Foto – Hašim Taçi e George W. Bush em
Washington.
Em
três de junho de 2017 mais um atentado ocorreu na Inglaterra. Em Londres a
ponte da capital (onde os terroristas atropelaram os pedestres com uma van) e o
Borough Market (onde pessoas que estavam nos restaurantes e bares do local
foram esfaqueadas) foram alvos de ataques. Saldo da tragédia: 10 mortos (sete
vítimas e três terroristas) e 48 feridos. Assim como o atentado em Manchester,
o Estado Islâmico também o reivindicou por meio de sua agência AMAQ.
No
dia seguinte, a premiê Theresa May, em pronunciamento à imprensa após reunião
com o comitê de segurança, disse que “temos que ter uma estratégia robusta.
Temos que revisar a estratégia contra-terrorista no Reino Unido. Se tivermos
que aumentar as penas, faremos isso. Chegou a hora de dizer: basta. Nossa
sociedade precisa continuar com os nossos valores”. Ainda disse que os ataques
em Manchester e em Londres não estão conectados entre si, mas mostram uma nova
“onda” onde “terrorismo gera terrorismo” e evidencia que eles estão “copiando
uns aos outros e usando as mais cruéis formas de ataque”.
Ora,
do que adiantará aumentar o rigor da lei se a Inglaterra, a França e outros
países europeus não mudar sua políticas no Mundo Islâmico? Ou seja, parar de
apoiar Arábia Saudita e as outras petro-monarquias locais (algo que remonta ao
século XVIII) e de se envolver em guerras de saqueio imperialistas a reboque
dos Estados Unidos, como a guerra contra a Líbia em 2011? Nada, de nada
adiantará. Isso é apenas atacar os sintomas de uma doença, mas não a causa.
Arrancar a erva daninha que está a vista no solo, mas não a raiz que está
abaixo do solo. Nada mais que isso. E quem não garante que alguns desses
terroristas presos na Inglaterra eventualmente depois não serão utilizados pela
mesma Inglaterra em guerras no Mundo Islâmico onde esses sujeitos cerrarão
fileiras em grupos como o Estado Islâmico e a Al Qaeda contra regimes que eles
queiram derrubar, tal como fizeram com Kadaffi na Líbia e que vem fazendo com
Assad na Síria desde 2011? Até por que o que realmente gera terrorismo não é o
terrorismo em si, e sim a política de caos e de quanto pior melhor do Ocidente
no Mundo Islâmico.
Além
disso, tal atentado, assim como outros que antes aconteceram e outros que ainda
estarão por vir, é o sintoma do início de um processo de kosovização da Europa.
Tal questão foi levantada pela primeira vez em novembro de 2008 quando Andreas
Melzer, então deputado pelo Partido da Áustria Livre, durante a reunião do
Parlamento europeu que a Europa futuramente possa ter o mesmo destino que os
sérvios de Kosovo tiveram nas mãos de grupos terroristas como o Exército de
Libertação de Kosovo durante os anos 1990 e 2000. Kosovo sempre foi uma terra
pertencente à Sérvia desde os primórdios da história da nação eslava meridional,
até que em 2008, por meio de um referendo (o qual teve o beneplácito do
Ocidente “livre e democrático”. O mesmo Ocidente “livre e democrático” que
posteriormente repudiou o referendo que fez a Criméia voltar a ser parte da
Rússia em 2014), teve sua secessão em relação à Belgrado. Isso foi possível por
que a população albanesa, antes minoritária, se tornou majoritária devido a
altas taxas de natalidade, imigração da Albânia para Kosovo, políticas de
limpeza étnica (como as expulsões de sérvios durante a Segunda Guerra Mundial,
quando Kosovo era parte da Grande Albânia e mais recentemente o terrorismo
promovido por grupos como o Exército de Libertação de Kosovo a partir de 1989).
Segundo
dados de várias fontes (entre eles censos oficiais otomanos, sérvios,
iugoslavos e austro-húngaros), a população albanesa de Kosovo em 1455 era de
apenas 2%, cresceu para 30% em 1878, 50% em 1913, 70% em 1945 e 90% em 1991.
Hoje em dia, quase a totalidade da população kosovar é de etnia albanesa, enquanto
que os sérvios são uma minoria em vias de extinção. E não é só isso: após a
secessão de Kosovo da Sérvia, os EUA lá instalaram a base militar de Camp
Bondsteel, e se tornou uma das principais rotas de imigração da Península
Balcânica para a Europa central, principalmente para a Hungria e a Áustria, e
de lá para a Alemanha, a França, a Suécia e outros países europeus mais ricos.
