Foto – O dilema do
herói, segundo Harvey Dent.
No filme “Batman – o cavaleiro das trevas” (2008), de
Christopher Nolan, o personagem Harvey Dent (interpretado por Aaron Eckhart e
dublado no Brasil por Hélio Ribeiro) diz a seguinte frase antes de se tornar o
vilão Duas Caras: “ou você morre herói... ou vive o bastante para você mesmo
virar vilão”. E essa formulação se aplica ao caso de três grandes ícones do
esporte brasileiro: Ayrton Senna, Pelé e Nelson Piquet. Gostaria de aproveitar
o trigésimo aniversário da morte de Ayrton Senna, assim como o vindouro trigésimo aniversário da morte de Mussum, para falar a esse respeito e
lançar reflexões com base nessa frase.
Comecemos falando sobre Ayrton Senna. Correndo pela Fórmula 1, Senna sagrou-se campeão três vezes, em 1988, 1990 e 1991, os três títulos conquistados a frente da escuderia inglesa McLaren. Além dos títulos, Senna obteve 41 vitórias, 80 pódios, 65 pole positions, 19 voltas mais rápidas e 614 pontos ao longo de 162 grandes prêmios em um período de 11 anos (de 1984 a 1994). Recordes esses que só vieram a ser superados anos mais tarde por Michael Schumacher.
Como nós sabemos muito bem, Senna morreu prematuramente, aos
34 anos de idade, em decorrência do choque de seu carro com o muro da curva
Tamburello, no trágico 1º de maio de 1994.
Eu tinha nove anos à época, e lembro-me da comoção que a
morte de Senna gerou. À época, cursava a terceira série do ensino fundamental (hoje
4ª ano), e no dia seguinte a morte de Senna era o assunto do dia na escola.
Praticamente só se falava disso naquele dia.
Foto – Ayrton Senna e Michael Schumacher.
A morte de Senna foi uma morte prematura tal qual, por
exemplo, a do ator e artista marcial sino-americano Bruce Lee, morto aos 33
anos de idade no dia 20 de julho de 1973, um mês antes da estreia do filme
“Operação Dragão” (originalmente “Enter the Dragon”), seu último trabalho como
ator.
O paralelo de Senna com Bruce Lee é bem interessante, visto
que o criador do estilo Jet Kune Do, notório, entre outras coisas, por ter
popularizado o uso do nunčaku (arma branca que consiste de dois bastões
pequenos conectados por uma por uma corda ou corrente) no Ocidente, também era
um perfeccionista no que fazia tal qual Senna, como também se criou todo um
mito em torno da figura dele, que certamente não se repetirá depois que outros
grandes astros dos filmes de artes marciais tais como Jet Li, Steven Seagal, Bolo
Yeung, Jean Claude Van Damme, Donnie Yen e Jackie Chan nos deixarem. E que não
se repetiu com outros artistas marciais e lutadores (pelo menos não na mesma
intensidade) tão talentosos e habilidosos quanto Bruce Lee e que morreram já
idosos tais como o nipo-coreano Masutatsu Oyama, o wrestler germano-belga Karl
Gotch, o boxeador afro-americano Muhammad Ali, o wrestler norte-americano Lou
Thesz, o wrestler japonês Antonio Inoki, o judoca brasileiro Hélio Grace e
tantos outros igualmente ilustres e famosos.
O impacto de Bruce Lee na cultura popular hodierna foi
tamanho que ele serviu de inspiração para vários personagens em jogos de luta,
entre eles o Liu Kang em Mortal Kombat, o Fei Long em Street Fighter, o Kim
Dragon em World Heroes, o Hon-Fu em Fatal Fury, o Marshall Law e seu filho
Forest Law em Tekken e tantos outros, como também o personagem Rock Lee em
Naruto e o Hitmon Lee em Pokémon. Referências aos vários filmes de Bruce Lee
também podem ser encontradas em produções diversas, tais como Kill Bill (vide o
figurino amarelo usado por Uma Thurman), Dragon Ball (vide a Muscle Tower na
saga Red Ribbon), Mortal Kombat, Bob Esponja (episódio “Ilha do karatê”, da
quarta temporada, ao final do qual foi homenageado o ator Pat Morita, o senhor
Miyagi da tetralogia Karatê Kid) e outros.
