quarta-feira, 6 de março de 2019

Família do líder-mártir notifica sobre perseguição por decreto de senador americano, que publicou fotografia do mártir e ameaçou ao presidente venezuelano (notícia traduzida do russo para o português).



Foto – Kadaffi (à esquerda) e as referidas imagens provocativas (à direita).
Džana – Kair, 28 de fevereiro de 2019. No local.
A família do finado líder Muammar al-Kaddafi resolutamente repudiou a publicação da colagem do senador americano Marco Rubio no site “Twitter” de 24 de fevereiro, que ele desumanamente usou a fotografia de Muammar al-Kaddafi, como se o senador estivesse orgulhoso do crime da OTAN, cometido contra o líder Muammar al-Kaddafi.
Em declaração à imprensa a família confirmou que na quinta-feira recebeu uma cópia deste documento e declarou que o comportamento repugnante e incivilizado deste senador lembra a nós o que o antecessor dele embaixador Christopher Stevens fez com o líder-mártir. Tais ações refletem a degradação moral e renúncia a todos os valores humanitários, humanismo em suas diferentes manifestações.
A declaração adverte este senador e outras pessoas sobre as consequências da transgressão à memória do líder, sublinhando que esta violação não vai ficar impune, visto que a família irá tomar todas as medidas jurídicas e judiciárias para a revisão formal deste fato e punição do culpado por este comportamento bárbaro.
A família dos mártires apelou ao “Twitter” executar as obrigações jurídicas e morais em relação à publicação e das imagens provocativas de indivíduos privados em um site público, que representa para si uma violação dos valores do humanismo.
A família apontou que este comportamento é documentado como parte de uma declaração de repúdio dos chefes da OTAN pelos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, perpetrados em nosso país, dos quais o assassinato do líder e dos partidários dele foi seu clímax, assim como o assassinato do mártir Saif al-Arab Kaddafi.
A família do finado líder chamou os meios de informação de massa e organizações de direitos humanos a desmascarar os atos racistas e desumanos e solicitar à responsabilidade dos culpados.
Comentários:
Navegando pelo VK, visito a página Цитатки Муаммара Каддафи (em português Citações de Muammar al-Kadaffi) e vejo essa notícia, publicada originalmente no dia primeiro desse mês. Após lê-la e sabendo de quem se trata o dito cujo, resolvi traduzi-la do russo para o português e aqui publicá-la.
Na referida postagem no Twitter, Marco Rubio, senador do Partido Republicano pela Flórida, fez uma ameaça a Nicolás Maduro por meio de uma foto de Kadaffi com o rosto ensanguentado pouco antes de ser executado e morto por uma turba de fanáticos salafistas, passando ao atual supremo mandatário venezuelano o aviso de que ele será o próximo a sofrer o mesmo destino que Kadaffi sofreu há oito anos. Só de ter feito uma postagem horrenda dessa, visivelmente Marco Rubio não apenas ameaçou Maduro como também tripudiou em cima da memória do grande homem que Kadaffi em vida foi. Aquele que tirou a Líbia de uma situação de miséria e pobreza extrema de seu povo e a transformou no país mais rico da África. Em relação a Kadaffi, Rubio não passa de um anão moral.
Esse é o mesmo Marco Rubio (cuja família emigrou de Cuba para os Estados Unidos poucos anos antes da Revolução de 1959) que nas eleições presidenciais de 2016 foi um dos pré-candidatos nas primárias pelo Partido Republicano e do qual Juan Guaidó é um garoto de recados. De acordo com matéria da Carta Capital datada de 24 de outubro do ano passado, Rubio não apenas teria tido um encontro secreto com Bolsonaro em março do ano passado como também é o elo do político carioca com a Casa Branca. Rubio e Bolsonaro possuem várias afinidades a nível ideológico, entre elas armamentismo, pró-sionismo (Rubio é um dos maiores lobistas pró-Israel no Congresso dos EUA) e é a favor da queda do regime bolivariano que governa a Venezuela desde 1999.  Mais recentemente, Rubio manifestou-se a favor de um estreitamento das relações dos EUA com o Brasil.
Sabe-se que Bolsonaro possui relações com muitos nomes eminentes da extrema direita mundial que no presente momento vive um momento de ascensão, entre eles Viktor Órban, Matteo Salvini, Bibi Netanyahu, Trump, Steve Bannon e o próprio Marco Rubio. Muitos desses nomes que são ligados ao movimento que Bannon impulsiona. Talvez, isso seja apenas a ponta do iceberg.
Portanto, tendo em vista que o clã Bolsonaro com essa gente é articulado, não é de se surpreender que Eduardo Bolsonaro tenha tripudiado em cima da morte do neto de Lula por meningite. O mesmo Eduardo Bolsonaro que em agosto do ano passado esteve nos EUA e lá se encontrou com vários figurões do Partido Republicano, entre eles o próprio Marco Rubio. Segundo a notícia veiculada acima, a família de Kadaffi vai tomar todas as medidas jurídicas possíveis em relação ao patrão de Guaidó por essa publicação indecente e tripudio em cima da memória de Kadaffi. Espero que em relação ao Bolsokid os familiares de Lula tomem medidas similares às que a família de Kadaffi pretende tomar em relação a Marco Rubio. Talvez só assim para esses sujeitos baixarem a bola.
 
