segunda-feira, 21 de março de 2016

Recordar é viver - A verdadeira história do Euromaidan para brasileiros leigos.



Foto – Manifestante carregando uma bandeira ucraniana com os dizeres “Brasília Maidan” em Porto Alegre.

No dia 16 de março de 2016, manifestações tiveram lugar em várias partes do país, incluindo São Paulo, Brasília, Porto Alegre e outras cidades brasileiras. Elas se deram devido a uma ligação envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o qual foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma. Essa ligação foi monitorada e grampeada pela Operação Lava Jato e em seguida divulgada. O verdadeiro objetivo da Lava Jato está cada vez mais cristalinamente evidente depois desse último incidente: pegar Lula custe o que custar. Essa história de combate à corrupção no fim das contas não passou de um subterfúgio para esconder perante a população o que a República de Curitiba sempre quis desde o início das investigações. Mas esse não é o assunto principal a ser tratado.
Em Brasília, manifestantes protestaram do lado de fora do Palácio do Planalto pedindo a renúncia de Dilma e a nomeação de Lula para o seu novo cargo. Alguns desses manifestantes chegaram ao ponto de invadir a casa de Ciro Gomes quando já era 1 hora da madrugada, mas o político cearense firmemente reagiu e enxotou os manifestantes. Algo também digno de nota é que em Porto Alegre houve uma manifestante que trouxe a bandeira azul e amarela da Ucrânia com os dizeres “Brasília Maidan” (ao que tudo indica, trata-se de uma incitação a que em Brasília haja uma manifestação similar a que houve em Kiev e outras cidades da Ucrânia durante o Euromaidan no inverno de 2013/2014, que resultaram na queda do então presidente ucraniano Yanukovych). Além disso, nas redes sociais, não foram poucas as pessoas que clamavam para que no Brasil aconteçam manifestações similares não só ao Euromaidan como também a Primavera Árabe. Olavo de Carvalho (que é um dos mentores intelectuais da atual onda neoconservadora republicanóide que está emergindo no Brasil), do alto de sua tacanhice costumeira e russofobia raivosa, chegou a ponto de dizer que ao povo brasileiro só resta apelar ao que ele chama de método ucraniano.
No You Tube, Alexandre Seltz postou um vídeo incitando o povo brasileiro a fazer uma versão tupiniquim do Euromaidan em Brasília. Ainda no ano passado, Cristiano Alves, o dono do site “A Página Vermelha”, postou um vídeo alertando a respeito do desejo de alguns elementos da direita brasileira de repetir em terras tupiniquins o exemplo ucraniano, os quais para isso faziam encontros e hangouts no You Tube. Pois bem, agora mostraremos em realidade o que foi o Euromaidan e o que ele trouxe para a Ucrânia. Espero que a manifestante que foi para as ruas em Porto Alegre com essa bandeira leia o que será escrito abaixo, assim como o Alexandre Seltz e todos aqueles que sonhem em repetir o receituário ucraniano aqui no Brasil.