Foto – Bruce Lee (1940 – 1973).
Tantos outros exemplos de artistas e esportistas que
morreram muito novos, no auge da glória e do prestígio deles e que postumamente
criou-se todo um mito em torno deles podem ser citados, tais como o cantor de
reggae jamaicano Bob Marley, a cantora americana de ascendência mexicana Selena,
o cantor inglês John Lennon, o cantor brasileiro Renato Russo e os membros da
banda brasileira Mamonas Assassinas.
É aquilo que alguns chamam de o “efeito James Dean”. Clara
referência ao ator norte-americano e ícone dos anos 1950, finado em 1955 aos 24
anos vítima de um acidente automobilístico. Com a morte prematura, James Dean
virou símbolo de juventude e rebeldia, ícone da moda, desilusão adolescente e
distanciamento social.
Fazendo uma analogia, a morte de Ayrton Senna no Grande
Prêmio de Ímola em 1994 aos 34 anos foi como se Michael Jackson, o rei do pop,
tivesse nos deixado em 1984, logo após o grande sucesso do álbum Thriller, em
decorrência do acidente de filmagem do comercial da Pepsi que lhe infligiu queimaduras
de segundo e terceiro grau no couro cabeludo (momento a partir do qual ele passa
a usar analgésicos, algo que o acompanha até seu ocaso). E não anos mais tarde,
em 2009, depois de sua vida ter sido devassada e passado por duas acusações de
abuso sexual de menores (vide casos Jordan Chandler e Gavin Arvizo).
Entretanto, cabe aqui ressaltar que a mitificação de Senna (o
qual, diga-se de passagem, morreu em uma época em que ainda não havia Internet,
e, portanto, a circulação de informação era consideravelmente menor que nos
dias atuais) tem seus contornos próprios que ajudam a tornar um personagem
ainda mais único.
Uma mitificação que, em minha humilde opinião, une elementos
modernos e pré-modernos e que deita raízes não apenas na mística sebastianista
que emergiu em Portugal após o desaparecimento do rei Dom Sebastião em
decorrência da derrota na batalha de Alcácer-Quibir no Marrocos em 1578 (no que
gerou a crise dinástica que levou ao estabelecimento da União Ibérica dois anos
depois, por meio da qual Portugal permaneceu por 60 anos sob domínio espanhol),
como também nas gestas e canções de cavalaria medievais, tais como a canção de
Rolando, canção datada do século XI que retrata o fim trágico e ao mesmo tempo
heroico de Rolando, sobrinho e comandante do exército de Carlos Magno que em
778, durante a expedição carolíngia contra o emirado de Córdoba no norte da
atual Espanha, foi morto na batalha de Roncesvales (cidade da província de
Navarra, situada próxima à fronteira com a França) após a retaguarda do
exército franco ser submetida a uma tocaia por parte dos bascos. Entretanto, com
o passar dos séculos uma alteração foi feita no texto da canção: ao invés dos
bascos como na história real, quem arma a tocaia que ceifa a vida de Rolando
são os mouros. Tal mudança se dá, obviamente, dentro do contexto das Cruzadas e
da Guerra de Reconquista na Ibéria.
Foto – Dom Sebastião de Avis, “o desejado” (1554 – 1578).
Segundo a mística sebastianista (crença de caráter
messiânico que expressa inconformidade com a situação política vigente e
expectativa de salvação milagrosa) que com o tempo se difundiu não apenas em
Portugal como também no Brasil, Dom Sebastião não apenas não morreu ao fim da
batalha de Alcácer-Quibir, como também voltaria dos mortos para ajudar Portugal
em um momento de grandes dificuldades.
Segundo a Wikipedia italiana sobre o sebastianismo:
“Em sentido amplo o
sebastianismo, que penetrou na cultura portuguesa e brasileira, indica a espera
de um herói capaz de devolver à nação seu antigo esplendor”.
O Brasil viveu um período bem conturbado, do ponto de vista
político e econômico no final dos anos 1980 e primeira metade dos anos 1990, o
período do auge de Ayrton Senna na Fórmula 1.