Foto – Bolsokid ao lado de Marco Rubio (ao centro).
Material original:
Página do VK Цитатики Муаммара Каддафи (citações de Muammar al-Kaddafi). Disponível em: https://vk.com/quotes_al_gaddafi?w=wall-42043155_6423
Fontes:
As relações perigosas entre Bolsonaro e o senador Marco Rubio (EUA). Disponível em: https://www.prensalatina.com.br/index.php?o=rn&id=19904&SEO=as-relacoes-perigosas-entre-bolsonaro-e-senador-marco-rubio-eua
Bolsonaro e o senador americano cunhado de traficante condenado. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-e-o-senador-americano-cunhado-de-traficante-condenado/
“Indios hediondos”, dice Bolsonaro; busca presidir Brasil, apoyado por Rubio (em espanhol). Disponível em: http://www.losangelespress.org/jair-bolsonaro-ultraderechista-apoyado-marco-rubio/
Marco Rubio says US should strengthen relationship with Brazil’s far-right president (em ingles). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8MERLbnC0Ms



segunda-feira, 4 de março de 2019

Considerações sobre as reações de alguns elementos da direita face ao óbito do neto de Lula



Foto – Lula ao lado de seu neto recém-finado. Por Latuff.
No último dia 1 de março veio a óbito um dos netos do ex-presidente Lula, Arthur Araújo Lula da Silva, sete anos de idade, vítima de meningite meningocócica. Deixo aqui não apenas minha homenagem ao jovem Arthur (que segundo o próprio Lula sofreu bullying na escola por parte de alguns colegas de escola devido ao fato de seu ter sido preso sob acusações de participação em esquemas de corrupção e que teve seu ipad confiscado durante a condução coercitiva de Lula em 2016) como também minhas condolências aos familiares do jovem Arthur e que ele esteja em boas mãos ao lado do Senhor Deus no além. Junto também com a Dona Marisa, o Vavá e outros familiares dele que também já não estão mais nesse mundo.
Mas não é a respeito do óbito em si de que falarei no presente artigo, e sim a repercussão que ele gerou. Como era de se esperar, a morte do neto de Lula (o qual recentemente foi impedido de ir ao velório de seu irmão Vavá) repercutiu fortemente nas redes sociais. E o que mais me estarreceu no episódio em questão foi a reação de certos elementos que comemoraram a tragédia, os quais podem ser vistos em vários prints nas redes sociais. Exemplo maior disso é a mensagem no Twitter de Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho de Jair Bolsonaro, sobre o recente ocorrido, falando como se o pai dele não estivesse passado por situação similar quando esteve internado durante a recente cirurgia de colostomia.

