Foto
– Juiz Sérgio Moro, o falso herói (imagem ilustrativa).
Na última quinta-feira,
dia 2 de fevereiro de 2017, a ex-primeira dama do Brasil, Dona Marisa Letícia,
veio a falecer aos 66 anos de idade, após ter sofrido um AVC na semana anterior
seguido de alguns dias de internamento no Hospital Sírio-Libanês. Presto aqui
minhas condolências a Lula e toda sua família e que a Dona Marisa agora
descanse em paz nas mãos do Criador.
Algumas pessoas em redes
sociais colocaram na conta do juiz Moro a morte da esposa de Lula. Entretanto,
há de se ressaltar que as ações do juizeco provinciano (o qual no ano passado
divulgou ilegalmente na mídia uma conversa da ex-primeira dama com seu filho onde
ela demonstra indignação com os paneleiros. Tal áudio foi depois utilizado pela
imprensa golpista de forma a constrangê-la e humilhá-la) em conluio com os
veículos da grande imprensa nacional não criaram do nada magicamente os
problemas de saúde que a Dona Marisa tinha. Ela já tinha tais problemas de
saúde há 10 anos. Em outras palavras, a bomba já estava lá há algum tempo.
Entretanto, para que uma bomba exploda, ela precisa ser acionada. E quem a
acionou foi justamente as ações da República de Curitiba (obviamente em conluio
com a grande imprensa) ao exercer tamanha pressão psicológica e emocional sobre
ela e sua família. Também vi algumas pessoas em redes sociais ridicularizando
as afirmações de que as investigações da República de Curitiba teriam levado a
Dona Marisa para a cova. A essas pessoas, só lhes digo o seguinte: ponham-se no
lugar do Lula e seus familiares. Por um acaso vocês acham que é brincadeira a
pressão psicológica e emocional e todo o desgaste dele advindo que o conluio
mídia de massa-República de Curitiba lhes infligiu acusando-lhes de tudo quanto
é coisa frívola, perseguindo-lhes ferozmente e querendo a todo custo prender o
Lula (vale ressaltar que o golpe, para sua consolidação, precisa que Lula seja
preso ou então inabilitado de disputar as eleições 2018), com direito a seus
nomes aparecendo nos jornais praticamente que o tempo envolvido em escândalos
esdrúxulos? Não se esqueçam de que foi sob uma pressão desse tipo que Getúlio
Vargas se matou em 1954.
Aproveito esse momento
não só para deixar minhas condolências a família Lula, mas também para falar a
respeito de certo personagem (o qual com o poder e o prestígio que tem agora
não vai parar por aí) e sua real face. Na semana retrasada, tive uma discussão
no Facebook com alguns indivíduos, que postaram uma notícia a respeito do
recente discurso da presidente deposta Dilma Rousseff na Espanha. Lá eu disse que
o juiz Moro não é flor que se cheire, e um deles me perguntou se eu pertencia a
alguma quadrilha criminosa ou coisa do tipo por ter dito aquilo. Outro disse
que o juiz Sérgio Moro, por supostamente ser um herói que combate o flagelo da
corrupção no Brasil, não pode ser criticado. Ou seja, fui apedrejado
verbalmente por esses indivíduos só por ter ousado criticar o juizeco de
Maringá (e ainda bloqueado por um deles).
Mais uma vez estou
usando o espaço do blog para lavar roupa suja de discussões de fóruns e redes
sociais. Como dito em um artigo anterior, não acho que aqui seja o espaço
adequado para tal, mas levando em consideração a veneração que o juiz
paranaense tem entre parte significativa da população brasileira e vendo o grau
de bovinidade da população quanto a isso (que se manifesta, por exemplo, nas
manifestações de rua verde-amarelas em que eles prestam apoio ao juizeco), resolvi
tratar disso no presente artigo. Por várias razões o juiz Moro, ao contrário do
que a boiada pensada, não é o herói e o paladino que eles pensam que é. E por
que não é? Abaixo serão listadas algumas razões pelas quais essa imagem que se
criou em torno dele e da Operação Lava Jato não passa de uma farsa, uma
ideologia barata criada pelos grandes meios de comunicação como a Rede Globo e
a Revista Veja. Esse artigo é destinado especialmente a você, plebeu, que apoia
de forma incondicional as ações do juiz Moro, Dallagnol e companhia limitada e
que fica jogando confete para ele em manifestações de rua e em redes sociais,
para lhe mostrar o que você está apoiando com isso e a que está levando.
