terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Considerações a respeito do ouro de Tripoli e o imbróglio de Teerã.


Foto – Lula ao lado de Muammar al-Kadaffi.
Saiu na capa do último número da Revista Veja uma notícia falando a respeito de que Palocci (o mesmo Palocci que antes de se voltar contra Lula e o PT chegou a sinalizar que ia espalhar merda no ventilador em bancos, sistema financeiro e empresas de telecomunicação [e assim contar a respeito de como a Rede Globo foi salva no começo do governo Lula] e que certamente está fazendo um acordo com Moro e sua camarilha para sair das masmorras de Curitiba [diga-se de passagem, quando será que vão investigar a respeito da prática de tortura da parte da Operação Lava Jato?]. E para isso está falando algo para se safar daquele inferno o mais rápido possível, por mais mentiroso e fantasioso que seja) disse que Lula teria recebido em 2002 cerca de um milhão de dólares do finado Muammar al-Kadaffi. Algo que segundo a Constituição Brasileira configura como crime eleitoral e passível de cassação e perda da sigla eleitoral da sigla do partido fundado em 1979. Já na Argentina, mais uma vez o caso AMIA, ocorrido em 1994, é exumado pelo juiz Carlos Bonadío e foi ordenada pela justiça argentina um pedido de prisão da ex-presidente Cristina Kirchner por ter supostamente protegido cidadãos iranianos envolvidos no atentado em troca de vantagens comerciais com a nação persa. O que falar a respeito não só do caso envolvendo Lula como também do caso envolvendo a viúva de Nestor Kirchner?
Primeiro que se de fato Lula recebeu dinheiro do finado líder líbio, ele não foi o único. Nicolas Sarkozy recebeu cerca de €50 milhões para se eleger presidente da França em 2007. E o que são US$ 1 milhão dado a Lula perto de €50 milhões dado a Sarkozy? E não duvido nem um pouco que outros premiês europeus com os quais Kadaffi se relacionou em seus últimos anos de vida e tirou fotos ao lado também possam ter recebido algum dinheiro líbio (entre eles o italiano Silvio Berlusconi e o inglês Tony Blair). Entretanto, bem provavelmente, o caso do ex-presidente francês (que em 2011 apunhalou Kadaffi pelas costas junto com Hillary Clinton durante a invasão da OTAN à Líbia) não vem ao caso para os chamados coxinhas que odeiam o PT raivosamente.
Segundo que uma acusação dessas me lembra muito as acusações que pesam sobre o também finado Leonel Brizola de que ele teria recebido dinheiro cubano para iniciar um movimento de resistência ao regime civil-militar nos anos 1960 e 1970 na Serra Gaúcha, no que teria dado origem a lenda de que Fidel Castro teria o apelido de “El Ratón”. Ou mesmo acusações de que o próprio PT teria na mesma época recebido dinheiro cubano.

Foto – Kadaffi e Sarkozy.
Terceiro que no nível da política interior uma acusação dessas serve para ajudar a direcionar a opinião pública em favor de partidos como o PMDB e o PSDB e contra grupos políticos do campo progressista (em especial o PT, que durante os 13 anos em que ocupou o Palácio de Planalto adotou uma política externa menos alinhada com os Estados Unidos e o dito “Mundo Livre e Democrático” e de maior aproximação com países como a própria Líbia, o Irã, Angola, Rússia, China e Venezuela), na medida em que esse campo passa a ser associado com o famigerado terrorismo islâmico (e nisso se aproveitando do desconhecimento da maior parte da população quanto ao assunto. A ponto de muitos acharem que Islã é sinônimo de terrorismo e wahhabismo, que no Mundo Islâmico só existem regimes como o da Arábia Saudita e sem levar em consideração que tais regimes são os amiguinhos do Ocidente “livre e democrático” que eles tanto adoram. E desconhecendo também o fato de que em 1998 o próprio Muammar al-Kadaffi fez um pedido de prisão internacional de Osama Bin Laden à Interpol).
Quarto que em nível de política exterior, acusações como as que Lula e Cristina Kirchner servem para justificar um direcionamento da política externa tanto do Brasil quanto da Argentina em favor não só dos Estados Unidos como também de Israel (os mesmos EUA e Israel que não tem o menor pudor em se relacionar com as mais retrógradas e espúrias monarquias do Mundo Islâmico, como também em financiar o terrorismo islâmico de matiz salafista-wahhabita há muito tempo). Particularmente, eu não duvido nem um pouco que possa haver algum interesse não só de Washington como também de Tel-Aviv em uma eventual condenação e prisão de Cristina Kirchner, na medida em que ajudaria a direcionar a política argentina em favor de Israel (e é para isso que a polêmica nesses anos todos em torno do caso AMIA tem servido), como também em mudanças de regime em outros países da América Latina. Ainda mais levando em consideração que nos últimos anos muitos dos governos de esquerda, em especial a Venezuela sob Hugo Chávez, adotaram posturas contrárias a Israel.
O fato é que no Brasil Lula desponta como favorito nas pesquisas de opinião para vencer a eleição presidencial de 2018, assim como Cristina Kirchner na Argentina. E os grupos políticos que estão no poder tanto no Brasil quanto na Argentina estão desesperados diante disso. Sabem que nas eleições não tem chances contra os referidos políticos e para isso recorrem a esses expedientes baixos. Também serve para ajudar a desviar a atenção da população não apenas quanto ao pacote de maldades e medidas antipopulares do governo Temer como também quanto às denúncias feitas por Rodrigo Tacla Duran sobre esquemas de corrupção e falcatruas dentro da própria Operação Lava Jato. Denúncias essas que caso mostrem-se verdadeiras, literalmente fará a casa de Sérgio Moro e da Operação Lava Jato cair e que inabilitará o juiz paranaense de julgar Lula, como também de mostrar a verdadeira face da Lava Jato perante todos: de que é uma operação cujo verdadeiro caráter não é de combate à corrupção, e sim politiqueiro (e não será nenhuma surpresa a mim que o que Tacla Duran disse seja apenas a ponta do iceberg das sujeiras envolvendo Moro e sua camarilha). Em outras palavras, por trás das denúncias tanto contra Lula quanto contra Cristina Kirchner há a mais pura e deslavada politicagem, que por sua vez se utiliza de acusações como as que são feitas no presente momento tanto a Lula quanto a Cristina Kirchner como cortina de fumaça. Tem nada de combate à corrupção, restauração da moralidade ou coisa do tipo. E quem acha que há combate à corrupção e coisas afins em ambos os casos, está é assinando um atestado de burrice. Diga-se de passagem, isso acontece bem no mesmo momento em que a defesa de Lula pediu nulidade do processo pelo imparcial de Curitiba se negar a ouvir Tacla Duran.
O fato é que enquanto a boiada se diverte com esse milhão de dólares que Lula teria supostamente recebido do finado Kadaffi há uma década e meia e com a invasão promovida ao campus da Polícia Federal à UFMG (que serve basicamente para criar um clima de comoção em favor da privatização do que ainda resta da educação pública no Brasil em favor de empresas privado do ramo educativo como a Kroton e bancos), a Shell recebeu do governo Temer uma isenção fiscal de cerca um trilhão de dólares (ou seja, o equivalente a cerca de 20 mil malas do Geddel) para poder explorar os campos de petróleo do pré-sal (que mostra que por trás da ação da Car Wash não só contra a Petrobrás como também contra empreiteiras e JBS há uma briga de mercado, com empresas multinacionais desses ramos querendo sua fatia do bolo chamado mercado brasileiro). E assim continua o saqueio e a hipoteca do país nas mãos dessa quadrilha em conluio com o capital internacional, assim como se mantêm o status neocolonial do Brasil.

