Foto – Nikolaj II e sua família em
foto de 1913 colorizada.
Hoje
eu gostaria de falar sobre tal evento épico, como o fuzilamento da família
imperial. Nós já analisamos o conjunto do primeiro Sovnarkom[1],
ou seja, do primeiro governo soviético – para esclarecer que quando “os judeus capturaram
o poder na Rússia”, verificou-se que no Sovnarkom os judeus eram exatamente um
homem. Agora nós compreenderemos com o que aconteceu ao redor da família
imperial.
Além
disso, os eventos por si mesmos, ou seja, a prisão da família, que foi efetuada
ainda no tempo do Governo Provisório, o envio desta família à Sibéria, que foi
também no tempo do Governo Provisório, a ideia do próprio tribunal sobre o
tzar, que também foi ainda no tempo do Governo Provisório – isso nós observar
não vamos. Isso já muitas vezes é observado, muito onde é mostrado. Da mesma
forma que é dito sobre quem mataram, como cruelmente mataram, - isso nós também
observar não vamos, por que isso muitas vezes em todo lugar foi dito e
mostrado.
Sobre
o que eu quero falar – apenas sobre aquele que poderia influenciar no
fuzilamento e quem tomou a decisão.
A
própria ideia de falar sobre isso foi gerada por um terrível calor da mais
forte propaganda antissoviética, quando se tentou renomear a estação do metrô
“Vojkovskaja”, acusando Vojkov de ser o assassino da família imperial. Pela
propaganda antissoviética os assassinos da família imperial já são infindáveis:
é Lenin, é Sverdlov, é Vojkov, em todos os malditos bolcheviques são culpados.
Então,
o que temos na verdade, se apenas tomarmos como fato: depois da Revolução de
Outubro na Rússia Soviética formou-se a coalização governante, que consistia
dos bolcheviques, esseritas de esquerda e anarcomunistas e anarcosindicalistas,
ou seja, essa é a coalização peculiar das alas esquerdas dos maiores partidos
da nação dos revolucionários. Em Moscou e Petrogrado a palavra decisiva
pertencia aos bolcheviques, mas o fato é que nessa época vigorava o lema “todo
o poder aos sovietes!”, ou seja, os sovietes na zona de sua competência
detinham toda a plenitude do poder.
Por
exemplo, a primeira decisão sobre a criação do Exército Vermelho
campesino-trabalhista tomou por conta própria o soviete local, ou seja, o
soviete do lado de Vyborg em São Petersburgo, ou seja, os demais sovietes,
portanto apenas apoiaram essa decisão. O soviete podia na zona de seu
território demitir e designar funcionários, se ocupar com a atividade
econômica, ou seja, toda a atividade econômica estava nos ombros do soviete, se
ocupar com a atividade administrativa e mesmo política. Ou seja, os sovietes
detinham poder real nos lugares.
A
família imperial se encontrava sob o controle do Soviete dos Urais. O
Uralsoviet estava sob o controle principalmente dos esseritas de esquerda, além
disso, lá houve várias pessoas na Preziduma do Uralsoviet dos assim denominados
“bolcheviques de esquerda” – o fato é que o Partido dos bolcheviques também não
tinha unidade. Os bolcheviques de esquerda – eram pessoas que eram ardorosos
oponentes da paz de Brest, que se posicionaram a favor do progresso da
revolução mundial, pela lenta liquidação do capital e etc. Por exemplo, o camarada
Bukharin foi o mais notável de todos os bolcheviques de esquerda. Na verdade,
os bolcheviques leninistas no Uralsoviet eram bem poucos, a eles pertenceu, por
exemplo, o próprio Vojkov. E assim a decisão sobre o fuzilamento da família
imperial tomou o Uralsoviet.
E
agora no assunto de que isso foi “ordem misteriosa de Lenin”, isso foi “ordem
misteriosa de Sverdlov”, isso foi de qualquer maneira uma ação astuta dos
bolcheviques para esconder seus rastros. Não, os bolcheviques queriam julgar o
tzar, queriam trazê-lo a Moscou e lá julgá-lo. O mais provável é que o
fuzilariam – aqui não se tem certeza, o mais provável é que não fuzilariam a
família, mas aqui também não se tem certeza. Nós não vamos falar sobre essas
hipóteses, nós falaremos sobre o que aconteceu.
O
fato é que quando falamos que os bolcheviques nesta época governavam o país, as
pessoas não sabem sobre o que falam. Os eventos, ligados com o fuzilamento da
família imperial, aconteceram em julho de 1918. Quais outros eventos
aconteceram em julho de 1918?
