quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

A morte de Moïse Kabagambe e a macaquice da esquerda brasileira

 

Foto – Moïse Kabagambe.

No último sábado, dia cinco de fevereiro de 2022, o Brasil presenciou uma cena dantesca: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, de Curitiba, foi invadida por militantes de esquerda em protesto pela morte do jovem congolês Moïse Kabagambe, ocorrido no Rio de Janeiro no dia 24 de janeiro. Outros protestos similares ocorreram em outras cidades brasileiras, entre elas Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Os protestos na Igreja foram liderados pelo vereador petista Renato Freitas, e nas imagens dos mesmos podem ser vistas bandeiras de partidos como o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e cartazes pedindo por justiça ao finado congolês.

Durante a invasão à Igreja (construída em 1737 para negros escravizados, que não podiam entrar em outras Igrejas da cidade) Freitas, ignorando os pedidos do padre de que queria continuar a missa, fez um discurso inflamando dizendo que os católicos tinham apoiado um “policial que está no poder” e que o caso da morte do jovem congolês teria uma suposta relação com a conivência de pessoas de fé católica a autoridades “fascistas”, e que tais assassinatos teriam sido provocados por um suposto “racismo estrutural”.

Primeiro de tudo: esse episódio vem a se somar a outros ataques similares à fé cristã que vimos nos últimos anos no Brasil e no mundo. Como, por exemplo, o episódio ocorrido no natal de 2019 em que o canal do YouTube Porta dos Fundos representou Jesus Cristo como um homossexual (e nisso o que o Porta dos Fundos faz nada mais é copiar aqui no Brasil o que o Charlie Hebdo, o mesmo Charlie Hebdo que foi alvo de ataques terroristas em 2011 e 2015 depois de fazer charges desrespeitosas ao profeta Maomé, faz na França). E, a nível internacional, a episódios como as queimas de Igrejas no Chile durante as manifestações de 2019 e 2020 e no Canadá no ano passado após as descobertas de túmulos de crianças indígenas em 2021.

Segundo o artigo 208 do Código Penal brasileiro, escarnecer de alguém publicamente por motivo de crença religiosa; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso (como o que se viu em Curitiba) configura em crime contra o sentimento religioso, com pena prevista de detenção de um mês a um ano ou o pagamento de multa, podendo ser ampliada em caso de uso de violência.

E segundo: será que em algum momento passou pela cabeça desse pessoal que chamou os fiéis que na missa estavam de racistas e fascistas e que foi fazer essa passeata na Igreja que entre as pessoas que lá rezavam a missa podia haver pessoas que em 2018 votaram no Haddad e em eleições presidenciais anteriores votaram no Lula e na Dilma, como também em outros candidatos petistas em eleições municipais e estaduais do Paraná? Que depois eles não se queixem de que esses votos eventualmente venham a migrar para políticos como Bolsonaro e outros afins.

O fato é que o jovem de 24 anos foi espancado e morto por cinco pessoas no quiosque Tropicália, e que de acordo com informações da própria família de Moïse Kabagambe, ele foi ao quiosque em questão para cobrar diárias que somavam a quantia de cerca de R$ 200,00.

Para além do fato vergonhoso da invasão à Igreja por si mesmo, manifestações como essa e tantas outras mostram que uma parte da esquerda brasileira quer fazer do caso de Moïse Kabagambe uma espécie de versão brasileira do caso George Floyd (que pouco antes de vir a óbito estava sob o efeito de narcóticos e tentara passar uma nota falsa de US$ 20,00 a um supermercado), ocorrido no ano retrasado nos EUA. Caso esse que, como nós sabemos, gerou uma comoção tal que no fim das contas ajudou a influenciar as eleições americanas de 2020 em favor de um representante orgânico do sistema americano, o democrata Joe Biden.

E também é demonstrativo do fato de que os manifestantes dessas passeatas estão protestando pelos motivos errados. É bem evidente que Kabagambe não foi morto por questão de ódio racial contra negros, e sim por conta de questões ligadas a dívidas do local em que ele trabalhava. Em outras palavras, pode-se dizer que o que realmente matou Kabagambe não foi o racismo, e sim a precarização das relações de trabalho que temos visto no Brasil desde o segundo governo Dilma.

Foto – Invasão à Igreja Nossa Senhora do Rosário, 05/02/2022.

Também salta aos olhos a linguagem que eles empregam. Palavras de ordem como “2022 e o racismo ainda mata”, “vidas negras importam” (logo o nome de um grupo supremacista negro conhecido por suas agressões a cidadãos brancos americanos, não raro submetidos a situações vexatórias e que é financiado pelo megaespeculador George Soros), “racismo sistêmico” e outras parecidas são vistas aos montes. Fica evidente que se trata de um copia e cola das passeatas ocorridas nos Estados Unidos em 2020, que foram na verdade uma revolução colorida com vistas a influenciar o pleito eleitoral daquele ano em favor dos representantes orgânicos do sistema americano.