Foto
– Marisa Letícia Lula da Silva (1950 – 2017).
Caráter de classe elitista
da justiça brasileira – Para começo de conversa, a justiça brasileira possui um
caráter de classe elitista muito forte. A boiada, do alto de sua mediocridade,
pensa que gente como Moro, Dallagnol e companhia limitada são como se fossem
paladinos da justiça e da moralidade e que legislam pelo bem comum da sociedade
brasileira de forma abnegada. Nada mais falsa tal imagem. Gente como Moro, Dallagnol
e companhia limitada acima de tudo defendem os interesses de classe de sua
categoria e legislam em favor da classe dominante. Ou seja, a justiça que eles
exercem está muito mais voltada para atender aos interesses de FIESP, FEBRABAN,
Itaú, Santander e bancada ruralista que aos favelados do Rio de Janeiro ou os
retirantes nordestinos. Ou será que é por um mero acaso que o Maluf dizia “eu
confio na justiça brasileira”? Pois se há algo que a Operação Lava Jato
escancarou ao Brasil a respeito do judiciário é justamente tal fato.
Para uma pessoa poder se
tornar juiz aqui no Brasil, o indivíduo precisa, além de fazer um concurso
público e estudar direito durante muitos anos em uma faculdade de magistratura,
fazer uma entrevista pessoal onde tem grande peso fatores como o fato de a
pessoa pertencer a uma família tradicional e ter amizades com autoridades
constituídas do status quo vigente,
entre elas políticos tradicionais e grandes empresários. Isso para não falar do
fato de que não existem eleições para a ocupação de cargos dentro do
Judiciário. Tudo isso visando à perpetuação ad
eternum do status quo
privilegiado da classe dominante nacional.
Segundo matéria do site
DCM a respeito das raízes familiares do juiz Moro, filho de professores reacionários
de Maringá, só foi andar de ônibus pela primeira vez aos 18 anos e até próximo
aos 30 anos não sabia o que era um pobre. Seu pai, Dalton Áureo Moro (falecido
em 2005), teria sido segundo a mesma matéria ocupado um cargo público nomeado
por políticos da ARENA (o partido de sustentação ao Regime Civil-Militar), era frequentador
do Country Club da cidade (clube de elite onde o título hoje custa cerca de R$
30 mil) e um dos fundadores do núcleo tucano de Maringá. Em 2002, Dalton Moro
teria ido a uma locadora de Maringá e ao saber que seu dono ia votar no Lula no
pleito presidencial daquele ano, disse que nunca mais entraria naquele
estabelecimento por causa de sua opção política. Ou seja, o background social e
ideológico perfeito para ser aceito como juiz pela elite brasileira.
Vida nababesca – A
coxinhada gosta de falar que Lula, Dona Marisa, Dilma e outros petistas (e que
a mídia de massa vive reverberando periodicamente) desfrutaram de supostas
mordomias enquanto estiveram no poder, a tal ponto que nas redes sociais alguns
desses elementos que torceram pela morte da ex-primeira dama do Brasil após a
notícia que ela teve um AVC tem que se tratar no SUS. Mas e o paladino deles,
cuja categoria é notória por seus salários altíssimos, geralmente muito acima
do salário da maioria da plebe do país e levar uma vida cheia de mordomias,
como fica? Segundo dados do site TRF4, em janeiro último o juiz Moro recebeu no
total a quantia de R$ 61.056,61, e em dezembro do ano passado R$ 102.151,58. Ou
seja, ele é um parasita que vive à custa do Estado Brasileiro.