Para uma melhor compreensão do que se passou na Ucrânia, é necessário abordarmos alguns aspectos de sua história mais antiga, já que esse processo finca raízes que remonta há séculos. A ex-república soviética possui um problema de divisões internas: no Oeste, em especial na região da Galícia-Volínia (fronteiriça com a Polônia), há uma maior simpatia para com a Europa Ocidental. E no leste e no sul, onde estão cidades como Kharkov[1], Odessa, Donetsk, Dnepropetrovsk, Lugansk e outras, há uma orientação muito mais voltada para a Rússia. Na Idade Média, havia um estado inicialmente centrado em Novgorod e depois em Kiev, a Rus’ de Kiev, a qual foi estabelecida em 862 pelo chefe varegue Rurik e que em 1054 se dividiu em vários principados, entre eles Smolensk, Chernigov, Vladimir-Suzdal, Galícia-Volínia, Novgorod, Ryazan, Yaroslav, Turov, Pinsk, Minsk e outros. Entre 1237 a 1240, a maioria deles foram conquistados pelos mongóis sob a liderança de Batu Khan e o general Subotaï, e assim transformados em vassalos tributários da Horda de Ouro, um dos quatro khanatos mongóis que emergiram da fragmentação do Império Mongol a partir de 1260. Ante o domínio tártaro-mongólico, diferentes orientações entre esses principados apareceram: Alexandre Nevskiï, príncipe de Novgorod e notório por ter vencido os suecos na batalha do rio Neva em 1240 e os Cavaleiros Teutônicos em 1242 na batalha do lago Chudskoe, aliou-se aos mongóis, a ponto de ter recebido em 1252 de Batu Khan o título de Grão-Duque de Vladimir-Suzdal, a máxima honraria que um príncipe russo na época poderia ter. Essa orientação para o leste foi continuada depois pelos príncipes de Moscou, sob o patrocínio da Horda Dourada (a qual tinha interesse em criar dentro das terras russas um contraponto ao crescimento polaco-lituano), os quais passaram em meados do século XIV a serem os coletores de tributos dos principados russos à Horda. Já a oeste, no Principado da Galícia, o príncipe Danylo procurou ajuda ocidental para poder se livrar do domínio tártaro-mongólico, mas seu intento malogrou com a expedição do general mongol Burundaï sobre seus domínios em 1258/1259. As atuais terras bielorrussas, por sua vez, caíram mais ou menos na mesma época sob domínio lituano.
Entretanto, por volta de 1360, a Horda Dourada entrou em um processo de decadência, devido a conflitos intestinos entre pretendentes ao trono dentro do khanato mongol, gerando assim uma situação de anarquia e caos interno. Tirando vantagem dessa situação, a Lituânia e a Polônia conquistaram algumas das terras do sul e oeste até então sob vassalagem tártaro-mongólica, incluindo a Galícia-Volínia, Kiev e Chernigov. Mas a Horda de Ouro, que esboçou um reerguimento a partir de 1380, conseguiu manter a vassalagem sobre os principados orientais e setentrionais. O jugo tártaro-mongol sobre os principados setentrionais e orientais persistiu até 1480, quando Ivã III o Grande os derrotou na batalha do rio Ugra.
Uma vez livre do jugo tártaro-mongólico, os russos, sob a liderança de Moscou e depois da queda de Constantinopla na mão dos turcos otomanos em 1453 alegando serem a Terceira Roma, iniciaram seu processo expansionista. Ao leste, os russos conquistaram a bacia do rio Volga destruindo os khanatos de Kazan (1552) e Astrakhan (1556), e mais a leste o khanato da Sibéria nas décadas de 1580 e 1590. Todos eles originários da fragmentação da Horda de Ouro no curso do século XV. Ao longo do século XVII, a Rússia deu continuidade às conquistas orientais, alcançando o lago Baikal nos idos de 1630, o Oceano Pacífico na década seguinte e a península de Kamchatka na virada do século XVII para o XIX. Essa expansão para o leste teve seu clímax entre 1858 a 1860, com a conquista da região da bacia dos rios Amur e Ussuri, até então pertencentes à China. Ao sul, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, a Rússia conquistou o Cáucaso e a Ásia Central, e o último remanescente da Horda Dourada, o khanato da Criméia (vassalo do Império Otomano), conquistado em 1783.