Foi questão de pouco tempo o otimismo advindo do fim do
regime civil-militar e da campanha Diretas Já dar lugar a uma situação
desesperadora para muitas pessoas. Do ponto de vista econômico, o país vivia
dias difíceis, flagelado por problemas tais como a inflação, alta taxa de
desemprego e a carestia. O governo Collor, que terminou por conta de um
processo de impeachment, foi igualmente penoso para a população. E na arena
esportiva internacional a seleção brasileira amargava um jejum de títulos em
Copas do Mundo que só veio a terminar precisamente alguns meses após a morte de
Senna (tanto que até fizeram uma homenagem a Senna após a conquista do tetra).
Haja vista que no ano em que Ayrton Senna foi bicampeão, em 1990, a seleção
brasileira (que um ano antes ganhou a Copa América em casa) foi eliminada nas
oitavas-de-final em decorrência da derrota para a Argentina por 2 a 1. Essa foi
a última vez até hoje em que o escrete canarinho caiu nas duas primeiras fases
da competição máxima do futebol mundial, a propósito.
Pode-se dizer que foi como se o próprio Senna tivesse
encarnado o rei português do século XVI enquanto viveu, ajudou a trazer
esperança e alento ao sofrido povo brasileiro por meio de suas vitórias em um
momento tão complicado, e nos deixou tão logo a missão dele neste mundo foi
concluída. E que, como um cavaleiro medieval, pilotando um veículo cuja
potência é medida em cavalos, foi de encontro ao destino inexorável dele no
campo de batalha, o aceitou e no fim das contas tombou em combate cumprindo o
seu dever, a sua missão. Tal qual aconteceu, por exemplo, com Rolando na
batalha de Roncesvalles. Talvez, não por acaso, que o piloto austríaco que
morreu um dia antes de Senna, no treino de sábado, se chamava Roland. Roland
Ratzenberger (lembrando que nos destroços da Williams de Ayrton Senna foi
encontrada uma bandeira austríaca, que Senna pretendia agitar em homenagem ao
piloto austríaco em caso de vitória).
Mas não era só no Brasil que Senna desfrutava de grande
popularidade. Ele se tornou um ídolo mundial, e se tornou particularmente
popular no Japão, país em cujo Grande Prêmio o piloto brasileiro faturou seus
três títulos pela Fórmula 1. Na nação do sol nascente Senna não apenas ajudou a
popularizar o automobilismo por meio de suas conquistas, como também recebeu apelidos
como “samurai” e “príncipe supersônico” por parte dos japoneses, dada sua
habilidade nas pistas.
De tal modo que Akira Toriyama, o criador de Dragon Ball,
era grande fã do piloto brasileiro e até fez capa do mangá de Dragon Ball com
temática de Fórmula 1 no qual Goku está no cockpit da mesma McLaren (que tinha
motor Honda e chegou a ter entre seus patrocinadores a revista Shonen Jump, a
mesma na qual mangás como Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Samurai X foram
publicados) que Senna pilotou em 1990, o ano em que foi bicampeão. Toriyama
também escreveu o mangá “Battle Man F-1 GP”, que narra em forma de reportagem a
história do Grande Prêmio da Alemanha de 1990, ocorrido no circuito de
Hockenheim, no qual o pai de Goku se encontrou com Senna e até tirou uma foto
ao lado dele.
Foto – Ayrton Senna e Akira Toriyama, o criador de obras como Doutor Slump, Sandland e Dragon Ball, finado em 1º de março do presente ano. GP da Alemanha de 1990. Infelizmente, Senna não viveu o bastante para ver o sucesso da obra de Toriyama no Brasil (visto que só em 1996 Dragon Ball aportou no Brasil).
Uma clara referência a Ayrton Senna pode ser encontrada no
jogo de luta “Double Dragon”, produzido pela empresa Technos Japan Corporation
para as plataformas Arcade, Neo Geo, Neo Geo CD e Playstation em 1995, no final
do personagem Amon. O qual é visto pilotando um carro azul e branco e segurando
em suas mãos um capacete amarelo.
Entretanto, não vemos a mesma mistificação quando se fala, por exemplo, a respeito de Pelé e de Nelson Piquet. O primeiro já nos deixou faz mais de um ano e o segundo ainda está entre nós, com 71 anos de idade.
