Foto – Mural de apresentação do
episódio “Reinado de idiotas” (“Rule of Dumb” no original em inglês) de Bob
Esponja.
Bob Esponja Calça Quadrada é um famoso
desenho norte-americano que se encontra no ar pela Nickelodeon desde o
longínquo 1999. Criado por Stephen Hillenburg (finado em 2018), biólogo marinho
por formação e que enveredou sua carreira na área de animação a partir de a
vida moderna de Rocko, desde que foi lançado é um sucesso a nível mundial e
hoje já conta com mais de 300 episódios, 12 temporadas (mais uma 13ª temporada
vindoura) e dois filmes lançados nos cinemas (o primeiro em 2004 e o segundo em
2015).
Depois que o desenho passou por um
hiato devido à produção do primeiro filme, teve início a quarta temporada da
turma da Fenda do Bikini. E nessa temporada em questão (produzida entre 2005 a
2007), há o episódio “Rule of dumb”, lançado em 2007 e que cujo título foi
traduzido no Brasil como “reinado de idiotas”.
Mas, antes de tudo, por que falar a
respeito desse episódio em questão? Eu tive a ideia de escrever a respeito dele
enquanto escrevia o último artigo aqui postado. Mais precisamente, no parágrafo
onde falo a respeito da imagem em negativo que certo político carioca cria em
torno das pessoas que ele tanto acusa de serem bandidas, criminosas,
terroristas, corruptas e outras acusações afins. E então eu me lembrei de uma
cena desse episódio de Bob Esponja, na qual Patrick Estrela se vê diante de uma
imagem monstruosa dele em um espelho. Uma coisa levou a outra, e então resolvi
escrever uma resenha a respeito desse episódio do desenho animado da
Nickelodeon. Que é um verdadeiro retrato do que tem sido o Brasil desde que
Bolsonaro pai foi eleito Presidente da República, há dois anos.
Foto
– Rei Patrick no Siri Cascudo (originalmente Krusty Krab).
O
episódio começa com uma estrela do mar engravatada procurando Patrick Estrela.
Este, por sua vez, acha que o sujeito em questão veio pegar de volta uns livros
que ele pegou na biblioteca e procura a ajuda de Bob Esponja. Bob Esponja vai
ao encontro da estrela engravatada e descobre que ela não veio pegar de volta
os livros, mas lhe dar um presente um tanto inusitado: uma coroa dourada com
joias incrustradas. É explicado a Patrick e Bob Esponja que ele é um
descendente de uma família real e que isso o torna membro da realeza, e por
tabela rei. Assim a Fenda do Bikini ganha um novo rei chamado Patrick Estrela. E
uma vez rei, Bob Esponja diz a seu amigo rosado (notório por sua burrice ao
longo dos episódios do desenho) que agora ele pode ter tudo o que quiser. A esponja
amarela, por seu turno, se torna o fiel escudeiro de Patrick.
Em
seguida a dupla vai até o restaurante Siri Cascudo. Vendo que no pedaço há um
rei, o Seu Sirigueijo, achando que com isso ele irá ganhar muito dinheiro, dá à
estrela do mar um almoço bem farto e robusto, um verdadeiro banquete com
direito a dezenas de hambúrgueres de siri, batatas-frita e bebidas açucaradas.
Após uma breve conversa entre os dois, Sirigueijo cobra a conta de Patrick, mas
este se recusa a pagar a refeição pelo fato de que como agora ele é rei tem
direito a ter o que quiser. Bob Esponja concorda com a afirmação de Patrick,
dizendo que ele pode ter o que quiser e ainda de graça, o que deixa Sirigueijo,
sovina do jeito que ele é, enfurecido. Este expulsa os dois do restaurante dele
dizendo que ninguém come de graça no Siri Cascudo, independente da posição
social. Fora do restaurante, Bob Esponja e Patrick encontram um cliente que
acabou de sair do Siri Cascudo e Patrick confisca o lanche dele. Após uma
hesitação inicial, Bob Esponja mais uma vez endossa o ato de Patrick. O cliente
em questão diz a Patrick “isso não é justo”, e Patrick responde com um “a vida
não é justa, cara. É melhor se acostumar”. Percebe-se que a partir desse
momento o poder começa a subir a cabeça de Patrick Estrela.
Depois
da passagem pelo Siri Cascudo, o Rei Patrick, mais uma vez sob os auspícios de
Bob Esponja, é visto confiscando para si mesmo a coleção de revistas de um nerd
transeunte, roubando para si um diamante de uma joalheria, quatro pirulitos de
quatro crianças, um bebê de uma mãe e vários outros itens dos cidadãos da Fenda
do Bikini. E a esponja amarela endossando os atos do Rei Patrick geralmente
mostrando aos cidadãos da Fenda do Bikini um decreto real no qual Patrick tem
direito a ter tudo o que quiser. De tal modo que a Fenda do Bikini tornou-se um
verdadeiro feudo particular do Rei Patrick, cuja casa vira um palácio luxuoso e
pomposo de tanto a estrela do mar extorquir seus súditos.
Foto – Patrick confisca a revista de
um nerd.
