Foto – Logo do Escola
sem Partido.
Recentemente, o deputado
Fernando Holiday, vereador do Democratas (DEM, antigo PFL) e coordenador do membro
do Movimento Brasil Livre (MBL), esteve em algumas escolas da periferia de São
Paulo inspecionando-as sob a alegação de “coibir qualquer tentativa de
doutrinação que nossas crianças e adolescentes possam vir a sofrer”. Isso
obviamente está causando preocupação nos professores que trabalham na rede pública
de São Paulo.
Fernando Holiday, filho
de uma auxiliar de enfermagem com um garçom, lá foi cumprir o papel de censor
do movimento Escola sem Partido. E ao que tudo indica o que ele intenta fazer,
pelo que sua fala transparece, é que apenas as ideias mais retrógradas e
reacionárias sejam ensinadas e discutidas em sala de aula. Em outras palavras,
que não se discuta em sala de aula temas tais como a questão da reforma
agrária, da auditoria da dívida (tanto interna quanto externa), os lucros astronômicos
que bancos e empresas multinacionais aqui instaladas todo santo ano auferem
aqui no Brasil e que remetem ao exterior por meio de remessas, royalties e
outros artifícios, a questão da regulação dos grandes meios de comunicação,
entre outras tantas questões de importância visceral para o país.
Segundo Leonardo Stoppa,
Fernando Holiday em realidade não sabe o que está fazendo ao certo, que está cumprindo
um roteiro do qual ele é um de seus muitos atores e criado por um esquema
neoliberal cujo objetivo é criar entre as pessoas a sensação de que há um
grande inimigo: a suposta doutrinação feita por professores de esquerda em sala
de aula. E assim, enche-se a bola de tal inimigo de tal forma que desvia a
atenção das pessoas para as mazelas desse mesmo sistema que tem um poder de
dominação ideológica muito maior que a que esses professores dispõem. E assim,
as crianças serão tiradas das escolas convencionais que ensinam matérias como
História e Geografia e enviadas para escolas paralelas. Nessas escolas paralelas,
fanáticos cristãos seriam criados em um clima similar ao que existiu nos EUA
durante os anos do macarthismo e que poderão aprovar em plebiscito todas as
vontades de um presidente títere dos grandes banqueiros que mandam na política
por trás das cortinas.
E então pergunto: será
que ele, que tanta questão faz de inspecionar escolas da rede pública para ver
se há uma suposta doutrinação de esquerda nesses recintos, teria peito para
visitar faculdades de cursos como gestão e administração de empresas, de onde
saem os dirigentes de organizações patronais como a FIESP (Federação das
Indústrias de São Paulo) e a CNI (Confederação Brasileira da Indústria) que aparecem
por ai apoiando pautas como terceirização, golpes de Estado em momento de crise
econômica, arrochos salariais e aumento da jornada de trabalho da classe
trabalhadora? Será que é por mero do acaso do destino que os representantes da
Casa Grande, em entrevistas e pronunciamentos, periodicamente dizem tais coisas
na cara dura diante da população? Como, por exemplo, quando Robson Braga de
Andrade, presidente da CNI, afirmou que a carga horária do trabalhador
brasileiro deveria ser aumentada de 44 para 80 horas (no que faria o
trabalhador brasileiro trabalhar por quase meia semana) e quando Benjamin Steinbruch,
ex-presidente da FIESP disse que o trabalhador não precisa de uma hora de
almoço e que ele pode ao mesmo tempo operar uma máquina e comer um sanduíche? Do
nada é que aberrações como essas surgem. A ideologia da escravidão entre a
elite brasileira até hoje, passados 13 decênios da Lei Áurea, também não se
perpetua automaticamente. É como se fosse uma erva daninha que até hoje não
teve sua raiz arrancada do solo. Ainda mais levando em consideração que ele é
negro e o fato dele não se tocar que muito embora ele seja um vereador ele veio
de baixo e, portanto os verdadeiros representantes da Casa Grande o olham de
baixo para cima e como uma peça descartável de xadrez que a qualquer hora pode
ser descartada. O que vai acontecer quando a Casa Grande achar que eles não têm
mais utilidade alguma para eles (algo que talvez seja apenas questão de tempo
acontecer). A Casa Grande jamais irá admiti-lo em sua confraria por mais que
ele, um sujeito de origens humildes tal qual o Lula, se esforce. No fim vai nadar,
nadar, nadar e morrer quando chegar na praia tal qual uma baleia encalhada.