Agora falemos do rei do futebol e atleta do século, Edson
Arantes do Nascimento, o Pelé. Com a camisa verde e amarela da seleção
brasileira, das quatro copas que disputou Pelé ganhou três delas: 1958, 1962 e
1970. É uma marca que nenhum outro jogador igualou até hoje. Apenas Zagallo
ganhou tantas copas quanto Pelé, se levarmos em conta que em 1970 o Velho Lobo
era o técnico da seleção brasileira e em 1994 o auxiliar-técnico do escrete
comandado por Carlos Alberto Parreira. Isso sem contar com várias outras
conquistas a frente do Santos, incluindo conquistas da Taça Brasil (o
antecessor do campeonato brasileiro dos dias hodiernos), do Campeonato
Paulista, da Taça Libertadores e da Copa Intercontinental e mais títulos como a
Copa América a frente da seleção brasileira.
Só que ao contrário de Senna que morreu no auge, o mesmo não
pode ser dito sobre Pelé. Visto que ele abandonou os gramados em 1977 após uma
breve passagem pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos e teve toda uma vida
depois disso.
Após deixar os gramados, Pelé se encontrou com vários chefes
de Estado, monarcas, Papas, atletas das mais variadas modalidades, participou
de eventos dos mais variados, e em Copas do Mundo o rei era figura carimbada na
tribuna dos estádios prestigiando os jogos e se encontrando com figuras como
Maradona e outras. Até mesmo em grandes prêmios de Fórmula 1 ele esteve
presente.
Infelizmente o rei do futebol nos deixou em 29 de dezembro
de 2022, após uma longa luta contra o câncer, aos 82 anos de idade. Tal qual
Senna, a morte de Pelé também gerou grande comoção no Brasil e no mundo, algo
inevitável em se tratando de alguém da magnitude e da grandeza dele. À passagem
de Pelé se seguiu o velório e posterior enterro dele, que foi marcado, ente
outras coisas, pela ausência dos pentacampeões e de jogadores que participaram
da copa de 2022 pela seleção brasileira.
Entretanto, nem tudo foram flores para o rei do futebol em
sua vida pós-gramados. Visto que depois de aposentar as chuteiras também teve
sua vida devassada e se envolveu em polêmicas que ajudaram a desgastar a sua
imagem. A começar pelo fato de que em 1983 Pelé não compareceu ao velório de
Garrincha, companheiro de Pelé nas copas de 1958 e 1962, e que por conta disso
foi muito criticado à época. Em entrevista à revista Época datada de seis de
agosto de 2000, Pelé afirmou que não compareceu ao velório de Garrincha por não
gostar de enterros e de não estar próximo dele à época. Ainda segundo Pelé na
mesma entrevista, ele e Garrincha não eram amigos, embora se entendessem no
time.
Depois disso outras questões vieram, como a de Edinho, o
filho envolvido com drogas, e talvez aquela que mais ajudou a queimar a imagem
do rei: a questão de Sandra Regina, a filha que ele teve fora do casamento e
que veio a falecer em 2006, aos 42 anos de idade, e de cuja paternidade ele só
reconheceu depois de uma longa batalha judicial.
Tanto é que antes mesmo de o rei do futebol nos deixar, eu
mesmo vi em redes sociais pessoas o denegrindo e ofendendo da forma mais baixa
e vil possível principalmente por conta da questão da filha morta em 2006, a
tal ponto que vi gente o chamando de m*, lixo e ofensas similares.
Foto – Pelé e Beckenbauer, o rei e o kaiser (imperador).
Por fim falemos a respeito de Nelson Piquet Souto Maior. O
mesmo Piquet que em 1987, mais precisamente no 1º de maio daquele ano, durante
os treinos de sexta-feira para o grande prêmio de San Marino, se chocou na
mesma curva Tamburello na qual sete anos mais tarde Senna veio a falecer. E
mais uma coincidência: Piquet na ocasião também estava pilotando uma Williams,
tal qual Senna em 1994.
