quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Como promovem o assim chamado "Child-Free" (texto traduzido do russo)

Foto – Propaganda oficial do Serviço Nacional de Assistência Médica da Grã-Bretanha: “E você desistiria disso por isso? Fuja da armadilha infantil. Preservativos e contraceptivos podem ser obtidos de graça”.

Não é segredo para ninguém que hoje mesmo as pessoas que nada sabem sobre esta subcultura destrutiva consideram como sábio e “moderno” atrasar o nascimento de filhos pelo menos para mais tarde... ESTE É O RESULTADO DE PROPAGANDA!

Na sociedade ocidental “democrática” está adquirindo grande força o movimento child-free, falando em russo – “livre de filhos”. Como que esta concepção atrai as pessoas jovens, por que ela é tão popular e por que começam a implantá-la no povo eslavo, vamos descobrir.

ÍNDICE

1.Formação do movimento Child-Free

2.Argumentos que devem ser feitos para nos fazer sem filhos.

3.Qual é a verdadeira intenção do Child-Free?

4.Meios de promoção do Child-Free junto às massas

5.O argumento principal contra o Child-Free

FORMAÇÃO DO MOVIMENTO CHILDFREE

Comecemos com a Wikipédia:

“Child-Free (inglês. Childfree – livre de filhos; inglês. childless by choice, voluntary childless – livre voluntariamente de filhos) é uma subcultura e ideologia que se caracteriza por um desejo consciente em não ter filhos. A ideia principal do childfree é a recusa de filhos em nome da liberdade pessoal e a propaganda de um estilo de vida sem filhos”.

Que termos barulhentos, subcultura, ideologia... o movimento surgiu nos anos 1970 na Califórnia, naturalmente, na América. Aqui faz sentido deter-se em mais detalhes.

Duas feministas Ellen Peck e Shirley Radl organizaram a “Organização Nacional para os não-pais”. A razão pela qual elas fizeram isto foi a violação dos direitos das famílias sem filhos. E o principal argumento assim soou:

No começo dos anos 70 uma mulher de 30 anos que não tem filhos era vista como inferior. As pessoas consideravam como justificativa da falta de filhos dela saúde ruim, orientação sexual não-tradicional, doenças mentais, uso abusivo de álcool ou de narcóticos. Nunca passou pela cabeça a ninguém que a mulher não tem filhos por uma razão simples – ela não tem desejos de mulher, embora não, indivíduos do sexo feminino até inventaram um feriado com data – 1º de agosto – ‘Dia dos não pais’, mas não foi possível obter grande publicidade. Aparentemente, entenderam que a sociedade americana ainda não estava pronta para renunciar aos filhos. Era necessário tempo para a lavagem de cérebros.

Foram necessários 20 anos inteiros para crescer uma geração que mordesse a isca. A aproximação foi modificada, se nos anos 70 falava-se sobre o problema abertamente, então em 1992 a difusão foi iniciada através da rede mundial Internet. Escolheram como organizadora da sociedade a professora escolar Leslie Lafayette. Mas de novo foi como um rangido. Mas isso seria necessário aos instigadores da maquinação?

O precedente foi criado e o movimento Child-Free começou a se difundir por conta própria, como um vírus, foram contaminados muitos países do mundo, incluindo o espaço pós-soviético. Além disso, a popularidade deste movimento cresce. Mas sobre os métodos da promoção desta “ideologia” nós falaremos um pouco mais abaixo.

ARGUMENTOS QUE DEVEM SER FEITOS PARA NOS FAZER SEM FILHOS.

Eles não são lá muitos, e eles são extremamente controversos, entretanto, isto é o suficiente para a pessoa que por si mesma decidiu, - “olha é verdade, melhor sem filhos”!

-Houve muitas grandes personalidades Child-Free do passado sem filhos, como por exemplo, Nietzsche, Da Vinci, Platão, Copérnico, Newton. Eles realmente sabiam muito sobre as crianças!

- A criança coloca um monte de restrições e traz problemas.

- A criança exige muita atenção e tempo.

- A gravidez é um tormento completo, todas essas toxicoses, peso excessivo, mudanças frequentes de humor. Isto pode destruir vossa “família feliz”.

Para uma pessoa normal todos esses argumentos parecerão como algo semelhante a um total idiotismo, mas nós vivemos em uma sociedade anormal.

A única coisa que nós podemos fazer é não lutar com eles, não, em hipótese alguma, é necessário por seu exemplo mostrar que o filho é alegria, que com a devida atenção e cuidado o filho de problema se transforma em uma pessoa da qual se pode orgulhar.

Você sabe por que na URSS os noticiários não comunicavam sobre atos terroristas, embora eles houvessem? Porque se não se fala sobre um ato terrorista, então não terá qualquer sentido executá-los. A finalidade do terrorismo é intimidar.

Hoje é aceitável falar majoritariamente sobre coisas terríveis, famílias disfuncionais, problemas, assassinatos, saques e etc.. o negativo é derramado  sobre nós por todos os lados, e será que isso faz nossa vida melhor? Pode ser uma vida boa para nós queiram os poderosos deste mundo? Pergunta retórica.

QUAL É A VERDADEIRA FINALIDADE DO CHILD-FREE?

Eu acho que você mesmo pode adivinhar. Finalidade Nº 1 – Redução da taxa de natalidade entre a população pensante, a assim denominada classe média. Bem, a classe trabalhadora não é necessária em tal quantidade.

Classe média

A popularidade do movimento entre pessoas bem sucedidas que cobrem as necessidades básicas é bem alta e eu posso explicar isso. Se a pessoa bem sucedida decide ter um filho, então há uma probabilidade séria de que este filho possa continuar o negócio familiar, dela nasce um filho e também continua o negócio familiar, e se muitos se tornam pessoas inteligentes e bem sucedidas, então a cadeira sob “os poderosos do mundo deste mundo tremerá”, por isso eles tentam por todos os meios atrapalhar a aparição de concorrentes.

Classe trabalhadora

Aqui é ainda mais simples, os braços não são mais necessários, trocam as pessoas por robôs, cada vez mais desempregados, sem-tetos, miseráveis que não consomem, é bio-resíduo que não deve produzir descendência. As condições são criadas para que as ideias sobre child-free surjam por si mesmas.

Os benefícios são evidentes – redução da resistência, quanto mais imbecil a sociedade mais fácil é controlá-la, se pessoas influentes e bem-sucedidas tiverem filhos que continuarão as atividades deles então cedo ou tarde a elite moderna terá dificuldades.

MEIOS DE PROMOÇÃO DO CHILD-FREE JUNTO ÀS MASSAS

A promoção está em pleno andamento, ideias certas transmitem algumas personalidades populares, veículos de mídia, e, claro, Hollywood.

Personalidades populares

É o canal de influência ideal que funciona. Os líderes de opinião, ídolos e autoridades como um estrondo difundem as ideias certas junto às massas.

George Clooney (ator)

Mesmo uma criança que corre pelo jardim de minha mansão é capaz de me deixar nervoso.

Cameron Dias (atriz)

Para ser sincero, não é necessário a nós ainda mais filhos. Já há muitas pessoas na Terra. Embora eu nunca fale nunca.

Kim Cattrall (atriz)

Eu sou uma mulher que não tem filhos e que nunca fica parada. Eu gosto de filhos, mas por pouco tempo. No começo eu acho que eles são adoráveis, fofos e engraçados, e então a minha cabeça começa a doer.

Rene Zellweger (atriz)

A maternidade não era um objetivo para mim. Eu nunca levei isso a sério.

Robbie Williams (cantor)

Qual é o sentido? Porque eu não posso garantir que em algum momento causarão dor ao meu filho, porque em determinada etapa a vida força a se sentir infeliz. Eu não quero ver isso.

No segmento russo confiaram a promoção do Child-Free a videobloggers.

Dimitrij Larin (videobloger)

https://www.youtube.com/watch?t=142&v=IU20Mps9oXM

Jurij Chovanskij (videobloger)

Não irei colocar o vídeo por consideração ética. Mas Jurij não se limitou a apenas um vídeo, periodicamente em seus vídeos ele utiliza frases do tipo “odeio filhos” e derivados.

Se levar em consideração que o público tanto de Larin quanto de Chovanskij são estudantes escolares e adolescentes, pode-se chegar à conclusão de que em 5 a 10 anos se espera uma redução da natalidade.

MEIOS DE COMUNICAÇÃO.

Na promoção da ideia Child-Free foram notados:

- Jornais femininos do tipo Cosmpolitan, Hello!, Natali.
- Canais de televisão – Pervyj Kanal;
- Sites – Woman py (o maior canal feminino), BKontante (grande número de comunidades)
- Hollywood

Em muitos filmes produzidos no Ocidente as relações de filhos e pais são tensas. Os pais não entendem os filhos, e os filhos os pais, e esta é a norma para Hollywood.

Vale a pena notar que em muitos filmes, em especial sobre super-heróis, dos quais os jovens são o público, os protagonistas não têm filhos.

Nem todos são propagandistas, portanto pedirei a vocês a ajudar na identificação de indivíduos similares. Como dizem por ai, é precisar conhecer o inimigo pelo rosto.

PRINCIPAL ARGUMENTO CONTRA O CHILD-FREE

A continuidade das gerações, embora ela já praticamente perdida, o Child-Free encrava o prego na tampa do caixão, para que nem mesmo pensaram sobre como é maravilhoso transmitir valores familiares, valores, conhecimentos acumulados, habilidades, hábitos mais, aos seus descendentes, como é incrível o planejamento global quando teus objetivos se realizam com teus filhos e netos.