O Brasil possui uma das
justiças mais caras do mundo (para além de ineficaz, classista e partidária até
a medula), que anualmente consome cerca de 2% de todo o orçamento da União
(isso ao mesmo tempo em que o Bolsa Família só consume 0,47% e as Forças
Armadas 1,40% do mesmo orçamento). Também é comum juízes ganharem salários
acima do teto permitido por lei, que é de R$ 33.763,00. Uma breve pesquisa no
TRF4 mostra bem isso.
Caso Banestado – O Caso
Banestado foi um caso que envolveu o envio ilegal de US$ 124 bilhões para o
exterior por meio do sistema financeiro público brasileiro na segunda metade
dos anos 1990. Em 2003 foi feita uma investigação federal, seguido da
instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
E sabem quem foi o juiz
desse caso? Sérgio Fernando Moro. E sabem quem era o doleiro desse caso? O
mesmo Alberto Yousseff que se encontra sob a mira da República de Curitiba.
Entretanto, tal caso não teve a mesma repercussão que o Petrolão teve.
Apurou-se que cerca de US$ 124 bilhões foram enviados e depois lavados no
exterior e que estiveram envolvidas grandes empresas como a Rede Globo e
políticos de alto escalão (entre eles tucanos de alta plumagem). Entretanto, as
investigações desse caso terminaram em pizza. Ou seja, deram em nada. Como
sempre acontece em casos de corrupção tupiniquins, se jogou pesado contra
laranjas e apenas bodes expiatórios foram presos. Mas os chefões do esquema não
foram pegos. Tucanos e aliados foram denunciados pelo procurador Celso Três e
pelo delegado José Castilho, que por sua vez se deram mal, tiveram suas
carreiras encerradas e desde então se tornaram críticos das instituições em que
trabalham. Esse foi o primeiro grande caso que esteve nas mãos de Moro.
Partidarismo – Se há
algo que o juiz Moro demonstrou ao longo das investigações da Operação Lava
Jato é que ele é um sujeito extremamente partidário. Haja vista que ele, ao
mesmo tempo em que persegue ferozmente os petistas e seus aliados, passa a mão
na cabeça dos tucanos deletados, alguns deles de alta plumagem (entre eles José
Serra, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e Geraldo Alckmin). Além disso,
ele já deu palestras para João Dória, o atual prefeito de São Paulo. No que o
torna em nada mais que um político togado.
Foto
– Moro e Dória.
A própria família de
Moro, diga-se de passagem, possui estreitas ligações com o tucanato (o qual é o
partido favorito da maioria esmagadora dos juízes e magistrados do Brasil). O
seu pai, como dito no primeiro item, teria sido um dos fundadores do núcleo tucano
de Maringá. Sua esposa, por sua vez, segundo matéria originalmente publicada em
2014 no i9, é assessoria jurídica de Flávio José Arns (o vice do governador do
Paraná, o tucano Beto Richa e sobrinha de Zilda Arns e Dom Paulo Evaristo Arns)
e é membra do escritório de Advocacia Zucolotto Associados de Maringá, o qual
defende várias empresas do ramo petrolífero (entre elas a INGRAX e a Helix da
Shell Oil Company [subsidiária nos EUA da Royal Dutch Shell, multinacional
petrolífera de origem anglo-holandesa, uma das maiores do ramo no mundo e uma
das principais concorrentes de mercado da Petrobrás] e do ramo de farmácias e
clínicas médicas). Ou seja, ela é ligada a uma das principais concorrentes de
mercado da Petrobrás. Além disso, seu irmão César é igualmente raivosamente
anti-petista.
O surgimento da Operação
Lava Jato – Segundo o jornalista Pepe Escobar, a operação Lava Jato começou da
seguinte forma: os EUA precisavam escolher uma parte do sistema judiciário
brasileiro para que pudesse se acomodar a seus interesses, e assim escolheram o
juiz Moro, que já tinha trabalhado no Departamento de Estado dos EUA anos antes
e que já estava em sua lista de contatos, para iniciar tal operação. De um dia
para outro, caíram nas mãos do juizeco paranaense uma quantidade gigantesca de
informações obtidas sobre tudo o que acontecia nos altos escalões da Petrobrás.
