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– Os esquemas de corrupção envolvendo a figura do ex-presidente Lula, de acordo
com Deltan Dallagnol.
O ex-presidente da
República, Luiz Ignácio Lula da Silva, foi denunciado no dia 14 de setembro de
2016 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por parte do Ministério
Público Federal e acusado pelo procurador Deltan Dallagnol, chefe da
força-tarefa da Operação Lava Jato, de ser o “comandante máximo dos crimes de
corrupção na Petrobrás”, que incluiriam, entre outras coisas, sua participação
no petrolão e classificou tal esquema de “propinocracia”. Lula, sua esposa e
ex-primeira dama Marisa Letícia, Paulo Okamoto (presidente do Instituto Lula),
José Aldemário Pinheiro (ex-presidente da OAS), Agenor Franklin Magalhães
Medeiros (ex-executivo da OAS), Fábio Hori Yonamine (ex-presidente da OAS
Investimentos), Roberto Moreira Ferreira e Paulo Roberto Valente Gordilho
(funcionários da OAS) foram denunciados formalmente pela Lava Jato. O que falar
a respeito das últimas ações da República de Curitiba?
Primeiro de tudo, uma
pirotecnia barata e de quinta categoria para baixo, feita com o intuito de
gerar notícias de teor sensacionalista para a grande mídia (com a qual a
República de Curitiba, em seu esforço de guerra jurídico-policial-midiática contra
o Partido dos Trabalhadores, é mancomunada) e acima de tudo desgastar a imagem
pública de Lula de forma a torna-lo inelegível para o pleito presidencial de
2018 (quer seja através de sua prisão e/ou da invalidação de sua candidatura o
tornando ficha suja). Como já dito anteriormente, Lula e os petistas (os quais
pelo que seus pronunciamentos nos sugerem não se dão conta disso) perderam toda
a utilidade que tinham para a classe dominante nacional e agora estão sendo
descartados como se fossem peões de um jogo de xadrez. Em outras palavras, são
cartas queimadas. Agora, ante a nova conjuntura econômica internacional de
crise, a classe dominante nacional, do alto de sua típica voracidade pelos
lucros de seus negócios e seu reacionarismo, não quer mais Lula ou Dilma como
gerentes do Estado burguês brasileiro, e sim seus representantes-puro sangue
ocupando a cadeira presidencial no Palácio do Planalto, os quais não terão o
menor pudor em levar adiante as políticas de arrocho e retirada de direitos
trabalhistas que seus patrões desejam (algo que o PT já fazia, diga-se de
passagem, mas não na intensidade e na velocidade que eles queriam). Em outras
palavras, eles querem que um político de um partido de corte elitista como o
PSDB ou o PMDB e não de um partido de corte popular como o PT ocupe a cadeira
presidencial no Palácio do Planalto gerenciando o Estado burguês brasileiro em
seu nome.
E o pior de tudo é ver
alguns petistas, como no caso de um vídeo postado na página do Facebook da
senadora gaúcha Gleisi Hoffmann, demonstrando espanto e surpresa por causa da
atuação extremamente partidária dos juízes e promotores da República de
Curitiba. Sendo que em realidade o tribunal, enquanto instituição, sempre teve
um fortíssimo caráter classista e partidário em favor das elites (como já foi abordado
no artigo “Escola sem Partido – do que se trata? Parte 4”). O que a ação dos
promotores paranaenses tem feito desde o início da Operação Lava Jato é nada
mais que escancarar tal fato a todos nós. E são os mesmos petistas que nomearam
10 dos 11 juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do alto de seu
republicanismo nunca ousaram tocar na carreira do judiciário. Isso para não
falar do fato de que em momento algum eles se dão conta, entre outras coisas,
do fato de que a democracia vigente em um país como o Brasil nada mais é que a
ditadura de classe enrustida dos grandes capitalistas e que Lula e Dilma, tal
como seus antecessores, não passaram de gerentes que administraram o Estado
burguês brasileiro em favor da classe dominante nacional (que por sua vez para
fazer valer seus interesses de classe e manter seu status quo privilegiado não tem o menor pudor em se valer dos mais
baixos expedientes, incluindo a instauração de um regime de exceção como o que
foi feito em 1964, retirar direitos do povo, forjar as mais absurdas e
fantasiosas acusações contra seus adversários e assim promover uma espécie de
virada de mesa no jogo político nacional ou mesmo virar a mesa do jogo
democrático).
