Por Leonid Savin (Traduzido por Lucas Novaes)
Depois do Brexit e do avanço significativo da influência dos
eurocéticos e dos populistas na Europa, a incerteza no rumo da União Europeia
parece não ser mais questionada. Entretanto, o futuro permanece aberto e,
portanto, há mais de um cenário possível.
O Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos propõe três
opções para o desenvolvimento dessa situação: duas negativas e uma positiva.
Um Cenário de Colapso tem baixa possibilidade de ocorrer, mas
implicaria altos riscos internacionais. Nesse cenário, empresas domésticas e as
famílias respondem a indicações de uma iminente mudança no regime monetário com
corrida para retirar seus euros depositados em empresas nacionais. Seguindo-se
do contágio para outros estados-membros e dano econômico para os países
principais, o euro seria a primeira vítima a cair. A União Europeia como
instituição seria provável vítima colateral, porque o mercado único e a
liberdade de movimento por toda a Europa ficariam ameaçados pela reinstituição
de controles sobre capitais e fronteiras. Nesse cenário, deslocamento econômico
severo e fratura política levariam a uma ruptura na sociedade civil. Se o
colapso for repentino e inesperado, muito provavelmente disparará uma recessão
global ou outra Grande Depressão.
Num Cenário de Declínio Lento, a Europa consegue escapar dos aspectos
piores da atual crise, mas não consegue fazer as reformas estruturais
necessárias. Como os estados-membros já vêm de vários anos de baixo
crescimento, mantêm-se unidos para evitar maiores rupturas políticas e
econômicas. As instituições da UE são mantidas, mas o descontentamento das
populações mantém-se alto. O euro sobrevive, mas não a ponto de rivalizar com o
dólar ou o renminbi. Dados os muitos anos de baixo crescimento econômico, a
presenta internacional da Europa é reduzida; os países renacionalizam as
respectivas políticas exteriores.
Nosso terceiro cenário, de Renascimento, baseia-se no padrão bem
conhecido de crise e renovação, que a Europa já conheceu muitas vezes no
passado. Tendo olhado diretamente na cara do abismo, muitos líderes concordam
com promover um "salto federalista". A opinião pública apoia esse
passo, dados os riscos iminentes que advêm de se manter o status quo. Uma
Europa mais federal pode começar com apenas um grupo central de países da zona
do euro que escolham, optem ou adotem política de 'esperar-para-ver'. Ao longo
do tempo, apesar de haver uma Europa de várias pistas de velocidade, o mercado
único ainda seria completado; e definir-se-ia uma política de segurança mais
unida, com elementos reforçados da democracia europeia. Influência europeia
aumentaria, reforçando o papel da Europa e das instituições multilaterais no
palco mundial.
Ilaria Maselli, economista sênior para a Europa na The Conference
Board (associação independente de pesquisa de negócios), propôs quatro cenários
possíveis para a União Europeia:
Estagnação Continuada. Uma combinação de reforma inadequada e baixo
crescimento global prolonga o clima presente. Esse cenário traz vantagens
principalmente para empresas focadas na demanda doméstica, e muito do
crescimento lento advém do gasto dos europeus em consumo. O investimento do
setor privado hesita ante a alta incerteza política, enquanto o investimento
público fica paralisado pelo medo de se separar com firmeza e para sempre, da
'austeridade' [de fato, é arrocho].
Um reset Uma combinação de reforma e crescimento global mais alto
resulta num 'reset'. Sob o guarda-chuva da UE, os governos renovam seu
compromisso com investimento futuro e removem barreiras comerciais. Renovam
também a atenção à desigualdade de renda e de riqueza, dentro de cada país e
entre os países. Ventos de popa de crescimento global ajudam a financiar o
esforço, bem como a decisão de pôr fim ao quadro da 'austeridade' [de fato, é
arrocho] e aumentar os gastos do estado mediante um orçamento único menos
rígido. Porque muitas diferentes fontes e fatores contribuem para o
crescimento, businesses de todos os setores beneficiam-se nesse ambiente. A
vida é bela, mesmo que não seja igualmente bela em todos os pontos. Esse
cenário exige também que um subconjunto dos 27 países mova-se na direção de uma
união política.
Na corda bamba. Uma combinação de reforma institucional no nível
europeu com fraco crescimento global leva a alta incerteza. A decisão de
reformar vem em resposta a pressões por todo o continente, incluindo o Brexit.
