terça-feira, 16 de março de 2021

O caso Pepe Le Pew e a serpente do politicamente correto, parte II.

 

Foto – Pepe Le Gambá (1945 – 2021).

Navegando pelo VK esses dias, me deparo com duas notícias abaixo, ambas encontradas na comunidade Medved’ Gomofob/Медведь Гомофоб:

Foto – O novo dicionário inclusivo da Grace Church School, de Nova York: uma novilíngua de fazer inveja a George Orwell e ao Grande Irmão de 1984.

Segundo notícias publicadas na Fox News uma escola de Nova York, a Grace Church School, vai começar a ensinar um “novo idioma inclusivo” às crianças, no qual não haverá “mamãe”, nem “papai”, “garotos”, “garotas” e “Natal”. Segundo a notícia em questão, a atual administração da escola considera tais palavras ofensivas. Ao mesmo tempo, na instituição escolar há um clube LGBT para alunos do quinto ano e aulas de transexualismo para alunos do sexto ano.

É isso mesmo que vocês leram. Uma escola nova-iorquina irá exigir de seus professores não utilizar mais palavras como “mamãe” e “papai”. Ao que parece, a direção da escola acha que tais palavras podem invocar certos sentimentos que (potencialmente) desagradam a algumas pessoas. Assim, no lugar de “mamãe” e “papai”, deve-se dizer palavras como “adultos”, “parentes” e “família”. E no lugar de “Feliz Natal” – “boas festas!” ou “Bom descanso!”.

Como podemos ver, é uma linguagem no mínimo paradoxal: sob o pretexto de incluir grupos sociais minoritários, promovem a exclusão da ampla maioria da população, a ponto de transformar palavras como “pai” e “mãe” em verdadeiras ofensas.

Mas, a meu ver, o pior dessa história toda não é a iniciativa da escola nova-iorquina por si mesma (que já é medonha e absurda e que no fim das contas só irá gerar cada vez mais antipatia quanto a homossexuais e outros grupos sociais minoritários – e assim jogar toda essa gente indignada com tais medidas no colo de políticos como Trump, Salvini e Marine Le Pen): é acontecer de a moda vingar, se alastrar pelo mundo e chegar às escolas brasileiras (lembremos que na Terra Brasilis já houve o caso de um estabelecimento escolar do Rio de Janeiro que lançou uma iniciativa similar no que tange ao famigerado gênero neutro).

Foto – Senadora dos EUA: Experiências de sexo desde a pré-escola; penhor da futura prosperidade da América (traduzido do russo).

Também na mesma página do VK, encontrei a notícia acima (do New York Post). Conta que senadora de Nova York pelo Partido Democrata, Samra Brouke, que elaborou um projeto de lei que exige a adoção por parte das escolas públicas de padrões de educação sexual, elaborados pelo SIECUS (Conselho da Informação e Instrução Sexual dos EUA; Sexuality Information and Educational Council of the United States na sigla em inglês).

Sobre o projeto de lei em questão, a senadora pelo Partido Democrata disse as seguintes palavras: “Eu estou muito preocupada com o inaceitável alto nível de violências em relações, de assédios e ataques sexuais, assim como de publicações online na nossa sociedade moderna. Nós devemos dar à próxima geração os hábitos e a educação necessários para seu florescimento”, ela disse.

Ainda segundo a notícia trazida pelo New York Post, “os padrões da SIECUS exigem um ensino da “identidade de gênero” das crianças a partir dos cinco anos e sugerem o uso de bloqueadores hormonais para transgêneros a partir dos oito anos. Por volta dos 11 anos as crianças devem receber informação minuciosa sobre “sexo vaginal, oral e anal”, assim como também aprender um grande número de identidades de gênero, incluindo o terceiro sexo, assexuais e pansexuais”.

Fora do VK, me deparei com a notícia de que querem também cancelar uma ilustre e icônica personagem do seriado Chaves (El Chavo del Ocho no original), a Dona Clotilde (interpretada pela espanhola Angelines Fernández e dublada no Brasil por Helena Samara nos episódios clássicos e por Isaura Gomes em episódios mais recentes), a bruxa do 71, por ela constantemente dar em cima do Seu Madruga (e o curioso é que na vida real Ramón Valdez e Angelines Fernández eram amigos bem próximos e estão enterrados no mesmo cemitério na Cidade do México).

Foto – Dona Clotilde e Seu Madruga (originalmente Don Ramón).

Quem mais será que vão cancelar mais adiante? O Hayate/Change Griphon do Changeman, notório por suas malfadadas tentativas de paquerar as garotas (em especial figurantes) do nono seriado Super Sentai? Ou quem sabe o Cavaleiro Ladrão Kiroz, o vilão de meio de série de Maskman, que abordou a Princesa Ian de maneira grotesca quando tentou conquista-la (e que queria desposá-la a todo custo)? O Mirok de Inuyaša, com seus pedidos de casamento para toda garota que encontrava e seus periódicos toques nas partes íntimas da Sango? O Oolong e o Mestre Kame, notórios e inveterados mulherengos do universo Dragon Ball? O Jiraya de Naruto, outro mulherengo do mesmo naipe do Mestre Kame? O James Bond, que a cada filme paquera no mínimo umas duas ou três garotas (e filme do James Bond sem Bond Girls não é filme do James Bond, diga-se de passagem)? Ou quem sabe o Borat pela cena em que tentou raptar a Pamela Anderson com um saco no final do primeiro filme, intentando casar com ela segundo os costumes da gloriosa nação do Cazaquistão?