Foto – Lula e Cristina Kirchner.

Fontes:
A “bomba da Veja” e das ditaduras militar e midiática. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SHqljorO-Yg&ab_channel=FranciscodasChagasLeiteFilho
Biógrafo diz que Brizola devolveu dinheiro a Cuba e que não há prova de que Fidel o tenha chamado de El Ratón. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/biografo-diz-que-brizola-devolveu-dinheiro-cuba-e-que-nao-ha-prova-de-que-fidel-o-tenha-chamado-de-el-raton-1023/
Claudio Mutti – uso ocidental do Islamismo. Disponível em: http://legio-victrix.blogspot.com.br/2015/06/claudio-mutti-uso-ocidental-do-islamismo.html
Defesa de Lula pedirá nulidade do processo por Moro se recusar a ouvir de novo a ouvir Tacla Duran. Disponível em: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/defesa-de-lula-pedira-nulidade-do-processo-por-moro-se-recusar-de-novo-a-ouvir-tacla-duran-contaminacao-insanavel.html
Desmanche: MP da Shell é aprovada é dá R$ 1 trilhão a multinacionais do petróleo. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/2017/11/30/desmanche-mp-da-shell-e-aprovada-e-da-r-1-trilhao-multinacionais-do-petroleo/
Dinheiro do ex-ditador Kadafi assombra Sarkozy. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/dinheiro-do-ex-ditador-kadafi-assombra-sarkozy-13170552
Lula recebeu US$ 1 milhão de ditador líbio em 2002, diz VEJA. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/campanha-de-lula-recebeu-us-1-milhao-de-ditador-libio-diz-veja/
PHA: “Globo rejeita delação de Palocci na Lava Jato para não produzir provas contra si”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TjcgfnASJSc&ab_channel=M%C3%ADdiaAlternativa
Stoppa e Atuch comentam o desespero de “Veja” e os “dólares da Líbia de Lula”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3cKrtNW40ws&t=1527s&ab_channel=TV247

Tacla Duran denuncia ilícitos da Lava Jato. Disponível em: https://jornalistaslivres.org/2017/12/tacla-duran-denuncia-ilicitos-na-lava-jato/

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os reais prejuízos da "deforma trabalhista" (por Marcus Valério XR)