Foto – O já citado tweet de Eduardo Bolsonaro e a resposta de Fernando Lopez.
A postagem de Bolsokid (que parece ignorar por conveniência não apenas o fato de que Lula é um ex-presidente da República, como também o fato de que ele foi preso sem provas com intenções politiqueiras e a existência do artigo nº 120 da Constituição Federal, que prevê que os condenados que cumprem pena em regime fechado e semiaberto e presos provisórios poderão obter permissão para sair da prisão em caso de falecimento ou doença grave de algum familiar dele) gerou tamanha repercussão que mesmo figuras de direita como Reinaldo Azevedo demonstraram repúdio à mensagem do deputado federal pelo Estado de São Paulo no Twitter, como pode ser visto abaixo.

Foto – A reação de Gilberto Dimenstein, Kennedy Alencar e Reinaldo Azevedo ao tweet de Eduardo Bolsonaro.
Como dito na época da prisão do ex-presidente, muito nojo e repulsa senti de ver pessoas comemorando primeiro a condenação pelos desembargadores (ou como Paulo Henrique Amorim carinhosamente os chama, desembagrinhos) do TRF4 e depois a prisão de Lula (que por si só já me enoja só de saber que ele foi preso pelo mesmo juiz que livrou a cara dos tucanos e de empresas de mídia no caso Banestado e que hoje é ministro da justiça do governo Bolsonaro) com direito a fogos de artifícios lançados ao céu e festejos. Tripudiar em cima do cadáver de uma criança de sete anos recentemente falecida então para mim é o fim da picada. Ainda mais vendo o filho do atual presidente fazendo isso publicamente, como também pessoas que se dizem devotas do Deus cristão (ou será que na verdade são devotas do Deus cruel, impiedoso e sanguinário do Velho Testamento, que matou impiedosamente os filhos do faraó e jogou as pragas no Egito, entre outras atrocidades?) e a favor da família e dos bons costumes.
É o Brasil escravocrata do qual o Bolsokid (o qual quando durante a campanha eleitoral de seu pai nos EUA encontrou-se com o senador republicano pelo Estado da Flórida Marco Rubio, o patrão de Guaidó, que recentemente no Twitter postou uma foto de Muammar al-Kadaffi morto querendo dizer a Maduro que ele será o próximo a sofrer o mesmo destino que o líder líbio sofreu em 2011 – assunto sobre o qual falaremos no próximo artigo) é um representante revelando ao mundo seus demônios interiores que durante muito tempo estiveram ocultos em suas profundezas. Portanto, não é de surpreender tal reação da parte de muitas pessoas, ainda mais no momento de alta polarização ideológica que o país passa e onde a direita, surfando no clima de um suposto combate à corrupção, sai do armário e mostra suas garras e seu bafo fétido que durante muito tempo escondeu.
