2018 já começou e
promete ser um ano de intensa agitação política. Afinal de contas, teremos as
eleições gerais onde serão escolhidos novos deputados, senadores, governadores
e presidente. Mas também existem outros fatores que tornam este ano bastante
peculiar: estamos vivenciando o governo mais impopular e ilegítimo do curto
período supostamente democrático do país. A impopularidade do governo Temer é
justificada pelos diversos ataques aos direitos trabalhistas, privatizações,
entrega do pré-sal para empresas estrangeiras, ameaças de reforma na
previdência e, é claro, o fato do mesmo ter se estabelecido por meio de um
golpe constitucional elaborado em conjunto por diversos partidos políticos, grandes
meios de comunicação, setores empresariais e o sistema judiciário.
As eleições de 2018
então poderiam servir como um meio para que a população brasileira tenha o
poder de escolher melhores representantes e coloque para fora do poder aqueles
que atualmente controlam o país. Mas será que a população realmente terá poder
de escolha? O Brasil, em termos geopolíticos, é um país intermediário. Não é
nem de um país completamente aliado aos interesses dos países imperialistas
(Estados Unidos, França e Inglaterra) nem um país que luta diretamente contra
os desmandos das grandes potências, como fazem a Síria e a Coreia do Norte.
Portanto, a situação política nacional é marcada por muitas contradições. Por
mais que estejamos sob o domínio do capital nos impondo liberalismo econômico e
da grande mídia os impondo liberalismo cultural, existem variáveis de cunho
político muito difíceis de serem completamente controladas: as mudanças de
cunho cultural ocorrem de maneira muito mais lenta do que o esperado (perceba as
recentes mobilizações contra o banco Santander e o Museu de Arte Moderna) e o
liberalismo econômico ainda é uma visão muito impopular no Brasil. O Brasil,
portanto, é sempre um país alvo de uma intensa disputa entre grupos altamente
dispares.
Agora, em se tratando
das eleições de 2018, particularmente as eleições presidenciais, temos um
cenário muito fragmentado, comparável ao de 1989 que deu vitória a Fernando
Collor de Melo. São ao todo 6 ou 7 possíveis candidatos com um certo poder de
mobilização. Mas a maioria deles não são realmente interessantes para os donos
do poder. O que vai tentar se impor no país em 2018 será um candidato
tipicamente liberal: centrista, avesso a posições “extremadas” e aliado de
grandes grupos econômicos ou da mídia monopolista. Pessoas como Geraldo
Alckmin, Marina Silva ou mesmo Luciano Huck são as possibilidades que mais se
adequam a este perfil. Mas dado a desmoralização do governo atual e ao fato de
que todos os candidatos apoiam direta ou indiretamente o que vem sendo feito
pela turma de Michel Temer, eleger um candidato liberal não será uma tarefa
fácil. Apesar de não existir no Brasil um candidato viável completamente
iliberal, existem diversos obstáculos que deverão ser vencidos para a vitória
de um candidato puramente liberal em 2018, como ocorreu em 2017 na França,
quando Macron venceu Marine Le Pen e o candidato socialista sequer chegou ao
segundo turno. Para vencer esses obstáculos, será necessário o cumprimento de 3
objetivos que serão explicados abaixo.
Etapa
1 de 3: Inviabilizar
a candidatura de Lula
Lula é, sem dúvidas, a
maior ameaça atual para o liberalismo tupiniquim. Ele é um político com
capacidade de mobilizar grandes contingentes de pessoas, é apoiado por numerosas
bases sociais e sindicais importantes e é o principal nome do Partido dos
Trabalhadores, que é o menos liberal dentre os 3 grandes partidos (PSDB, PMDB e
PT). Com Lula nas eleições, fica mais
difícil para um candidato do PSDB ou apoiado pela Globo vencer as eleições.
Mesmo que o anti-lulismo ainda seja muito forte, só o fato de Lula
participar das eleições já garante que haverá uma intensa mobilização contra o
candidato adversário, e isso é algo que a os antilulistas de direita querem
evitar a todo custo, pois mesmo que tentem esconder, serão facilmente vistos
como cúmplices de tudo o que de ruim existe no governo atual. Tirar Lula da
jogada é o passo mais importante para garantir a vitória de um liberal “puro”
em 2018. É também o passo mais arriscado pois poderia acarretar uma grande
revolta popular.
Etapa
2 de 3: Enfraquecer
ou invalidar a candidatura de Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro é um
político direitista de matriz neoconservadora que ascendeu junto ao crescimento
do “olavismo cultural” e da nova direita que saiu do armário. Apesar de ser de
direita (ou seja, anticomunista, contra movimentos sociais, em favor do
capitalismo e entreguista), Bolsonaro não é um candidato ideal por dois motivos
principais: 1 - está diretamente ligado a interesses corporativistas militares
(o que suja a sua imagem de liberal, principalmente por ter defendido diversas
vezes a memória do período militar) e 2 – tem posições muito conservadoras com
relação aos costumes (vide acusações constantes de racismo, machismo e
homofobia). Bolsonaro defende o liberalismo econômico com conservadorismo
social. Portanto, poderia ser considerado um republicano nos Estados Unidos.
Este perfil se contrasta com os políticos do Partido Democrata, que são
progressistas ou, no máximo, moderados na questão moral e moderadamente
liberais na economia. Portanto, ele também se contrasta com os políticos que
ainda dominam o PSDB. Além disso, os eleitores de Bolsonaro são, em sua
maioria, pessoas que votavam ou votariam nos tucanos pela falta de uma opção
mais alinhada com suas opiniões. Portanto, apesar de parecer contraditório,
Bolsonaro é uma ameaça para o liberalismo. Não só por ser muito mais
conservador social do que os liberais estão dispostos a aceitar, mas porque,
caso ele vá para um eventual segundo turno contra um candidato de esquerda,
seria muito incoerente da grande mídia, depois de passar anos promovendo
progressismo social apoiar alguém tão conservador. Uma disputa entre Bolsonaro
e Lula seria o pior cenário, pois a grande mídia não teria um candidato para
apoiar (vide recentes capas da Istoé e Veja colocando Lula e Bolsonaro como
extremistas).
Etapa
3 de 3: Garantir a
vitória do candidato mais liberal no segundo turno
Caso a retirada de Lula
das eleições tenha de fato ocorrido e a candidatura de Bolsonaro tenha se
desidratado ao longo do ano a ponto de não colocá-lo no segundo turno, teríamos
o seguinte cenário provável: um candidato liberal contra algum candidato de
centro-esquerda que teria apoio de Lula e do PT. Ciro Gomes é um nome provável
que se encaixaria nesse cenário. A etapa final do liberalismo seria garantir a
derrota deste candidato de centro-esquerda em favor de um liberal puro que
teria chegado ao segundo turno. Claro que só o fato de termos um candidato do
sistema no segundo turno e Lula não estar nas eleições já seria uma grande
vitória independentemente do resultado. Mas a cereja do bolo seria, de fato, a
vitória de um candidato que não tem relações com a esquerda econômica nem com a
direita cultural.
Se todas essas etapas se
cumprirem, o liberalismo terá, de fato, triunfado em 2018. Será que os
brasileiros deixarão que isso aconteça?
Fontes:
Bem colocado. Mas é bom lembrar que pode sequer haver eleições, havendo também duas outras estratégias Não-Eleitorais: o "golpe do parlamentarismo" e Intervenção Militar.
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