Estamos oficialmente sob a vigência da Lei n° 13.467/2017, rejeitada por mais de 80% da população e mesmo assim aprovada pela Presidência da República e Congresso Nacional mais corruptos das últimas gerações, deixando absolutamente fora de dúvida de que o Governo está apartado da vontade popular e plenamente entregue aos interesses de elites econômicas e ingerências internacionais.
Uma visão pontual das mudanças, no entanto, pode não deixar clara a real dimensão deste ataque ao trabalhador brasileiro, principalmente da forma como tem sido amplamente feito pela mídia, visto que muitos dos itens podem não parecer significativos para muitos trabalhadores, podendo alguns deles, isoladamente, até mesmo parecer desejáveis. Por isso é preciso apontar onde estão os reais problemas, e aqui iremos destacar apenas alguns deles, dentro da própria nova Consolidação das Leis do Trabalho, e que se isoladamente já seriam trágicos, juntos são catastróficos.
NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO COLETIVO
Uma delas é a introdução do Artigo 611-A, que dá desmedidos poderes aos Acordos Coletivos, celebrados entre o sindicato de uma categoria e sua empresa, e as Convenções Coletivas, celebradas entre sindicato da categoria e sindicato patronal. Este artigo introduz que: "A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre". Então enumera nada menos que 15 incisos com itens que podem ser alterados, afora o misterioso "entre outros".
É certo que o Artigo 611-B enumera 30 incisos com direitos que não podem ser afetados, mas ainda assim, podem sê-lo: jornada de trabalho, banco de horas, intra jornada, plano de cargos e salários, representação sindical, sobreaviso, trabalho intermitente, prorrogação de jornada em ambientes insalubres sem licença prévia do Ministério do Trabalho, e outros, o que associado ao parágrafo primeiro, que remete ao parágrafo terceiro do Artigo 8, e que por sua vez remete ao Artigo 104 da Lei 10.406/2002, que é do Código Civil, praticamente transforma a o Acordo Coletivo em uma forma de "Negócio Jurídico".
Até essa inovação, a CLT não permitia que um acordo coletivo subtraísse direitos previstos em lei, mas com o Artigo 611-A, associado a outras inovações, como o Artigo 444 que diz respeito a negociações individuais, possibilita por exemplo que um empregado contratado originalmente para 30 horas semanais, de repente passe a cumprir jornada de 36 / 48 horas semanais, caso da infame jornada 12x36, sem qualquer aumento de salário!
O Artigo 612 ainda enfraqueceu a exigência de quórum mínimo em assembleia para celebração do acordo, reduzindo de 2/3 dos presentes em segunda chamada, para 1/3, facilitando que uma minoria aprove acordos prejudiciais à categoria.
Considerando também a política de enfraquecimento dos sindicatos, como a nova redação dada ao Artigo 545 que elimina a contribuição sindical obrigatória, bem como o enfraquecimento generalizado da Justiça do Trabalho, que inclui até sucateamento de verbas por meio da pérfida Lei de Responsabilidade Fiscal, o resultado inevitável será a proliferação ainda maior dos ditos sindicatos pelegos, que agem contra a própria categoria em favor da retirada de direitos. Quem tiver experiência em negociações sindicais e for fiel aos interesses dos trabalhadores sabe muito bem o enorme estrago que isso irá causar.
JUSTIÇA PAGA
Passemos agora para o Artigo 790, que rege sobre as ações judiciais nos Tribunais do Trabalho, onde o parágrafo 3, que na prática garantia a justiça gratuita para qualquer trabalhador, foi alterado para agora permiti-la apenas para os trabalhadores que percebam salário até 40% do máximo benefício pago pelo INSS, que atualmente está em R$ 5.531,31, o que faz com que qualquer trabalhador com salário acima de R$ 2.212,52 perca o benefício da justiça gratuita.
Assim, caso o trabalhador perca a ação judicial, terá que arcar com as custas processuais, o que não raro é economicamente desastroso. O Artigo 789-A enumera as custas básicas de um processo, que facilmente totalizam um mínimo superior a R$ 2.800, já bem acima do salário mensal de quem tenha direito à gratuidade, mas frequentemente vão muito além disso. Já tivemos o caso onde um magistrado que, de forma controversa, baseado na recente legislação condenou um trabalhador ao pagamento de R$ 8.500.
O parágrafo 4 do Artigo 790 ainda garante o direito a gratuidade para quem comprovar insuficiência de recursos, mas essa comprovação é muitíssimo mais difícil que a anteriormente vigente, que podia ser obtida com mera declaração formal.
Quem acompanha processos trabalhistas sabe que não é raro termos decisões judiciais nada menos que surreais, tanto a favor quanto contra trabalhadores, mas outrora essa incerteza implicava no máximo em tempo perdido e desgaste emocional. Agora afetará diretamente nas economias do trabalhador, o que seguramente ira dissuadir muitos de procurarem seus direitos mesmo quando estes forem arbitrariamente violados.
FORÇANDO A DIVISÃO DE CLASSES
Existem pouquíssimos trabalhadores que possuem habilidades e conhecimentos suficientemente específicos para possuir força de negociação, e em geral esses já não costumam celebrar contratos de trabalho comuns, preferindo criar pessoas jurídicas e celebrar contratos entre empresas. Mas a falácia que embasa a Reforma Trabalhista trata milhões de trabalhadores sem qualquer especialização e com poder de negociação zero, como se fizessem parte dessa exclusiva elite, que regida pelo Artigo 444, outrora permitia apenas benefícios adicionais, mas não subtração de direitos.
Mas agora, com o parágrafo único incluído pela Lei n°13.467/2017, qualquer profissional que ganhe acima de R$ 11.062,61 (o dobro do benefício máximo do INSS), poderá "renegociar livremente" seu contrato sob as mesmas condições do Artigo 611-A, sendo então empurrado à situação análoga a de outros especialistas que em geral ganham muitíssimo acima disso, embora de modo algum isso lhe garanta qualquer acréscimo de rendimento. Pelo contrário, pois poderão até mesmo aumentar sua carga horária sem aumento de salário, (possibilidade ainda mais reforçada pela Medida Provisória 808, que visa instituir o Artigo 59-A) abrir mão de planos de cargos, banco de horas e até contrato permanente, passando a ser obrigados a trabalho intermitente.
A maioria desses profissionais está longe de possuir real poder de negociação, pois embora possa parecer muito para os que estão nivelados ao salário mínimo, fato é que um salário de R$ 12.000 pode até ser abastado para um único indivíduo, mas mantém uma família de 4 ou 5 pessoas no limiar da classe média. A simples ameaça de demissão, num mercado com milhões de desempregados, é suficiente para obrigar esse trabalhador a aceitar qualquer condição desvantajosa, até mesmo a perda de grande parte de sua renda, pelo trabalho intermitente, por exemplo, preferível a possibilidade de perdê-la toda.
Mas o ponto mais relevante não é esse, e sim que embora isso possa parecer pouco significante, ocorre que frequentemente nos períodos de Data Base, a fase de negociação entre sindicato e empresa, todos os trabalhadores costumavam estar na mesma condição independente de sua renda, de modo que em geral eram apenas os agraciados com funções especiais, cargos de confiança ou comissões tendiam ficar ao lado dos empregadores. Agora, com essa inovação, justo os trabalhadores que costumavam ficar entre a maioria e a minoria dirigente, e que possuíam melhores chances de pressionar diretamente as chefias para negociações mais favoráveis à maioria, se veem isolados, podendo ser regidos por condições diferentes da maioria.
Com isso, quebra-se a continuidade que conectava trabalhadores de menores ganhos com trabalhadores com mais ganhos, mas ainda assim, trabalhadores, e estimula-se ainda mais uma falsa ilusão de elitismo que tende a dividir as categorias em duas classes distintas, as que ganham mais, e as que ganham menos que o dobro do benefício máximo do INSS.
É um fomento direto a uma Luta de Classes! Que no caso servirá apenas como estratégia manipulatória, fazendo aos menos abastados parecer que qualquer um com um ganho acima desse limiar faça parte da elite dominante e seja visto como inimigo, e fazendo a esses um pouco mais abastados parecer que os demais sejam uma massa disposta a decapitá-los numa revolução.
DESENHANDO O QUADRO MAIOR
Se cada uma dessas mudanças já seria trágica por si só, basta notar como combinadas tendem a levar a situações desesperançadas. Sindicatos enfraquecidos e dependentes de contribuições voluntárias possuem muito menos capacidade de se organizar e pressionar as direções das empresas para conquistar melhores condições, ou mesmo para garantir as que já possuem. Trabalhadores melhor remunerados podem ser facilmente coagidos a abandonar a sindicalização, visto que os Artigos 444 e 611-A podem ser usados para que ele corte seu vínculo sindical. Com isso, os maiores contribuidores tendem a ser isolados.
Os sindicatos serão obrigados a arcar com enormes custas judiciais, devido ao Artigo 789-A, uma vez que em geral serão eles que tenderão a assumi-las quando um trabalhador perder uma ação movida por seu sindicato, o que associado à perda de receita, tenderá a sufocá-los. Com isso, ficará fácil para as organizações patronais infiltrarem seus asseclas nos sindicatos ou mesmo controlá-los totalmente, forçando a aceitação de convenções e acordos deletérios aos direitos da maioria.
Com sindicatos pelegos, a tendência é os trabalhadores irem progressivamente se desvinculando a passando a ficar por conta própria, mas mesmo assim serão submetidos as decisões de grupos que não os representam, que podem mudar radicalmente suas condições de trabalho à revelia de seu contrato original ou mesmo da legislação.
E por fim, será perigosíssimo apelar para a Justiça do Trabalho, pois o risco de perder a ação e ainda ter que arcar com os custos judiciais inibirá qualquer um que ganhe acima de R$ 2.212,52. Com isso, apenas trabalhadores remunerados abaixo desse limiar, aliás, bem abaixo, para garantir que não o ultrapassem numa alteração salarial mínima, contarão com justiça gratuita, o que dividirá ainda mais as categorias de trabalhadores.
E esses são apenas alguns aspectos da Reforma Trabalhista, ainda que dos mais graves. Há inúmeros outros pontos prejudiciais aos trabalhadores. A Consolidação das Leis do Trabalho, sancionada por Getúlio Vargas em 1943, introduziu um mecanismo inédito de proteção trabalhista numa época que as condições de trabalho não precisavam se diferenciar muito da escravidão. Desde então, ela tem sofrido inúmeros ataques, e este é seguramente o mais nocivo, pois sem revogá-la na íntegra, a enfraquece de forma a deixá-la ainda mais vulnerável a ataques futuros.
E não se iludam aqueles que pensem que o ataque esteja perto do fim. Pelo contrário. Apesar de grandemente deletéria, essa Reforma está sendo considerada praticamente um fracasso pela maior parte de seus proponentes, de Ideologia Liberal, que visavam a uma dilapidação muito maior da legislação. Por mais reprovável que seja nosso Congresso, até mesmo ele opôs alguma resistência a muitas das propostas originais, visto a tradição tipicamente não liberal de nosso país, de modo que o Capital Financeiro Globalista não se deu por satisfeito com a ainda não completa redução do trabalhador à condição de escravidão.
Escravidão que, por essência, é tanto uma relação de trabalho quanto a maior antítese que conhecemos da ideia de Liberdade, justamente aquilo que os liberais fingem defender.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Lobby inglês no Senado mudou regras do pré-sal (texto postado por Roberto Requião em seu site)

