domingo, 16 de setembro de 2018

Quem tem medo da polarização? (por Lucas Novaes)



Faltam cerca de 3 semanas para a realização do primeiro turno das eleições gerais no Brasil. Dia 7 de Outubro, os brasileiros irão votar para os cargos do legislativo (deputados e senadores), bem como do executivo (governadores e presidente).
Esse período eleitoral tem se mostrado bastante atípico. Há 2 anos, Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe parlamentar e deu lugar a Michel Temer na presidência. A impopularidade do governo Temer se mostrou gigantesca. É mais fácil encontrar no Brasil pessoas defendendo os feitos de Adolf Hitler do que de Michel Temer, dada a sua impopularidade. Além disso, Luís Inácio Lula da Silva, que deveria ser o candidato do Partido dos Trabalhadores para a presidência e que liderava com folga todas as pesquisas, foi preso com direito a pressão das Forças Armadas (cujo porta-voz é o general Villas Boas).
De 2016 para cá, muita coisa aconteceu. A candidatura de Jair Bolsonaro (que, junto com seu vice, Hamilton Mourão, representam os setores mais entreguistas das FFAA) não afunilou, como previam alguns especialistas. Bolsonaro conseguiu tirar total proveito da onda neoconservadora que emergiu no Brasil, se colocando como um representante nacional dos valores defendidos pelo Partido Republicano nos Estados Unidos (conservadorismo social e liberalismo econômico, além do sionismo). As candidaturas inicialmente propostas pela burguesia (Luciano Huck e Joaquim Barbosa) não vingaram. E Geraldo Alckmin (atual candidato do establishment, com a maior coligação dessas eleições) não conseguiu chegar aos 10% nas intenções de voto, pelo menos até o momento. Sendo assim, Bolsonaro atualmente se firma como o principal nome da direita. Entretanto, ele não é uma figura fácil de ser digerida pela grande imprensa, principalmente por suas declarações contrárias ao progressismo social (cotas, feminismo, aborto, desarmamento). O que Jair Bolsonaro tem a oferecer é o liberalismo econômico, que inclui a privatização de todas as empresas nacionais estratégicas para a nossa soberania e é formulado por Paulo Guedes, seu ministro da economia.
Na esquerda, a burguesia conseguiu cumprir o seu principal objetivo: prenderam Lula, o único político capaz de mobilizar dezenas de milhares de pessoas em todos os estados no Brasil. Houve uma enorme resistência contra a sua prisão e, posteriormente, para tirá-lo da cadeia. Mas o sentimento eleitoreiro do PT falou mais forte. Com medo de ficar sem candidatura, o partido lançou “moderadíssimo” Fernando Haddad, que tem como objetivo receber os votos dos lulistas e ir para o segundo turno. Fernando Haddad é o mesmo que disse em entrevista que “golpe é uma palavra muito forte”. Por justiça, Gleisi Hoffmann deveria ter sido escolhida como candidata pelo PT, principalmente devido a sua luta pela liberdade de Lula (que inclusive lhe rendeu ataques por parte da grande imprensa e do ativismo judicial). Talvez os petistas estejam com medo de levar adiante uma candidatura tão combativa.
Ainda na esquerda, Ciro Gomes, o candidato abutre que nunca lutou seriamente contra o golpe e contra a prisão de Lula, tentou se apresentar como candidato da ala progressista. Ele acreditava que deveria ser o nome a ser escolhido caso Lula não participasse das eleições. Entretanto, as suas reais intenções eleitoreiras ficaram claras e o mesmo se distanciou do PT. Chegou a negociar com o centrão para se tornar o candidato da burguesia, mas acabou perdendo a queda de braço com o Geraldo Alckmin. Ainda no final, Ciro Gomes tentou uma aproximação com o PSB e o PCdoB, mas sem sucesso. Atualmente, Ciro Gomes tem um papel importante (porém secundário) nessas eleições presidenciais: dividir os votos da esquerda para que a burguesia consiga o seu segundo turno dos sonhos: “Bolsonaro x Alckmin”. Entretanto, se Alckmin não conseguir decolar de forma alguma, é possível que Ciro Gomes venha a ser o candidato do establishment, para que um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad seja evitado.
O principal evento deste período eleitoral até agora foi a facada que atingiu Bolsonaro e o deixou fora da campanha por algumas semanas. O evento gerou grande repercussão e logo os outros candidatos vieram para condenar os atos. Em termos eleitorais, a facada parece não ter surtido bastante efeito. Mas talvez tenha servido para cristalizar o seu apoio. Será muito difícil que Bolsonaro não chegue ao segundo turno.
Jair Bolsonaro é um político altamente polarizado. Capaz de gerar fortes emoções (positivas ou negativas) na população brasileira. O mesmo vale para o Lula. A democracia liberal não costuma tolerar candidatos deste tipo. Haddad, apesar de não ser uma figura polarizadora, é de um partido que gera altos ódios e paixões: o Partido dos Trabalhadores. Os cenários em que Bolsonaro ou Haddad são presidentes são ambos cenários de crise e que vão acirrar os enfrentamentos políticos no país. O anti-petismo e o anti-bolsonarismo são os dois sentimentos mais fortes atualmente no Brasil. Devido a isso, a imprensa burguesa está ficando com poucas opções: Precisa alavancar seu candidato, Alckmin, a todo custo. Caso não consiga, terão de apostar suas fichas em Ciro Gomes.
Fontes:

3 comentários:

  1. Lamento dizer mas essa análise é absolutamente equivocada. Não há a menor possibilidade de Ciro Gomes ser o candidato do "establishment". Pelo contrário. Com quem quer que ele for para o Segundo Turno, será o opositor do Globalismo liberal, que pode facilmente apoiar tanto Bolsonaro quanto Haddad.

    Também é surpreendente a afirmação de que Ciro não lutou contra o golpe, sendo justo ele o que mais enfaticamente condenou todos os estágios do processo.

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  2. Discordo ao dizer que Ciro Gomes não lutou contra o golpe. Dos principais políticos do país, ele foi, desde de 2015, o que mais criticou o golpe de 2016, inclusive, mais que algumas figurinhas carimbadas do PT. Fora o que ele fez, só lhe restaria pegar em armas, porque com as palavras, ele foi um dos mais críticos ao que aconteceu.
    E discordo também em dizer que ele será o candidato da burguesia. Pelo menos nos seus discursos, ele se mostra anti liberalismo. Já o Jair Bolsonaro se mostra liberal no campo econômico. Ou seja, a burguesia apoiará Bolsonaro (mesmo que à contra gosto) caso Alckimin não vá ao segundo turno.

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  3. Ciro sobre a Vale do Rio Doce(2001)
    https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ciro-gomes-diz-que-brasil-nao-privatizou-direito,20010708p38712

    Ciro: tem que privatizar com inteligência
    https://g1.globo.com/google/amp/se/sergipe/eleicoes/2018/noticia/2018/09/06/ciro-gomes-diz-que-privatizacao-deve-ser-usada-com-inteligencia-e-nao-com-preconceito-ideologico.ghtml

    Quer privatizar tudo? Vote em Curo
    https://www.causaoperaria.org.br/quer-privatizar-todas-as-estatais-vote-ciro-gomes/
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    https://www.causaoperaria.org.br/doutor-benjamin-steinbruch-e-um-velho-amigo-ciro-gomes-rasga-elogios-ao-pato-da-fiesp/

    Benjamin Steinbruch já foi cotado pra ser vice de Ciro
    https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/agencia-estado/2018/06/08/quem-e-benjamin-steinbruch-o-empresario-cotado-para-ser-vice-de-ciro.htm

    Ciro recorre ao Steinbruch
    https://crusoe.com.br/diario/ciro-recorre-a-steinbruch/

    Enéas vs Ciro
    https://m.youtube.com/watch?v=LmpNz3p6YY0

    .
    https://m.youtube.com/watch?v=rwcsL70royM
    .
    https://m.youtube.com/watch?v=HBnizyJTRl8

    Depois dessas evidências, informações a pergunta que fica; Ciro é confiável?

    Eu nem vou perder meu tempo com esse teatro, qualquer um que for eleito pelo "povo" servirá o sistema

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