Mas o Child-Free é apenas uma das variantes. Há ainda um grande número de opiniões “discutíveis”, que dominam a consciências das pessoas, por exemplo:

- a liberdade de escolha do tipo de atividade (se cada geração for começar do zero, então obter sucesso será extremamente complicado, e de modo geral impossível);
- narcóticos, álcool, tabaco (tudo é veneno que nos mata, o paradoxo de que é pelo nosso dinheiro);
- piora do nível da educação (a principal finalidade é desestimular o desejo de estudar);
- piora do nível de vida e inflação, guerras, terrorismo;
- aumento da duração da jornada de trabalho (muitos trabalham 12 horas ao dia para ganhar dinheiro, será que alguém pensa que com tal horário é possível criar uma criança normal?);
- jeito de pensar perdulário (não criar, apenas usar o alheio – ocidental);

A tática favorita é o dividir para dominar (em qualquer país as pessoas estão divididas, as dividem por pertencimento territorial, religioso, ideológico, de visão de mundo, político, e depois são divididos no campo em grupos menores – fãs de futebol ou de combates individuais, estilos musicais, vídeo e etc.. – Quanto mais fortemente a sociedade é dividida, mais simples é suprimir revoltas dos insatisfeitos, visto que a sociedade simplesmente não pode se reunir em grandes grupos) e etc..

Isto é uma aproximação sistemática na direção da eliminação do homem-criador e da redução da população. Uma pista escorregadia pela qual nos conduzem aqueles que têm poder, informação e recursos.

Fonte: grupo do VK “Volk Gomofob”, postagem de 26/09/2023.

MEUS COMENTÁRIOS

Está em discussão no STF o tema da descriminalização do aborto (prática essa que já é descriminalizada em outros países latino-americanos tais como Argentina, Uruguai, México e Colômbia) até a 12ª semana de gestação, por iniciativa da ministra Rosa Weber. E, como não poderia deixar de ser, há os grupos de sempre que militam a favor desse tipo de coisa que não se dão conta do que há por trás da agenda abortista. E aqueles que se posicionam do lado contrário da questão. E é nesse contexto que trago o presente texto.

Ao ler o texto em questão e traduzi-lo do russo para o português, pensei no seguinte: será que toda essa conversa dos dias hodiernos sobre “Child-Free”, “Planned Parenthood” , liberação do aborto e afins na verdade é a boa e velha eugenia do século XIX e primeira metade do século XX, a mesma eugenia advogada por personalidades como Galton, Spencer e Gobineau, só que com novo verniz, nova roupagem e novos discursos? Pois se não é boa e velha eugenia de outrora, não sei mais o que é. Com a diferença que em movimentos como Child-Free e outros afins os velhos discursos sobre superioridade racial, higienização social e similares saem de cena, e no lugar deles entram discursos sobre direitos de escolha das pessoas, direitos reprodutivos da mulher, de que a criação de filhos é um estorvo para a liberdade das pessoas e afins. Ou seja, o velho lobo de sempre no fim das contas passa a usar a pele de cordeiro que antes não usava.

E outra pergunta bem interessante: será que depois do “Child Free”, será que a corda irá esticar e esse mesmo pessoal também vai começar a promover também, por exemplo, o “Pet Free”, debaixo de discursos de que não só o animal traz gastos e problemas para o dono, como também de que o lugar dele é solto na natureza (onde ele em questão de pouco tempo será morto), e não sob o cuidado humano? Para ver como que as coisas estão interligadas entre si. Na verdade, pelo que eu observo, o “Pet Free” existe sim, e vem atuando da seguinte forma: os ditos protetores de animais, como a famigerada Luisa Mell (vulgo Marina Zats) e de ONGs como o PETA e o ALF, primeiro vociferam contra a presença de animais em locais como zoológicos, circos, fazendas, laboratórios, rodeios, vaquejadas, touradas e outros, em alguns casos inclusive metem a mão em tais animais (vide casos como o confisco dos beagles do laboratório Royal em 2013 o recente caso dos bois de Cunha), até que um dia a corda de tanto esticar vai chegar a nossas casas. E assim pessoas como o Bill Gates e o Klaus Schwab, os donos do poder mundial nos privam até mesmo do bife dos nossos pratos. “Você não terá nada e será feliz sobre isso”, assim disse Klaus Schwab, um dos arautos do Grande Reset e da Agenda 2030. Incluindo teus filhos e teus animais de estimação. Pelo visto, em 2010 o Tiririca errado estava quando disse “pior do que tá não fica”.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A russofobia barata e as omissões históricas de Lorenzo Lazzarotto (parte II)

Foto - Lorenzo Lazzarotto.

PARTE II – DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS: A LÓGICA (OU A FALTA DE) DA PARTE DE LAZZAROTTO. INQUISIÇÃO PROTESTANTE E XINTOÍSTA.

E agora com vocês, a segunda parte da minha resposta a Lazzarotto.

Lazzarotto acusa a Rússia de ser anti-católica por conta de todo um histórico de perseguições às Igrejas Greco-Católicas da Ucrânia e de Belarus tanto no período imperial quanto no período soviético. Até chega ao ponto de dizer o disparate de que o católico que se diz simpático à Rússia cospe na memória dos mártires greco-católicos sobre os quais ele falou no vídeo dele. Será que isso procede, ou não passa de uma falácia da parte dele?

Se formos pensar dessa maneira, de que a Rússia é anti-católica por conta de todo esse histórico de perseguição aos Uniatas da Ucrânia e de Belarus a partir do reinado de Catarina a Grande (r. 1762 – 1796), então por essa mesma lógica o Japão também é um país anti-católico, visto que a Nação do Sol Nascente, primeiro sob Hideyoši Toyomi (o mesmo Toyotomi que invadiu a Coréia duas vezes nos anos 1590) e depois no período Tokugawa (1600 – 1867), empreendeu uma feroz perseguição aos cristãos nipônicos. Apenas no período Meidži (1867 – 1912) que a perseguição ao cristianismo no Japão cessou.

O cristianismo foi introduzido no Japão pelos portugueses, quando estes chegaram à nação insular em 1543. A introdução do cristianismo no Japão é atribuída ao jesuíta Francisco Xavier, e graças ao contato do Japão com Portugal nessa mesma época o idioma japonês ganhou vários vocábulos de origem lusitana, a exemplo de palavras como arukoru (álcool), pan (pão), bateren (padre), botan (botão), koppu (copo), tabako (tabaco), tempura (tempero) e outras.

Graças à atividade missionária por parte das ordens franciscana, jesuítica e dominicana, houve várias conversões de nativos japoneses ao cristianismo, incluindo grandes senhores feudais da região sul. Nagasaki e Hirošima se tornaram dois dos principais redutos católicos do Japão. A primeira chegou a ser chamada de “A Roma do Oriente”. Calcula-se que o Japão chegou a ter certa de 100 mil convertidos ao cristianismo, incluindo muitos daimyos (grandes senhores feudais) em Kyušu.

As autoridades nipônicas em um primeiro momento mostraram-se receptivas à atividade missionária católica e à difusão do cristianismo por meio da atividade missionária (em especial no período de Oda Nobunaga), acreditando que a fé monoteísta não apenas poderia reduzir o poder dos monges budistas, como também auxiliar no comércio com Espanha e Portugal.

Entretanto, ao final do reinado do sucessor de Oda Nobunaga, Hideyoši Toyotomi, a atitude das autoridades japonesas para com o cristianismo começa a mudar. Era um período no qual o Japão passava por um processo de unificação política, e os japoneses, cientes não apenas das conquistas espanholas na América e nas Filipinas (a qual foi conquistada por meio da conversão da população nativa ao cristianismo), passaram a ver o cristianismo como uma ameaça à unidade nacional, com os fiéis da religião monoteísta sendo vistos como mais fiéis a Jesus que ao Xogunato então vigente e como uma espécie de quinta coluna que poderia vir em auxílio dos espanhóis, caso estes viessem a invadir o Japão militarmente tal como os mongóis fizeram em duas ocasiões três séculos antes (1274 e 1281).

Dessa forma, o imperador Ogimači publicou editos de banimento do catolicismo em 1565 e 1568, com pouco efeito prático. As perseguições começam de fato em 1587 com o banimento da atividade jesuíta por Hideyoši Toyotomi, e por fim o Xogunato Tokugawa colocou o cristianismo na ilegalidade em 1614.

Foto – Hideyoši Toyotomi, o iniciador das perseguições aos cristãos nipônicos.

A profissão aberta do cristianismo é proibida após o levante campesino de Šimabara, liderado pelo jovem samurai cristão Širo Amakusa Tokisada, entre 1637 a 1638. Famosos samurais, entre eles Miyamoto Musaši, participaram da repressão a esse levante. Com a ajuda da Companhia das Índias Orientais Holandesas, o levante foi reprimido e dali em diante os cristãos japoneses tiveram de levar uma vida clandestina, só podendo professar sua fé em segredo (kakure kirišitan). E nem assim as autoridades japoneses davam trégua a eles.

Um dos meios pelos quais as autoridades japonesas da época usaram para descobrir e perseguir os cristãos japoneses foi o fumi-ê. O fumi-ê consistia de uma imagem entalhada, geralmente em painéis de madeira, nas quais Jesus Cristo ou a Virgem Maria eram retratados. Por meio do fumi-ê, o suspeito de ser cristão pelas autoridades deveria pisar em uma imagem de Jesus ou da Virgem Maria para provar que não era um cristão.

O uso do fumi-ê se iniciou a partir de 1629, com as perseguições aos cristãos em Nagasaki. Os suspeitos de serem cristãos tinham de se submeter a tal escrutínio anualmente, todo oitavo dia do primeiro ano.