Resultado disso, os estados-membros e a União Europeia têm de andar numa corda
bamba entre gerenciar aspirações e criar crescimento suficiente. Reformas
demoram a gerar os resultados que se esperam, e no meio tempo, o crescimento da
produtividade pode tornar-se mais lento. Por causa da fraca demanda externa, os
gastos do governo desempenham papel substancial para estimular a economia.
Assim sendo, esse cenário mais favorece os negócios do que garante o provimento
de serviços públicos
Só Conversa (promessas verbais, mas nenhuma ação). Publicamente, os
países não se cansam de 'promover' a integração europeia, mas na realidade
encontram as respectivas fontes de financiamento fora do bloco. Nesse ambiente,
negócios bem-sucedidos incluem principalmente os exportadores localizados na
Europa Continental – seus empregados, fornecedores e também os acionistas. Numa
combinação com reforma inadequada, a existência do Mercado Único só beneficia
alguns países, enquanto a renda em outros torna-se estagnada; assim só crescem
as fraturas que dividem a Europa.
Se a situação é considerada objetivamente, nesse caso os dois
cenários positivos (um Renascimento, na versão dos EUA; e um Reset(na versão da
UE) mostram-se praticamente irrealizáveis. As instituições políticas da UE
estão tomadas por controvérsias. A burocracia não consegue dar conta dos
desafios correntes, e o impacto das forças externas (por exemplo, a situação na
Romênia) pode ainda desempenhar papel crítico. O evidente esfriamento das
relações entre EUA e Alemanha, mesmo no plano retórico, além do colapso da
Parceria Trans-Pacífico exacerbam a atual situação.
Quais são as expectativas russas e qual o prognóstico para o provável
futuro da Europa? Ironicamente, a Rússia está interessada numa Europa unida e
estável. Mas só há uma condição: tem de ser ator independente, mesmo sendo
coletivo. Até agora Bruxelas tem sido uma das peças com que Washington joga no
tabuleiro de xadrez da Eurásia. As sanções contra a Rússia, o Projeto da
Parceria Ocidental, a Operação "Decisão Atlântica" [Atlantic Resolve]
da OTAN – nenhum desses arranjos ou combinações são decisões autenticamente
europeias.
Mesmo que se considere uma possível melhora nas relações Rússia-EUA,
é indispensável alguma espécie de revisão da integração euroatlântica, para que
possa haver relação de confiança entre Moscou e Bruxelas. Idealmente, a
integração euroatlântica tem de ser substituída pela integração eurasiana.
Mas a Rússia deve estar preparada para o cenário possível do colapso
da UE.
Nesse caso, relações bilaterais com países chaves na região têm de
ser intensificadas, embora isso não signifique que as preferências se façam à
custa de outras partes. Antes da imposição das sanções, o principal núcleo das
relações de exportação-importação entre Rússia e a UE estava na Alemanha,
Países Baixos e Itália. As novas condições dos tempos (segundo Fernando
Braudel) podem alterar o equilíbrio do poder e as preferências.
Além disso, a base demográfica da UE mudou. Os problemas dos
refugiados e migrantes dificilmente serão resolvidos no futuro próximo.
Enquanto dentro da UE há algumas ilhas liberais, africanos e asiáticos
continuarão a entrar na península europeia e a ali criar seus ghettos e
enclaves étnicos. Isso, por sua vez, afetará as políticas sociais e econômicas
em vários países. Como a experiência já mostrou, a assimilação baseada no
multiculturalismo não é viável. Mas a liderança da UE não parece pronta a tomar
quaisquer medidas radicais, por causa da natureza das culturas políticas da UE.
Basta isso para levar ao poder na UE novas forças da contra as elites? No
mínimo, essa parece ser a tendência. Esse cenário pode, talvez, ser alcançado
mediante procedimentos democráticos.
A grande "pedra no sapato" me parece ser justo a questão populacional. Como não parece haver sinal algum de que Bruxelas irá parar de insistir em matar a cultura européia tanto a nível genético quanto memético, é inevitável que a população estrangeira, em especial muçulmanos, continue crescendo, com muitos valores incompatíveis com as tendências contemporâneas. Inevitavelmente políticos muçulmanos começarão a alçar o poder com cada vez maior frequências, e isso, em contrapartida, terminará por promover um aumento ainda maior da xenofobia, conflitos étnicos, eurosceptism e nacionalismo.
ResponderExcluirAcho difícil a UE sobreviver a esse quadro.