Foto – Logo do
movimento dublagem Viva.
Mais uma vez, a respeito da polêmica envolvendo o uso da
inteligência artificial na dublagem.
Nos últimos dias, vários dubladores, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro, ante a ameaça que o uso da Inteligência Artificial vem exercendo sobre os trabalhos deles, fizeram várias manifestações em redes sociais e até lançaram um movimento, o “Dublagem Viva”, com a intenção de regulamentar o uso da tecnologia na dublagem. Segundo o movimento Dublagem Viva, há coisas que a máquina, por mais aprimorada que seja, é incapaz de reproduzir. Até porque a máquina não é um ser vivo, e sim uma coisa.
Foto – Imagem que circula em redes sociais como o Facebook, que reflete o posicionamento de dubladores quanto à questão da Inteligência Artificial e à ameaça que ele representa aos empregos deles.
Em massa os dubladores fizeram manifestações em redes
sociais, nas quais, como esta aqui da dubladora Sandra Mara Azevedo (a primeira dubladora
da Chiquinha no Chaves, da Patty Pimentinha em Snoopy e da Kronika em Mortal
Kombat 11), na qual exige uma dublagem viva:
E esta de Miriam Fischer (voz da Lilica em Tiny Toons, Pumyra em Thundercats, Charlene em Família Dinossauro, Botan em Yu Yu Hakušo e Pandora em Cavaleiros do Zodíaco):
https://www.facebook.com/reel/718988436991067
Mais estes de Gabriela Milani (voz da Uniqua em Backyardigans, Star Borboleta em Star versus as Forças do mal e Sky em Patrulha Canina):
https://www.facebook.com/reel/1824468947967476
https://www.facebook.com/reel/913725910426957
Este de Angélica Santos (voz do Cebolinha em Turma da
Mônica, Oolong na franquia Dragon Ball, Kimie Watanabe em Rugrats: os Anjinhos,
Esmeralda em Cavaleiros do Zodíaco e Stinky em Hey Arnold!):
https://www.facebook.com/524984684/videos/4450233861869224/
Este de Carlos Falat (voz de Skeeter em Doug, Cell Júniors
em Dragon Ball Z, Eugene em Hey Arnold!, Phil deVille em Rugrats: os Anjinhos e
Arthur em As aventuras de Babar):
https://www.facebook.com/reel/1124706228695640
Este de Fábio Moura (voz do Šura de Capricórnia em
Cavaleiros do Zodíaco, Avan em Fly: o pequeno guerreiro, Monge em Samurai
Warriors, narrador de Pokémon):
https://www.facebook.com/reel/1098718157984465
E por fim este de Dado Monteiro (voz de Clifford em Clifford: o gigante cão vermelho, Vegeta em Dragon Ball Kai e do Broly na franquia Dragon Ball):
Trata-se de um movimento de escala global, encabeçado pela
“United Voice Artists”, que luta pelos direitos da classe no mundo inteiro e
reivindica que os profissionais da voz não sejam substituídos pela nova
tecnologia, e que esta deveria ser usada apenas como uma ferramenta de auxílio.
Outras organizações em outras partes do mundo também surgiram com essa mesma
intenção.
Segundo o manifesto do próprio movimento em questão:
“A IA não deve ser
usada para reproduzir vozes de atores em outros idiomas para Língua Portuguesa
Brasileira a finalidade de substituir os dubladores. É essencial preservar a
expressão vocal, emoção e interpretação artística que os profissionais trazem
para o processo de dublagem. A tecnologia deve ser vista como uma ferramenta
complementar, não como um substituto”.
Eu, como fã da arte de longa data, estou do lado dos
dubladores nessa questão. Não apenas por uma questão de princípio e por ser fã
da arte desde os anos 1990, além de se tratar de uma situação na qual o próprio
ganha-pão deles está em jogo. Fico eu imaginando com os meus botões o balde de
água que não será para aqueles que no presente momento tanto estudaram para
conseguir um DRT e começar a exercer a profissão, e de repente vem uma nova
tecnologia e coloca todo o esforço deles a perder. Ou mesmo daqueles que há
muitos anos estão no meio, já consolidados.
No Brasil, a arte da dublagem tem uma história quase
centenária. A primeira produção a receber dublagem no Brasil foi “Branca de
Neve e os Sete Anões”, em 1938, por meio da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e
que contou com a participação de figuras como os cantores Dalva de Oliveira e
Carlos Galhardo. Nos anos seguintes, a dublagem brasileira passou a ser
considerada uma das melhores de todo o mundo por conta de fatores como bons
atores, compreensão da fala, técnicas sonoras e lealdade ao texto original, por
vezes adaptando os roteiros das produções com expressões nossas (vide o caso do
“Eu sou Toguro” em Yu Yu Hakusho). Espero chegarmos a 2038, o ano em que a arte
completar seu centenário no país, ainda sendo exercida por pessoas de carne e
osso, e não por máquinas e aplicativos. Eu sei que é pedir muito dado o
contexto de Quarta Revolução Industrial em que vivemos, mas não custa sonhar.