Ante as perseguições das autoridades do Xogunato, os cristãos tiveram que professar sua fé em segredo, e uma das formas que eles encontraram para driblar as autoridades foi utilizar-se estátuas da Virgem Maria disfarçadas para se parecerem com uma estátua de Kannon (chinês Guan Yin), a deusa da misericórdia no budismo chinês, contendo um símbolo cristão oculto na superfície ou dentro da estátua. No que deu origem à “Maria Kannon”.

Foto – Maria Kannon. Sincretismo religioso entre budismo e cristianismo que os cristãos japoneses encontraram como forma de poderem cultuar a Virgem Maria sem serem molestados pelas autoridades japonesas.

A proibição à profissão do cristianismo em solo japonês é parcialmente relaxada em 1856 nos portos abertos ao comércio com nações estrangeiras no contexto do fim da política de Sakoku (país acorrentado) e em 1873 (ou seja, no ano 6 da Era Meidži) em todo o país.

Foto – Fumi-ê: imagem entalhada em painéis de madeira de Jesus Cristo ou da Virgem Maria usada durante o período Tokugawa como forma de descobrir cristãos ocultos (os quais por sua vez tinham de pisar em tais imagens, do contrário seriam mortos e/ou submetidos a terríveis torturas).

Na cultura pop nipônica, a perseguição aos cristãos nipônicos durante o período Tokugawa é citada no episódio 2 do famoso seriado tokusatsu japonês Jiraya, de 1988, em uma conversa entre o Barão Owl e o vilão Dokusai, na qual o primeiro diz que queria ter para si a inscrição de Pako como forma de rezar pelas vidas dos cristãos japoneses perseguidos durante o período Tokugawa e assim obter o descanso eterno das almas deles. A questão dos cristãos japoneses também serviu de pano de fundo para trama da saga dos cristãos de Samurai X, a primeira das sagas exclusivas do primeiro anime após a saga de Kyoto, que vai dos episódios 67 a 78 e na qual Kenšin e seus amigos vão a Šimabara enfrentar Šogo Amakusa, espadachim cristão que, tomado pela raiva e pelo ódio, quer se vingar do Japão por conta das perseguições que o cristianismo sofreu no Japão durante quase 300 anos. O filme de 2016 Silêncio, dirigido por Martin Scorcese, também fala a respeito das perseguições que os cristãos nipônicos sofreram no período Tokugawa.

Pela lógica de Lazzarotto, se a Rússia é anti-católica por conta do histórico de perseguições aos fiéis da Igreja Greco-Católica Ucraniana e o fiel católico ao ser simpático à nação de Gogol, Puškin e Prokofiev cospe na memória dos greco-católicos que sofreram perseguições desde o século XVIII, então por essa mesma lógica o Japão também é tão ou mais anti-católico por conta do histórico de perseguições aos católicos nipônicos que se estendeu por quase 300 anos. E que o fiel católico que se diz simpático ao Japão também cospe na memória dos católicos perseguidos pelo Japão e que tiveram que se submeter ao fumi-ê e outras formas de humilhação e torturas diante das autoridades do Xogunato Tokugawa. E dessa forma não pode gostar nem de animes, mangás, seriados tokusatsu, j-pop, j-rock, nem nada que venha do país de Akira Toriyama, Osamu Tezuka e Šotaro Išinomori.

Se o fiel católico que se diz simpático à Rússia cospe na memória de Slepoj e dos outros mártires que ele menciona no último dele então, então pela lógica de Lazzarotto o fiel católico que se diz simpático ao Japão faz coisa análoga com os mártires que comeram o pão que o diabo amassou nas mãos dos inquisidores japoneses. Incluindo os 26 mártires crucificados e mortos em Nagasaki por ordens de Hideyoši Toyotomi em 1597 (beatificados pelo Papa Urbano VIII em 1627 e canonizados em 1862 pelo Papa Pio IX), os 205 mártires executados entre 1617 a 1632 executados por sua própria fé (beatificados pelo Papa Pio IX em 1867), os 16 mártires executados entre 1633 a 1637 (beatificados em 1981 pelo Papa João Paulo II e santificados seis anos mais tarde pelo mesmo Papa), os 188 mártires mortos e executados entre 1603 a 1639 (beatificados em 24 de novembro de 2008 pelo Papa Bento XVI) e os cristãos mortos no levante de Šimabara entre 1637 a 1638.

Foto – Os 26 mártires de Nagasaki, 1597.

E a coisa não se limita apenas à Nação do Sol Nascente. Os países europeus que aderiram à Reforma Protestante a partir do século XVI, entre eles a Inglaterra, a Holanda, os principados do norte da Alemanha (à época parte do Sacro Império Romano-Germânico) e as nações escandinavas, também promoveram políticas e perseguições aos fiéis católicos que se mantiveram fiéis à Santa Sé. Para designar essas perseguições aos católicos nas áreas da Europa que aderiram à Reforma a partir do século XVI utiliza-se o termo “Inquisição Protestante” por uma questão de conveniência historiográfica. Citemos alguns desses casos.

No norte da Alemanha, houve o caso do massacre dos monges da Abadia de São Bernardo de Bremen, em 1528, os quais foram assassinados e esfolados e em seguida pendurado no campanário por bandos protestantes (mas não sem antes de passarem sal na carne viva deles). No mesmo ano, em Augsburg, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados por ordem do poder protestante.

Na Suíça calvinista, a missa foi prescrita em 1525, e a isso se seguiu a queima de mosteiros e destruição em massa de templos, no que forçou os bispos de Constança, Basiléia, Lausanne e Genebra a abandonar suas cidades. Em Zurique, foi ordenada a retirada de todas as imagens religiosas e enfeites das Igrejas. Até mesmo os órgãos foram proibidos. Católicos não apenas foram proibidos de ocupar cargos públicos, como também o comparecimento aos sermões católicos implicava em penas e castigos físicos. A posse de imagens e quadros religiosos em suas casas foi proscrita sob a ordem de “severas penas”. Na mesma época, os anabatistas também foram objeto de perseguição religiosa por parte de Zwinglio.

Miguel Servet, o descobridor da circulação sanguínea, foi queimado vivo em Genebra por decisão de um tribunal eclesiástico comandado por Calvino, em 1553. No distrito de Thorgau, um missionário zwingliano liderou um bando protestante que saqueou e destruiu o mosteiro local. Junto com o mosteiro também foram destruídos a biblioteca e o acervo artístico-cultural do mesmo.

Foto – Miguel Servet, médico espanhol condenado à morte por heresia por ordens de Calvino.

Na Inglaterra, a perseguição aos católicos começa com os “Atos de Supremacia” de Henrique VIII de 1534, os quais o elevaram à posição de chefe absoluto da Igreja na Inglaterra e declarou traidores todos aqueles simpáticos ao Papa Romano (com o qual o próprio monarca inglês rompeu). Com o rompimento do monarca inglês com o Papa, todas as propriedades até então em posse da Igreja passaram às mãos do rei.

Para levar adiante a perseguição, tribunais religiosos foram montados em todo o país. Padres e bispos fiéis a Roma foram presos e decapitados, Igrejas e mosteiros arrasados, milhares de mortes católicas. Seis monges cartuxos e o bispo de Rochester foram enforcados em 1535. O monarca também ordenou queimar milhares de católicos e anabatistas na mesma época.

A perseguição aos católicos também foi estendida à Irlanda: dos mais de mil monges dominicanos que existiam na Irlanda, apenas dois deles lograram sobreviver à perseguição. Na era Cromwell, novos episódios de matanças de católicos na Irlanda. Após o término da guerra, as melhores terras irlandesas foram entregues aos ingleses protestantes e os católicos irlandeses remanescentes forçados a migrar para o sul (episódio esse que criou não apenas a divisão da Irlanda em duas partes, como também as raízes do atual conflito entre irlandeses católicos e ingleses anglicanos que se arrasta até hoje).

Além disso, centenas de mulheres foram mortas acusadas de bruxaria tanto na Inglaterra quanto nas colônias norte-americanas (vide o episódio das “bruxas de Salem”, ocorrido em Massachusetts entre 1693 e 1694).

Na Escócia, após a adesão ao presbiterianismo, o poder civil obrigou a todos a adesão à Igreja “calvinista presbiteriana”. Sob ordens do líder religioso John Knox, a missa foi proibida sob pena de confisco de bens e açoites públicos. Católicos foram submetidos a perseguições e mortes violentas, igrejas e mosteiros arrasados e livros católicos queimados. Tal como na Inglaterra, tribunais religiosos foram criados especialmente para dar cabo dos católicos clandestinos.

A Holanda, por seu turno, não apenas perseguiu católicos em casa a partir do momento em que o catolicismo foi prescrito por ordem das câmaras dos Estados Gerais (muitos sacerdotes, leigos e religiosos foram mortos e martirizados, os bens da Igreja confiscados pelas autoridades), como também estendeu essas perseguições às colônias, incluindo as partes do Brasil sob o domínio batavo.

Em 1645, nos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante (Rio Grande do Norte) cerca de uma centena de católicos foi morta (incluindo dois padres, mulheres, velhos e crianças) porque estes se recusaram a abandonar o catolicismo em detrimento do calvinismo, a religião dos invasores. Posteriormente beatificados como mártires.