Por sorte, Piquet não morreu no acidente em questão, mas
ficou com algumas sequelas, incluindo a perda do sentindo de profundidade, além
de não ter disputado o Grande Prêmio de San Marino daquele ano. O estilo de
pilotagem dele também sofreu alterações após o acidente de 1987: antes mais
arrojado e mais agressivo, tornou-se mais comedido, cauteloso. Piquet não
apenas sobreviveu ao choque na curva Tamburello, como também ao final do mesmo
ano faturou o tricampeonato e correu na Fórmula 1 até a temporada 1991, tendo
ainda participado das 500 milhas de Indianápolis em 1992 (onde ele teve o
acidente nos treinos que lhe causou sequelas nos pés) e 1993 e das 24 horas de
Le Mans em 1996 e 1997.
Entre os acidentes de 1987 e 1994, outros tiveram lugar na mesma curva. Vide o acidente do austríaco Gerhard Berger (companheiro de Senna na McLaren após a saída de Prost da escuderia inglesa e à época guiando uma Ferrari) em 1989 e os dos italianos Michele Alboreto (Arrows) em 1991 e Ricardo Patrese (Williams) em 1992.
Tal como Senna, Piquet foi tricampeão pela Fórmula 1, nos anos de 1981, 1983 e 1987. Com a diferença que enquanto que Senna conquistou os três campeonatos dele com a mesma escuderia, a McLaren, Piquet conquistou os três tentos dele com duas escuderias diferentes: 1981 e 1983 com a Brabham e 1987 com a Williams.
Senna pode ter sido melhor que Piquet em vários quesitos,
mas havia um quesito em que Piquet se sobressaia: o conhecimento dele em
mecânica e habilidade de acertar carros. Algo que, nas palavras do próprio
Piquet, fez muita falta a Senna na temporada 1994. E eu, particularmente,
duvido muito que Senna, em caso de ida à Ferrari, lá toparia fazer um trabalho
de longo prazo tal qual Schumacher fez a partir de 1996 junto com Ross Brawn.
Trabalho esse que só começou a dar frutos em forma de títulos a partir de 2000,
com o tricampeonato do alemão no Grande Prêmio do Japão daquele ano.
Mas os paralelos entre os dois pilotos campeões param por ai. Ao contrário de Senna, que sempre teve um bom relacionamento com a imprensa esportiva de seu tempo, o mesmo não se observa com Piquet.
Ainda nos tempos de piloto de Formula 1, a relação de Piquet
com a grande imprensa nunca foi das melhores. Ele mesmo fazia de tudo para
manter distância da imprensa, a ponto de não frequentar os mesmos hotéis nos
quais a equipe da Rede Globo se hospedava.
E a relação dele com Senna enquanto os dois correram pela
Fórmula 1 igualmente não foi das melhores. De tal modo que, apesar de os dois
se respeitarem enquanto esportistas, não eram amigos e Piquet, por uma questão
de princípio, não compareceu ao velório de Senna. Fato este que, inevitavelmente,
foi explorado pela imprensa à época, a mesma imprensa que certamente o atacaria
do mesmo jeito caso Piquet estivesse presente no velório de Ayrton Senna.
E, ao contrário de Senna que morreu antes mesmo de se aposentar da Fórmula 1, Piquet, tal qual Emerson Fittipaldi, teve toda uma vida depois que se aposentou das pistas. E é ai que as coisas começam a se complicar para o lado dele.
Fatos tais como a polêmica envolvendo os comentários sobre o
piloto em atividade Lewis Hamilton e o fato de ter se posicionado a favor do
ex-presidente Jair Bolsonaro, político com alta rejeição entre parcela da
população brasileira, também ajudaram a desgastar ainda mais a imagem dele
perante a população. Para piorar ainda mais a situação para o lado do
tricampeão, ele escolhe Bolsonaro em um momento particularmente delicado da
vida política brasileira, onde há uma crescente polarização política entre
esquerda e direita. E de cereja do bolo, o episódio no qual ele foi chofer do
mesmo Bolsonaro, na comemoração da independência do Brasil de 2021. E claro,
com a imprensa que nunca foi com a cara dele se aproveitando dessas situações todas
para alfinetar Piquet.
Foto – Piquet e Bolsonaro. Sete de setembro de 2021.