Entretanto, a oeste, esse expansionismo foi mais lento e gradual, pois a Rússia teve que enfrentar poderes mais fortes e organizados como a Suécia, a Polônia-Lituânia e o Império Turco-Otomano. No oeste, a Rússia Imperial iniciou um processo de reconquista das terras russas sob domínio polaco-lituano. O primeiro grande passo desse movimento de reconquista foi dado entre 1654 a 1667, com a conquista de Kiev e das terras a leste do rio Dnieper na sequência da rebelião dos cossacos sob a liderança de Bogdan Khmelnitskiï, o qual no curso de seu levante buscou o auxílio do tsar russo, Alekseï Mikhailovich. A conquista russa da atual Ucrânia oriental foi ratificada pelo tratado de Andrussovo em 1667. Durante o reinado de Catarina a Grande (1762 – 1796), esse processo de reconquista alcançou seu clímax com as três partilhas da Polônia (1772, 1793 e 1795) junto com a Áustria e a Prússia. Como resultado, a Comunidade Polaco-Lituana foi riscada do mapa e as fronteiras ocidentais russas alargadas. Entretanto, uma dessas regiões, a Galícia-Volínia, não passou para o domínio russo, e sim para o domínio austríaco ainda na primeira partilha da Polônia. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Galícia-Volínia, junto com outras regiões do oeste da Ucrânia e Belarus, voltou a ser parte da Polônia como resultado da Guerra Polaco-Soviética de 1919 a 1921, e com a queda da Polônia nas mãos dos alemães no começo da Segunda Guerra Mundial, os russos, sob a liderança de Stalin, aproveitaram a situação para retomar os territórios que até o fim da Primeira Guerra Mundial lhes pertenciam. E desta vez a Galícia-Volínia foi enfim conquistada pelos russos.
Durante os anos em que a atual Ucrânia ocidental esteve sob domínio polaco-lituano, esforços foram feitos para criar divisões na etnos russa, a exemplo da criação da Igreja Greco-Católica Ucraniana (denominação essa da qual pertence a maior parte dos ucranianos e seus descendentes estabelecidos no Brasil) e da Igreja Greco-Católica Bielorrussa durante a União Eclesiástica de Brest em 1596, com a intenção de cooptar para o lado da Polônia-Lituânia e do Papa de Roma a lealdade das populações ortodoxas ante o crescimento do poder da Rússia Imperial a leste. Ambas as Igrejas possuem liturgia e hierarquia Greco-Bizantina (incluindo os padres e sacerdotes casados), mas sua comunhão é com o Papa de Roma.
A nova fé foi aceita pelas elites dessas regiões sob domínio polaco-lituano como uma forma de conservar seu status privilegiado, mas o mesmo não se verificou com o povo, o qual preferiu conservar sua religião original. Isso deu início a um terrível episódio de perseguições religiosas aos ortodoxos que não aceitaram a nova fé, onde a figura do bispo de Polotsk Josafat[2] Kuntsevych (uma espécie de equivalente dos séculos XVI e XVII do cardeal croata Aloysius Stepinac[3]) se destacou, chegando ao ponto de jogar a carne dos camponeses ortodoxos mortos aos cães.


Foto – “Duas botas – par”. Pôster soviético alusivo a respeito da colaboração entre os nacionalistas ucranianos e os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Quando a Alemanha nazista lançou a Operação Barbarossa em 22 de junho de 1941, três grupos de exércitos invadiram a URSS: um ao norte, através dos países bálticos na direção de Leningrado (atual São Petersburgo); outro pelo centro, passando por Belarus visando tomar Moscou; e um ao sul pela Ucrânia. No oeste da Ucrânia, principalmente na Galícia, os nazistas foram acolhidos como libertadores por grande parte da população. Em maio de 1943 foi criada a 14ª divisão de granadeiros da Waffen SS, a divisão Galychyna. Entre as principais figuras ucranianas que lutaram ao lado dos alemães na guerra estão Stepan Bandera, Roman Shukhevych e Yaroslav Stetsko, os quais faziam parte de um grupo terrorista chamado OUN-UPA, os quais há tempos causavam problemas para as autoridades polonesas na atual Ucrânia Ocidental, realizando chacinas de povos como tchecos, russos e poloneses que viviam em solo ucraniano. Mas, ao mesmo tempo em que o colaboracionismo com os nazistas era forte no oeste, no leste a situação era diferente, já que a lealdade ao poder soviético era dominante e praticamente geral. A partir do final de 1941 e começo de 1942 os sucessos nazistas começaram a minguar com o fracasso do cerco a Moscou. Na primavera de 1942 os nazistas conquistaram a Criméia e o Donbass, e no verão avançaram até as proximidades de Stalingrado (atual Volgogrado) no médio Volga. Em Stalingrado os nazistas sofreram uma derrota decisiva nas mãos do general Georgiï Zhukov[4], seguido da derrota da Operação Cidadela em Kursk e a libertação a Ucrânia oriental em outubro e novembro de 1943, assim como de Smolensk, Bryansk e Belarus oriental. O ano de 1944 marcou o fim da presença nazista em solo soviético com a “Operação Bagration”. Na mesma época também foram libertadas Romênia, Bulgária, Tchecoslováquia e Hungria, além de ajudar Tito na libertação da Iugoslávia. A guerra na Europa chegou ao fim com a tomada de Berlim em 1º de maio de 1945.