Na Escandinávia a situação não foi nem um pouco diferente. A Dinamarca-Noruega (lembrando que até 1814 a Noruega foi parte da Dinamarca, com os dois países formando a monarquia unida Dano-Norueguesa) aderiu à Reforma Protestante sob o rei Cristiano II (r. 1513 – 1523), que entrou para a  história com a alcunha de “Nero do Norte”. O monarca encarcerou bispos, confiscou bens eclesiásticos, expulsou religiosos fiéis à Santa Sé e proclamou-se chefe absoluto da Igreja Evangélica Dinamarquesa.  Em 1569 publicou 25 artigos segundo os quais todos os cidadãos e estrangeiros eram obrigados a assinar aderindo à doutrina luterana. Ainda em 1789 os sacerdotes católicos que tivessem a ousadia de pisar em solo dinamarquês eram sujeitos à pena de morte por decreto real.

Na Suécia o rei Gustavo da dinastia Vasa (r. 1521 – 1560) suprime por lei o catolicismo. Alguns bispos, entre eles Jacopson e Knut, foram decapitados. Outros foram obrigados a fugir do país junto com padres, diáconos e outros religiosos. Seminários foram fechados, enquanto que igrejas e mosteiros foram reduzidos a farelo. Indignados com a repressão ao catolicismo, amplos setores da população pegaram em armas e saíram em defesa de sua fé. O rei sueco tratou de afogar em sangue esta reivindicação.

Muita da legislação anti-católica vigente na Europa protestante só veio a ser relaxada a partir do século XIX. E levando em conta todo o histórico de perseguições a católicos nos países europeus que aderiram à Reforma Protestante a partir do século XVI, pela lógica que Lazzarotto aplica em relação à Rússia o fiel católico também não pode ter simpatia alguma por esses países e não pode gostar de bandas de viking metal, nem apreciar a literatura de grandes escritores como Hans Christian Andersen, Goethe e Shakespeare, nem a música de grandes compositores como Wagner, Bach e Edvard Grieg, nem torcer para os selecionados desses países na Eurocopa ou na Copa do Mundo. Entre tantos outros exemplos que posso ficar citando.

E pela mesma lógica de Lazzarotto, se o fiel católico simpático à Rússia cospe na memória dos mártires por ele citados, então pela mesma lógica o fiel católico simpático a países como Inglaterra, Alemanha, Suíça, Holanda e os países escandinavos igualmente cospe na memória dos fiéis católicos que foram torturados e mortos por ordens de líderes religiosos reformistas tais como Lutero, Calvino, John Knox, Melanchthon e Zwinglio e de monarcas europeus que aderiram à Reforma tais como Henrique VIII, Cristiano II, Gustavo Vasa e Elizabeth I.

Antes que alguém diga que eu estou querendo justificar as perseguições aos greco-católicos empreendidas pela Rússia tanto no período imperial quanto no período soviético ao falar das perseguições que os católicos sofreram no Japão e na Europa protestante, saibam de uma coisa: vocês estão muito enganados. O que eu quero é mostrar o quão a lógica de Lazzarotto que ele aplica para com a Rússia é absurda e não faz sentido, e aonde que tal linha de raciocínio leva. Além do claro e evidente cherry-picking que ele faz ao demonizar a nação de Gogol, Prokofiev e Mussogorskij e ao mesmo tempo esquecer-se de outros países que fizeram coisas piores. Nada mais que isso. Entenderam, ou precisa desenhar?

sábado, 16 de setembro de 2023

A russofobia barata e as omissões históricas de Lorenzo Lazzarotto (parte I).

 

Foto – Lorenzo Lazzarotto.

PARTE I – GRANDE GUERRA PATRIÓTICA E COLABORACIONISMO UCRANIANO COM OS NAZISTAS.

No dia 28 de junho do presente ano, Lorenzo Lazzarotto, do canal do You Tube “História e fé Católica”, postou o vídeo “A história da Igreja Católica Ucraniana – perseguida por comunistas e ortodoxos!”, de 1467 segundos de duração ao todo.

É um vídeo de embrulhar o estômago, no qual Lazzarotto não apenas destila uma russofobia barata e cretina, como também omite fatos muito importantes a respeito da história da questão envolvendo Rússia e Ucrânia. E essa, diga-se de passagem, não foi a primeira vez que ele destilou tal russofobia nos vídeos por ele publicados no You Tube.

Até concordo com Lazzarotto em outras questões sobre as quais não entrarei em detalhe no presente momento, mas esse definitivamente não é o caso das falas dele a respeito da Rússia. Falas essas que serão respondidas em cinco partes.

Pelo que se pode ver nesse e em outros vídeos anteriores dele sobre o mesmo tema, ele justifica posicionamentos em favor da Ucrânia na presente guerra por conta, entre outras coisas, do histórico de perseguições da Rússia (tanto imperial quanto soviética) para com as denominações religiosas surgidas com a União de Brest (1596), em especial a Igreja Greco-Católica Ucraniana. E que por causa de todo esse histórico de perseguições da Rússia um católico não pode se posicionar a favor da Rússia, nem ser simpático à nação de Gogol, Puškin e Prokofiev.

Pelo que eu vejo, muitos desses ditos “influenciadores” cristãos do You Tube (entre eles o Lucas Lancaster e o próprio Lazzarotto) parecem reproduzir discursos neoconservadores, bem ao estilo da direita de matiz olavista, quando se trata de temas como a Rússia e o Mundo Muçulmano. E infelizmente, muitos incautos caem na ladainha deles.

Vamos começar pela Segunda Guerra Mundial. Ou como ela é chamada na historiografia russa, Grande Guerra Patriótica (em russo Velikaja Otečestvennaja vojna/Великая отечественная война).

Nesse e em um vídeo anterior Lazzarotto em momento algum fala, por exemplo, do colaboracionismo ucraniano (o qual foi mais forte na parte ocidental da nação eslava) para com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Nada sobre Roman Šukhevič, Andrej Melnyk, Jaroslav Stetsko ou Stepan Bandera, nada sobre OUN-UPA, nada sobre a divisão galiciana da Waffen SS ou sobre o batalhão Nachtigall, nada sobre massacres perpetrados por essa gente durante a guerra. Nada, nada. Um verdadeiro cherry-picking. Se, talvez ele mencionasse, ainda que pelo alto, o colaboracionismo ucraniano com os nazistas no curso da Segunda Guerra Mundial, a narrativa que ele apresenta nesse e em outros vídeos no qual ele destila a russofobia dele iria por água abaixo.

As falas dele inclusive passam a impressão de que os nazistas agiram sozinhos nesse tempo todo e não tiveram vários colaboradores das mais diversas nacionalidades no curso da guerra. Colaboradores esses que não raro formavam batalhões e unidades especiais dentro da Waffen SS. Em outras palavras, de que não houve colaboracionismo com os nazistas nem na Ucrânia, nem em outras partes da Europa ocupada pelos nazistas no período de 1939 a 1945.

Diga-se de passagem, durante a Segunda Guerra Mundial a Alemanha nazista, em seu esforço de guerra, para além do Japão e da Itália também teve outros aliados menores, geralmente governados por regimes alinhados politica e ideologicamente a Roma e a Berlim (tanto é que quando o Brasil declarou guerra às potências do Eixo, em1942, não houve declaração de guerra contra as potências menores do bloco, apenas contra as três principais). E, da mesma forma que na Ásia o Japão estabeleceu regimes fantoches como o Mandžukuo na Manchúria e o Mengdžiang na atual Mongólia Interior, na Europa a Alemanha nazista fez o mesmo ao estabelecer regimes tais como a República de Vichy na França, o regime de Vidkun Quisling na Noruega e a República de Lokot no noroeste da Rússia.

E isso não se resumiu às alianças com outros países e ao estabelecimento de regimes de ocupação favoráveis a Berlim: no curso da guerra vários colaboradores, das mais diversas nacionalidades, aderiram aos nazistas.

E um bom exemplo disso se deu durante a invasão à União Soviética, iniciada em 1941. Para invadir a União Soviética (que antes do início da guerra na Europa teve enfrentamentos menores contra o Japão no Extremo Oriente, nos quais se saiu vencedora), Hitler não apenas contou com o auxílio da Itália e de seus aliados menores (entre eles a Romênia, a Hungria, a Finlândia, a Croácia e a Eslováquia), como também reuniu tropas de toda a Europa para tamanha empreitada, tal qual Napoleão Bonaparte antes dele na Guerra Patriótica de 1812. Divisões especiais da Waffen SS de tropas francesas (divisão Carlos Magno), norueguesas, suecas, dinamarquesas, finlandesas, belgas, holandesas (divisão Wiking), espanholas (divisão azul), romenas, húngaras e até mesmo bósnias (divisão Handžar) foram formadas no curso da guerra. Os próprios nazistas, diga-se de passagem, recorriam ao elemento colaboracionista para administrar os campos de concentração (não raro judeus), e muitas vezes eram estes elementos que sujavam a mão nos massacres e limpezas étnicas.

Tanto é que à época houve alguns pôsteres de propaganda nazista, destinados ao recrutamento de voluntários para a Operação Barba-Rossa, no qual esta é apresentada como se fosse um grande levantamento da Europa unida contra o “bolchevismo judaico”, e até mesmo como se fosse uma grande cruzada.

Foto – Pôsteres de propaganda nazista em holandês e em francês, destinados ao recrutamento de voluntários em várias partes da Europa para a Operação Barba-Rossa.

E não só isso: no curso da invasão nazista à União Soviética, em várias partes da própria União Soviética os nazistas encontraram vários colaboradores que se juntaram a eles e até os receberam como libertadores. Na Rússia, esse foi o caso do general Andrej Vlasov e do Exército de Libertação da Rússia, assim como de cossacos e outros elementos advindos do movimento branco que se exilaram na Europa após a vitória bolchevique na guerra civil russa. Em Belarus e nos países bálticos se juntaram aos nazistas figuras como Michas Vituška e Radoslav Ostrovskij. Batalhões e divisões tais como a Guarda Doméstica Bielorrussa e a 30ª divisão de granadeiros da Waffen SS foram formados, além do estabelecimento de entidades político-administrativas como a Rada Central Bielorrussa.

