quarta-feira, 10 de março de 2021

O caso Pepe Le Pew e a serpente do politicamente correto.

 

Foto – Pepe Le Pew (1945 – 2021).

Recentemente, a Warner anunciou que o clássico personagem Pepe Le Pew, pertencente ao universo Looney Tunes, não vai mais aparecer no filme Space Jam 2. O conglomerado do mundo do entretenimento tomou essa decisão depois que foi publicado no The New York Times um artigo assinado pelo colunista Charles M. Blow, no qual o dito cujo problematiza diversos personagens de animações clássicas e afirmou que o gambá faz apologia e normaliza a famigerada “cultura do estupro”.

Como veremos abaixo, esse é um tema que se liga diretamente com o que foi abordado no artigo anterior, “Freeza e Rei Vegeta”.

Pepe Le Pew (também conhecido como Pepe Le Gambá) é um personagem que foi concebido por Chuck Jones em 1930 e animado pela primeira vez 15 anos mais tarde. Pertence ao universo Looney Tunes, e era famoso por seu estilo galanteador, pois o gambá francês vivia tentando conquistar a gata Penélope depois que esta, de forma acidental, teve suas costas pintadas com uma faixa branca, no que fez Pepe Le Pew a confundi-la com uma gambá fêmea. Originalmente, foi dublado por Mel Blanc (e depois do falecimento deste em 1989 recebeu outras vozes), enquanto que no Brasil recebeu as vozes de dubladores como Waldyr Sant’anna, Ary de Toledo, Milton Luís e Guilherme Briggs.

Antes da polêmica em questão, o gambá teria uma pequena participação em Space Jam 2 (que irá estrear em julho e será protagonizado por LeBron James, também produtor do filme). A aparição dele no filme em questão se  daria da seguinte forma: ele apareceria como um barman que tenta seduzir uma cliente no balcão (interpretada pela atriz brasileira Greice Santo – que ficou muito chateada e desapontada com a exclusão dessa cena). Irritada com o flerte, ela se afasta, joga a bebida no rosto dele e aplica uma tapa na cara dele. Na sequência, Pernalonga e LeBron aparecem para ajuda-lo.

A coisa chegou a tal ponto que a Warner decidiu produzir mais nada envolvendo esse clássico e icônico personagem. E não foi só o gambá francês que foi alvo dessas polêmicas. Também sobrou para outro personagem clássico dos desenhos Warner: o mesmo Charles M. Blow também acusou o Ligeirinho de supostamente estereotipar os mexicanos como bêbados e letárgicos. O dublador oficial do personagem no filme, Gabriel Iglesias, respondeu a tal acusação com o seguinte tweet: “Eu sou a voz do Ligeirinho no novo Space Jam. Será que isso significa que eles irão tentar cancelar a Fluffy também? Você não irá me pegar, ‘cultura do cancelamento’. Sou o camundongo mais rápido em todo o México”.


Foto – Tweet de Gabriel Iglesias sobre a polêmica envolvendo o Ligeirinho (originalmente Speedy Gonzalez).

Quer dizer, hoje cancelam dois icônicos personagens que já têm mais de meio século de história. E amanhã, quais serão as próximas vítimas dessas militâncias politicamente corretas estilo Black Lives Matter e desses justiceiros de Twitter, do alto de sua estupidez e burrice ideológica?

O que podemos concluir a respeito desse caso? A meu ver, é uma questão que tem tudo haver com o clima político-social que os Estados Unidos vivem desde a morte de George Floyd e toda a comoção que o caso gerou (obviamente direcionada no sentido de forçar a uma mudança de regime nos EUA e assim colocar na Casa Branca um representante orgânico do Deep State norte-americano – em outras palavras, uma politicagem em essência idêntica àquela feita contra Lula no Brasil em 2018).

Primeiro de tudo, que certamente não foi só por causa dos comentários do colunista em questão que a Warner tomou a atitude que tomou. Essa, talvez receosa de receber pressões vindas de outros canceladores de plantão (que certamente têm suas costas quentes), resolveu cancelar o icônico personagem. Quando na verdade o que a produtora deveria ter feito é o contrário: afirmar o personagem, pois será questão de tempo esses canceladores de plantão resolverem dobrar, quiçá triplicar a aposta, e fazer o mesmo com outros personagens não só da Warner, como também de outras produtoras. E ai a coisa entra em um círculo vicioso no qual as artes sofrerão uma verdadeira castração politicamente correta.