Esses que não apenas debocharam da morte da Dona Marisa, da Marielle e do neto de Lula são os mesmos que aplaudiram e festejaram com fogos de artifício lançados ao céu a condenação sem provas de Lula pelo juiz do Banestado. E se essa gente foi capaz de tripudiar em cima da morte do neto de sete anos do Lula, para mim não será nenhuma surpresa se vierem a repetir a dose caso o mesmo infortúnio venha a acontecer com o filho brasileiro de Cesare Battisti (ou quem sabe com o próprio ex-militante do Proletários Armados pelo Comunismo caso em um futuro próximo venha a óbito na prisão onde se encontra na Itália).
Em meu entendimento, tais elementos me lembram muito o Mussum em um esquete dos saudosos Trapalhões no qual o Mussum e o Dedé estão na sala de espera de um consultório médico. Uma conversa entre os dois trapalhões se inicia. O personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos Bernardes Gomes declara-se a favor do governo, diz que o governo está certo em aumentar o preço dos ovos e do feijão, mas muda radicalmente de opinião quando fica sabendo por meio de Dedé que o preço da sua amada cachaça (ou como ele a chama carinhosamente, mé) aumenta, a ponto de chamar o governo de “danadis”.
Enquanto o governo prejudica os outros, para o Mussum tudo está bem. Mas foi só mexer no preço do mé querido dele que a situação mudou de figura. De forma análoga, esses apoiadores de Bolsonaro e do juiz do Banestado acham lindo quando eles prejudicam o Lula, a Dilma e esquerdistas de modo geral e os sentenciam à prisão sem apresentar provas contundentes da culpa deles nas acusações. Parecem também achar bonito em nome do combate à corrupção arrepiar as leis e a Constituição do país e passar tábua rasa em empresas como Odebrecht e OAS, sem se dar conta do prejuízo que isso causou à economia do país e os milhões de desempregados resultantes dessa brincadeira. Quero muito ver o que eles vão achar na hora em que um desses togados dos cafundós os colocarem na prisão sem apresentar prova de culpabilidade alguma tal como feito com o Lula e com o Cesare Battisti (sobre o qual a única prova dos tais quatro crimes de que o italiano teria cometido durante os anos de chumbo da história italiana é uma delação de um ex-companheiro de armas, obtida bem provavelmente debaixo de tortura e ameaças à sua integridade física).
A tais elementos, apenas digo uma coisa: isso, fiquem apoiando tudo quanto é barbaridade jurídica e atropelo das leis por parte de juiz, procurador e desembargador que mais cedo ou mais tarde a cobra irá lhes picar. E a picada bem dolorida será, diga-se de passagem. E que vocês não reclamem nem chorem na hora em que um desses togados dos cafundós lhes jogarem em uma superlotada prisão como fizeram com o Lula (ouviu essa, né Matteo Salvini? Você, seu projeto de Mussolini, que comemorou a prisão do Lula nas redes sociais. Imagino que você deva ter um rancor muito grande em relação ao Lula pela questão envolvendo o Cesare Battisti, além de teu ranço ideológico fascistóide. Espero não ver lágrimas de crocodilo de tua parte na hora em que você for vítima do mesmo lawfare sofrido por Lula, Cristina Kirchner e Rafael Correa. Não brinque com lawfare, signore Salvini). Talvez só assim para vocês aprenderem a ser gente.

