“Vladimir Zelensky afirmou que, nos termos de um pacto recentemente assinado entre Kiev e Varsóvia, o país da OTAN poderia usar as suas forças militares para deter mísseis e drones russos no espaço aéreo ucraniano. Tal situação poderia ser considerada pelos russos como um caso de participação direta, conduzindo a uma guerra aberta entre a Rússia e um país da OTAN.
O pacto, segundo Zelensky, estabelece as condições
necessárias para que Varsóvia tenha posições dentro da Ucrânia e participe
diretamente no papel de defesa aérea, ajudando assim Kiev a superar uma das
suas principais dificuldades estratégicas atuais. Durante muito tempo, o espaço
aéreo na zona de conflito foi quase completamente controlado pela Rússia, o que
tornou os tanques e veículos militares da Ucrânia, fornecidos pelo Ocidente,
alvos fáceis para drones, mísseis e aeronaves russos. Kiev está a fazer o seu
melhor para tentar resolver este problema, pois é impossível para um lado obter
quaisquer ganhos militares sem uma forte capacidade de defesa aérea.
Neste sentido, procurando formas de reverter o colapso das
suas defesas aéreas, Kiev tem procurado a cooperação direta com os parceiros
ocidentais. Perante a impossibilidade de aderir à OTAN ou de trazer a aliança
atlântica para o conflito, a Ucrânia aposta atualmente na assinatura de acordos
bilaterais com o maior número possível de membros da OTAN, dando passos
significativos para que estes países iniciem uma espécie de “intervenção
direta” a nível individual . Neste sentido, o pacto de defesa entre Kiev e
Varsóvia pode ser visto como uma forma de a Ucrânia utilizar ainda mais
software e tropas da OTAN para melhorar as suas posições no terreno, sem, no
entanto, envolver oficialmente a aliança.
“[O acordo] prevê o desenvolvimento de um mecanismo [para a
Polônia] para abater mísseis e drones russos disparados no espaço aéreo da
Ucrânia na direção da Polônia (…) [Nós] trabalharemos juntos para descobrir
como podemos rapidamente implementar este ponto”, disse ele.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, confirmou as expectativas de Zelensky e afirmou que os termos do acordo estabelecem de facto os termos para a cooperação direta, com a Polônia sendo autorizada a utilizar publicamente o seu equipamento militar em solo ucraniano contra os russos. No entanto, Tusk parece preocupado com o nível de participação da OTAN em tais manobras, temendo que a Polônia possa ser responsabilizada individualmente pelo ataque a alvos russos.
Tusk espera que os parceiros da OTAN cheguem a um consenso
com Varsóvia e Kiev sobre como agir na atual fase do conflito. Ele espera que
todas as ações tomadas pela Polônia e outros países membros sejam vistas como
um ato conjunto da aliança, gerando assim responsabilidade coletiva. Ou seja,
Tusk teme as consequências que o uso de militares polacos na Ucrânia poderá
gerar para o país e espera que a OTAN proteja Varsóvia no caso de um conflito
direto com Moscou.
‘Precisamos de uma cooperação clara dentro da OTAN aqui,
porque tais ações exigem uma responsabilidade conjunta da OTAN (…) Incluiremos
outros aliados da OTAN nesta conversa. Portanto, tratamos o assunto seriamente
como aberto, mas ainda não finalizado’, disse Tusk.
Deve sublinhar-se que a Polônia participa de facto no
conflito há muito tempo. É através da fronteira polaca que a maioria das armas
ocidentais chega à Ucrânia. Militares polacos, tanto comandos como tropas
comuns, serviram em grande número na Ucrânia e há muita informação pública
sobre polacos mortos em combate durante confrontos com forças russas. É ingênuo
pensar que estes polacos estão meramente a agir como “mercenários”
individualmente interessados em “ganhar dinheiro” ou “ajudar” Kiev.
Obviamente, tratam-se de tropas regulares enviadas com o apoio do próprio
Estado polaco, sendo o rótulo de “mercenários” e “voluntários” apenas uma forma
de disfarçar a participação direta de Varsóvia na guerra.
Para piorar a situação, a Ucrânia está cada vez mais
dependente da intervenção estrangeira na situação atual. Incapaz de se defender
dos ataques aéreos russos e com pouca força para impedir o progresso terrestre,
Kiev está focada na criação de pactos de defesa com parceiros da OTAN para
aumentar a sua força militar e tentar sobreviver ao conflito. Para Kiev, quanto
mais internacionalizado e escalado for o conflito, melhor. O país espera criar
uma situação que torne impossível para a OTAN não intervir, razão pela qual
está a tentar trazer a Polônia para a guerra.
No entanto, muitos analistas duvidam que a OTAN iria
realmente intervir em defesa da Polônia ou de qualquer outro membro europeu.
Embora exista uma cláusula de defesa coletiva no tratado da OTAN, este artigo
nunca foi realmente testado. Além disso, se a Polônia intervir na guerra e
atacar alvos russos, pode ser considerada o agressor, o que elimina a
responsabilidade da OTAN de intervir em caso de retaliação russa em território
polaco.