No pós-guerra a Polônia comunista lutou contra os remanescentes da OUN-UPA até 1947 e a URSS até 1949. Com a morte de Shukhevych em 1950 nas mãos da NKVD, o grupo perdeu sua capacidade combativa. Após a guerra Stepan Bandera se refugiou na Alemanha, aonde veio a ser morto pelo espião soviético Aleksander Shelyepin em 1959. Mas isso não significou o fim dos fascistas ucranianos. Através das rotas de fuga conhecida como ratlines, muitos dos oficiais nazistas e seus colaboradores fugiram da Europa para locais como o Oriente Médio, América do Sul, Estados Unidos e Canadá. Um político dos EUA chamado Frank Wisner deu abrigo em seu país a muitos antigos colaboradores dos nazistas de países como Ucrânia, Croácia e Hungria.
Com o fim da URSS e a independência em 1991, a Ucrânia, tal como a Rússia durante a Era Yeltsin e ao contrário do que aconteceu em Belarus após a ascensão de Lukashenko ao poder, foi flagelada por um processo de privataria onde grande parte do antigo patrimônio estatal soviético passou para a mão de oligarcas a preço de banana (nada muito diferente do que aconteceu no Brasil e na América Latina mais ou menos na mesma época, diga-se de passagem). Com tal patrimônio em mãos, os oligarcas passaram a usá-lo como um mero meio de enriquecimento à custa da miséria do povo, assim como passaram a influenciar por trás das cortinas a política do país. Mas para o povo a situação só piorou com o fim da URSS. Problemas como o desemprego, a miséria, a fome, a contaminação por AIDS, vício em drogas, prostituição e abandono de crianças passaram a grassar pelo país. Na política a corrupção em todos os níveis também aumentou vertiginosamente. Mas, diferente do que ocorreu na Rússia após a subida de Vladimir Putin ao poder em 2000, em que uma parte significativa da oligarca pós-soviética foi presa, alijada do poder e/ou exilada, a situação não mudou em nada na Ucrânia, mesmo com as sucessivas mudanças de governo. Em 2004, uma revolução colorida, a Revolução Laranja, teve lugar na Ucrânia após denúncias de suposta fraude eleitoral que teria beneficiado Viktor Yanukovych, o candidato pró-Rússia. Como resultado, assumiram o poder um grupo pró-Ocidente liderado por Viktor Yushchenko e Yuliya Tymoshenko. Uma das medidas que Yushchenko e Tymoshenko tomaram foi transformar Roman Shukhevych e Stepan Bandera em heróis da Ucrânia, assim como passaram a promover a história do Holodomor como uma justificativa para suas políticas de distanciamento com a Rússia e maior aproximação com o Ocidente e assim utilizando a crise de fome de 1932/1933 de um jeito idêntico ao que Israel faz com o Holocausto. Mas isso chegou ao fim em 2010 com a eleição de Viktor Yanukovych. Stepan Bandera e Roman Shukhevych tiveram seus títulos revogados em 2011. E ai chegamos no Euromaidan.