E na Ucrânia, o colaboracionismo foi muito forte na região ocidental do país (região essa que no passado, até a Primeira Guerra Mundial, teve considerável população russófila – assunto que será abordado e aprofundado em um dos próximos itens). Como em outros lugares da Europa, os nazistas como libertadores foram recebidos.  E um dos principais nomes do colaboracionismo ucraniano com os nazistas foi Stepan Bandera e a organização OUN-UPA (a qual por sua vez tinha duas alas: a OUN-M, sob o comando de Andrej Melnyk, e a OUN-B, sob o comando do próprio Bandera).

Foto – Nazistas sendo recebidos como libertadores na Ucrânia ocidental.

Antes mesmo de a guerra na Europa começar, Bandera foi preso pelas autoridades polonesas por conta de suas atividades e no período de 1936 a 1939 esteve preso em diversas prisões. Com a queda da Polônia em 1939 em decorrência da invasão alemã daquele ano, muitos prisioneiros sob custódia polonesa foram soltos. E um desses é precisamente Bandera, à época preso na fortaleza de Brest (atual Belarus). Uma vez liberto, Bandera retornou à Ucrânia ocidental, com a OUN atuando de forma clandestina sob o poder soviético.

No curso da guerra, os colaboradores ucranianos estiveram envolvidos em terríveis pogroms, massacres e limpezas étnicas, tais como o terrível pogrom de Lvov, ocorrido em 1941, no qual os judeus locais foram capturados, espancados e assediados nas ruas da cidade, e em seguida fuzilados. Calcula-se em 4 mil os mortos de tal chacina.

Outro massacre famoso no qual os colaboradores ucranianos dos nazistas estiveram envolvidos foi o incêndio da Igreja da aldeia de Khatyn’, em Belarus, na qual a Igreja local foi incendiada por uma turba de ucranianos colaboracionistas com os fiéis dentro. 152 habitantes da aldeia foram trancafiados em uma Igreja, entre eles crianças entre sete semanas de vida e 15 anos, sendo lá queimados vivos. Poucos que lograram sair da Igreja em chamas e sobreviver, a maioria foi al alvejada por tiros de metralhadora.  O ancião Josif Kominskij encontrou o cadáver queimado do filho dele e o ergueu nos braços. Cena essa que é retratada no monumento erguido em Belarus dedicado às vítimas desse massacre.

Foto – Memorial de Khatyn em Belarus.

Também cabe aqui citar o massacre de Volyn, ocorrido entre 1942 e 1943, no qual os colaboracionistas ucranianos, atuando como unidades de Polícia do Exército Alemão, teriam ceifado a vida de até 200 mil poloneses na Volínia e na Galícia oriental (segundo variadas estimativas de historiadores poloneses). Também eram submetidos a tais chacinas tchecos e ucranianos que não queriam tomar parte em tais ações.

Foto – Outro pôster de propaganda nazista referente à Operação Barba-Rossa e a apresentando como uma frente unida da Europa contra o “bolchevismo judaico”.

Com o tempo, a sorte da guerra foi mudando e os aliados viraram o jogo sobre as potências do Eixo. Uma a uma elas foram se rendendo, até chegar à rendição da Alemanha na Europa em oito de maio de 1945 e do Japão na Ásia em 14 de agosto do mesmo ano.

Após a guerra, parte desses colaboradores lograram fugir da União Soviética (incluindo Bandera) e se estabeleceram em países como a Alemanha Ocidental e o Canadá, formando diáspora nesses países. Nos Cárpatos, a luta do poder soviético contra os últimos remanescentes dos colaboradores ucranianos dos nazistas, sob a denominação “Conselho Supremo de Libertação da Ucrânia” e se organizando em forma de células guerrilheiras que vai se arrastar até o começo dos anos 1950. Coube a NKVD o combate e a repressão à guerrilha banderista. No exílio, Bandera foi morto pela inteligência soviética em Munique em 1959.

Foto – Pôster da divisão galiciana da Waffen SS que insta os ucranianos a lutarem por Hitler.

Com o fim da União Soviética e a independência da Ucrânia, não apenas alguns desses ucranianos voltaram ao país natal, como também a figura de Bandera passou por um processo de reabilitação que começa após a Revolução Laranja de 2004 e o governo de Vyktor Juŝenko. Não apenas Bandera é reabilitado e transformado em herói (decisão essa que polarizou a Ucrânia por dentro entre aqueles a favor e contra tal decisão), como também outras figuras como o líder cossaco Ivan Mazepa (o qual durante a Grande Guerra do Norte, no começo do século XVIII, aliou-se à Suécia em detrimento da Rússia) também foram reabilitadas.

Também data dessa mesma época a promoção da narrativa de que os russos teriam feito uma fome com intenções genocidas contra o povo ucraniano em 1932/1933 (ou seja, a indústria do Holodomor), e tal qual nos países bálticos foi passada uma lei de criminalização simultânea do nazismo e do comunismo, em 2015. Lei essa que o Eduardo Bolsonaro (vulgo 03) tentou trazer para o Brasil por meio do PL 4425/2020 e que na prática usa os nazistas como bois de piranha para proteger e ocultar os colaboradores locais dos mesmos nazistas.

Na crise de 2013/2014 que levou ao Euromaidan (apoiado pelo megaespeculador George Soros) e ao golpe de Estado que depôs o então Presidente da Ucrânia Vyktor Janukovič, imagens com retratos de Bandera apareceram aos montes nas ruas ucranianas. Grupos neonazistas, tais como o Setor de Direita e o Batalhão Azov, saem de suas tocas. E um detalhe curioso sobre esses grupos é que oligarcas judeus, entre eles Igor Kolomojskij, os apoiam. Claro, aproveitando-se do ódio rábico que eles sentem em relação à Rússia para usá-los como peões em um grande jogo de xadrez. E descartá-los como se fossem lixo lá na frente, no momento em que estes cães raivosos deixarem de ser úteis a eles.

Um desses grupos, o Setor de Direita, usa como estandarte a mesma bandeira rubro-negra outrora usada pela OUN-UPA, só que com o tridente ucraniano no meio (bandeira essa que inclusive apareceu em manifestações no Brasil, onde alguns manifestantes queriam que o Brasil seguisse o exemplo ucraniano).

Foto – Monumento erguido a Stepan Bandera em Lvov, Ucrânia ocidental.

E ainda a respeito da Grande Guerra Patriótica, por volta de 7:30 ele diz que a vitória soviética na guerra se deu por conta da ajuda que os russos receberam dos Estados Unidos por meio do programa Land Lease. Sim, é verdade que a União Soviética recebeu uma substancial ajuda vinda dos Estados Unidos por meio do Land Lease.

Só que há outro lado da história. A Alemanha hitlerista também recebeu maciça ajuda vinda dos EUA, tanto antes quanto durante a guerra. Grandes magnatas e empresas norte-americanas fizeram altos negócios com os nazistas, entre eles a Ford, a Standard Oil da família Rockefeller, a General Motors e a ITT. Assim como magnatas tais como Friedrich Koch (pai dos irmãos Koch), Prescott Bush (pai do Bush I e avô paterno do Bush II – os mesmos Bush que após a guerra se envolvem com o regime saudita, incluindo com a família Bin Laden) e outros.

Foto – Prescott Bush (1895 – 1972), o Bush vô.

Na invasão à União Soviética a Wehrmacht foi equipada com diversos caminhões Ford. A ITT, a mesma ITT que anos depois teve sua filial gaúcha encampada por Leonel de Moura Brizola no tempo em que o velho caudilho foi governador do Estado do Rio Grande do Sul e apoiou o golpe contra Salvador Allende no Chile, em 1973, participou dos projetos secretos de criação de mísseis do Terceiro Reich. Estamos falando dos mísseis que aterrorizaram Londres e outras cidades britânicas. Empresas como a Ford e a Standard Oil tinham fábricas nas áreas da Europa ocupadas pelos nazistas. Entre tantos outros exemplos que podem ser citados. Ao que tudo indica, o velho Brizola deixou este mundo sem saber a respeito do envolvimento pregresso da ITT com os nazistas e o projeto de criação de mísseis balísticos deles.

Este é um jogo duplo que os Estados Unidos repetem anos mais tarde na Guerra Irã-Iraque, entre 1980 a 1988, na qual apoiaram o Iraque de Saddam Hussein oficialmente e o Irã do aiatolá Khomeini por baixo dos panos por meio do esquema Irã-Contras (no qual o dinheiro das armas vendidas ao Irã foi usado para financiar a guerrilha dos contras na Nicarágua).

Além disso, os Estados Unidos não foram os únicos países a prestar ajuda à União Soviética no curso da Grande Guerra Patriótica. Também ajudou muito a União Soviética na área logística, por meio do envio de itens como cavalos, casacos, alimentos e até mesmo soldados que se destacaram e receberam medalhas (cerca de 300 ao todo) a República Popular da Mongólia. A própria Mongólia também financiou a formação de unidades tais como a brigada de tanques “Mongólia revolucionária” e a esquadrilha aérea “Arat”. A Mongólia, à época governada por Khorloogijn Čojbalsan, alcunhado de “o Stalin da Mongólia”, inclusive foi o primeiro país a se posicionar a favor da União Soviética após o início da Operação Barba-Rossa, ainda em 1941.