E ele que tanta questão
faz de patrulhar os professores da rede pública e querer dizer o que eles podem
ou não podem ensinar em suas aulas, pelo visto parece não ter a mesma gana para
fazer o mesmo nos grandes veículos de comunicação como a Rede Globo, a Rede
Record e o SBT, que possuem um poder de assédio ideológico nas pessoas muito
maior ao que professores de esquerda têm. Nunca vi o mesmo Fernando Holiday
falar em proteger as crianças e inspecionar o conteúdo dos programas que a Rede
Globo veicula em suas novelas, telejornais, programas de variedades e reality
shows, por exemplo. Também nunca vi o mesmo Fernando Holiday cobrar isenção ideológica
da parte dos juízes e procuradores que comandam a Operação Lava Jato e suas
filiais espalhadas pelo Brasil, que tem sido conduzida da forma mais
ideologizada possível. E será que ele teria peito para inspecionar o que os
futuros aspirantes a juízes e procuradores de órgãos como a Polícia Federal, do
Ministério Público Federal e do Judiciário aprendem em seus cursos de
magistratura, ou como as nomeações para esses órgãos acontecem, já que o
funcionamento dessas instituições é feito de maneira a ajudar na perpetuação ad eternum o status quo da classe dominante (e, portanto partidário até a
medula)? Ao que tudo indica, não. Ou será que a mentalidade reacionária dessa gente,
que acha que o lugar de gente que conteste o sistema é atrás das grades, se
perpetua automaticamente? E é para essa gente, que não se dá conta de que na
verdade são partes integrantes do sistema da corrupção vigente no Brasil (sistema
do qual Deltan Dallagnol e Marcelo Odebrecht são as duas faces de Janus[1], o deus supremo do panteão
romano) e que cuja função é punir aqueles cuja permanência em algum cargo importante
é algo que não mais interessa aos verdadeiros donos do poder por meio de
acusações eivadas com o mais tacanho e rasteiro moralismo tais como corrupção,
desvios de dinheiro público e afins (haja vista o recente caso de Sérgio Cabral
Filho, ex-governador do Rio de Janeiro, preso sob ordens de Marcelo Bretas), que
o Escola sem Partido pretende que sejam levados os casos de proselitismo
ideológico denunciados por lei (onde certamente será feita vistas grossas para
com os casos de proselitismo ideológico mais afinados ideologicamente com a
gente reacionária que pulula em órgãos como o Judiciário e o Ministério Público
ao mesmo tempo em que os casos de proselitismo ideológico esquerdista serão
punidos com todo o rigor da lei, ainda mais na situação em que o país se
encontra, onde há um risco muito grande de se implantar um regime de terror de
Estado similar ao que existente na Colômbia e amparado por gente como Moro,
Dallagnol e Bretas).
Para gente como Fernando
Holiday, Miguel Nagib e outros partidários do Escola sem Partido só configura
assédio ideológico o que professores de esquerda fazem em sala de aula. Já para
instâncias de poder bem mais altas e mais afinadas com o sistema que são tão o
mais partidárias quanto o proselitismo ideológico de esquerda em sala de aula
vistas grossas se faz. No fim das contas ele certamente não quer mexer com quem
tem muito mais poder que ele. Ou talvez nem faça questão disso. É a corda mais
uma vez rompendo no lado mais fraco, como de praxe.
No fim das contas, Fernando
Holiday, para além do reacionarismo raivoso que está à vista de todos nós, nada
mais é que o emblema de um sintoma. O sintoma do fato de que a política social
petista nesses anos todos só se preocupou em inserir o pobre na sociedade por
meio do consumo sem se preocupar ao mesmo tempo com sua politização. Uma figura
como essa bem dificilmente apareceria, por exemplo, na Venezuela, onde o regime
bolivariano politizou por meio dos círculos bolivarianos e das misiones as
pessoas que foram beneficiadas por suas políticas sociais. Isso mostra que
enquanto a esquerda não der a devida atenção à politização das massas, muitos
outros Fernandos Holidays aparecerão engrossando as fileiras de movimentos
reacionários como o MBL e defendendo pautas como Escola sem Partido,
terceirização e políticas neoliberais.
Foto – Fernando Holiday
e sua visão sobre o que a escola deve ensinar aos alunos.
Fontes:
05/04/2017 – Por que
Fernando Holiday faz todo aquele espetáculo? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NUJecQ8LaEU
Análise na íntegra sobre
Fernando Holiday (MBL). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TxeVa9XhMtw
“Chutar Holiday e seu
bando fascista das escolas”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y5UnOOMvvio
Dallagnol é parte
integrante do regime político do Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QHgF6ULA1VE
Pela jornada de 80 horas
para quem vestiu camisa amarela. Disponível em: http://www.blogdacidadania.com.br/2016/07/pela-jornada-de-80-horas-para-quem-vestiu-camiseta-amarela/
Por que Fernando Holiday
está invadindo escolas públicas. Por Mauro Donato. Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-fernando-holiday-esta-invadindo-escolas-publicas-por-mauro-donato/
NOTA:
[1] Leia-se “Ianus”. No latim, assim como
em idiomas como o alemão, o holandês, o húngaro, o polonês, o servo-croata, as
línguas escandinavas e bálticas, o tcheco, o eslovaco e outros tantos, a
partícula j tem valor de i.
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