Em
julho de 1918 aconteceu o levante dos esseritas de esquerda, apoiado justamente
pela mesma parte dos bolcheviques – pelos assim denominados bolcheviques de
esquerda foi apoiado. Estes eventos célebres, ligados com o assassinato pelos
esseritas de esquerda do embaixador alemão Mirbach, tentativas de frustrar a
paz de Brest, ou seja, de novamente mergulhar o país na guerra com a Alemanha,
e nisso os esseritas de esquerda entraram em revolta armada direta. Eles
capturaram Dzeržinskij como refém, eles assumiram o controle de um conjunto de
objetos em Moscou, e esse levante suprimiu-se com o uso de força armada.
Além
do levante dos esseritas de esquerda em Moscou, houve ainda o levante da Guarda
Branca – mas, na verdade, em união
novamente, apenas com os esseritas de direitas – em Jaroslavl. Ou seja, quando
em um conjunto de cidades da região norte do rio Volga, principalmente em
Jaroslavl, aconteceu a deposição, afastamento do poder dos bolcheviques, os
quais fuzilaram. Exatamente a mesma barcaça ilustre, na qual mantiveram
prisioneiros sem comida, sem água, fuzilamentos massivos, - isso é tudo o levante de Jaroslavl. Um
tal de Boris Sanikov foi um dos líderes desse levante de Jaroslavl.
E
eis que naquele tempo, exatamente durante todos esses eventos de julho, o
Uralsoviet, que era liderado por esseritas de esquerda e bolcheviques de
esquerda, tomou a decisão sobre o fuzilamento da família imperial. Se nessa
época Lenin tentasse entregar a eles uma ordem de fuzilar a família imperial, o
mais provável é que o Uralsoviet, ao contrário, igualmente recusaria fazer
isso. Por quê? Por que comandavam o Uralsoviet aquelas pessoas que naquele
tempo eram adversárias dos bolcheviques, adversárias de Lenin, eram aquelas
pessoas, que tentaram afastar os bolcheviques do poder, considerando-os
insuficientemente revolucionários. E eis que essas pessoas tomaram a decisão
sobre o fuzilamento da família imperial.
O mesmo Vojkov prenderam pelo que ele marcou
200 puds[2]
de ácido sulfúrico por volta dessa mesma época, mas o Soviete ocupou-se com a
atividade econômica, além de outras coisas, e a fim de fuzilar a família
imperial, ácido sulfúrico é desnecessário. O ácido sulfúrico é necessário para
a produção industrial, e isso foi um dos recursos, que se distribuíam pelo
Estado nesse período, ou seja, exatamente por ordens dos sovietes locais.
Propriamente
falando, o único homem que dos bolcheviques, exatamente dos bolcheviques, tem
relação direta com o fuzilamento da família imperial, era Jurovskij, que, na
realidade, fuzilou esta família real. Mas o fato é que a esse homem os
bolcheviques não ergueram monumentos, em honra dele estações de metro e
fábricas não nomearam, ao contrário do mesmo Vojkov, que heroicamente morreu,
sendo embaixador na Polônia, sendo lá morto por um terrorista. Não o estudam na
escola, não o estudam em institutos, e o próprio nome do homem que fuzilou a
família imperial emergiu no tempo da Perestrojka, e agora sobre ele sabe todo o
país, graças à propaganda soviética, porque o fuzilamento da família imperial
pelo governo soviético não se considerou como um fenômeno legítimo, ou seja,
não o compreendem como algo legítimo, compreendem isso como um excesso muito
ruim.
Nisso
eu não quero dizer nada em defesa do último tzar: a minha opinião pessoal – ele
mereceu o fuzilamento por ter arruinado
o país, pelo que ele fez, por como
ele governou, ele de fato mereceu isso. Mas nós agora falamos não sobre o
que ele mereceu, que não mereceu. Nós não falamos sobre o assassinato, mereceu
ou não o fuzilamento a família imperial, eu penso que ela não mereceu e não
mereceria. Ou seja, eu acho que isso foi uma crueldade injustificável. Mas nós
falamos agora sobre aquele que tomou a decisão sobre o fuzilamento da família
imperial, e quem responde por isso.
Então
os bolcheviques quiseram o julgar o tzar, julgar publicamente, mas a decisão
sobre o fuzilamento tomou o Uralsoviet, que em julho de 1918 ao governo
soviético da Rússia Soviética banalmente não se submeteu e se proclamou por
aquelas pessoas, companheiras de luta das quais insuflaram nesse período
revolta contra os bolcheviques, ou seja, o famoso levante dos esseritas de
esquerda. Isso é tudo.