Foto – “Do povo mongol ao front!”: vagão de trem com cavalos destinado a ajudar a União Soviética na Grande Guerra Patriótica.

E Lazzarotto, se você faz tanta questão de falar da ligação da Igreja Ortodoxa Russa com o Estado Russo tanto no período imperial quanto no período soviético, então eu vou lhe mostrar uma foto, digamos, inusitada. É uma foto datada de 18 de julho de 1943, na qual sacerdotes da Igreja Greco-Católica ucraniana agraciam membros da já formada divisão galiciana da Waffen SS. E detalhe: com estandartes da Waffen SS e do Partido Nacional-Socialista ao lado (suástica inclusa).

Foto – Sacerdotes greco-católicos ucranianos abençoando membros da divisão galiciana da Waffen SS. Lvov, 18 de julho de 1943.

E então, eu fico por aqui, ou você quer que eu mostre mais coisas? Fica por tua conta. Você é quem decide.

É bom que saiba de uma coisa: da mesma forma que a União Soviética, após a guerra, uma guerra que para ela foi uma questão de vida ou morte, puniu severamente outros elementos colaboracionistas (quer seja com a morte por fuzilamento ou enforcamento, quer seja com o envio ao gulag), entre eles os cossacos de Lienz (julgados e executados na prisão de Lefortovo em 1947. Anos mais tarde, essa história é citada no filme 007 vs Goldeneye, o primeiro da era Pierce Brosnan e o primeiro produzido após o fim da União Soviética, e usada como pano de fundo para a vingança do antagonista Alec Trevelyan contra a Inglaterra e que tinham entre suas fileiras o pai e o avô paterno de um dos torturadores do Pinochet) e o general Andrej Vlassov (julgado e enforcado por crime de traição ao final da guerra), com o clero uniata que esteve de mãos dadas com o banderismo no mesmo período não seria diferente.

E, diga-se de passagem, executar e punir severamente elementos colaboracionistas com as potências do Eixo na guerra não foi exclusividade da União Soviética: a França condenou o general Pétain, herói da Primeira Guerra Mundial que esteve à frente da França de Vichy, foi preso após o fim da guerra e lá ficou até vir a óbito em 1951. Joseph Darnand, soldado francês que também se destacou na Primeira Guerra Mundial e que jurou lealdade à Hitler na Segunda Guerra Mundial, foi executado pelos franceses por um pelotão de fuzilamento. Vidkun Quisling, por seu turno, não apenas foi julgado como traidor e executado na fortaleza de Akershurs pelos próprios noruegueses, como também o nome dele se tornou sinônimo de traidor colaboracionista em vários idiomas. Entre tantos outros exemplos.

Uma das poucas exceções, talvez uma exceção à regra, foi o caso de Pu Yi na China. Pu Yi quando criança foi o último imperador da China e anos após a queda da monarquia chinesa, em 1912, foi entronado pelos japoneses como o chefe do estado fantoche Mandžukuo. Por sorte, ele, depois de ter sido capturado pelo Exército Vermelho em 1945, não foi executado após o fim da guerra e após ter sido entregue aos chineses em 1949 viveu os últimos anos de vida dele como um jardineiro e como bibliotecário em Pequim, até morrer em 1967.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

As imprecisões de Mansur Peixoto: Poitiers, Lepanto e a lenda negra espanhola

 

Foto – Mansur Peixoto.

Em 22 de agosto de 2023, Mansur Peixoto, dono do site e do canal do You Tube História Islâmica, postou um vídeo no qual responde a algumas assertivas do vídeo sobre as cruzadas do canal Impérios AD, do professor Thiago Braga, e datado de 6 de outubro de 2019. O mesmo Thiago Braga com o qual Mansur Peixoto travou uma polêmica no começo do ano, em um debate que girou em torno dos temas conquista islâmica da Ibéria e os anos de domínio islâmico sobre a maior parte da Ibéria.

Assim como em outro vídeo anterior, Mansur Peixoto rechaça a ideia de que as Cruzadas salvaram a Europa de ser conquistada por hostes islâmicas. Assino embaixo com ele nesse ponto, visto que no século XI, como ele mesmo disse várias vezes, o poder islâmico na Europa estava em uma situação de recuo: após quase uma centúria de existência o emirado do Fraxinetum no sul da França foi riscado do mapa após a vitória dos provençais lideradas por Guilherme I de Provença sobre os sarracenos na batalha de Tourtour, em 973 (ou seja, mais de 100 anos antes da convocação da Primeira Cruzada, em 1095); os normandos tomaram os reinos advindos da fragmentação do emirado da Sicília entre 1061 e 1091; e na Ibéria o califado de Córdoba se fragmentou nos reinos taifa em 1031, com os reinos cristãos se aproveitando da situação para avançar e tomar praças fortes até então sob o domínio islâmico, a exemplo de Toledo, capital do reino visigótico eliminado pelos mouros no século VIII, em 1085.

E não apenas isso: os enfrentamentos entre muçulmanos e cristãos nas cruzadas em sua maioria se deram no Oriente Médio, na região entre a Palestina e o Levante. Houve sim cruzadas que tiveram lugar na Europa, mas a maioria delas não foi direcionada contra poderes islâmicos, e sim contra outros cristãos, como no caso da Cruzada Albigense na França entre 1209 a 1244 contra a seita dos cátaros e a Quarta Cruzada contra o Império Bizantino (que terminou com o saque de Constantinopla, em 1204), assim como as cruzadas do Norte contra os povos pagãos da região do Mar Báltico levadas a cabo por ordens militares como os Cavaleiros Teutônicos e Livonianos. Durante anos a Lituânia, nos primórdios de sua história, teve que enfrentá-los, e várias vezes eles tentaram invadir as terras russas, entre elas a República de Novgorod.

Antes mesmo da vinda dos mongóis às terras russas pelo leste os cruzados ocidentais, uma vez estabelecidos nas atuais Estônia e Letônia, já vinham promovendo suas invasões sobre principados russos do norte como a República de Novgorod e Pskov (vide cruzadas suecas ainda no século XII e enfrentamentos em Tartu em 1215 e 1224 contra a Ordem dos Irmãos Livonianos da Espada).

O grão-príncipe Alexandre Nevskij os venceu duas vezes: venceu os suecos na batalha do rio Neva (tratada próxima à atual São Petersburgo) em 1240 e os cavaleiros livonianos em 1242, na batalha do lago Čudskoe (também conhecida como a batalha sobre o gelo). No período soviético, mais precisamente em 1938, um filme a respeito da vida de Alexandre Nevskij foi produzido sob a direção de Sergej Eisenstein e com o compositor Sergej Prokofiev à frente da trilha sonora. Este filme foi produzido no contexto da iminente invasão nazista à União Soviética, e dá ênfase especial ao episódio da batalha de 1242.

Outros ataques de cavaleiros ocidentais contra Novgorod e outros principados russos do norte se seguiram nos anos seguintes, como em 1262 (segundo cerco de Juriev – atual Tartu, Estônia) e 1268 (batalha de Rakovor). E isso em parte ajudou a levar o príncipe de Novgorod Alexandre Nevskij a buscar uma aliança com a Horda Dourada (um dos quatro khanatos que emergiram com a fragmentação do Império Mongol a partir de 1260), visto que esta se limitava a cobrar tributos dos principados russos e não estabeleceu ocupação direita sobre as terras russas.

Foto – Batalha do Lago Čudskoe, 1242. Miniatura da crônica ilustrada de Ivã o Terrível, segunda metade do século XVI.

Também concordo com ele que por vezes se atribui um significado um tanto quanto exagerado a batalhas como Poitiers, Lepanto e os dois cercos turcos a Viena. Não dá para saber ao certo se as hostes islâmicas dariam continuidade à marcha conquistadora (quer seja por uma questão de limite logístico, quer seja por uma eventual derrota em enfrentamentos posteriores) caso as batalhas em questão fossem por elas vencidas. Porém, com algumas ressalvas, visto que dentro dos enfrentamentos entre potentados islâmicos e cristãos ao longo de séculos ainda assim elas tiveram sua importância.

Foto – Batalha de Poitiers (732), por Charles de Steuben (1788 – 1856).

A respeito da batalha de Potieirs, ocorrida em 732 entre as hostes do califado Omíada e do reino franco sob a liderança de Carlos Martel, diz Mansur Peixoto (citando outros historiadores) que a força invasora não tinha a intenção de conquistar o Reino Franco, e sim de pilhar e saquear as áreas ao norte dos Pirineus. E a despeito das derrotas para os francos, chegaram a estabelecer domínio sobre algumas regiões do sul da França, em especial sobre a região da Septimânia (onde se encontra cidades como Narbonne, Perpignan e Carcassone). Até 737 mantiveram controle sobre Avignon e Nimes (quando ambas as cidades foram tomadas por Carlos Martel em dois cercos), e apenas em 759 que os muçulmanos viriam a ser expulsos da Septimânia com a tomada de Narbonne.

O que Mansur Peixoto não percebe é o seguinte. Nas invasões à Gália as hostes islâmicas chegaram ao norte até Autun e Sens em 725 e até o vale do Loire em 732. Ou seja, avançaram até o coração da França. Chegaram a pontos não muito distantes de Paris (Sens está a 120 quilômetros ao sul da capital francesa). No que constituíram os avanços mais ao norte de hostes islâmicas sob o Califado Omíada (661 – 750).

Mesmo que a hoste islâmica vencida na batalha de Poitiers tenha tido a intenção de pilhar a Gália, e não conquistá-la (quer seja para estabelecer um domínio direto e estabelecer guarnições nas cidades francesas, quer seja para estabelecer uma vassalagem tributária sobre as regiões ao norte dos Pirineus), quem não me garante que uma vez vitoriosa e percebendo a fraqueza do Reino Franco não iria em seguida organizar de fato uma campanha de conquista do mesmo?