E segundo, sintomático
do fato de que a máscara da Operação Lava Jato está gradativamente caindo e
revelando ao mundo as reais intenções de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e
companhia limitada. O que eles realmente querem não é combater corrupção, e sim
inviabilizar o Lula 2018. Impressiona-me muito o fato de muita gente (em
especial os coxinhas da classe média que vivem do senso comum que os grandes
veículos de comunicação vendem) ver esses juízes e promotores como os
salvadores e moralizadores do país. Sendo que em realidade trata-se de pessoas
que levam uma vida nababesca, alheia aos problemas dos setores menos abastados
da sociedade, cheia de mordomias e que não raro ganham salários superiores a R$
50 mil (no Paraná há casos de juízes que ganham por mês mais de R$ 100 mil).
Entretanto, tal
comportamento da parte da classe média é compreensível. Como disse Marilena
Chauí em seus pronunciamentos a respeito da classe média, essa vive um drama: ao
mesmo tempo sonha em tornar parte da classe dominante e morre de medo de se
tornar proletária. E o que a professora e ideóloga petista (figura essa com a
qual não nutro grande simpatia) quer dizer com isso? Que a classe média (que
não raro pensa que é rica só porque tem um ou dois carros e um apartamento ou
uma casa em um bairro nobre da cidade onde vive) quer é se misturar com a alta
sociedade (assim como poder desfrutar de um padrão de consumo from United States), e não com aqueles
que eles consideram como a ralé da sociedade. Ou seja, aquilo que eu chamo de
Complexo de Dona Florinda (a mesma Dona Florinda que depois que seu marido veio
a falecer passou a ter que morar em um cortiço. Em outras palavras, se
proletarizou). Dai que vem a ojeriza e o ranço da classe média para com as
políticas sociais dos governos petistas, a inclusão social dela decorrente (por
mais limitadas que tenham sido) e o incômodo com o fato de ter que passar a
dividir espaços com essa gente, as quais olham de forma tão ou mais esnobe
quanto a Dona Florinda olhava o Seu Madruga, a Chiquinha, o Chaves[1], a Dona Clotilde ou
qualquer outro morador do cortiço onde ela vivia junto com seu filho Kiko. E
esses juízes, representantes da classe dominante com a qual essa gente se
identifica e tanto quer se misturar e se tornar parte, ao atacar o partido que
promoveu a inclusão dessa gente toda acabam naturalmente recebendo todo o apoio
desses elementos.
Além disso, também é
sintomático da dupla moral da República Curitiba. Lula está sendo investigado
por causa de um tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia. Isso ao mesmo tempo
em que eles fecham os olhos para imóveis como o apartamento de Fernando
Henrique Cardoso na Avenue Foch em Paris (avaliado em cerca de R$ 11 milhões). Certamente
para Moro e sua trupe tal imóvel “não vem ao caso”. E, se eles fazem tanta
questão de investigar o Lula (que mesmo sendo o “chefão” de que os promotores
da República de Curitiba pensam, conseguiu não mais que um tríplex no Guarujá e
míseros R$ 4 milhões em propina), por que não investigar também, por exemplo, o
José Serra, que segundo o livro “A Privataria Tucana” foi o cérebro das
privatizações do governo FHC? O mesmo José Serra que hoje é o ministro das
relações exteriores do governo Temer e que certamente será o candidato tucano
ao pleito presidencial de 2018. Entre tantos outros casos que aqui poderiam ser
listados.
E isso para não falar do
fato de que nunca vi Sérgio Moro, Dallagnol e sua trupe fazerem questão de investigar
os mais altos níveis da corrupção brasileira, em especial aqueles que
anualmente assaltam impunemente o Estado brasileiro através do sistema de
multiplicação de dívida. Corrupção essa que é perpetrada não por políticos ou
qualquer outro agente do setor público, e sim por agentes do setor privado. Ali
é onde está aquilo que Nildo Ouriques chama de a República Rentista e Jessé de
Souza de a elite de rapina. Gente da mesma classe dominante que, na condição de
máquina de governar[2]
do Estado brasileiro, condicionam a política do Estado burguês brasileiro em
seu favor e dele fazem seu balcão de negócios particular (parafraseando Marx e
Kadaffi ao mesmo tempo). Ou mesmo os super-lucros dos bancos brasileiros e
todas as falcatruas com as quais estão envoltas.