Uma potência estrangeira, a Inglaterra, se achou no direito de participar diretamente de uma sessão da Comissão Mista da Câmara e do Senado Federal para estabelecer os principais tópicos da medida provisória que visa a regular a exploração do pré-sal no país. Não só participou como  mandou na votação. E a fonte da notícia dessa aberração não é nenhum oposicionista, mas o próprio The Guardian, principal jornal da Grã-Bretanha.
Segundo esse jornal, citado pelo blog Brasil 247, o governo inglês fez lobby, com sucesso, junto ao governo golpista de Temer, apelidado de Misshell, para mudar as regras de exploração do pré-sal em favor das inglesas Shell, BP e Premier Oil. O operador externo do lobby foi o ministro do Comércio inglês, Greg Hands, que veio ao Rio de Janeiro onde se reuniu com o operador interno, Paulo Pedrosa, secretário do Ministério de Minas e Energia.
Pedrosa disse que estava pressionando seus homólogos do governo brasileiro sobre as questões suscitadas pelos ingleses, de acordo com um telegrama diplomático britânico obtido pelo Greenpeace. Essa organização acusou o Governo britânico de “agir como braço de pressão da indústria de combustíveis fósseis”, a despeito de compromissos assumidos com metas de controle ambiental defendidos em Bonn.
Como resultado, a Inglaterra conseguiu que o governo brasileiro eliminasse exigências de compra de conteúdo local nos investimentos no pré-sal, reduzisse exigências ambientais e isentasse as grandes multinacionais de pagamento de impostos. Um representante da Shell comandou pessoalmente o lobby na comissão, sendo identificado e denunciado, na hora, pelo senador Lindberg Farias.
O ministro inglês esteve no Brasil em março e não se limitou a ir ao Rio de Janeiro. Esteve também em São Paulo e Belo Horizonte. Seu foco era justamente o de ajudar empresas britânicas a ganharem negócios de petróleo e água no Brasil. Sabe-se que, na conversa com Paulo Pedrosa, levantou “diretamente” as preocupações das empresas petrolíferas Shell, BP e Premier Oil britânicas sobre tributação e licença ambiental.
A pressão para flexibilizar regras de proteção na área crítica ambiental suscitou interesse do Greenpeace, que questionou as empresas e o Ministério do Comércio. Os esclarecimentos foram vagos e escamoteados. Curiosamente, os britânicos tem posição aparentemente ativa nas discussões da ONU sobre o controle de poluição, o que pode ter suscitado a reportagem do The Guardian.
É extravagante que comissão do Senado se sujeite a pressões internacionais nesses três campos vitais para o futuro do país. Conteúdo local, tributação justa e defesa ambiental são questões ligadas à soberania nacional. É fundamental que o Ministério das Minas e Energia seja questionado sobre mais essa medida de entrega a estrangeiros de bens que deveriam ser protegidos pela soberania.
As estimativas de isenção tributária para os contratos do pré-sal já negociados se elevam a cerca de um trilhão de dólares. Abrir mão desses recursos é um crime contra as gerações atuais e futuras. Eliminar exigências de conteúdo local é abrir mão da geração de emprego nos setores industriais de maior salário e maior geração de tecnologia. Por fim, a redução das regras ambientais significa simplesmente permitir que as grandes petroleiras poluam descaradamente o nosso mar e nosso território enquanto levam para suas matrizes os produtos limpos.
É difícil classificar os senadores que votaram por essa aberração na comissão. Seriam entreguistas da soberania nacional? Seriam negocistas cooptados pelo dinheiro inglês? Ou seriam apenas ignorantes, distraídos, incapazes de compreender o processo histórico que vivemos na era Temer, o Misshell? Não consigo me inclinar por nenhuma dessas classificações. Mas ainda tenho a expectativa de que, na votação do Senado, uma maioria se coloque a favor do Brasil, sobretudo depois que veio a público essa inacreditável ingerência estrangeira em nosso processo legislativo.