Foto – Mapa da marcha da invasão islâmica à Gália nos anos 720 e 730.

Na história da Rússia há um episódio similar, ocorrido nos anos de 1571 e 1572, durante o reinado de Ivan IV o Terrível. De tempos em tempos o khanato da Criméia (um dos estados sucessores da Horda Dourada que surgiu na metade do século XV, cuja capital era a cidade de Bakhčisaray) promovia incursões de pilhagem e de captura de cativos (os quais por sua vez eram enviados ao porto de Kaffa [atual Feodosija] na Criméia e de lá vendidos como escravos a outros pontos do Império Otomano) sobre as terras russas e até mesmo sobre a Polônia-Lituânia. Um desses vários ataques teve lugar em 1571 (ou seja, no mesmo ano da batalha de Lepanto no Mar Mediterrâneo), no qual uma hoste tártara pilhou e incendiou Moscou.

Embalados pelo sucesso no ano anterior e se aproveitando do fato de que as fronteiras meridionais da Rússia estavam desprotegidas por esta estar ocupada com a guerra da Livônia contra a Suécia no Báltico, os tártaros voltaram no ano seguinte com a intenção de conquistar a Rússia Moscovita (que anos antes, mais precisamente entre 1552 e 1556, tomou os khanatos islâmicos da bacia do Rio Volga – Kazan e Astrakhan, algo que repercutiu bem negativamente no mundo turco; além disso, fez malograr a tentativa turco-tártara de tomar Astrakhan em 1569) e reestabelecer o jugo tributário exercido pela Horda Dourada até 1480 sobre as terras russas.

Uma hoste de cerca de 40 mil a 60 mil homens (incluindo janízaros fornecidos pela Sublime Porta) foi enviada à Rússia. Só que dessa vez os russos, com um exército de cerca de 23 a 25 mil homens, se preparam para a nova invasão e ao contrário do ano anterior, venceram os tártaros da Crimeia na batalha de Molodi, travada entre 29 de julho e três de agosto em um ponto a cerca de 50 quilômetros ao sul de Moscou. Sob a liderança dos príncipes Mikhail Vorotynskij e Dmitrij Khvorostinin, os russos utilizaram com grande eficácia a artilharia e as fortalezas móveis guljaj gorod (cirílico гуляй город) neutralizaram a retaguarda adversária. O khan da Criméia, Devlet I Giray, que esteve pessoalmente presente no campo de batalha, perdeu nessa batalha os filhos, o neto e o genro e fugiu do campo de batalha para não ser morto.

A vitória sobre a hoste turco-tártara em Molodi foi tão severa tanto para Constantinopla quanto para Bakhčisaray, visto que depois disso nunca mais planejaram conquistar a Rússia. A influência outrora exercida por Constantinopla e seu vassalo peninsular sobre a bacia do rio do Volga igualmente foi rompida. Para Moscou a vitória em Molodi igualmente teve grande importância geopolítica, visto que permitiu a manutenção e a defesa dos feitos dos 100 anos anteriores, tais como independência, unidade e controle sobre Kazan e Astrakhan. Nos anos e séculos seguintes, a Rússia tornar-se-ia um dos principais adversários do Império Otomano e tomou da Sublime Porta regiões como a Criméia e as áreas ao norte do Mar Negro durante o reinado de Catarina a Grande (r. 1762 – 1796) e a Bessarábia (atual Moldávia) em 1812, já no reinado de Alexandre I (r. 1801 – 1825).

Foto – Pedra fundamental em memória da Batalha de Molodi, na cidade homônima situada na oblast de Moscou.

Além disso, outra afirmação um tanto quanto problemática da parte dele foi dizer a batalha de Poitiers não parou o avanço islâmico sobre a Gália visto que anos mais tarde, mais precisamente em 889, na região da Provença, foi estabelecido o emirado do Fraxinetum por um grupo de piratas e aventureiros vindos do califado de Córdoba.

Só que entre a batalha de Poitiers e o estabelecimento do Fraxinetum passaram-se 157 anos. E entre a retirada islâmica da região da Septimânia (759) e o estabelecimento do Fraxinetum, passaram-se 130 anos.

E que no meio desses eventos houve o Império de Carlos Magno, que não só manteve relações com o Califado Abássida, como também avançou sobre território islâmico na Ibéria (vide a famosa batalha de Roncesvales, ocorrida em 778, na qual a retaguarda do exército franco foi dizimada pelos bascos e que serviu de inspiração para o épico medieval A Canção de Rolando) e lá estabeleceu a Marca Hispânica no que hoje é a região da Catalunha no nordeste da Espanha. Marca essa que serviu de embrião para o surgimento do reino de Aragão, um dos reinos que séculos mais tarde desempenhou papel significativo não apenas no processo da Reconquista, como também da formação do Estado nacional espanhol, com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os reis católicos, em 1469.

O estabelecimento do Fraxinetum se dá em uma época em que o poder central no Reino Franco (dividido em 843 em três partes por meio do Tratado de Verdun) estava bem enfraquecido, e dessa forma este passou a ser alvo de invasões não só de piratas sarracenos pela costa sul, como também de piratas normandos (também chamados de vikings) nas regiões costeiras e mesmo no interior (Paris foi duas vezes atacadas por bandos vikings) e de magiares no leste. Dessa forma, a autoridade central do reino franco já não podia mais responder com a mesma eficácia de antes às investidas.

Sob o Fraxinetum as hostes islâmicas avançaram a regiões antes intocadas por elas, entre elas o Piemonte no noroeste da Itália e o mosteiro de San Gallo na Suíça. Só que nenhuma das incursões islâmicas pós-Poitiers chegou tão ao norte na França quanto, visto que estes se limitaram a incursionar sobre regiões do sul da França. Ou seja, depois de Poitiers o expansionismo islâmico sobre a Gália nunca mais se repetiu com o mesmo ímpeto de antes, a ponto de exercer uma séria ameaça à existência do reino franco enquanto entidade política.

As invasões de piratas sarracenos sobre o sul da França e outras partes do Mediterrâneo ocidental continuam até a primeira metade do século XIX, e só após a conquista francesa da Argélia em 1830 que ela chega ao fim.

Foto – Batalha de Lepanto (1571), por Giorgio Vasari (1511 – 1574).

Sobre Lepanto, ele diz que depois da batalha de Lepanto houve avanços das hostes do Império Otomano sobre partes da Europa e do norte da África, incluindo a retomada da Tunísia em 1574 e ataques de corsários a serviço da Sublime Porta às áreas costeiras da Itália, da França, da Espanha, da Inglaterra, da Irlanda, da Suécia e até da Islândia nos séculos XVII e XVIII (vide o ataque à Islândia em 1627).

É fato que o poder otomano sobre a Europa só vai sofrer perdas expressivas a partir da segunda metade do século XVII, em decorrência da derrota no segundo cerco à Viena e a subsequente conquista austríaca da Hungria, Croácia, Transilvânia e Eslavônia nos anos 1690, ratificada por meio do Tratado de Karlowitz (1699). Entretanto, a despeito desses avanços islâmicos posteriores, a batalha de Lepanto, além de confirmar a divisão do Mediterrâneo em uma esfera oriental sob o controle otomano e uma metade ocidental sob o controle dos Habsburgos e seus aliados italianos, também exerceu importante impacto psicológico, ao mostrar que os turcos, antes imparáveis, podiam ser derrotados pelos poderes cristãos europeus.

Foto – Enfrentamento entre Aleksandr Peresvet, campeão da hoste russa, e Čelubej, campeão da hoste tártara, durante a batalha do campo de Kulikovo (1380). Por Viktor Mikhailovič Vasnecov (1848 – 1926).

Na história da Rússia há outro episódio similar: em 1380, os russos sob a liderança de Dmitrij Donskoj vencem as hostes tártaras, sob a liderança do general Mamaj, à época o homem-forte da Horda Dourada, na batalha do campo de Kulikovo. Dois anos depois, Tokhtamyš, à época apoiado por Tamerlão, reimpõe o jugo tártaro às terras russas ao invadir e pilhar cidades como Moscou e outras. Após a guerra contra Tamerlão, a Horda Dourada, sob a liderança de Temur Khutlug e Edigu, venceu a Lituânia na batalha do rio Vorskla em 1399 e após a vitória contra os lituanos sitiou Kiev (à época sob o domínio polaco-lituano) no mesmo ano.

Em 1408 o emir Edigu voltou a invadir as terras russas (Moscou inclusa) em 1408. Edigu também sitiou e pilhou Kiev em 1416. Depois de 1416 outras incursões punitivas tártaras vindas da Horda Dourada (à época às voltas com o processo de fragmentação territorial que levou à sua destruição final em 1502) seriam lançadas contra as terras russas até 1472 (vide batalha em Aleksin), a maioria delas sem o mesmo sucesso de antes.

Dessa forma, a batalha de Kulikovo não colocou fim ao jugo tributário tártaro-mongol sobre as terras russas, mas ainda assim exerceu efeito psicológico importante ao mostrar aos russos (sob a liderança do Principado de Moscou) que sim, eles eram sim capazes de vencer os tártaros no campo de batalha. Apenas em 1480 que o jugo da Horda Dourada sobre as terras russas chegaria ao fim. Sob a liderança do grão-príncipe de Moscou Ivan III o Grande (o qual se casou em segundas núpcias com Sofia Paleóloga, sobrinha do último imperador bizantino), os russos venceram os já bem enfraquecidos tártaros na grande espera sobre o Rio Ugra. E ainda assim, mesmo após a espera sobre o Rio Ugra, a Rússia teve que lidar com as incursões de pilhagem tártaras vindas do khanato da Criméia até a segunda metade do século XVIII. Até Catarina a Grande destruir o khanato da Criméia em 1783.