Foto – Mussum e Dedé no referido esquete (provavelmente dos anos 1980) dos Trapalhões.
Fontes:
As fraudes do processo e a extradição de Battisti. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/as-fraudes-do-processo-e-a-extradicao-de-battisti/
Eduardo Bolsonaro é bombardeado após criticar Lula para velório do neto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i2l8-iFvu7g
Matteo Salvini elogia prisão de Lula. Disponível em: https://comunitaitaliana.com/matteo-salvini-elogia-prisao-de-lula/
Os Trapalhões – o governo tá certis. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1IeI_NX2h2g
Quanta dor Lula pode suportar? Por que o temem tanto os sem-caráter? Disponível em: https://jornalggn.com.br/artigos/quanta-dor-lula-ainda-pode-suportar-por-que-o-temem-tanto-os-sem-carater/
Sacanagem – Moro não devolveu o ipad de Arthur. Disponível em: https://talisandrade.blogs.sapo.pt/sacanagem-moro-nao-devolveu-o-ipad-de-798491

sábado, 2 de março de 2019

Não à criminalização da homofobia pelo STF



Foto – Criminaliza, STF?
Recentemente, mais precisamente a partir do dia 13 de fevereiro de 2019, entrou em pauta no STF o tema da criminalização da homofobia. Que obviamente conta com grande apoio da parte dos partidários da esquerda pequena burguesa e suas inócuas pautas identitárias (entre eles partidos como o PSTU, que afirma que isso é um importante passo no combate à violência). O que dizer a respeito da criminalização da homofobia pelo STF? Qual é a nossa posição a esse respeito?
Nossa posição a respeito desse tema é diametralmente oposta ao do conjunto da esquerda pequena burguesa que clama pela criminalização da homofobia via STF. Eles mal sabem da armadilha que estão criando para si mesmos (e nesse anseio punitivista partidos como o PSOL e o PSTU não apenas se igualam como também fazem coro com os partidários de Bolsonaro. A única coisa que muda é o sinal ideológico deles).
Se há algo que a Operação Farsa Jato, depois de conspirar a favor da deposição de Dilma em conluio com a mídia venal, ajudar a colocar Michel Temer no poder, prender Lula sem provas e abrir caminho para Bolsonaro chegar ao poder, escancarou ao país é que o tribunal tem lado, o lado das elites que mandam no país desde o século XVI. E isso é algo que os governos Lula e Dilma foram incapazes de perceber enquanto no poder estiveram.
Agora imaginamos as seguintes situações hipotéticas:
1 – A Gleisi Hoffmann ou o Lindbergh Farias se envolve em uma polêmica com o Fernando Holiday ou com o Carlos Bolsonaro (vulgo Carluxo) e no calor da discussão o chama de “bicha louca”, “bichona”, “biba tresloucada” ou algo similar.
2 – A homofobia é criminalizada pelo STF e o Jean Wyllys de repente resolve voltar ao Brasil depois de seu autoexílio europeu. Passa um tempo e ele se envolve em uma polêmica com algum figurão da direita como o Marcel Van Hattem ou a Joice Hasselmann e é chamado de “bicha louca” ou algo similar.
Um juiz como o Sérgio Moro, o Luiz “peruca moradia” Fux, o Fachin, o Gilmar Mendes ou o Marcelo Bretas irá pegar mais pesado com qual dos infratores, o que é cúmplice do sistema vigente ou o que não é? Ganha um docinho quem souber responder essa questão. Levando em consideração o caráter de classe oligárquico-escravocrata não apenas da justiça brasileira como também do Estado brasileiro como um todo, não é de se surpreender que o sistema judicial brasileiro venha a ser muito mais benevolente para com os infratores cúmplices do sistema.