Agora estamos vendo no que a frouxidão da Warner quanto ao gambá francês está levando: os canceladores de plantão estão dobrando a aposta. Após o cancelamento do Pepe Le Gambá, também falaram em cancelar o Ligeirinho e a Felícia dentre os personagens do universo Looney Tunes. E quanto mais empresas como Warner baixarem a cabeça para tais sujeitos, a sanha deles não vai ser saciada. Pelo contrário, irá aumentar cada vez mais e as apostas com o tempo serão duplicadas, ou mesmo triplicadas. Psicologia básica: eles querem a tua mão agora para lá na frente pegar o teu pescoço e te matar.

Tais notícias são uma mostra do quanto há de hipocrisia no caso envolvendo o cancelamento do Pepe Le Gambá. Um caso que não só me enoja profundamente, como também, diga-se de passagem, diz muito mais não sobre o personagem criado por Chuck Jones nos anos 1930, mas sobre quem são aqueles que o cancelam no presente momento.

Enoja-me profundamente só de ver que esses mesmos que cancelam o icônico personagem do Looney Tunes são os mesmos que devem achar lindo o Felipe Neto (vulgo garoto colorido) expor crianças (o público-alvo dele, diga-se de passagem) a conteúdos nem um pouco adequados a elas tanto na Internet quanto em revistas e a Disney, entre outras coisas, mostrar beijos entre dois homens em desenhos destinados ao público infanto-juvenil como Star vs as forças do mal. Mas ao mesmo tempo o Pepe Le Gambá não pode flertar a Penélope no desenho de mais de 50 anos atrás (e se dar mal a cada tentativa). Mas, como para os lacradores de plantão o Felipe Neto e a Disney são do time deles, ambos têm carta branca para fazerem o que quiserem. Dois pesos, duas medidas. Lacrar ou não lacrar, eis a questão.

Esse é o mar de hipocrisia, anacronismo e estupidez daqueles que clamam pelo cancelamento de icônicos personagens fictícios que não se ajustam ao pensamento politicamente correto dos dias de hoje. Tempos sombrios esses em que vivemos, nos quais um bando de canceladores que atuam em redes sociais querem cancelar até mesmo personagens fictícios sob a alegação de que eles promovem coisas como aquilo que eles chamam de “cultura do estupro”, ao mesmo tempo em que fecham os olhos para coisas tão ou mais medonhas e pavorosas feitas por aqueles que fazem parte do time deles.

Para eles sexualização precoce de crianças e exposição de crianças a materiais que poderiam muito bem ser classificados como +18 é ok, assim como escolas lançando novilíngua bem ao estilo 1984 na qual não apenas o famigerado gênero neutro é introduzido com a intenção de atender aos caprichos de um bando de Napoleões de hospício, como também é proibido se falar em pai, mãe, garoto e garota. Mas, ao mesmo tempo, é errado um gambá flertar a gatinha no desenho.

E o que é pior: os famigerados Social Justice Warriors (SJW, na sigla em inglês) fazem isso tudo em nome da famigerada tolerância e da diversidade e do combate ao fascismo (um fascismo em grande parte abstrato e que não passa de um grande espantalho criado por eles, diga-se de passagem), à homofobia, ao racismo e outros males, assim como à famigerada “masculinidade tóxica” (outro espantalho que eles criam) que essa gente ventila aos quatro ventos. Verdadeiros tolerastas, diga-se de passagem.

Fontes:

Безмамыи безпапы” – школа в Нью-Йорке предлагает ученикам новый лексиком (em russo). Disponível em: https://russian.rt.com/inotv/2021-03-13/Fox-News-bez-mami-i

Dossiê Felipe Neto – Tudo o que você precisa saber [+18]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0_VmpolKbQ8

Escola do Rio adota “linguagem neutral” em vocabulário: “querides alunes”. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/escola-do-rio-adota-linguagem-neutra-em-vocabulario-querides-alunes

Manhattan private school warns against using ‘mom and dad’ in ‘inclusive language’ schools (em inglês). Disponível em: https://www.foxnews.com/us/manhattan-private-school-mom-dad

Nas redes sociais, movimento pede o ‘cancelamento’ da Dona Clotilde, a Bruxa do 71 do Chaves. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/page-not-found/nas-redes-sociais-movimento-pede-cancelamento-de-dona-clotilde-bruxa-do-71-de-chaves-24925409.html?fbclid=IwAR37mWKc_gUrIjzZoDOUeszve6CrxrEPGyNd-XtDQMEYMY7f2cET9QieyQs

O livrão do Felipe Neto e o conteúdo SEXUAL para crianças! Denunciado no Ministério Público. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hGFp114A-z8

2 comentários:

  1. Verdadeiros lobos em pele de cordeiro esse bando de justiceiros sociais.

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  2. Fui ler o documento PDF original, de leitura bem direta e poucas páginas, me surpreendi porque ele aborda vários outros temas que nem foram citados neste artigo: eles não aconselham falar nem sobre material escolar, afinal isso pode causar o mínimo de "aborrecimento" em quem não teria. O mesmo com qualquer deficiência, parece até que os alunos são banhados com álcool e não podem nem ficar um pouco esquentados.

    Mas sabe qual é o pior? Tem um subcapítulo que trata sobre religião e crenças e o texto fala: "invés de perguntar a religão, pergunte qual religião interessa mais o seu colega". Em um público-alvo de pré-adolecentes entre 11 e 15 anos; para os diretores eles podem assumir "sexualidade/gênero"(sei lá), mas não uma crença.

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