Por meio do movimento Dublagem Viva o primeiro passo foi
dado, agora veremos como a situação desenrolar-se-á. A organização dele em um
movimento como esse é importante, do contrário o olho da rua os aguarda. Ou
subempregos como os Ubers, iFoods e OnlyFans (para as garotas) da vida.
Lembrando que foi por meio da organização e de protestos massivos que, por
exemplo, o pessoal que trabalha com vaquejada (atividade muito comum no
Nordeste brasileiro e que movimenta considerável montante de dinheiro por lá, e
mais os empregos diretos e indiretos que a mesma gera) logrou impedir que seu
meio de vida fosse destruído por canetadas de togados em 2016 (com direito a
protestos massivos na Esplanada dos Ministérios por parte de vaqueiros
nordestinos).
Foto – Manifestações contra a proibição da vaquejada, 2016.
Coloquemos as coisas em perspectiva. Como já dito na
primeira parte, isso não é nada de novo na história da humanidade: se lermos algum
livro de história, veremos que lá atrás, na Primeira Revolução Industrial, na
Inglaterra do século XVIII, invenções como o tear mecânico geraram não apenas
massivo desemprego, além de cidades como Londres, Bristol, Manchester,
Liverpool, Birmingham e outras, por conta do êxodo rural causado pelas
políticas de cercamentos nos campos, ficarem inchadas e superpovoadas, com
muitas pessoas tendo que viver de mendicância e pequenos furtos para poder
sobreviver. Em outras palavras, isso nada mais é que o desemprego tecnológico
em sua versão 4.0. Nada de novo no front, diz o velho ditado.
E mais uma vez reitero: os dubladores precisam entender que
o jogo é pesado e que estão lidando com pessoas e interesses poderosos. É um
jogo que envolve Grande Reset, Agenda 2030, Klaus Schwab e todo o admirável
novo mundo que essa gente, encastelada em locais como o Fórum de Davos e o Vale
do Silício e que se aproveita de tragédias como pandemias e desastres naturais (incluindo
a Covid-19) para levar adiante a agenda macabra deles, pretende criar.
Por fim, algumas reflexões a respeito deste assunto – soube
que na Internet há alguns engraçadinhos que estão fazendo pouco caso dessa
situação hoje vivida pelos dubladores, como no caso deste print:
O sujeito em questão até parece o Mussum naquele esquete dos
Trapalhões em que o personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos
Bernardes Gomes, em discussão com o Dedé, fica falando que “o governo tá certis”
em aumentar o preço de certos itens, até ficar sabendo do aumento do preço da cachaça
(o mé tão amado por ele). Quero ver só que ele vai achar a hora em que ele
perder o trabalho dele para alguma máquina ou aplicativo. Só espero que ele não
chore e nem fique chateadinho quando esta hora chegar. Quando chegar a hora
dele de ficar sem lugar para sentar na Dança das Cadeiras. É uma fala típica de
sujeitos que não se colocam na pele do outro e não tentam entender o motivo
pelo qual os dubladores estão se manifestando da forma como estão.
Pegando um gancho com este ponto, ai vem o pulo do gato: quem não me garante, por exemplo, de que a dublagem na verdade no presente momento nada mais é que um balão de ensaio para que lá na frente outras profissões também sofram ataque similar por meio da Inteligência Artificial? Ainda mais em um momento em que a Inteligência Artificial, a Robótica e outras tecnologias similares estiverem em um patamar ainda mais adiantado?
E mais uma coisa: com toda essa história de Inteligência Artificial
e outras novas tecnologias, será que pessoas como Bill Gates, Elon Musk (um
transhumanista convicto que afirma, entre outras coisas, que o futuro da
humanidade está na fusão do homem com a máquina) e outros produtores de
tecnologia não estão jogando a humanidade em um rumo bem perigoso? Será que bem
diante de nossos olhos não está sendo gestado o mundo do Exterminador do Futuro,
no presente momento? Pois como disse um dos arautos do Grande Reset e da Agenda
2030, Klaus Schwab, “você não terá nada e será feliz sobre isso”.
Foto – Klaus Schwab e sua “profecia” sobre o futuro da humanidade.
Fontes:
Campanha Dublagem Viva quer regulamentação no uso de IA em
dublagens. Disponível em: https://meups.com.br/noticias/dublagem-viva-regulamentacao-ia-em-dublagens/
Dublagem Viva. Disponível em: https://dublagemviva.com.br
Dublagem Viva – Profissionais se unem para pedir regulamentação
do uso da Inteligência Artificial. Disponível em: https://cinebuzz.uol.com.br/noticias/entretenimento/dublagem-viva-movimento-inteligencia-artificial.phtml