Lembremos não apenas dos casos Ciro Gomes x Fernando Holiday (no qual o político cearense, depois de chamar Fernando Holiday de “capitão do mato”, foi condenado a pagar uma multa de R$ 38 mil ao ex-MBL) e Paulo Henrique Amorim x Heraldo Pereira (no qual PHA foi condenado a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais ao jornalista da Globo por tê-lo chamado de “negro de alma branca”), como também da verdadeira caçada que a Farsa Jato fez a Lula e ao PT ao mesmo tempo em que passou a mão na cabeça de tucanos, demos e outros da direita (os quais por seu turno certamente devem saber de muitos podres a respeito do juiz Moro em atuações pregressas como no Banestado e na Operação Maringá) e do fato de que na Itália o Judiciário de lá, que mesmo no pós-guerra continuou sob controle fascista, foi muito mais rigoroso com os militantes de extrema esquerda que participaram de grupos como as Brigadas Vermelhas e o Proletários Armados pelo Comunismo (a exemplo do que foi feito a Cesare Battisti) que com os militantes envolvidos com grupos neofascistas e que perpetraram hediondos atentados, não raro culpando a esquerda por isso por meio de operações de falsa bandeira.
Em um trecho do episódio 39 de Cavaleiros do Zodíaco, Máscara da Morte de Câncer e Dohko de Libra (dublados no Brasil pelo finado Paulo Celestino e por Araken Saldanha, respectivamente) travam uma conversa a respeito não apenas do Grande Mestre do Santuário e suas intenções como também a respeito do que é a justiça e suas definições. MDM diz que as definições de justiça mudam conforme os tempos passam e que o que Ares almejava fazer pode parecer diabólico, mas que em caso de vitória dele na batalha contra Athena os perdedores da guerra tornar-se-iam os injustos. Dohko obviamente discorda do que MDM diz, alegando que a injustiça jamais se torna justiça e que o destino inexorável das forças malignas é o fim.
O que o Cavaleiro de Ouro de Câncer quis dizer com isso e aonde ele quis chegar com tal argumentação, a primeira vista sem sentido e absurda? Examinando-a bem, em sua argumentação MDM levanta as seguintes questões: o quem exerce a justiça (e por tabela o poder) e acima de tudo o quem escreve a história. Ou seja, a velha máxima de que os vencedores é que escrevem a história. Na verdade, pode-se dizer que ambos estão corretos. Máscara da Morte no plano subjetivo e Dohko no plano objetivo.
Caso Athena (vulgo Saori Kido) e seus santos perdessem a guerra para Ares (vulgo Saga de Gêmeos), ela passaria para a história como uma bandida impostora que se passou por Athena e junto com ela os santos fiéis a ela, incluindo o próprio Dohko de Libra, que seriam pintados como traidores que se deixaram enganar pela lábia da falsa Athena. Saga/Ares, por seu turno, tornar-se-ia o justo na medida em que a partir daquele momento começaria a escrever a história que dali em diante seria escrita e a criar uma imagem onde ele se colocaria como aquele que derrotou a impostora que perturbou a paz interna do Santuário e como a pessoa certa para governar o Santuário diante das investidas de outros deuses tais como Hades, Poseidon, Zeus, Apollo, Chronos, Janus e outros. A situação mudaria de figura apenas a partir do momento em que anos mais tarde Saga fosse vencido e a ordem por ele instaurada colocada abaixo. Algo análogo certamente Alberich de Megrez faria caso tivesse sucesso em seu intento golpista na saga de Asgard (exclusiva da animação) em relação à Hilda e aos Guerreiros Deuses que à representante terrena de Odin se mantivessem fiéis. Hilda de Polaris passaria à história que dali em diante seria escrita como aquela que após ser possuída pelo poder maligno do anel de Nibelungos por capricho envolveu Asgard em uma batalha ruinosa e Alberich como aquele que pela graça de Odin veio não apenas para salvar Asgard de um destino trágico como também para trazer dias gloriosos para o reino nórdico. Já os Guerreiros Deuses fiéis a ela, como Siegfried e Hagen, seriam tidos como no mínimo uns omissos que colaboraram com Hilda nessa loucura. Mas, como na história do anime o intento golpista de Alberich malogrou, ele certamente passará para os livros de história de Asgard como um conspirador que se aproveitou da batalha contra o Santuário de Athena para atingir ambições pessoais, sem se importar com nada nem ninguém.