Comentário meu: Será que a Inglaterra permitiria algo similar com os campos de petróleo da Escócia? Será que a Coroa britânica permitiria que os campos de petróleo da Escócia fossem entregues à empresas como a Petrobrás, a Gazprom, a PDVSA ou qualquer outra petroleira estrangeira que nem estão fazendo agora com os campos do pré-sal? Tal ato acima de tudo é a Inglaterra mais uma vez praticando o velho protecionismo de sua economia que ela pratica desde o tempo do tratado de Methuen. Ou seja, desde os séculos XVII e XVIII. Foi por meio do protecionismo de sua economia e de sua indústria que a Inglaterra se tornou a senhora dos mares no século XIX, e não por meio da falácia do livre mercado que grupos como o MBL defendem. E protecionismo esse que após impor tarifas e impostos alfandegários sobre os têxteis indianos que vinham à Inglaterra posteriormente ajudou a destruiu com a indústria têxtil indiana no século XVIII.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Geopolítica felina (por Daniel Jur).

Esse é um texto que encontrei navegando no Facebook originalmente postado pelo usuário Daniel Jur e que achei interessante postar aqui no blog. Desde tenra idade sempre tive grande fascínio por grandes felinos, os quais por seu turno exercem um fascínio no imaginário humano que remonta desde no mínimo as pinturas em cavernas rupestres tais como Chauvet e Lascaux na França e Altamira na Espanha (cerca de 35 mil anos atrás). E que trata dos grandes felinos, em especial o tigre, a onça pintada (que, diga-se de passagem, era chamada de tigre pelos primeiros colonizadores europeus das Américas) e o leão. Animais esses que dentro do ambiente em que vivem ocupam o topo da cadeia e assim neles exercem uma função muito importante (a de regular o número das populações de animais herbívoros), dentro de uma perspectiva cultural e geopolítica.

Foto – Da esquerda para a direita: leão (Panthera leo), onça pintada (Panthera onca) e tigre (Panthera tigris).
A onça pintada é pra mim o mais fascinante animal brasileiro, o terceiro maior felino, só atrás do tigre e do leão, uma onça destroçaria facilmente um leão da montanha norte americano (puma), algo que é carregado de simbolismo: a onça é a rainha da América, o Leão é o rei africano, e o tigre um grande anarca eurasiático. A priori, quando pensamos em um mundo multipolar a primeira divisão é a continental, a felina. E o maior felino de todos é o tigre siberiano, que caminha livremente na Eurásia, significando o poder máximo terrestre, dominando a Rússia e China, é definitivamente a encarnação animalesca do Heartland.

Mackinder nos diz que a conquista russa da Sibéria teve consequências quase tão profundas e drásticas quanto as grandes navegações, usando a lógica de Schmitt poderíamos dizer que aquilo que foram as Grandes Navegações para os espanhóis e portugueses, e que acarretou em uma Revolução Espacial Planetária, que mudou a forma de ver o mundo, ocorreu de forma semelhante na conquista da Sibéria, uma Revolução Espacial Regional. As grandes navegações exigiram a vitória sobre a baleia, o domínio da dominadora dos mares, a sua caça, já a conquista siberiana exigiu o enfrentamento do maior felino da Terra, a Sibéria impunha coletivismo para viver, exigia austeridade, a frieza do ambiente exige frieza psicológica, era necessário hierarquia social, heroísmo, valores solares, fidelidade e honra, resultando em uma estruturação social bem distinta da marítima. É na Eurásia Central que se funda o primado da força terrestre, local da principal disputa geopolítica na qual se debatem Brzezinski, Haushofer e tantos outros, também na Eurásia que se fez milênios atrás a rota da seda, passando pela estrada real persa e pelo baixo tigre. Hoje a Eurásia Central, pela magistral ferrovia Transiberiana, interliga Europa e Ásia, o audacioso projeto falado por Putin conectando "Lisboa a Vladivostok" significaria o reerguimento total da força terrestre, muito embora seja uma ideia Geopolítica bem mais antiga que Putin, praticamente orgânica e oferecida pela própria geografia, tal como novas rotas da seda, porém mais acima e mais diversificadas, como o monumental projeto CAREC de transporte de recursos. Uma Eurásia interligada por terra, com a gama de recursos e economia que tem, significaria instantaneamente um rival a altura e uma ferida quase mortal ao atlantismo, que tenta fazer valer sua influência estabelecendo rotas marítimas e tragando a Europa Ocidental e Oriental para si. 

Foto – Área de distribuição do tigre. Em laranja, áreas onde se encontra extinto. Em vermelho, áreas onde ainda se encontra presente.

Um outro simbolismo pode ser notado, onde persistem as Tradições, persistem os grandes felinos, a Europa Ocidental não mais os possui, estão extintos ou enjaulados, tal como as forças da Tradição, a forma de encontrar alguma vida é permitindo a fusão, permitindo o grande Tigre Siberiano caminhar sobre suas terras, para, como num sopro ou rugido, trazer novamente as antigas forças europeias, fazendo sair à luz solar o Leão da Caverna que um dia ali reinou, animal antigo e gigantesco, adorado e cultuado na pré história européia e gravado em diversas pinturas rupestres. Rapidamente o Leão da Caverna, extinto e congelado na última era do gelo, seria descongelado pelo rugido do Tigre siberiano, trazido de volta à vida com toda sua força e vigor, espantando as pilhagens e saques da águia norte americana, que não mais pousaria em tais terras, apenas sobrevoaria, como um urubu esperando novamente forças mortas, carcaças para se alimentar, porém incapaz de enfrentar vida em seu pleno vigor. 