De onde veio essas informações? Por meio dos dados obtidos por meio da
espionagem feita pela NSA (National Security Administration) sobre a Petrobrás
(que como todos nós sabemos existe todo um interesse dos grandes conglomerados
petrolíferos internacionais em se apoderar do pré-sal). Tal espionagem, que
também se estendeu ao governo brasileiro, foi denunciada por Edward Snowden e
pelo Wikileaks, mas não teve a devida atenção da parte da presidente Dilma (a
qual teve seu celular espionado na época). Um de seus informantes era um
sujeito que fazia mercado negro de dólar, que era a cobertura dessa operação
toda. Assim teve início a Operação Lava Jato, cujo objetivo inicial era
supostamente desmontar uma “célula criminosa” dentro da empresa estatal.
Acompanhado de vários procuradores regionais e alguns outros nacionais,
identificaram suspeitos dentro da Petrobrás e fizeram toda uma ligação entre
Petrobrás e várias empreiteiras. E assim a Operação Lava Jato deu seus
primeiros passos, ainda em 2014.
Ilegalidades – Por
muitos juristas, o juiz Moro cometeu uma série de ilegalidades no curso de suas
investigações, e a mais notória delas foi a divulgação na imprensa de conversas
telefônicas entre Lula e Dilma. Posteriormente, ele, que vive falando que os
Estados Unidos são um exemplo a ser seguido pelo Brasil, foi questionado pelo
deputado petista do Rio Grande do Sul Paulo Pimenta, que lhe perguntou o que
aconteceria com um juiz de primeira instância de um Estado dos Estados Unidos caso
divulgasse na imprensa uma conversa telefônica por ele captada entre Bill
Clinton e Barack Obama ou de uma condução coercitiva como a feita contra Lula
para gerar manchetes na mídia de massa. Diante dos questionamentos de Paulo
Pimenta, o juizeco de Maringá se esquivou de respondê-lo. Também fez o mesmo
com a já citada conversa entre Marisa Letícia e seu filho onde ela se indigna
diante dos paneleiros.
O que ele tem feito
contra Lula e sua família é algo que alguns especialistas chamam de lawfare. Law em inglês significa lei, e fare
vem de warfare, que significa guerra,
estado de guerra. Em outras palavras, lawfare
consiste do uso de dispositivos legais para atingir um determinado alvo
político, e tudo isso com um verniz de legalidade para justificar tal ato
perante a população acompanhado de ampla cobertura da imprensa, de forma a
constranger o inimigo diante das acusações (por mais fajutas, ridículas e sem
provas que sejam). Procedimento semelhante tem sido feito na Argentina contra
Cristina Kirchner e no Paraguai contra Fernando Lugo, os quais tal como Lula
aqui no Brasil despontam como líderes em intenções de votos em pesquisas
eleitorais.
Vende-Pátria – Segundo
documentos do Wikileaks, o juiz Sérgio Moro, junto com outros de seus colegas
da Operação Lava Jato, participou do seminário “Projeto Pontes: construindo
pontes para a aplicação da lei no Brasil”, realizado no Rio de Janeiro em
outubro de 2009, que contou com a presença de membros seletos da Polícia
Federal, Judiciário, Ministério Público e autoridades norte-americanas. Juízes
e promotores federais de todos os estados brasileiros, além de 50 policiais
federais, participaram desse seminário, que também contou com participantes do
México, Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai. Tal seminário buscava
consolidar treinamento bilateral de aplicação das leis e habilidades práticas
de contraterrorismo. O que mostra as ligações de Moro, Dallagnol e companhia
limitada com o imperialismo das nações hegemônicas. Algo que deveria ser posto
a escrutínio público.