E, como já relatei na homenagem ao rei do futebol, me dá
medo imaginar como que será a reação de pelo menos parte dos detratores de
Piquet quando o piloto carioca, hoje com 71 anos, nos deixar. Não me
surpreenderá nem um pouco ver gente em redes sociais dizendo por ai que ele foi
tarde, que ele tinha inveja do Ayrton Senna e ainda por cima se lembrando das
escolhas políticas e das polêmicas e controvérsias dele, e não das conquistas
dele no esporte.
Foto – Piquet e Senna. Grande Prêmio do Brasil de 1986.
Resumindo a ópera, o que se percebe quando vemos Senna de um
lado e de outro Pelé e Piquet é que na percepção da população o primeiro morreu
como herói, ao passo que os outros dois viveram o bastante para se tornarem “vilões”,
parafraseando Harvey Dent. E assim tiveram todo um desgaste de imagem que Senna
não teve por conta de sua morte precoce.
Também no presente ano, mas no dia 29 de julho,
completar-se-ão 30 anos do falecimento do humorista e sambista Antônio Carlos
Bernardes Gomes, mais conhecimento popularmente como Mussum.
Durante muitos anos Antônio Carlos Bernardes Gomes foi
membro do grupo de samba os originais do samba, mas se notabilizou mesmo por
ter encarnado durante muitos anos o personagem Mussum no programa humorístico
Trapalhões, veiculado na televisão primeiro
pela TV Tupi e depois pela Rede Globo no período entre 1974 a 1995.
Foto - Os Trapalhões.
Durante muitos anos, o programa humorístico protagonizado
pelo quarteto Didi, Dedé, Zacarias e Mussum foi campeão de audiência, e além
dos esquetes veiculados no programa televisivo vários filmes para cinema foram
produzidos. Alguns deles foram campeões de bilheteria e estão entre os filmes
brasileiros de maior bilheteria de toda a história, como foi o caso de “Os
Trapalhões nas minas do rei Salomão”, “os saltimbancos Trapalhões” e “os
Trapalhões nas guerras dos planetas”.
Mas, infelizmente, com o tempo, tal qual aconteceu com
outros humorísticos tais como Os três Patetas, Chaves, Chapolin, A Praça é
Nossa, Escolinha do Professor Raimundo e Sai de Baixo, o programa passou a
sofrer perdas, incluindo entre os protagonistas do mesmo. A primeira delas foi
Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias, finado no dia 18 de março de 1990. À morte
de Zacarias seguiram-se os falecimentos de Augusto Temístocles da Silva Costa,
o Tião Macalé (tido por muitos como o quinto trapalhão), em 26 de outubro de
1993, e do próprio Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, em 29 de julho de
1994, vítima de complicações decorrentes de um transplante de coração.
Diante de tais perdas foi questão de tempo o programa
humorístico chegar ao fim, em 1995. Foi como uma mesa que conforme o tempo
passou foi perdendo suas pernas de sustentação e no fim das contas
inexoravelmente desabou ao chão.
E o que eu, particularmente, observo a respeito do quarteto
é que enquanto que Mussum e Zacarias são aqueles que são mais bem lembrados
pelo público e tidos como os mais engraçados membros da trupe, o mesmo não se
observa com Didi e Dedé.
Zacarias e Mussum morreram como heróis tal qual Senna. O
segundo virou até meme de Internet postumamente. Camisas aludindo ao Poderoso
Chefão e marcas de cerveja foram criadas com a imagem do finado humorista
surgiram muitos anos depois seu falecimento.
Foto – Cervejas criadas em homenagem ao Mussum.
Já com Didi e Dedé, por outro lado, vivos até os dias
hodiernos e que tiveram toda uma vida após o término do programa, o mesmo não
se observa. Em especial o primeiro, que não é lá muito bem quisto por parte do
público muito em conta por conta de polêmicas com as quais ele se envolveu após
o término do programa. Em especial a polêmica em torno do fato de que ele, supostamente,
não gosta de ser chamado pelo nome do personagem que o consagrou e que ele
gosta de ser chamado por terceiros de Doutor Renato. Algo sobre o qual ele
mesmo desmentiu em entrevista recente. Segundo o humorista cearense, hoje com
88 anos, tal insinuação não passa de boato, mentira deslavada.