Aonde você quer chegar citando uma passagem da mais famosa obra de Masami Kurumada, algum incauto perguntar-me-á? No tema do presente artigo, pois tudo a ver tem. A esquerda pequeno burguesa, em seu anseio punitivista, não leva em consideração justamente o fator “quem exerce a justiça” do qual Máscara da Morte levanta. E quem exerce a justiça no nosso país? As oligarquias que desde o século XVI mandam no país, por meio de seus apaniguados nos três poderes e que desde aquela época aparelham o sistema de justiça de forma a perpetuar seu status quo por meio de expedientes como a prática do nepotismo. Portanto, são esses atores sociais que não apenas fazem as leis como também exercem a justiça conforme seus desígnios. E, como eles em alguma medida estão afinados com o poder vigente no país, as leis serão usadas não apenas para beneficiar a extrema direita que agora está no poder como também para passar o trator no que ainda resta da já combalida esquerda brasileira. Ou seja, serão usadas para fazer as politicagens deles. Ou será que tais juízes vão levar adiante investigações sobre todo o esquema de laranjas de Bolsonaro e suas possíveis ligações não apenas com as milícias cariocas como também com o assassinato de Marielle Franco? Vai acabar como tantos outros escândalos de corrupção envolvendo tucanos, pemedebistas e demos como privataria tucana, trensalão, mensalão mineiro, Banestado, Alstom, helicola e tantos outros. O laranjal e o caso Marielle no máximo vão servir como elemento de chantagem sempre que ele resolver sair da linha estabelecida pelos donos do poder.
Não nos esqueçamos de que a mesma Justiça brasileira que hoje coloca em pauta o tema da criminalização da homofobia é a mesma que deu aval ao fraudulento impeachment de Dilma Rousseff, prendeu Lula, Genoíno e Dirceu sem provas em processos politicamente enviesados, tentou várias vezes extraditar Cesare Battisti de volta para a Itália e que agora quer passar o trator no que ainda resta da esquerda é quem dava aval à escravidão nos tempos da Colônia e do Império e que entregou Olga Benário à Alemanha nazista ainda grávida.
Precisa desenhar? Pedir para o STF criminalizar a homofobia é na prática aumentar ainda mais o arsenal punitivista que o Judiciário brasileiro, um poder não eleito cujos membros pensam que são deuses na Terra e comumente recebem salários muito acima do que a lei permite para funcionários públicos, já tem. Como se não bastasse Lei da Ficha Limpa, Lei antiterrorismo, Lei das organizações criminosas e o pacote anticrime do juiz do Banestado (muitas dessas leis que inclusive foram instituídas ainda nos governos Lula e Dilma), agora o STF está preparando mais uma lei que na prática vai funcionar como uma armadilha recheada com um apetitoso queijinho para apanhar como patinhos esquerdistas, pobres e pretos e jogá-los nas já superlotadas prisões brasileiras aos montes. Não nos esqueçamos de que foi justamente uma dessas leis, a Lei da Ficha Limpa, que foi usada para impugnar a candidatura de Lula no pleito presidencial do ano passado. E enquanto o judiciário e o Estado brasileiro mantiverem seu caráter oligárquico-escravocrata, leis como a da criminalização da homofobia e tantas outras apenas vão servir na prática para reforçar o aparato repressor do Estado e ajudar a superlotar de elementos indesejados pelos donos do poder as cadeias brasileiras.
Resumindo a ópera: alguém como o Jean Wyllys pedir para um juiz prender algum figurão da direita bolsonarista que o agrediu e o ofendeu em uma discussão de rua é o mesmo que alguém da esquerda pedir também para um togado prender o Aécio Neves, o José Serra ou o Michel Temer por envolvimento destes com esquemas de corrupção. Ou na Itália dos dias de hoje pedir para que a justiça de lá seja mais rigorosa para com os militantes neofascistas (a exemplo de Roberto Fiore e tantos outros) ativos no mesmo período de Cesare Battisti. Ou seja, algo inócuo.
E à esquerda pequeno burguesa e seus representantes que se sentirem ofendidos por nosso posicionamento a respeito dessa questão, só lhes digo uma coisa: na hora em que toda a esquerda brasileira estiver sob a custódia da juíza Carolina Lebbos nós conversamos, ok?

Foto - Os anseios punitivistas da esquerda pequeno burguesa que mais cedo ou mais tarde contra ela se voltarão.
Fontes:
Ciro Gomes é condenado a indenizar vereador Fernando Holiday por danos morais. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2019-02-21/ciro-gomes-fernando-hollyday.html
Conflito entre meias verdades. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cuSxdTDwQHI
Criminaliza, STF? Por Vitor Teixeira. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/diarias/criminaliza-stf-por-vitor-teixeira/
Criminalização da LGBTfobia: um importante passo no combate à violência. Disponível em: https://www.pstu.org.br/criminalizacao-da-lgbtfobia-um-importante-passo-no-combate-a-violencia/
Criminalização da “lgbtfobia” – PSTU pede mais repressão do Estado contra o povo. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/criminalizacao-da-lgbtfobia-pstu-pede-mais-repressao-do-estado-contra-o-povo/
O caso Battisti: justiça burguesa é feita. Disponível em: https://www.pstu.org.br/da-italia-o-caso-battisti-justica-burguesa-e-feita/