Foto – Leões das Cavernas (Panthera leo spelaea).
Nas Américas, a Onça Pintada reinou e reina, nos antigos impérios americanos, nas civilizações Maia, Asteca e Inca sempre possuiu posição sagrada, de destaque, admiração e força. Hoje a Onça une a força Latino Americana, vivendo por quase toda essa região e fincando as garras mais fortemente no Brasil, também tivemos a nossa "conquista da Sibéria", o bandeirismo, a conquista do Oeste com as bandeiras, tal como a "bandeira de limites" de Raposo Tavares. Conquistadores que viajaram por mais de 10 mil quilômetros a pé, é aqui que ganhamos nossa força terrestre, a coroação da rainha, a conquista da Onça, esta representando o dinamismo, a adaptabilidade, a força unida à exuberância, uma certa flexibilidade e fluidez na lida com o meio, a Onça é astuta, ágil, indecifrável, camuflada e mortal. A Onça que os mitos e contos amazônicos e pantaneiros ressoam, aquela que é capaz de quebrar o mais duro casco de tartaruga com uma mordida, ela trás o espírito felino mais profundo da América Latina. Extinta na América do Norte, local do âmago das forças de dissolução, a Onça pintada é uma América Latina Unida, diversificada, fluida, exuberante e forte, que estraçalharia facilmente o Puma norte americano, caso este tentasse uma invasão, o Puma de pouca cor, massificado e homogeneizado, pode mesmo representar a diminuição das forças da Tradição nos EUA, sua sobrevida.

Por fim, o Rei da Savana, os leões Africanos fazem lembrar as disputas de clãs sanguinolentos africanos, uma África de milhares povos pulverizados, de milhares de Reis, distribuídos em pequenas povoações, hoje a África é dividida artificialmente, clãs e povos são unidos de forma forçosa, em fronteiras e linhas artificiais, os leões igualmente são restringidos e delimitados às reservas ambientais, fazendo com que destruam uns aos outros. A África é pilhada de forma condizente com a brutal diminuição das populações leoninas, o rei encontra-se ajoelhado, espremido, cercado, sem sua juba e potência. Porém, é possível um renascimento, um exército de Reis, um exército de leões novos que se juntam para expulsar o forasteiro, fazendo renascer das antigas lendas africanas o leão que sabia voar, e que assim era capaz de caçar qualquer animal, seus ossos não mais estariam quebrados pelo Grande Sapo, trazendo o leão de pele impenetrável para mortais, tal como o Leão de Nemeia, uma África impenetrável à ingerência. 

Foto – Área de distribuição do leão. Em vermelho, áreas onde se encontra extinto. Em azul, áreas onde ainda se faz presente em estado selvagem.
A Multipolaridade é em primeira instância Felina, é a América do Norte e Inglaterra cercadas ao sul por uma Onça, ao leste e sudeste por um Leão, e à oeste, leste e norte pelo Tigre Siberiano. Aqui os grandes felinos não representam forças de dissolução, mas forças caóticas originárias que formam os povos, que dão seu espírito e essência e que andam lado a lado, e só se deixam montar por aqueles o qual respeitam, para realizar ataque e defesa, a montaria no fundo sendo uma integração, o Guerreiro é então em parte Onça, em parte Tigre, em parte Leão.

Por último, uma última coisa que me fascina é a área de vida de uma onça, que pode ser muito mais que 100 quilômetros quadrados, na vida moderna estamos habituados a falar que nosso quintal é um cubículo que possui quando muito uma balança e uma árvore, é uma visão de mundo distorcida, sempre considerei meu quintal a profunda mata atlântica que começa no Horto florestal e se estica por toda Serra do Mar, a liberdade felina nos diz muito, o Sertão é o quintal do sertanejo, o mar o quintal das populações litorâneas, o interior e mata atlântica o quintal do paulista, o pampa o quintal gaúcho e assim por diante, perdemos a nossa conexão com a terra, a ligação com o espaço se dá como um visitante, um estrangeiro, um estranho, e não como alguém que domina e vive também neste ambiente, que considera a terra como sua, a terra que era pública e era nossa, a cada dia é de ninguém e das grandes corporações e nós voltamos a ficar em apartamentos, assim como bichos em suas reservas, mortos e espremidos, mas carregando sempre o vigor da terra, pronto a renascer a qualquer instante, dependendo unicamente de coisas que muitas vezes chegam a ter entonação sagrada: a vontade e a ação.

Foto – De cima para baixo: Leão (Panthera leo), Onça pintada (Panthera onca), Leopardo (Panthera pardus), Tigre (Panthera tigris), Leopardo das Neves (Panthera uncia).

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O grito de desespero da Veja contra os desejos do povo (por Lucas Novaes)