Por fim, gostaria de falar
sobre mais uma coisa. Nas ruas já vi adesivos estampados em carros dizendo que
são favoráveis a autonomia total da Polícia Federal. Em outras palavras, que a
PEC 412/2009 seja aprovada. Certamente são pessoas que são favoráveis às ações
da República de Curitiba e que tem um ódio visceral ao Lula e seu partido,
assim como a todo e qualquer político ou partido de corte popular. O que
estamos vendo no Brasil é que o Poder Judiciário está se transformando em um
verdadeiro Estado paralelo. Pode fazer o que quiser (incluindo tripudiar e
passar por cima de leis e condenar alguém sem provas) que não precisa dar
satisfação a ninguém e ainda por cima terá multidões apoiando estas ações. Mal
eles sabem o monstro que nascerá caso a PEC 412/2009 venha a ser aprovada.
Entretanto, para essa gente isso lhes é conveniente. Afinal, com essa toda
autonomia e poder, a Polícia Federal poderá punir sem pudor algum e da forma
mais truculenta possível qualquer governante que resolva alterar a ordem social
vigente no país e assim ruir de vez com o sonho da classe média de se tornar
parte da classe dominante.
Foto
– A dupla moral da imprensa e da equipe do juiz Sérgio Moro quanto aos imóveis
de Lula de um lado e de outro lado políticos e juízes com os quais ambos os
órgãos são ideologicamente mais afinados.
Fontes:
Al-Kadaffi, Muammar. O
Livro Verde. Gráfica Renascença: Lisboa, 1984.
A necessária superação
da esquerda decorativa. Disponível em: http://iela.ufsc.br/noticia/necessaria-superacao-da-esquerda-decorativa
Com Paulo Pimenta,
Lindbergh Farias e Wadih Damous indo ao encontro de Lula. Disponível em: https://www.facebook.com/gleisi.hoffmann/videos/633075380203052/
Em dezembro de 2015,
salário médio de magistrados foi de R$ 103,6 mil. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/em-dezembro-de-2015-salario-medio-de-magistrados-foi-de-r-1036-mil-dkf4n61j033l2u82iabl451k7
“Lula é o comandante
máximo do esquema investigado na Operação Lava Jato”, diz procurador.
Disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/09/14/lava-jato-aponta-lula-como-o-comandante-maximo-do-esquema-de-corrupcao.htm
Lula era o “comandante
máximo” do esquema da Lava Jato, diz MPF. Disponível em: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/09/mpf-denuncia-lula-marisa-e-mais-seis-na-operacao-lava-jato.html
Marilena Chauí e a
classe média paulistana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ofTcY6dDIRE
Nildo Ouriques – os três
níveis da corrupção. Disponível em: https://www.youtube.com/results?search_query=n%C3%ADveis+corrup%C3%A7%C3%A3o
Nildo Ouriques – Tema:
Situação da UERJ – manifestação. Disponível em: https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-15092016_2-nildo-ouriques-tema-situacao-da-uerj-manifestacao
Sem provas, mas
convicto, Dallagnol é a nova cara do autoritarismo jurídico. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Sem-provas-mas-convicto-Dallagnol-e-a-nova-cara-do-autoritarismo-judiciario
NOTAS:
[1] Don Ramón, La Chilindrina e el Chavo
(leia-se “Tchavo”) no original em espanhol, respectivamente.
[2] Conceito utilizado por Muammar
al-Kadaffi no Livro Verde para designar o individuo, grupo ou classe social que
assume o poder em determinado país e passa a governa-lo de acordo com seus
interesses particulares e em prejuízo do resto da população (al-Kadaffi, 1984:
5-6).
Falando em Dona Florinda, enquanto ela olhava os demais personagens humildes com desprezo e até nojo, ela só respeitava o Professor Girafales, que, mesmo sendo um humilde professor, ela só o respeitava por ele ser daqueles cavalheiros gentis de antigamente, um homem bem estudado, enquanto metia o malho no Seu Madruga, por ele não ter se escolarizado, devido aos seus recursos precários, ficou órfão ainda pequeno, e teve que, desde então, ganhar a vida cedo. E também respeitava o Seu Barriga - no caso, mais o tolerava - por ele ser também diferente dos demais moradores da vila. Realmente, é o fiel retrato da classe média de hoje.
ResponderExcluirE outra personagem que retrata bem a classe média de hoje e seus vícios é a Chloe Burgeois do Miraculous: as aventuras de Lady Bug.
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