikolas Ferreira x esquerda (homem TRANS em banheiro feminino). Disponível em: Debate - Nikolas Ferreira x
esquerda (Homem TRANS em banheiro feminino) - YouTube
Garotas de
Tabuleiro. Disponível em: Garotas de
Tabuleiro | Wiki South Park | Fandom
Influenciadora
de MG convoca vereador do PL para briga – “Luta justa”. Disponível em: Influenciadora
de MG convoca vereador do PL para briga: "Luta justa" (metropoles.com)
South Park
recebe críticas por episódio com atletas trans. Disponível em: South
Park recebe críticas por episódio com atleta trans - 14/11/2019 - UOL Esporte
Muito elucidativo esse texto!
ResponderExcluirSim, essa camarilha formada por justiceiros sociais e lacradores, em nome de uma pretensa tolerância e inclusão, vão só criando um demônio ainda mais terrível, o qual eles não poderão conter, futuramente.
No campo da ciência, a pandemia pela qual passamos - e ao que parece, já terminou - ficaram naquele debate incansável sobre vacinar ou não contra o coronavírus. Eu, a meu ver, não acho viável ter uma vacina em tempo recorde, por mais que a ciência e a tecnologia avancem, já que um vírus ou patógeno sofre mutações constantes, e até se ter uma vacina eficaz, demoram-se anos de pesquisas e testes. Não é uma tarefa simples.