Figura 1 - Mais uma para a coleção de capas vergonhosas da revista Veja
A revista Veja e seus ataques contra as vontades do povo não param: a mais nova capa da revista de maior circulação no Brasil (cuja 2555º edição estará nas bancas dia 08 de novembro de 2017), apresenta mais um vergonhoso ataque contra políticos que não se adequam a sua visão de mundo liberal: Lula e Jair Bolsonaro.
Na capa, Lula e Bolsonaro são apresentados como “extremistas políticos” de esquerda e direita, respectivamente, e então se propõe a ideia de que existe uma busca por nomes de “centro” como os do apresentador global Luciano Huck e do atual ministro da fazenda Henrique Meireles. O que estaria por trás dessa ideia mentirosa?
O que a Veja considera como o centro político (o lado supostamente mais racional e sem paixões ideológicas) na realidade é a hegemonia liberal pseudodemocrática que já controla o Brasil por meio de seu mais novo fantoche: o golpista Michel Temer, além de seus aliados do congresso e do senado. O atual governo, entretanto, é muito frágil em uma democracia pois possui apoio popular quase nulo (fato reforçado por pesquisas apontando que Temer tem apoio de apenas 3% dos brasileiros).
Considerando que não há a menor chance de Temer vencer as próximas eleições (provavelmente sequer irá disputa-las), a Veja e outros veículos da grande imprensa já pensam em possíveis nomes para dar continuidade a essas políticas em 2018. O que esses veículos midiáticos não poderiam esperar (e agora estão com dificuldades de manipular) é que os políticos mais populares no Brasil atualmente representam desvios ideológicos da hegemonia liberal. Um deles é o maior inimigo político da Veja: Luís Inácio Lula da Silva, um grande populista da esquerda nacional que, apesar de seus defeitos, continua tendo apoio quase absoluto das camadas mais pobres do Brasil. Apesar de todas as ofensivas da mídia contra Lula, ele continua sendo o político mais popular do Brasil, como apontam as pesquisas mais recentes onde ele lidera com folga. Isso ocorre porque seus dois mandatos ainda são lembrados como tempos onde havia crescimento econômico, diminuição das desigualdades sociais, estabilidade política e o Brasil era um país respeitado no cenário mundial. Já do outro lado, temos Jair Bolsonaro. Sem dúvidas, trata-se de um direitista que deseja submeter o Brasil aos interesses estadunidenses da pior forma possível. Entretanto, Jair Bolsonaro é um neoconservador que conseguiu sua atual popularidade não graças ao seu “entreguismo” geopolítico ou pela sua defesa de pautas econômicas liberais, mas pela sua defesa de causas morais consideradas conservadores e que possuem uma ampla ressonância entre os cidadãos deste país, tais como a defesa de penas duras contra os bandidos, apoio ao armamento civil da população, e a oposição ao ensino de conteúdos com temática LGBT nas escolas. Jair Bolsonaro não representa a direita que a grande imprensa está disposta a aceitar, pois sua visão no que tange ás questões morais não se adequa ao progressismo elitista defendido por nossa classe empresarial, artística ou da nossa mídia (tanto a principal como a alternativa de esquerda).
Tanto Lula como Bolsonaro (cada um a seu modo) defendem bandeiras “populistas” que não são mais aceitadas pela grande imprensa e por isso são tanto os políticos mais populares do Brasil, capazes de arrastar massas para suas aparições pelo país, como também os mais atacados.
Figura 2 - Exemplo de pesquisa recente colocando os populistas no topo
Com o PSDB (partido político preferido da Veja) enfrentando uma contínua queda de popularidade perante ás massas, parte da burguesia brasileira passou a apostar suas fichas no então outsider João Dória, atual prefeito de São Paulo. Porém, diversos fatos sobre seu governo (tais como suas diversas viagens inúteis ao redor do Brasil e do mundo ou a distribuição de “ração” para os pobres) tem diminuído sua popularidade. Agora, a imprensa sente a necessidade de encontrar outro nome que represente seus interesses e que seja capaz de desbancar os principais populistas de esquerda e de direita. Está aberta a temporada de procura ao novo representante da hegemonia liberal.
FONTES:

sábado, 28 de outubro de 2017

O caso Fátima Bernardes e a lógica dos traficantes.


Foto – Os verdadeiros promotores da ideologia de gênero mundo afora e suas famílias. Nenhum sinal de modernismos nelas.
Logo após voltar de suas férias, Fátima Bernardes virou notícia nas redes sociais ao ser alvo de comentários negativos por ter postado uma foto de família no Instagram devido ao fato de na foto em questão não haver representantes de minorias. Ela, que em seu programa talk-show semanal “Encontro com Fátima Bernardes” se mostra simpática a pautas típicas da esquerda liberal do figurino do Partido Democrata tais como direitos GLBT e outras do tipo. No que torna seu programa muito criticado por setores conservadores da sociedade brasileira. Os mesmos setores conservadores que, como já foi dito anteriormente várias vezes nesse blog, existem graças à relação dialética que há entre a direita neocon do figurino do Partido Republicano e a esquerda liberal do figurino do Partido Democrata e tudo o que ambos os espectros político-ideológicos representam.
Mas o que falar a esse respeito? Aproveito o presente momento para falar a respeito do uso da lógica de traficantes (os quais como nós sabemos não consomem a droga que eles mesmos produzem) não só presente nos grandes meios de comunicação como também em outras pessoas que incentivam esse tipo de coisa mundo afora. Primeiro que vale ressaltar que desde a década retrasada que a Rede Globo apresenta novelas com temática GLBT. No que mostra que a Rede Globo, a despeito de seu reacionarismo político (a ponto de apoiar golpes de Estado com em 1964 e 2016), não comunga com o discurso de figuras como Magno Malta, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano no que tange a essa questão em particular.

Foto – A foto no Instagram que gerou toda a polêmica nas redes sociais envolvendo a apresentadora global.
Entretanto, a Globo não é a única a fazer esse tipo de coisa. Recentemente, tivemos o caso da polêmica (a qual foi armada por grupos como o MBL com o intuito de desviar a atenção da população quanto às medidas de retiradas de direitos promovidas pelo governo Temer. Medidas essas que o MBL apoia) envolvendo a exposição do MAM, aonde uma criança era estimulada a tocar em um homem nu. Trata-se do mesmo MAM (Museu de Arte Moderna) que é presidido por Maria de Lourdes Egydio Villela, a Milu Villela, Viscondessa de Campinas, a maior acionista e executiva do Grupo Itaú. O mesmo Itaú que recentemente recebeu do governo Temer de presente um perdão de uma dívida de R$ 25 bilhões do CARF. O banco Itaú é controlado pelas famílias Villela, Moreira Salles e Setúbal. E a julgar por fotos dessas famílias, eles também são bem tradicionalistas e não admitem certos modernismos em seu círculo familiar. Um das sobrinhas de Milu Villela, Ana Lúcia Villela, é quem chefia o Instituto ALANA, que segundo um site conservador pró-Bolsonaro promove a ideologia de gênero na educação infantil.

Foto – Millu Villela em uma foto junto com familiares e diretores do Itaú.
Antes do caso da exposição do MAM, houve o caso da Exposição Queer do Santander Cultural em Porto Alegre, aonde o MBL também agiu de forma oportunista para desviar a atenção dos desmandos do Governo Temer, já comentado em artigo anterior no blog. O Banco Santander foi fundado em 1857 na cidade da Espanha setentrional que lhe dá nome e após comprar outras instituições financeiras do país ibérico chegou à Madrid em 1942. Durante o processo de privataria durante o governo FHC, o Santander comprou vários bancos até então estaduais como o Noroeste, Meridional, o Banespa e o Real, no que fez do Santander o terceiro maior banco privado do país. Desde 1920 o banco Santander (o qual entre 2005 a 2009 foi alvo de um inquérito por suspeitas de fraude fiscal e de falsificação de documentos e que no Brasil é um dos campeões de queixas de consumidores) é comandado pela família Botín, e historicamente sempre foi muito ligado à seita católica ultraconservadora Opus Dei (a mesma Opus Dei a qual Geraldo Alckmin é ligado).