Fonte
da fonte: "История России"
Comentários meus:
101
anos completaram-se no dia 18 do último mês da tragédia que se abateu ao último
tzar da Rússia e sua família (os quais posteriormente vieram a ser canonizados
pela Igreja Ortodoxa em 2000 como portadores da paixão [em russo strastoterpec/страстотерпец]
– segundo a teologia ortodoxa, o portador da paixão é uma pessoa que enfrenta a
sua morte de forma similar a de Jesus Cristo).
Desde
então, muito se comenta a respeito de uma possível ordem da parte de Lenin para
o soviete dos Urais para fuzilar a família real, principalmente dos funestos
anos da Perestrojka e o fim do poder soviético em diante. Dessa forma,
mostrava-se interessante a aqueles que estavam no poder acusar Lenin, Stalin e
outras lideranças do período soviético de tudo quanto é crime nos sete decênios
e meio em que eles governaram a Rússia, como forma de legitimar o poder deles
naqueles anos conturbados e funestos que o gigante nortenho viveu.
Mas
os fatos aqui apresentados mostram uma história completamente diferente: Lenin
é inocente das acusações a ele imputadas de que ordenou o assassinato do tzar
deposto e sua família. E não apenas isso: os próprios Romanov foram depostos e
depois presos e enviados para Tobol’sk e Jekaterinburg não pelos bolcheviques,
mas pelo Governo Provisório que assumiu o comando do país por meio da Revolução
de Fevereiro de 1917. Apenas em outubro do mesmo ano que os bolcheviques
assumiram o poder, e só após o fim da guerra civil que se arrastou de 1918 a
1922 é que consolidaram sua autoridade sobre o todo o território do que veio a
se constituir como a União Soviética.
Interessei-me
a respeito desse assunto quando li um artigo no blog de Vitalij Lëzov (fonte: http://guiademoscu.com/?p=1162), o
Guia de Moscou, no qual é dito que os verdadeiros autores do assassinato de
Nikolaj II e a família dele foram justamente os esseritas (socialistas-revolucionários)
de esquerda, que se desentenderam com Lenin após a assinatura da paz de Brest
com a Alemanha e que queriam conduzir uma guerra revolucionária contra a mesma
– a ponto de matar o embaixador Mirbach. Dai resolvi me aprofundar a respeito
da verdadeira autoria do assassinato do último tzar russo em sites russos e com
o tempo tive a ideia de traduzir um desses textos para o português. Ou seja,
uma coisa foi puxando a outra até chegar ao ponto em que chegou.
Mas
por qual motivo, razão ou circunstância trago esse assunto para cá, a ponto de
traduzir um texto do russo para o português sobre algo ocorrido há 101 anos?
Porque muito haver com a realidade que o Brasil vive no presente momento. Mais
precisamente, no que tange à questão da indústria ideológica do anticomunismo
promovida pelo governo do miliciano que hoje ocupa a presidência da República e
que também foi forte na Rússia durante a era Jel’cin (sobre o qual nos
debruçaremos em textos posteriores por mim traduzidos). É interessante notar,
por exemplo, que essa extrema direita que hoje está no poder hoje volta e meia
arrota aos quatro ventos que esquerdistas costumam defender bandidos e/ou
assassinos. Sendo que, para começo de conversa, na União Soviética, como dito
no texto, nunca ergueram um único monumento em homenagem à Jurovskij ou
qualquer outro que tomou parte no assassinato da última família imperial russa.
Ainda mais interessante é notar que seu nome só veio à tona no tempo da
Perestrojka, a mesma Perestrojka que junto com a igualmente desastrosa Glasnost
ajudou a abrir o caminho para o desmoronamento do colosso soviético durante a
era Gorbačev. Além disso, é extremamente necessário nesse momento delicado e
conturbado que o Brasil vive conhecer a verdade a respeito de episódios como
esse, para que não repitam (em especial a esquerda) as mentiras contadas pela
direita.
Notas:
[1] Da sigla em russo Soviet
narodnykh komissarov (cirílico russo Совет народных коммиссаров). Instituição
de governo formada pelo Segundo Congresso Panrusso dos Sovietes durante a
Revolução de outubro de 1917 e que com o tempo converteu-se na máxima
autoridade governamental do poder executivo sob o sistema soviético.
Transformou-se em 1946 no Conselho de Ministros.
[2] Cirílico russo пуд.
Medida russa de peso que equivale a 16,3 quilos