E por último, a parte mais importante. Voltando ao debate anterior dele com Thiago Braga em torno do tema Al-Andalus e a conquista islâmica da Ibéria na primeira metade do século VIII.

A meu ver a questão principal em torno desse tema sobre a qual nenhum dos dois falou não é se Al-Andalus, em especial a Al-Andalus do período de maior poderio e esplendor, no caso a Al-Andalus do período omíada (756 – 1031; emirado até 929, em seguida califado), era ou não era o paraíso romantizado que é apresentado ou se era ou não um lugar opressivo onde cristãos e judeus eram perseguidos.

Se lá tinha ou não tinha conflitos e contradições internas, as quais inclusive levaram ao estilhaçamento do califado de Córdoba nos reinos de taifa em 1031 e o posterior e gradativo deslocamento da balança de poder na Ibéria do sul islâmico para o norte cristão a partir desta data (diga-se de passagem, é interessante notar que o califado de Córdoba foi reduzido a farelo e escombros menos de 30 anos após a morte do comandante militar Al-Mansur, notório por suas numerosas campanhas vitoriosas contra os reinos cristãos do norte no final do século X – vide o ataque a Santiago de Compostela de 997, no qual os sinos da Igreja foram tirados da Igreja de Compostela e em seguida enviados a Córdoba nos ombros de prisioneiros cristãos, e só sendo enviados de volta à Compostela com a conquista de Córdoba pelos cristãos em 1236).

A questão é como que essa questão da Al-Andalus romantizada entra na lenda negra espanhola. Em outras palavras, como que a Al-Andalus das três culturas e idealizada como um período no qual judeus, muçulmanos e cristãos conviviam de maneira harmoniosa e pacífica (sem levar em conta que a história do poder islâmico na Ibéria se estendeu por quase 800 anos e que nesse ínterim mudanças dinásticas ocorreram, e que a Al-Andalus do século XV não é a coisa que a Al-Andalus do século VIII ou do X) e, dentro de uma visão liberal anacrônica que não leva em consideração as particularidades e especificidades daquele período, sendo tratada e apresentada como se fosse um paraíso multicultural e um oásis de tolerância religiosa no mundo medieval (sendo que a própria história da experiência islâmica na Ibéria registra episódios de perseguições religiosas, vide o motim de Granada de 1066 e as perseguições contra cristãos e judeus nos períodos almorávida e almoada), alimenta a lenda negra espanhola.

Foto – Estátua de Al-Mansur, comandante militar e homem forte do califado de Córdoba (c. 939 – 1002) no final do século X e começo do século XI, em Algericas. Erguida em 2002 por conta dos mil anos de seu falecimento.

Para quem não sabe, a lenda negra espanhola é um mito criado por holandeses e ingleses na sequência da conquista espanhola das Américas no século XVI. Um mito que na Holanda surge no contexto da luta de libertação da Holanda do jugo espanhol, a chamada Guerra dos oitenta anos (1568 – 1648), e na Inglaterra no contexto do rompimento da Inglaterra com o Papa de Roma em decorrência da reforma anglicana do reinado de Henrique VIII e as guerras entre ingleses e espanhóis nos séculos XVI e XVII (vide o episódio da invencível armada de 1588, destroçada por uma tempestade marítima).

Para criar este mito, os holandeses e ingleses se utilizaram da obra do frei e cronista espanhol Bartolomé de las Casas, “O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias ocidentais” e a traduziram. A Lenda Negra criada por holandeses e ingleses a partir do século XVI e que gira em torno principalmente de dois temas: a Inquisição Espanhola e a Conquista da América. Mito esse que, com o passar do tempo, logrou criar uma imagem bem negativa não só da Espanha como também de Portugal e quem vem sendo replicado em diversos meios, e sem que a devida crítica seja feita.

Foto – Bartolomé de Las Casas (1484 – 1566).

E as consequências da lenda negra (ou se preferirem, das lendas negras) que surgiu a partir do século XVI chegam até os dias de hoje. Dentro da política espanhola hodierna, a lenda negra não só ajuda a alimentar o separatismo em regiões como a Catalunha e o País Basco, como também ajuda a criar um fosso entre a Espanha e suas ex-colônias americanas. E em última análise, alimentam nos países sul-americanos não apenas depredações de monumentos a personagens ligados ao passado colonial espanhol (vide casos o ocorrido na cidade chilena de La Serena em 2019), como também separatismo mapuche em países como a Argentina e o Chile. E é essa a tônica da lenda negra que pode ser vista, por exemplo, na ideologia indigenista que o pessoal do IELA (Instituto de Estudos Latinos Americanos) parece professar aqui no Brasil.

No caso brasileiro, lendas negras em torno da colonização portuguesa sobre a América Portuguesa ajudam não só a alimentar o ranço idiota e estúpido que muitos brasileiros têm para com Portugal (a ponto de achar que teria sido melhor para o desenvolvimento ulterior do país uma colonização inglesa, holandesa ou mesmo francesa), como também separatismo indígena em várias partes do país (vide a questão da atuação de ONGs internacionais na Amazônia) e episódios lamentáveis como depredações e queimas de estátuas como a de Borba Gato e a de Pedro Álvares Cabral.

O fato é que por vezes Al-Andalus é apresentada como se fosse uma espécie de paraíso perdido, um oásis de tolerância no mundo medieval no qual havia a convivência entre três culturas, como se fosse a antítese da Espanha intolerante, violenta e truculenta por natureza (sendo que aqueles que criaram a Lenda Negra também promoveram ferozes perseguições contra católicos que se mantiveram fiéis a Roma e queimaram bruxas a rodo).

Uma deputada do partido espanhol Podemos, Isabel Franco, em 2021 disse que em Al-Andalus havia a convivência entre judeus, muçulmanos e cristãos e que a monarquia espanhola promoveu uma invasão, um genocídio e uma ocultação. 

Sendo que a mesma Al-Andalus foi estabelecida por meio de uma invasão que destruiu o poder visigótico na Ibéria (que por sua vez também entraram na mesma Ibéria como conquistadores no século V desalojando os romanos). E que Al-Andalus, antes de tudo, foi destruída por conta de suas contradições e conflitos internos cujos soberanos não souberam administrar, a começar pela fitna (guerra civil) no Califado de Córdoba a partir de 1009 que leva à ruína do mesmo e ao surgimento dos reinos taifas. Os reis católicos espanhóis apenas deram o golpe de misericórdia que no que restava do combalido poder islâmico na Ibéria em 1492, quando tomaram a cidade de Granada. Da mesma forma que Odoacro fez o mesmo com o Império Romano do Ocidente em 476 ao tomar Roma e o sultão Mehmet II fez o mesmo com o Império Romano do Oriente ao tomar Constantinopla (atual Istanbul) em 1453.

Ou seja, pode-se dizer que nesse ponto a visão romantizada sobre Al-Andalus é usada por alguns políticos espanhóis como forma de justificar agendas como uma abertura ainda maior do país à imigração vinda de fora da Europa e implantação de agenda multiculturalista e politicamente correta em solo espanhol.

A ideia é clara: pintar as nações ibéricas nas piores cores possíveis e mostrar que elas, de nascença (ou seja, no processo de formação das monarquias ibéricas), já eram uma coisa ruim por natureza. Como se fossem uma espécie de Galactus que destrói tudo por onde passa, deixando para trás nada além de destruição, desolação e iniquidade.

O fato é que do ponto de vista político a lenda negra age como se fosse uma espécie de punhal a ser fincado no ventre das nações ibéricas. Se a Espanha vem aceitando passivamente há tempos a história que ingleses e holandeses criaram sobre o período de maior poderio e esplendor dela, não será nenhuma surpresa se daqui um tempo aceitar passivamente que o país se fragmente em vários pedaços e a Catalunha, o País Basco, a Andaluzia, a Galiza e outras regiões formem suas taifas.  Ou mesmo a Argentina e o Chile aceitarem passivamente que a Patagônia e a Terra do Fogo se tornem um grande Mapuchistão e o Brasil aceite passivamente a perda da Amazônia para as ONGs internacionais que lá atuam, sob o pretexto da proteção e da preservação étnica e cultural das populações indígenas que lá vivem.

Fontes:

A lenda negra da conquista espanhola. Disponível em: A Lenda Negra da Conquista Espanhola: Ingrediente do Imperialismo Cultural Anglo-Americano | Nova Resistência (novaresistencia.org)

Битва при Молодях (em russo). Disponível em: Битва при Молодях — Википедия (wikipedia.org)

Leyenda Negra. Disponível em: Leyenda Negra - Curiosidades - InfoEscola

Leyenda Negra e Leyenda Branca. Disponível em: Leyenda Negra e Leyenda Branca | ANPHLAC

Capitulos para una historia mentida (X): Otros mitos de la leyenda negra (em espanhol). Disponível em: Capítulos para una historia mentida (X): Otros mitos de la Leyenda Negra (linkedin.com)

Осада Киева (1399 – em russo). Disponível em: Осада Киева (1399) — Википедия (wikipedia.org)

Северные крестовые походы (em russo). Disponível em: Северные крестовые походы — Википедия (wikipedia.org)

Ukrainian nationalism and his roots (em inglês). Disponível em: Ukrainian nationalism – its roots and nature | The Vineyard of the Saker