Como também o desserviço que essa gente faz ao atribuir essa morte a questões de racismo. E essa, diga-se de passagem, não foi a primeira vez eles assim agiram: isso aconteceu em 2018 na sequência da morte de Marielle Franco. À época, muitos dos mesmos que hoje falam que Moïse Kabagambe foi morto por causa de racismo disseram que a deputada psolista foi morta por homofobia, racismo e por machismo, pelo fato dela ser mulher, negra e lésbica. Quando na verdade ela, ao que tudo indica, foi morta por cruzar o caminho de esquemas das milícias cariocas. Tanto no caso de 2018 quanto no caso desse ano vemos a mesma retórica alienante e emburrecedora dessa gente.

Parece-me que para tais setores da esquerda brasileira que agem como se fossem macacos amestrados do Partido Democrata dos EUA e do Partido Trabalhista da Inglaterra toda e qualquer morte violenta de um negro é motivada por questões de racismo. Nem que o assassino em questão tenha sido outro negro e sem qualquer relação com racismo. Da mesma forma que essa mesma gente pensa que qualquer morte violenta de um homossexual é motivada por questões de homofobia. Nem que o crime em questão tenha sido cometido por outro homossexual e tenha sido motivado por questões como motivos passionais ou disputa de pontos de prostituição.

Tal episódio é sintomático e revelador do fato de que amplos setores da esquerda brasileira adoram copiar o que há de pior na esquerda americana e na esquerda europeia. É uma esquerda que não raro pensa os problemas raciais brasileiros com base na dinâmica dos problemas raciais norte-americanos, não levando em consideração que os dois países têm suas particularidades que os distinguem entre si e que no Brasil (a despeito do fato de que ambos os países tiveram um passado de escravidão negra) houve uma maior miscigenação entre brancos, negros e indígenas, nunca houve grupos racistas como a Ku Klux Klan e não houve legislações discriminatórias como aquelas existentes no sul dos EUA (leis de Jim Crow). Com uma esquerda dessas, quem precisa de Bolsonaro, Moro e companhia limitada?

E fica no ar a seguinte pergunta: em um eventual próximo incidente de morte violenta de um negro (ou quem sabe até de um homossexual), quem não me garante que essa mesma gente resolva repetir a dose e fique ainda mais ousada e mais atrevida e resolva fazer atos similares ao que vimos no último fim de semana, dessa vez com atos de vandalismo, invasões e protestos ainda mais massivos contra Igrejas como aquelas vistas no Chile em 2019 e 2020 e no Canadá em 2021? O que mais me incomoda a respeito do ocorrido da semana passada é exatamente isso. Hoje eles fizeram uma passeata em uma Igreja em plena missa na qual chamaram os fiéis de fascistas. Dai para começarem a incendiar Igrejas é praticamente um pulo.

E mais uma pergunta no ar: se no lugar de um congolês um norueguês, um italiano ou um alemão tivesse sido assassinado da mesma forma, com os mesmos requintes de crueldade e sadismo, nós veríamos os mesmos protestos e a mesma tentativa de aproveitamento político por parte de políticos da esquerda brasileira? Em minha humilde opinião, não.

Foto – Igreja queimada no Canadá durante as manifestações de 2021. Será que veremos isso chegar ao Brasil algum dia?

Fontes:

Black Lives Matter (em inglês). Disponível em: Black Lives Matter: An Activist Facts Organizational Profile

Grupo que pedia justiça pela morte de Moïse invade igreja e interrompe missa durante manifestação, diz padre; vereador que participava disse que ato foi pacífico. Disponível em: Grupo que pedia justiça pela morte de Moïse invade igreja e interrompe missa durante manifestação, diz padre; vereador que participava disse que ato foi pacífico | Paraná | G1 (globo.com)

Morte de congolês Moïse Kabagambe gera protestos em várias capitais do Brasil neste sábado. Disponível em: Morte de congolês Moïse Kabagambe gera protestos em várias capitais do Brasil neste sábado | Jovem Pan

Vereador do PT lidera invasão de igreja católica durante missa. Disponível em: Vereador do PT lidera invasão de igreja católica durante missa (gazetadopovo.com.br)

Um comentário:

  1. Não duvido nada que logo vamos ver igrejas, sinagogas e outros templos religiosos a ser queimados no Brasil. Espero eu que isso não aconteça, mas, como a esquerda está cada vez mais intolerante com tudo...

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