Isso para não falar do
caso do almirante Othon Pinheiro da Costa, o pai do programa nuclear brasileiro
e em 2005 assumiu a presidência da Eletronuclear. Em sua gestão, as obras da
usina Angra 3, que estiveram paralisadas por 23 anos, foram retomadas. Até que
em abril de 2015 foi afastado de seu cargo depois que apareceram denúncias de
pagamento de propina a dirigentes da empresa e preso em 28 de julho por causa
das investigações da Operação Lava Jato, voltando a ser preso novamente pela PF
em seis de julho de 2016. Por causa disso recebeu 43 anos de prisão por decisão
de Marcelo Bretas (o qual foi descrito por Osvaldo Bertolino como “cópia
piorada de Sérgio Moro”), juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Com tal pena
ele, que já tem 77 anos de idade, só sairá de lá aos 120 anos. Ou seja, quando
já estiver morto. Ele, que, além disso, também teve sua filha condenada a uma
pena de 14 anos. Não duvido nem um pouco que Moro e sua trupe, levando em
consideração suas ligações com o imperialismo e o que tem feito desde que
Operação Lava Jato teve início, fariam o mesmo com Bautista Vidal, o pai do
pró-Álcool e falecido desde 2013, caso ainda estivesse vivo.
Foto
– Othon Pinheiro da Costa, o pai do programa nuclear brasileiro.
A crise na engenharia
brasileira – Moro e seu séquito se gabam de terem recuperado aos cofres da
nação cerca de R$ 2 bilhões. Entretanto, suas ações ao mesmo tempo causaram um
dano na economia brasileira muito maior, avaliado em cerca de R$ 140 bilhões,
como mostra o documentário do You Tube “Destruição a Jato”. Ou seja, um saldo
negativo de R$ 138 bilhões. E isso para não falar do desemprego causado pelas
ações de Moro e companhia limitada por causa da interrupção de empreendimentos,
alguns deles em estágio avançado de execução, tais como as obras do COMPERJ,
Angra III, o submarino a propulsão nuclear, a refinaria Abreu e Lima no
Nordeste, o estaleiro Enseada do Paraguaçu em Maragogipe na Bahia (que em
fevereiro de 2015 tinha mais de 80% de suas instalações concluídas e que em seu
ápice chegou a empregar 4000 operários), o estaleiro Mauá em Angra dos Reis no
Rio de Janeiro (o qual teve que demitir 2500 operários de suas obras) e outras
tantas. Por causa das ações do juiz Moro e sua gangue, a engenharia brasileira
se encontra sob uma forte crise devido às paralisações decorrentes dos
processos jurídicos a que estão respondendo, e assim são demitidos milhares de
profissionais (principalmente engenheiros) e obras são suspensas. Calcula-se
que os processos das Operações Lava Jato e Zelotes geraram cerca de um milhão
de desempregados (sendo 140 mil deles na construção civil, mais de 170 mil na
Petrobrás e cerca de 50 mil na Odebrecht[1]), segundo matéria do
Estadão.
Ou seja, as vidas de
milhões de pessoas foram afetadas pelas as ações de Moro, Dallagnol e companhia
limitada. E com isso se segue um grande desmonte da infraestrutura econômica
brasileira, levando adiante assim o sonho de Fernando Henrique Cardoso quando
disse que queria enterrar com a Era Vargas. E, após o fim do desmonte, ocorrerá
aqui no Brasil o mesmo que aconteceu no Iraque após a queda de Saddam Hussein e
na Líbia após a queda de Muammar al-Kadaffi: multinacionais como a Halliburton
ocuparão o espaço antes ocupado pela Odebrecht e outras empresas da engenharia
nacional, no que implicará uma transnacionalização ainda maior da economia
brasileira (segundo o documentário “Destruição a Jato”, empresas chinesas já estão
ocupando o espaço antes ocupado pelas empreiteiras nacionais no Brasil e na
América Latina). E o mais trágico de tudo é que enquanto que empresas como a
Halliburton tiveram que recorrer a invasões militares para meter a mão na
infraestrutura do Iraque e da Líbia, aqui no Brasil foi preciso apenas a ação
de um judiciário vendido a interesses internacionais em conluio com a mídia de
massa, igualmente vendida a interesses internacionais.