E segundo que a lógica do cancelamento de personagens como o Pepe Lew e o Ligeirinho é em essência a mesma vista na derrubada de estátuas e monumentos vista nas manifestações que se seguiram à morte de George Floyd. Ou mesmo no linchamento virtual ao qual foram submetidas a J. K. Rowling e a Lilia Schwarcz depois que essas proferiram comentários nas redes sociais que não agradaram nem um pouco a tais militâncias.

Em ambos os casos vemos a presença do mesmo entendimento anacrônico da história, no qual atos de muitas décadas ou mesmo séculos atrás são todos colocados e julgados segundo as lentes da visão de mundo do século XXI. Mais precisamente, das lentes da famigerada visão de mundo típica dos assim chamados Social Justice Warriors. Entendimento esse que no fim das contas inexoravelmente leva à grande tábula rasa da história que vimos nas destruições de monumentos no Chile em 2019 e mais recentemente nas depredações de monumentos das manifestações ocorridas em decorrência da morte do bandido George Floyd.

Esses militantes politicamente corretos, a propósito, tem um senso de moral bem peculiar, por assim dizer: para eles Pepe Le Gambá não pode flertar a gatinha no desenho, mas em desenhos para o público infanto-juvenil tais como Star versus as forças do mal pode ter beijo entre dois homens e o Felipe Neto (vulgo garoto colorido) pode postar vídeos no You Tube e distribuir revistas com conteúdos impróprios a crianças. Entre tantos outros exemplos que podemos ficar ai citando sobre a dupla moral e a hipocrisia de tais elementos (que adoram usar a ciência como forma de atacar criacionistas, terraplanistas e outros dessa estirpe, ao mesmo tempo em que eles também acreditam nas bizarrices pseudocientíficas deles). Tudo em nome da tolerância e do combate ao fascismo, ao preconceito, à homofobia e tantas outras mazelas.

Resumindo a ópera, a serpente do politicamente correto está a solta, destilando seu veneno por onda passa. Serpente essa que teve seu ovo chocado nos anos 1990 durante o governo Bill Clinton e que agora vem com força total no governo Biden. Quem irá detê-la agora?

Fontes:

Até o rato Ligeirinho está sendo cancelado na Internet; entenda essa treta. Disponível em: https://www.einerd.com.br/space-jam-2-ligeirinho-cancelado/

Gambá Pepe Le Pew é cancelado pela Warner por normalizar assédio. Disponível em: https://www.metropoles.com/entretenimento/cinema/gamba-pepe-le-pew-e-cancelado-pela-warner-por-normalizar-assedio

Pepe Le Gambá é tirado de “Space Jam” após ser relacionado à cultura do estupro. Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/cinema/pepe-le-gamba-e-tirado-de-space-jam-apos-ser-relacionado-a-cultura-do-estupro,e1ce51ba50acb204e826c05683d2c9cbyy9gpy2t.html

Pepe Le Pew. Disponível em: https://dublagempedia.fandom.com/pt-br/wiki/Pep%C3%A9_Le_Pew

4 comentários:

  1. Umas horas atrás(afinal, só agora que li esta publicação) eu vi um meme com esse mesmo personagem, com o cenário diferente: era primeiro uma declaração dessa mesma militância dizendo que as pessoas que se dizem "100% héteras" seriam "transfóbicas", aí na segunda imagem era a cena clássica do gambá, com a "bandeira dos transsexuais" e a gatinha com uma bandeira que parecia ser uma de "não-trans"(que obviamente são criadas por essa mesma militância com o objetivo claro de tirar sarro de quem ainda não sofreu essa lavagem cerebral).

    O que eu quero dizer, além da coincidência? Que essa serpente é venenosa mesmo, e não apenas nesse tema. Tanto que eu recomendo dar o troco neles, como eu faço em fingir que a "bandeira panssexual", por exemplo, é a bandeira da República Espanhola.

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    1. Atualização: por acidente, descobri que era uma bandeira de "super héteros". E o que seria esse "super"?

      R: de acordo com a definição do famoso grupinho, são héteros que não se interessariam por trans... então eles seriam preconceituosos.

      "Cumé"?!?!?!? Não eram "paz e amor"? Virou um revanchismo.

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  2. Inclua nesse ínterim a Dona Clotilde vulgo Bruxa do 71, icônica personagem da turma do Chaves. Ela também caiu na mira dos justiceiros sociais de plantão.

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    1. Só falta daqui a pouco o Hayate/Change Griphon também entrar na mira desses babacas.

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