Obviamente, buscando melhores condições de vida, algo que o estado-máfia
kosovar não pode oferecer. E junto com todo esse êxodo de kosovares Europa
adentro, tradições como as vinganças de sangue viajaram.
Foto – Andreas Melzer (foto
ilustrativa).
Segundo
a opinião do deputado austríaco e de muitos demógrafos europeus, não apenas a
Áustria, mas a maior parte de toda a Europa irá experimentar tal flagelo nos
próximos 50 anos, pois ao mesmo tempo em que a população europeia nativa
declina em termos numéricos, os imigrantes vindos de lugares como a África e a
Ásia, por terem taxas de natalidades maiores, se tornarão majoritários em
meados do século XXI. Segundo estudos do Departamento de Estatísticas do Estado
Britânico, em 2066 a Inglaterra terá mais imigrantes que habitantes nativos. Mais
recentemente, tal possibilidade foi aventada pelo professor sérvio Vladislav
Sotirović, professor da Universidade Mykolas Romeris em Vilna, Lituânia, no
artigo “Europe between Kosovization and Jihadization (Europa entre Kosovização
e Jihadização)”, publicado em seu blog em 14 de março de 2015.
Primeiro
o Ocidente “livre e democrático” desestabiliza o Mundo Islâmico, derruba e mata
governantes como Saddam Hussein e Muammar al-Kadaffi, coloca em sua mira Bašar
al-Assad e os aiatolás iranianos e cerca a Rússia e a China por meio de um
“cinturão verde”. Kadaffi disse que caso fosse deposto a Europa seria flagelada
por imigração em massa e o Mediterrâneo se tornaria um mar de caos. Agora que o
dique de contenção foi destruído, a Europa está literalmente vivenciando o
mesmo que o Império Romano vivenciou a partir dos anos 370, quando milhares de
refugiados godos foram deslocados da atual Ucrânia para as fronteiras romanas
após terem sido vencidos pelos hunos (os quais séculos antes tinham sido
vencidos pelos chineses em uma série de guerras na Ásia Central): um novo
volkerwanderung. Ou seja, uma nova grande migração de povos.
Passado
um tempo esses imigrantes desesperados e ideologicamente fanatizados por seu
envolvimento em conflitos no Mundo Islâmico ao lado de grupos salafistas como a
Al Qaeda e o Estado Islâmico, em solo europeu, se organizarão em grupos que farão
pressões para que se implante uma teocracia ao estilo saudita em seus
respectivos países. Se nada for feito contra tal tendência, fatalmente
aparecerá um Emirado do Cáucaso na Alemanha, um Boko Haram na Suécia, um
Exército de Libertação de Kosovo na França, um Estado Islâmico na Inglaterra,
um Front Al Nusra na Holanda ou uma Al Qaeda na Noruega. Se nada for feito
contra isso, a aparição de tais grupos que vão fazer as mesmas chacinas e
intimidações que o Exército de Libertação de Kosovo fazia com os sérvios de
Kosovo e o Emirado do Cáucaso fazia contra os russos do Cáucaso é apenas
questão de tempo. E assim crises como a que a Síria e a Líbia hoje se debatem
vão se repetir e desta vez não será no Oriente Médio, no norte da África ou em
algum rincão periférico da Europa, e sim em grandes metrópoles do coração da
Europa como Berlim, Paris, Hamburgo, Hannover, Londres, Copenhagen, Amsterdã,
Oslo, Turim, Milão, Berna, Zurique, Estocolmo, Helsinque, Trondheim, Viena, Munique,
Nice, Manchester, Eindhoven, Dortmund, Estrasburgo, Liverpool, Barcelona,
Marselha e outras tantas. Algumas dessas cidades que em suas áreas periféricas
já têm seus guetos onde a situação é tal que nem mesmo a polícia entra, as
chamadas no-go zones.