Moro e seus sequazes
gostam muito de citar os Estados Unidos como um exemplo de país a ser seguido
pelo Brasil. E aí eu pergunto será que lá, na Alemanha ou no Japão seria
permitido a ele fazer o que tem feito com empresas como a Odebrecht, Andrade
Gutierrez, Engevix e outras (ou seja, investigar os corruptos, prendê-los e em
seguida fazer tábua rasa das empresas, reduzindo-as a escombros)? A resposta
para essa pergunta é não. Se o dirigente de uma empresa como a Wolkswagen, a
Mercedes Benz, a Halliburton, a Mitsubishi ou a General Motors é indiciado e
preso por causa de alguma falcatrua, apenas ele é preso, ao passo que o corpo e
o conjunto da empresa, como uma entidade que gera tecnologias, divisas e
empregos para o país, é mantida intacta. É o que foi feito na Alemanha no
pós-guerra com algumas empresas que estiveram envolvidas com o regime
hitlerista. Como foi o caso da indústria química IG Farben, que no pós-guerra
ao invés de ser dissolvida foi dividida em quatro firmas: Henkel, Hoechst,
Bayer e a Basf. Caso ele resolvesse fazer o que faz com a Odebrecht com alguma
grande empresa da Alemanha, dos EUA ou do Japão, certamente teria suas asinhas
cortadas e seria exonerado de suas funções, no mínimo. Pelo visto, ele,
Dallagnol e companhia passam suas temporadas de estudos nos Estados Unidos e
depois de um voltam abobados (se é que já não o eram antes) a respeito do que
são os Estados Unidos e seu funcionamento, a tal ponto de o fundamentalista
religioso Dallagnol ter dito uma vez que a diferença de desenvolvimento entre
Brasil e Estados Unidos se deu por causa do fator religioso dos colonos que
povoaram os dois países durante o período colonial (assim não levando em
consideração, por exemplo, o fato de que os EUA, desde que se tornou
independente da Inglaterra, sempre praticou um forte protecionismo de seu
mercado interno).
Mãos Limpas – Em 2004, o
juiz Moro escreveu um artigo de sete páginas a respeito da Operação Mãos Limpas
(em italiano Mani Puliti), ocorrida
na Itália nos anos 1990. Essa operação policial é a grande inspiração da Lava
Jato. E qual foi o resultado prático dessa operação policial, que em dois anos
expediu 2993 mandados de prisão e colocou 6059 pessoas sob investigação?
Economicamente, foi desastrosa para a Itália, já que fez uma devassa em
empresas nacionais e ao mesmo tempo não tocou em multinacionais. E hoje vemos a
Itália como sendo um dos países periféricos da União Européia que
periodicamente se encontram sob situação de crise econômica e submetidos às
políticas de austeridade impostas pela Alemanha. A tal ponto que hoje em dia o
país peninsular, junto com Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia, faz parte
daquilo que a imprensa anglófona chama de PIIGS, como uma referência ao péssimo
desempenho econômico dos cinco países desse grupo, cujas economias foram
consideradas particularmente vulneráveis por causa do alto endividamento e do
alto déficit público em relação ao PIB. E politicamente, abriu o caminho para
Silvio Berlusconi se tornar o poderoso chefão da Itália, na medida em que
enfraqueceu as principais forças políticas do país que lhe poderiam fazer
frente em termos eleitorais. E de cereja do bolo, segundo artigo publicado no
Esquerda Diário, os procuradores de lá também tinham seus contatos com
magistrados norte-americanos.
Conclusão
Esse é um momento em que
o vulcão da luta de classes que permeia a sociedade brasileira desde os
primórdios de sua história está mais ativo que nunca, expelindo lava para tudo
quanto é canto (vulcão esse que até os eventos de junho de 2013 estava
adormecido). A idolatria que os coxinhas tem para com o juiz Moro nada mais é
que uma manifestação disso, a tal ponto de tratá-lo como se fossem um herói de
moral ilibada. É uma imagem que os grandes veículos de comunicação nacionais
criaram em torno dele e que é tão verdadeira quanto uma nota de 1000 reais.