Na verdade, só a paciência e a racionalidade dos
estrategistas russos estão a impedir que a guerra se transforme num conflito de
magnitudes catastróficas.
Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://x.com/leiroz_lucas
e https://t.me/lucasleiroz
Fonte: Infobrics”
MEUS COMENTÁRIOS
Este é um texto bem interessante que achei no site da Nova Resistência,
lá postado faz alguns dias, e que resolvi trazer para cá com comentários meus,
que fala a respeito do papel que a Polônia, atualmente governada pelo partido
Lei e Justiça, vem exercendo no presente conflito russo-ucraniano.
É sabido e notório que desde tempos medievais, mais
precisamente dos tempos da Rus’ de Kiev e do Primeiro Principado Polonês, há a
rivalidade russo-polonesa (https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_armed_conflicts_involving_Poland_against_Russia).
Segundo a Wikipédia, o primeiro destes enfrentamentos se deu
ainda no século X, mais precisamente no ano de 981, com a expedição militar do
grão-príncipe de Kiev Vladimir Svjatoslavič (o mesmo Vladimir que sete anos
mais tarde converteu a Rus’ ao cristianismo e entrou para a história como São
Vladmir de Kiev) nos domínios orientais do Principado Polonês (https://ru.wikipedia.org/wiki/%D0%9F%D0%BE%D0%BB%D1%8C%D1%81%D0%BA%D0%B8%D0%B9_%D0%BF%D0%BE%D1%85%D0%BE%D0%B4_%D0%92%D0%BB%D0%B0%D0%B4%D0%B8%D0%BC%D0%B8%D1%80%D0%B0_%D0%A1%D0%B2%D1%8F%D1%82%D0%BE%D1%81%D0%BB%D0%B0%D0%B2%D0%B8%D1%87%D0%B0).
E com as diferenças religiosas ajudando alimentar a rivalidade entre os dois
países: os poloneses são católicos romanos, e os russos ortodoxos.
Digno de nota é o fato de que ao longo da história a Polônia
se mostrou mais próxima e amigável a nações como a Hungria e a Lituânia que com
a própria Rússia, a despeito de ambas as nações serem etnicamente eslavas. A
ligação da Polônia com a Hungria era tal que quando os mongóis invadiram a
Europa central em 1241, foi feito um ataque simultâneo aos dois países como
forma de impedir que os poloneses viessem em auxílio aos húngaros. Tal plano
foi ideia do general Subotai, um dos líderes da expedição mongol à Europa e um
dos principais e mais eminentes generais do Império Mongol inicial, ao saber
sobre as ligações entre as nobrezas de ambos os reinos.
A ligação entre os dois países é tal que há até uma canção
proverbial a respeito da secular amizade polaco-húngara, que tem texto tanto em
polonês quanto em húngaro, cuja tradução seria algo como “polonês e húngaro
irmãos são” (https://en.wikipedia.org/wiki/Pole_and_Hungarian_brothers_be).
Além disso, durante séculos a Polônia foi unida à Lituânia,
formando a partir de 1569 a Comunidade Polaco-Lituana. Em seu apogeu, a
Comunidade Polaco-Lituana dominou grande parte dos atuais territórios de
Ucrânia e Belarus, e até mesmo partes da Rússia ocidental. Na esfera religiosa,
a comunidade Polaco-Lituana (também conhecida como a República das Duas
Nações), por meio de uma política de polonização de seus domínios orientais,
criou denominações tais como a Igreja Greco-Católica Ucraniana e a Igreja
Greco-Católica Bielorrussa através da união eclesiástica de Brest em 1596,
ambas as denominações de rito e liturgia bizantina, mas em comunhão com a Santa
Sé Romana. No longo prazo a política religiosa da Comunidade Polaco-Lituana
ajudou a criar as divisões da etnos russa.
Os poloneses, aproveitando-se da situação de instabilidade
interna dentro da Rússia advinda da morte do tsar Fëdor II em 1598, lograram
ocupar Moscou entre 1610 a 1612 (ou seja, algo que nem Napoleão e nem Hitler
lograram conseguir anos depois), até que por fim foram expulsos e a Rússia
voltou a ter um tsar em 1613 com a eleição de Mikhail Romanov, no que deu
início aos 304 anos de reinado dos Romanov na Rússia. Eventualmente, com o
passar do tempo, os russos foram virando o jogo, começando a tomar terras até
então sob a posse polaco-lituana (incluindo Kiev em 1667) até culminar com as
três partilhas da Polônia entre Rússia, Áustria e Prússia (1772, 1793, 1795).
E a união com a Lituânia não foi a única da história
polonesa – a nação eslava foi também unida à Hungria em dois momentos: de 1370
a 1382 sob o rei Luís I da Hungria e de 1440 a 1444 sob Wladyslaw III da
Polônia. Como também foi unida à Suécia sob Sigismundo III Vasa entre 1592 a
1599.