Foto – Membros da família Botín reunidos. Aparentemente, nenhum sinal de certos modernismos neles.
Isso para não falar do fato de que os grandes financiadores da ideologia de gênero a nível mundial são multimilionários tais como a Fundação Rockefeller, Fundação Ford, George Soros (por meio de sua ONG Open Society, a mesma que ajuda a financiar golpes de Estado mundo afora, entre eles as revoluções coloridas na Ásia e na Europa Oriental), o clã Rothschild e a Fundação Macarthur, entre outros. Em outras palavras, os donos do poder mundial de que o finado Doutor Enéas tanto falava em seus pronunciamentos. Sabe-se que esses multimilionários, que fazem parte do 1% que concentra em suas mãos uma riqueza que já é equivalente à riqueza somada dos 99% restantes, são a mão invisível por trás de agendas como liberação das drogas e ideologia de gênero, legalização do aborto, entre outras. Partidos de esquerda como o Partido Democrata nos Estados Unidos, o Frente Ampla no Uruguai e o PSOL no Brasil nada mais que os executores dessa gente, os fantoches que estão a nossa vista, enquanto que esses multimilionários são os manipuladores dos fantoches que se escondem por trás das cortinas.
Percebe-se que essa gente utiliza a mesma lógica que no circuito econômico mundial as grandes potências aplicam desde no mínimo os séculos XVII e XVIII. Em outras palavras, a mesma lógica vista em tratados comerciais como o de Methuen entre Inglaterra e Portugal (1703) e de Eden-Rayneval entre França e Inglaterra (1786), onde o país de economia mais fraca vende produtos e matérias primárias e recebe do país de economia mais forte produtos industrializados e manufaturados de valor agregado muito maior, no que gera um intercâmbio comercial extremamente desfavorável ao país de economia mais fraco. Ou seja, para os outros países, o mais desregulado livre mercado e fronteiras abertas para a penetração do capital externo e suas empresas multinacionais. Mas para eles, um forte protecionismo de seu mercado interno. Esses poderosos de plantão operam com a mesma lógica. Para eles, famílias tradicionais, sólidas e patriarcais. Mas para a plebe, os modernismos que eles não toleram dentro de seu círculo familiar. Tudo isso dentro de um esforço de manutenção de seu poder ad eternum e assim matar ainda no nascedouro uma eventual revolução que coloque fim a seu status quo privilegiado. Em outras palavras, é um grande esforço de imbecilização coletiva das massas para que futuramente não apareçam lideranças como Vladimir Lenin, Stalin, Mao Zedong, Kim il-Sung, Tomas Sankara, Leonel Brizola, Gamal Abdel Nasser, Muammar al-Kadaffi, Fidel Castro, Saddam Hussein, aiatolá Ruhollah Khomeini[1], Hugo Chávez e tantos outros.
Aliás, falando nessa direita, recentemente foram liberados documentos pela CIA que revelam que nomes como o filósofo Michel Foucault, o antropólogo Claude Levy Strauss e o historiador Fernand Braudel foram utilizados como peças de propaganda e manipulação anticomunista por parte dos próprios serviços de inteligência estadunidenses. Tal manipulação consistia em impulsionar ideias de intelectuais que ao público soam como “progressistas” ou “esquerdistas” para combater o marxismo revolucionário, com essas figuras dando uma legitimidade e um verniz de esquerda a políticas extremamente reacionária. Assim aconteceu uma substituição da luta de classes (ou seja, a luta de vida ou morte entre a maioria explorada do mundo e a minoria que concentra em suas mãos a maior parte da riqueza do planeta e que parasita a maioria) por uma ideia de que a sociedade é composta por uma série de divisões (entre elas essas divisões de gênero). Em outras palavras, o tal do “marxismo cultural” de que eles tanto falam em realidade não foi criado e incentivado por serviços secretos soviéticos ou chineses e nem por Gramsci[2], e sim pelos serviços secretos do país que eles tanto admiram, os Estados Unidos da América, em um esforço de criar um pensamento de esquerda (cuja proposta é fazer reformismo dentro dos marcos do sistema vigente) que fosse um contraponto a propostas de esquerda revolucionária. O financiamento desses intelectuais se dava por meios de investimentos da Fundação Rockefeller e da Fundação Ford, já que o imperialismo considerava (e certamente ainda considera) os ditos intelectuais pós-marxistas convencerem que os conservadores tradicionais, de forma a fazer toda uma operação de cooptação de setores da esquerda em seu favor.

Foto – O tradicionalismo de Ana Lúcia Villela, presidente do Instituto ALANA. Ideologia de gênero só para o filho do plebeu.
Fontes:
A “nova esquerda” é velha e vem da CIA. Disponível em: http://causaoperaria.org.br/blog/2017/10/18/nova-esquerda-e-velha-e-vem-da-cia-1/
Colunista do COATV: “De onde vem a nova esquerda?”, por Henrique Áreas. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rmhXpXpkHHo&ab_channel=CausaOperariaTV
Famílias tradicionalíssimas do Itaú promovem com seus bilhões a agenda esquerdista no Brasil. Disponível em: https://www.tercalivre.com.br/familias-tradicionalissimas-donas-do-itau-promovem-com-seus-bilhoes-a-agenda-esquerdista-no-brasil/
Fátima Bernardes é criticada por falta de diversidade em foto postada na Web. Disponível em: http://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2017/10/20/fatima-bernardes-e-criticada-por-falta-de-diversidade-em-foto-postada-na-web/
Fátima Bernardes recebe críticas por “falta de diversidade” em foto com família. Disponível em: http://www.otvfoco.com.br/fatima-bernardes-recebe-criticas-por-falta-de-diversidade-em-foto-com-familia/
O Banco Santander é seu inimigo. Disponível em: http://novaresistencia.org/2017/09/11/o-banco-santander-e-seu-inimigo/
SOCIEDADE: o frenesi dos avatares coloridos e a doutrina dos manipulados. Disponível em: http://apaginavermelha.blogspot.com.br/2015/11/sociedade-o-frenesi-dos-avatares.html


NOTAS:


[1] Leia-se “Rromeini”. No persa, assim como em idiomas como o árabe, o mongol e o russo, a partícula kh tem o mesmo som do j no espanhol e do ch no alemão e no polonês: r aspirado.
[2] Leia-se “Gramchi”. No italiano, a partícula sc, quando sucedida por e ou i tem o mesmo valor do ch no português e no francês.