Mas, como visto nos casos das obras citadas no penúltimo item, ele e sua equipe
não tiveram a menor consideração pelos empregos daqueles que trabalhavam em
empresas como a Odebrecht e a Camargo Correa e que estavam empregadas em várias
obras. E que certamente não terá a menor clemência na hora em que ele resolver
investigar o teu empregador por supostamente receber alguma propina do Marcelo
Odebrecht ou do Eike Batista. Vai passar o lança-chamas na empresa onde você
trabalha, a reduzirá a cinzas e você ficará sem teu ganha-pão diário tal qual
tem feito com a Odebrecht. E se ele pinta e borda em cima do Marcelo Odebrecht,
do Othon Pinheiro da Silva e do Eike Batista, o que dirá do teu empregador caso
ele resolva investigá-lo? Na certa o olho da rua o aguarda.
E, se o juiz Moro faz o
que faz para cima do Lula, da Dona Marisa e outros petistas, o que dirá de
você, pobre mortal, quando resolver te mover alguma ação penal ou judicial? Acha que o juiz Moro, Dallagnol e companhia limitada terão
clemência de você, que tanto jogou confete para eles em manifestações de rua,
que tanto inflou bonecos do Lula e da Dilma com roupa de presidiário e colocou
adesivos em seu carro dizendo que apoia a autonomia da Polícia Federal? Não,
você, que no fim não passou de massa de manobra dele e dos grandes meios de
comunicação, não terá clemência alguma. Não terão pudor algum em te colocar na
prisão por 30 anos ou mais e sentirá na pele o mesmo que o Lula e a família dele,
o Othon Pinheiro da Costa, o José Dirceu e tantos outros sentiram diante do lawfare deles. Além disso, você acha que
ele, do alto de suas mordomias, constantes idas aos EUA e vida nababesca regada
a salários muito acima do teto permitido por lei, se importa de verdade com
você? Ele, que é um sujeito reacionário até a medula e que mal sabia o que era
pobre até próximo dos 30 anos de idade? Não, ele está nem aí para você. Ele é
uma pessoa que vive em sua redoma particular, isolado totalmente do mundo em que
você vive. Ele está pouco se lixando se você está desempregado ou não, ou
qualquer outro problema que o flagele. Até por que isso não é problema dele.
Ou seja: vocês, ao jogar
confetes para esses juízes e promotores e pedindo impeachment da Dilma, Lula na
cadeia, morte a Dona Marisa e fora PT, estão é chocando o ovo da serpente que
mais cedo ou mais tarde irá lhes picar. E essas picadas serão recheadas do mais
letal veneno, cujo sabor será o mais amargo possível. Apenas lhes peço uma
coisa: acordem para a realidade antes que seja tarde demais. Caso contrário, a
Ditadura do Judiciário, que Ruy Barbosa classificou como a pior ditadura
existente, lhe aguarda ali na esquina. E antes que o Brasil, que antes da Lava
Jato começar passava por um momento de otimismo econômico, se torne
economicamente a Itália latino-americana.
Foto
– A frase atribuída a Ruy Barbosa sobre a ditadura do judiciário.