Entretanto,
a canoa do Rei Patrick começa a virar quando entra em cena Lula Molusco. Sob as
ordens do Rei Patrick e sem nem ao menos consultar o polvo antropomórfico, a
casa dele é realocada de seu lugar costumeiro, para no lugar dela ser
construída uma roda gigante real. Obviamente, Lula Molusco ficou enfurecido com
toda essa brincadeira. Bob Esponja acha isso o máximo, opinião essa que não é
compartilhada por seu vizinho azulado. Lula Molusco dirige-se ao povo da Fenda
do Bikini e diz que o Patrick não é rei. “Olha só para ele, como essa bolha
rosada pode ser rei?”, diz Lula Molusco, que em seguida se dirige a um dos
engenheiros de obras. “Você acredita mesmo que essa estrela do mar sem cérebro
podia ser rei de alguma coisa? Rei dos idiotas, pode ser”, completa Lula
Molusco. As pessoas presentes, diante dos argumentos de Lula Molusco, abandonam
o rei Patrick e as obras do palácio dele. Este, por sua vez, fica irado com
Lula Molusco e ordena que o cerquem e o ataquem. Ordena a Bob Esponja que o pegue,
e a esponja amarela, tentando contornar a situação, pede para que Lula Molusco
assine um tratado de lealdade eterna ao Rei Patrick. Lula Molusco se recusa a
assinar o tratado e o enterra na cabeça de Bob Esponja.
Na
cena seguinte, o rei Patrick, em sua casa-palácio, está furioso pelo fato de
ter sido perdido os seus súditos e amaldiçoa “aquele Lula Molusco horrível” por
isso, a ponto de dizer que a culpa por tal situação é toda do polvo
antropomórfico e não dele. Patrick tem uma espécie de surto psicótico, e Bob
Esponja enfim toma coragem e diz a seu velho amigo que ele está bancando o
idiota. Patrick começa a rir e grita bem alto na cara de Bob Esponja, dizendo
que ele não está abusando do poder e que vai colocar a cidade inteira na
cadeia. A paranoia dele aumenta a tal ponto que diz que questionar a autoridade
é traição. Bob Esponja em seguida sai de fininho da casa-palácio de Patrick,
sem que este perceba.
Patrick
se vê sozinho depois de tudo, e passa diante de um espelho. Nesse espelho,
surge uma imagem monstruosa dele, que começa a conversar com ele. Patrick acha
que é a piada do toque-toque, e se dirige ao espelho. “Quem tá ai?”, Patrick
pergunta. E a imagem em questão responde “você”. Patrick responde que não
entendeu. E a imagem monstruosa replica com as seguintes palavras: “eu sou você
e você sou eu”. Diante dessa imagem medonha e das palavras que acabara de
ouvir, Patrick, em um raro lampejo de inteligência, se dá conta de que a imagem
que acabou de ver no espelho e sai de sua casa gritando “monstro, monstro!”.
Então ele novamente encontra aquele que o entregou a coroa. Patrick renuncia à
coroa e à posição real e diz que não quer mais isso, dizendo que isso o
transformou em monstro.
No
fim das contas, descobre-se que essa história toda de que Patrick Estrela
pertence à realeza foi na verdade um engano, já que na mesma folha da árvore
genealógica havia uma mancha de café que uma vez removida revelou que quem na
verdade pertence à realeza e é o herdeiro da coroa é Gary, o caracol de
estimação de Bob Esponja. E assim a coroa passou a ser usada por Gary. E assim
o episódio acaba.
Foto – Man in the Mirror: Rei Patrick
diante da imagem monstruosa dele.
O
que esse episódio em questão tem a nos ensinar? Esse episódio mostra muito bem
o que é um país governado por um idiota. Igualmente nos ensina que dar poder a
um idiota não pode dar em outra coisa a não ser em grandes problemas. Em outras
palavras, é a receita perfeita para o desastre. E isso é o que está acontecendo
hoje no Brasil com Jair Bolsonaro no comando da nação. Ele, que, não custa
lembrar, só se tornou Presidente da República graças à terra arrasada da
Operação Lava Jato sobre o sistema político brasileiro (e nisso criando uma
imagem de forasteiro do sistema que veio moralizar a coisa toda que não condiz
com a realidade), a prisão de Lula e a “facada”, além da assessoria que recebeu
de Steve Bannon e do esquema Cambridge Analytica. E o mais interessante de tudo
é que se trata de um episódio produzido e veiculado originalmente em 2007, de
quando o nosso Presidente imbecil ainda era um reles Deputado Federal do mesmo
Partido do Maluf, o Partido Progressista (PP) e que mal sonhava em se tornar
Presidente à época. Parece que os produtores de Bob Esponja, na época,
pressentiram o que viria a acontecer com o Brasil 12 anos mais tarde.