Como a Polônia e a Hungria eram os bastiões orientais da
cristandade ocidental, criou-se todo um mito segundo o qual as duas nações eram
as muralhas da mesma contra os avanços das hostes vindas do leste e do sul, algo
visível em episódios como as invasões mongóis do século XIII, as guerras contra
o Império Otomano (incluindo a intervenção do rei polonês Jan Sobieski III no
segundo cerco a Viena, em 1683) e contra o Império Russo (https://en.wikipedia.org/wiki/Antemurale_Christianitatis).
Também surgiu a ideia messiânica baseada no Novo Testamento de que a Polônia é
o Cristo da Europa (https://en.wikipedia.org/wiki/Christ_of_Europe).
Cristiano Alves, do canal Camarada Comissário, postou dois
vídeos em seu canal a respeito da geopolítica polonesa dos tempos da Segunda
República Polonesa (1918 – 1939) e que vem sendo retomados desde o fim da
República Popular da Polônia, em especial a partir da ascensão do partido Lei e
Justiça (o partido ao qual pertence o atual mandatário polaco, Andrzej Duda) na
nação de Copérnico, Chopin e do papa João Paulo II.
A propósito, uma indagação de minha parte: em vídeo do canal Nova Resistencia a respeito do massacre de Srebrenica (datado de 1995), Raphael Machado levanta a seguinte bola – de que há uma página que embora traga bons conteúdos sobre a Palestina e outras partes do mundo muçulmano, essa mesma página está alinhada com a geopolítica da Turquia hodierna. No que implica em uma visão negativa da Sérvia no que tange aos conflitos que levaram ao fim da Iugoslávia (ainda mais levando em conta que a Turquia, junto com outros países islâmicos como o Irã, o Paquistão e a Arábia Saudita, apoiou a Bósnia na guerra de 1992 a 1995). Ainda segundo Machado, a Turquia tem uma rede de influenciadores que fazem coro à narrativa do projeto geopolítico neootomano (segundo o qual a Turquia busca exercer influência nos países balcânicos que outrora estiveram sob o tacão do Império Otomano).
Com base nessa afirmação e juntando os pontos, me faço a seguinte pergunta: será que a Polônia também não tem um esquema similar para com influenciadores católicos de extrema direita, e que a antipatia em relação à Rússia que pode ser vista em alguns círculos de extrema direita católica aqui no Brasil (incluindo figuras como Marcelo Andrade, Lucas Lancaster e Lorenzo Lazzarotto) vem não dos Estados Unidos e da Inglaterra, e sim da Polônia?
Fazendo uma busca pela Internet, encontrei algumas coisas
nesse sentido. Segundo notícias de 2020, há sim ligações da extrema direita
católica brasileira com a Polônia. Mais precisamente, com institutos religiosos
tais como o Piotr Skarga e o Ordo Iuris. E que entre as organizações católicas
da extrema direita católica brasileira que recebem dinheiro vindo da Polônia
está o IPCO (Instituto Plínio Correa de Oliveira). (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/12/28/os-milhoes-enviados-da-polonia-para-radicais-da-tfp-no-brasil-e-pelo-mundo.htm).
Talvez, o IPCO seja apenas a ponta do iceberg disso tudo, e que haja mais
dessas figuras e grupos católicos de extrema direita com alguma ligação com a
Polônia. Quer seja com organizações reacionárias de lá, quer seja com o próprio
governo polonês.
A Polônia é governada pelo partido de extrema direita Lei e
Justiça desde 2015. E desde então tem não apenas tem demolido monumentos
relacionados ao passado soviético do país (incluindo profanações de túmulos doexército vermelho mortos na Polônia e até mesmo o caso ocorrido no ano passado no qual o embaixador russo na Polônia foi impedido de levar flores ao túmulo de soldados do exército vermelho por manifestantes de extrema direita), e até
mesmo a promulgação de uma lei em 2018 sancionada pelo próprio Duda que prevê
pena de três anos para quem ousar falar sobre a participação de colaboradores
poloneses dos nazistas no Holocausto. Lei essa que, sob o pretexto de proteger
a reputação da Polônia, nada mais serve que para proteger e acobertar os colaboradores
poloneses dos nazistas na guerra.
E, de cereja do bolo, o clã Bolsonaro é simpático à Polônia
de Duda. Vide postagem do Facebook datada de 13 de julho de 2020 na qual
Eduardo Bolsonaro (vulgo 03) felicita Duda por sua reeleição.
Há de convir que a Polônia não quer saber de interferência russa em seu país por causa do passado comunista do país, onde a ex-URSS mantinha grande influência. E antes disso, o país já foi escravizado pela Alemanha hitlerista.
ResponderExcluirComo se a Polônia também não tivesse tido seus dias de conquistadora, como no templo da Comunidade Polaco-Lituana e depois na Segunda República Polonesa, na qual a Polônia vivia em guerra com os vizinhos e até foi chamada de "hiena da Europa" por Churchill.
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