Aliás, vale lembrar que Mussum, Dedé e Zacarias, nos idos de
1983, se desentenderam com Didi por conta de questões financeiras e
tentaram a própria sorte juntos. Participaram do programa “A festa é nossa” e até
produziram um filme juntos, “Atrapalhando a Suate”. Já Renato Aragão, sozinho, continuou
o programa e ainda lançou o filme “O Trapalhão na Arca de Noé”. Entretanto, o
trio não teve a mesma sorte sozinho, e no fim das contas Dedé, Mussum e
Zacarias se reconciliaram com Didi após meio ano separados. Apenas juntos que o
quarteto funcionava, e a parceria assim continuou até a morte de Zacarias e
Mussum e o posterior (e consequente) fim do programa.
Fontes:
A canção de Rolando. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Can%C3%A7%C3%A3o_de_Rolando
Barreto, Juliano. Mussum Forevis – Samba, mé e Trapalhões.
LeYa: São Paulo, 2014. 432 p.
Bruce Lee – confira dez personagens inspirados no mestre.
Disponível em: https://www.gameblast.com.br/2019/11/top-10-personagens-inspirados-em-bruce-lee.html
Criador de Dragon Ball era fã de Senna e produziu mangá
sobre GP da Alemanha de 1990. Disponível em:
https://www.grandepremio.com.br/f1/noticias/criador-dragon-ball-fa-ayrton-senna-manga-gp-da-alemanha-1990/
Lista de filmes brasileiros com mais de um milhão de
espectadores. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_filmes_brasileiros_com_mais_de_um_milh%C3%A3o_de_espectadores
Pelé diz à revista que nunca foi amigo de Garrincha. Disponível
em: https://www.dgabc.com.br/Noticia/338292/pele-diz-a-revista-que-nunca-foi-amigo-de-garrincha
Pelé não foi ao velório de Garrincha em 1983 e recebeu
muitas críticas por isso. Disponível em: https://www.umdoisesportes.com.br/futebol/pele-velorio-garrincha-criticas/
Piquet e Berger sofreram acidentes na curva de Tamburello
antes da morte de Senna. Disponível em: https://ge.globo.com/motor/formula-1/noticia/2024/05/01/piquet-e-berger-sofreram-acidentes-na-curva-de-tamburello-antes-da-morte-de-senna.html
Quem é Sandra, filha de Pelé não reconhecida pelo jogador.
Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/jogada/quem-e-sandra-filha-de-pele-nao-reconhecida-pelo-jogador-1.3308249
Renato Aragão nega que não queira ser chamado de Didi.
Disponível em: https://www.otempo.com.br/entretenimento/renato-aragao-nega-que-nao-queira-ser-chamado-de-didi-1.3320970
Renato Aragão, 80 anos – veja cinco polemicas e cinco
acertos do ator. Di2sponível em: https://www.terra.com.br/diversao/gente/renato-aragao-80-anos-veja-5-polemicas-e-5-acertos-do-ator,40b6587f253ea410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Sebastianismo. Disponível em: https://it.wikipedia.org/wiki/Sebastianismo
Senna ia segurar bandeira austríaca. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/10/esporte/22.html#:~:text=O%20piloto%20brasileiro%20Ayrton%20Senna,nos%20treinos%20para%20o%20GP.
Senna x Japão – confira a relação do piloto com a cultura
japonesa. Disponível em: https://www.lance.com.br/galerias/senna-x-japao-veja-mais-sobre-a-relacao-do-piloto-com-a-cultura-japonesa/#foto=7
No tocante ao Renato Aragão, o Didi, ele é mesmo um boçal hipócrita. Meu finado pai, que era entregador, foi com o caminhão dele à antiga residência do humorista, no Leblon - atualmente ele mora em Vargem Grande - fazer umas entregas, mas ele não estava presente. Foi recebido pelos empregados, que o ajudaram a descer a mercadoria. Nisso, os empregados puxaram papo com meu saudoso velho, e disseram que o patrão deles não vale nada.
ResponderExcluirQuanto ao Piquet, não sou fã dele, não tenho simpatia pelo mesmo, mas o respeito. E também entendo suas razões de não comparecer ao funeral do Senna, bem como entendo as razões do Pelé não ter comparecido ao enterro do Garrincha. E falando nisso, quem pagou o enterro do Garrincha foi o também finado cantor Agnaldo Timóteo.