Nesse
episódio, salta aos olhos o comportamento de Bob Esponja. Ele, ao agir como um
bajulador do Rei Patrick, comporta-se como os típicos partidários de Bolsonaro
que, independente de seus desmandos e políticas desastrosas, não deixam de
apoiá-lo. Vemos Bob Esponja indiferente aos piores desmandos do Rei Patrick,
começando pelo fato dele ter dito que pelo fato de Patrick ser rei ele pode ter
tudo o que quiser e de graça. E entre esses desmandos estão inclusos confisco
de pirulitos de quatro crianças, sequestro de um bebê dos braços de uma mãe,
confisco de vários outros objetos de vários cidadãos da Fenda do Bikini
(incluindo o andador de um idoso confiscado pelo próprio Bob Esponja em pessoa)
e tentativa de realocação da casa de Lula Molusco.
Cenas
como aquela em que os habitantes da Fenda do Bikini dão seus objetos pessoais
como se fossem uma espécie de tributo ao rei lembra muito as reformas (como a
da Previdência) e a retirada de direitos da população que Bolsonaro vem
conduzindo em conluio com Paulo Guedes. Apenas agora, com a crescente disseminação
do Coronavirus-19 pelo país (e que não vai parar tão cedo, diga-se de passagem
– pandemia essa que pode vir a ter novas ondas, tal como ocorreu com a gripe
espanhola entre 1918 a 1920), é que as coisas estão começando a mudar de
figura. Alguns deles, vendo que suas vidas estão em jogo, estão começando a
fazer panelaços contra o miliciano (alguns dos quais eu mesmo presenciei
pessoalmente), e progressivamente Bozo vem perdendo apoio mesmo entre seus
apoiadores mais ferrenhos. Tal qual no desenho, em que chegou uma hora em que
Bob Esponja tomou coragem e resolveu parar de apoiar o Rei Patrick e suas
maluquices.
Também
é digno de nota o banquete do Rei Patrick no Siri Cascudo, que nos remete à
farra do cartão corporativo da parte do Presidente e todas as outras mamatas de
seu governo (a mesma mamata que Bozo, antes de assumir o governo, dizia que ia
acabar), e também a queda do Rei Patrick diante dos apelos de Lula Molusco. A
atitude de Lula Molusco nesse episódio lembra muito o recente episódio no qual
um haitiano abordou o Presidente imbecil e a ele disse as seguintes palavras:
“Bolsonaro, você não é mais Presidente, chega, acabou”. Diga-se de passagem, a
indignação do haitiano no episódio em questão é em essência a mesma que Lula
Molusco demonstrou só de ver que um idiota como o Patrick era rei.
Outra
passagem do episódio digna de atenção é quando Patrick se vê de uma imagem
monstruosa dele no espelho de sua casa-palácio. Isso me faz lembrar muito do
próprio Bolsonaro e a atitude dele em relação a pessoas que ele tanto acusa de
serem terroristas, corruptas, assassinas, bandidas, criminosas e outras acusações
similares, como já dito no artigo anterior aqui postado. Entre elas Cesare
Battisti, Dilma Rousseff, Lula e tantos outros. Em outras palavras, nessas
pessoas todas Bolsonaro cria uma imagem em negativo dele mesmo e nelas deposita
todas as qualidades negativas dele, e diante delas se encontra diante de um
retrato dele mesmo. Com a diferença que enquanto Patrick percebeu que a imagem
em questão era a dele, Bozo não percebe isso. Talvez não tenha a inteligência
necessária para tal.
Mas,
diga-se de passagem, Bolsonaro não foi o primeiro a fazer esse tipo de coisa e
nem será o último. Era assim, por exemplo, que os tucanos agiram em relação a
Paulo Maluf nas eleições para governador do Estado de São Paulo de 1998. Diziam
que Maluf faria uma série de maldades e que ele era uma espécie de mal
encarnado na Terra, fazendo dele fizeram um espantalho. E no fim fizeram as
mesmas coisas que eles diziam que Maluf ia fazer. Ou mesmo a Lava Jato quando
acusa o Partido dos Trabalhadores de ser uma organização criminosa. É a típica
hipocrisia da direita tupiniquim.
Enfim,
é incrível ver como um desenho animado destinado primordialmente ao público
infanto-juvenil pode nos apresentar textos tão inteligentes e atuais como esse
(textos esses que eram mais comuns nas primeiras temporadas do desenho que nas
mais recentes). É um ótimo episódio que recomendo ser visto. Não apenas pela
qualidade dele em si, mas para um melhor entendimento do que é um país
governado por idiota como o nosso Presidente imbecil. Para que futuramente não
venhamos a cometer o mesmo erro que o Brasil cometeu no ano retrasado. De
eleger um miliciano que acha que ser Presidente é o mesmo que ser o reles
Deputado que ele foi desde que entrou na política (ainda mais se esse dito cujo
se apresentar como um forasteiro do sistema que veio moralizar a coisa toda e
como um sujeito avesso ao que ele chama de velha política, sendo que ele é um
verdadeiro adepto dessa mesma velha política).
Fontes:
Bob
Esponja (dublado) – Episódio 149: Reinado de idiotas. Animefly. Disponível em: http://91.205.174.47/video/21363/bob-esponja-dublado
Haitiano
aborda Bolsonaro e diz: “você não é mais Presidente”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NJTrbbRDDOo
King
Patrick (em inglês). Disponível em: https://theadventuresofgarythesnail.fandom.com/wiki/King_Patrick
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