E
se algum governante europeu eventualmente resolver propor-se a combater tal
flagelo, que nem Slobodan Milošević[1] fez na Bósnia e em Kosovo
nos anos 1990 e mais recentemente Marine Le Pen nas eleições francesas,
fatalmente será demonizado e achincalhado pelos grandes meios de comunicação
com porretes linguísticos tais como “fascista”, “nazista” e “racista”. Ou mesmo
sofrer as ditas “intervenções humanitárias” da OTAN, como a que ocorreu em 1999
contra a Iugoslávia. A situação é tal que o prefeito de Londres, uma das
principais capitais europeias, não é um inglês nativo e sim um paquistanês cujo
nome atende por Sadiq Khan[2], e o atual presidente
francês, Emmanuel Macron, afirmou uma vez que não existe cultura francesa, e
sim cultura na França. Por aí vemos que na hora em que a situação apertar, a
Europa que nós conhecemos estiver na bacia das almas e atolada na lama de tal
maneira que não dará mais para ser salva, como se estivesse com um câncer em
estágio de metástase celular, pouca ou nenhuma resistência efetiva poderá
oferecer a tal problema. Com uma elite político-econômica dessas, que não tem o
menor pudor em importar centenas ou milhares desses imigrantes para usá-los
como exército industrial de reserva em suas fábricas contra reivindicações
trabalhistas e como massa de manobra eleitoral para que vote em candidatos que
não terão o menor pudor em fazer políticas de austeridade e redução/extinção de
direitos como as que Michel Temer (vulgo Conde Drácula) tem feito na Terra
Brasilis, não se dá conta do perigo civilizatório em que se encontra, a Europa
se encontra condenada a ter o mesmo destino que Roma teve nos séculos IV e V.
Ou os europeus se livram dessa gente ou a kosovização da Europa será algo
inexorável. Os últimos atentados em países como França e a Inglaterra nada mais
estão mostrando que o preço do envolvimento europeu nessas guerras de saqueio
imperialista já está sendo cobrado. Esse tipo de coisa, como já dito
anteriormente, não se combate com pedidos de amor, paz e compreensão e muito
menos cantando músicas do tipo “Imagine” de John Lennon como muitos ingênuos
pensam, e sim enfrentando essa gente no campo de batalha e ao mesmo tempo
denunciando a todos a histórica relação espúria do terror salafista com o
Ocidente “livre e democrático”, assim como exigir que as nações europeias
deixem de participar de tais guerras no Mundo Islâmico. Ou seja, tal combate não
se faz com flores e corações, e sim com fuzis, espadas, lanças, baionetas,
metralhadoras e bombas.
E
me pergunto será que essa kosovização da Europa não faz parte da agenda de
gente poderosa dentro dos círculos de poder que mandam nas nações europeias por
trás das cortinas do poder, assim como do Pentágono, do Departamento de Estado
norte-americano e outras altas instâncias de poder dentro dos EUA para o Velho
Continente (que estão acima do presidente, diga-se de passagem), de forma a
fazer com que futuramente a Europa se torne a fronteira ocidental do “cinturão
verde”[3] contra a Rússia? Ainda
mais levando em conta que historicamente o grande temor geopolítico das
potências anglo-saxônicas sempre foi o de uma articulação entre a Europa e a
Rússia?
Foto – Kosovo é Sérvia.
Fontes:
A
verdade sobre Kosovo. Disponível em:
Claudio
Mutti – uso ocidental do islamismo. Disponível em:
Estado
Islâmico assume autoria do ataque em Londres. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/estado-islamico-assume-autoria-do-ataque-de-londres.ghtml
Europe between Kosovization and Jihadization (em inglês).
Disponível em: http://vsotirovic.home.mruni.eu/2015/03/14/article-by-vladislav-b-sotirovic-europe-between-kosovization-and-jihadization/
Kosovo
– a verdade oficial e oculta (I). Disponível em:
Kosovo
independence precedent (em inglês). Disponível em:
No-go
area (em ingles). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/No-go_area
The real history of Zbigniew Brzezinski that the Media
isn’t telling (em inglês). Disponível em: http://theantimedia.org/real-story-zbigniew-brzezinski/
Was Kosovo deliberately created as an enemy base for launching
Moslems into Europe? (em
inglês). Disponível em: https://www.dailystormer.com/was-kosovo-deliberately-created-as-an-enemy-base-for-launching-moslems-into-europe/
NOTAS:
[1] Leia-se “Milochevitch”. Em idiomas da
Europa centro-oriental como o servo-croata, o tcheco, o eslovaco, o esloveno, o
lituano e outros, as partículas š e ć tem o mesmo valor do ch e do tch no
português e no francês, respectivamente.
[2] Leia-se “Rran”. Em idiomas como o
russo, o mongol, o farsi e o persa a partícula kh (cirílico х) tem o mesmo som
do j no espanhol e do ch no alemão: r aspirado.
[3] Idéia geopolítica norte-americana que
consiste do fomento a grupos fundamentalistas islâmicos reacionários em países
de maioria islâmica no entorno da União Soviética como meio de enfraquecer o
país no médio e longo prazo, de forma a cercar Moscou com regimes teocráticos
de estilo saudita em suas fronteiras meridionais. Um dos principais teóricos
dessa ideia foi o recém-finado polaco-americano Zigbiniew Brzezinski, assessor
de segurança nacional durante o governo Carter.
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