Fontes:
A justiça mais cara do
mundo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/opiniao/a-justica-mais-cara-do-mundo-19689169
A Lava Jato destrói
empresas nacionais e desemprega milhões! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wPqMlVmrlG4
Bandeira de Mello: morte
de Marisa foi só celebrada pela escória humana. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/278579/Bandeira-de-Mello-morte-de-Marisa-s%C3%B3-foi-celebrada-pela-esc%C3%B3ria-humana.htm
Banestado: ali começou o
“não vem ao caso”. Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/politica/banestado-ali-comecou-o-nao-vem-ao-caso
Como foi a Operação
italiana que teria inspirado a “Lava Jato”? Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141115_maos_limpas_italia_ru
Empresas investigadas na
Lava Jato e Zelotes equivalem a 14% do PIB. Disponível em: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,empresas-investigadas-na-lava-jato-e-zelotes-equivalem-a-14-do-pib,10000057996
Engenheira brasileira
vive a maior crise. Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/economia/engenharia-brasileira-vive-a-maior-crise
Judiciário,
reacionário por sua própria natureza. Disponível em: http://causaoperaria.org.br/judiciario-reacionario-por-sua-propria-natureza/
Juiz Moro:
quem sai aos seus não degenera. Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/brasil/2015/01/20/juiz-moro-quem-sai-aos-seus-nao-degenera
Juízes
estaduais e promotores: eles ganham 23 vezes mais do que você. Disponível em: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/juizes-estaduais-e-promotores-eles-ganham-23-vezes-mais-do-que-voce.html
Justiça
condena ex-presidente da Eletronuclear a 43 anos de prisão. Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,justica-condena-ex-presidente-da-eletronuclear-a-43-anos-de-prisao,10000066863
Lava Jato
sabotou o país, diz doutor em economia. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/economia/277656/Lava-Jato-sabotou-o-pa%C3%ADs-diz-doutor-em-Economia.htm
Lista com
salários de juízes e desembargadores cai na net e causa indignação. Disponível
em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/lista-com-salario-de-juizes-e-desembargadores-cai-na-internet-e-causa-indignacao/
Mãos Limpas
quebrou a Itália, Lava Jato quebrou o Brasil. Disponível em: http://www.dm.com.br/geral/2015/04/maos-limpas-quebrou-a-italia-lava-jato-quebra-o-brasil.html
Moro aos
questionamentos de Paulo Pimenta: “não vou comentar”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TlNC5RFmLew
Mulher de
Moro trabalha para o PSDB. Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/12/06/mulher-de-moro-trabalha-para-o-psdb
O plano “Mãos
Limpas” de Sérgio Moro e os interesses dos EUA. Disponível em: http://esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=11749
Pessoas
torcem pela morte de Dona Marisa após AVC. Disponível em: https://conexaopol.blogspot.com.br/2017/01/pessoas-torcem-pela-morte-de-dona.html
Quanta
coincidência! Quem julga o julgador? Disponível em: https://theotoniodossantos.blogspot.com.br/2016/03/quanta-coincidencia-quem-julga-o.html
Retrato do
juiz Moro quando jovem. Por Renato Antunes Oliveira. Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/lidas-de-2016-retrato-do-juiz-sergio-moro-quando-jovem-por-renan-antunes-de-oliveira/
Sérgio Moro e
Marcelo Bretas, comportando-se como crianças, comandam jogo mortal para o
Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PW4E-5dp_io
TRF4 – Acesso
à Informação – Consulta Remuneração. Disponível em: http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=contracheque_transparencia#
Wikileaks:
EUA criou curso para treinar Moro e outros juízes. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Wikileaks-EUA-criou-curso-para-treinar-Moro-e-juristas
Wikileaks
vaza bilhete sobre cooperação entre Sérgio Moro e EUA. Disponível em: http://www.ocafezinho.com/2016/03/23/wikileaks-vaza-bilhete-sobre-cooperacao-entre-sergio-moro-e-eua/
NOTA:
[1] Leia-se “Odebrerrt”, pois no alemão (o
sobrenome Odebrecht é de origem germânica) a partícula ch tem o mesmo do j no
espanhol, do kh no russo e do h no inglês e no húngaro: r aspirado.
Excelente texto! Que sirva de exemplo e reflexão a essa coxinhada medíocre e imbecil. E já que você citou nesse texto a Operação Mãos Limpas, levada a cabo na Itália, nos anos 90, vale lembrar que, enquanto tal operação estava em andamento, o juiz Giovanni Falconi, equivalente ao Sérgio Moro por lá, foi misteriosamente assassinado. E outra: cadê que o Falconi, à época, conseguiu pegar os tubarões das máfias siciliana e calabresa, as mais perigosas do país?
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