Foto – Batalhão Azov, um dos muitos bandos terroristas de Extrema Direita na Ucrânia pós-Euromaidan.

O Euromaidan, a despeito das manifestações que tiveram lugar em Kiev e outras cidades ucranianas, em realidade não passou de um golpe civil-oligárquico. Civil por causa das pessoas nas ruas protestando contra o governo Yanukovych. E oligárquico pelo fato de estar inserido dentro das brigas de oligarquias que geraram o golpe por trás das cortinas. De um lado a oligarquia do leste, mais favorável à Rússia e que tinha entre seus representantes o antigo presidente Viktor Yanukovych. E de outro, uma oligarquia mais ligada ao oeste do país e que tem como seus expoentes Igor Kolomoïskiï (governador biônico de Dnepropetrovsk e a terceira pessoa mais rica do país) e o atual presidente Petro Poroshenko. Isso sem contar com o apoio externo que o golpe recebeu, incluindo financiamento de várias ONGs internacionais, entre elas a Open Society do magnata e megaespeculador húngaro-americano George Soros. O mesmo George Soros que é o maior financiador de campanhas a favor da liberação da maconha e outras drogas mundo afora e que foi um dos grandes beneficiários da privataria na América Latina.
As manifestações do Euromaidan tiveram início em novembro de 2013, quando Viktor Yanukovych se recusou a fazer o acordo de associação com a União Européia, preferindo ao invés disso uma maior associação com a Rússia. Ao mesmo tempo, surgem denúncias seletivas de corrupção envolvendo seu governo, servindo de estopim para a mobilização artificial das massas para derrubar o então presidente ucraniano. Após uma série de protestos que se arrastaram por alguns meses, Yanukovych caiu no dia 22 de fevereiro. Durante o Euromaidan, a tática da falsa bandeira foi amplamente utilizada. Culpou-se o Berkut (polícia ucraniana) por ter atirado em manifestantes, sendo que em realidade provou-se mais tarde que quem perpetrou esses disparos foram snipers de grupos de Extrema Direita apoiados pelo Ocidente.
Ao fim, Yanukovych foi deposto e fugiu da Ucrânia. Ele foi substituído por uma junta provisória composta por partidos liberais e forças de extrema direita fascistóides (entre eles grupos como o Svoboda [palavra essa que em idiomas como o russo e o ucraniano significa liberdade] e o Setor de Direita [ucraniano Sektor Pravyÿ/Сектор Правий). Esses grupos, politica e ideologicamente falando, são nada menos que os herdeiros dos colaboradores ucranianos dos alemães na Segunda Guerra Mundial. Cinco dias mais tarde, foi revogada uma lei de 2012 assinada por Yanukovych que dava aos idiomas falados pelas minorias étnicas do país tais como os russos do sul e do leste e os húngaros e tchecos das respectivas zonas fronteiriças o status de idiomas nacionais. A junta de Kiev também criminalizou o Partido Comunista Ucraniano (a terceira força política do país na época), assim como novamente reabilitou Stepan Bandera e outros que foram transformados em heróis durante o governo Yushchenko e destituiu o Berkut, colocando em seu lugar uma polícia treinada e comandada por especialistas ocidentais (em especial norte-americanos e canadenses).


Foto – Manifestações do Euromaidan em Kiev.

Uma onda de escalada de terror neofascistóide tomou conta do país. Houve episódios como o ocorrido em Odessa no dia 2 de maio de 2014, onde uma central sindical onde estavam reunidos trabalhadores e estudantes de esquerda foi incendiada por um desses bandos de terroristas neofascistóides. Em realidade, esses bandos de terroristas de Extrema Direita em realidade não passam de peões nas mãos dos oligarcas ucranianos, muitos deles judeus, como é o caso de Igor Kolomoïskiï. No episódio 94 (“Laços entre irmãos” na versão brasileira) de Cavaleiros do Zodíaco, Shun de Andrômeda diz ao Guerreiro Deus Bado de Alkor que Hilda de Polaris se aproveitava do ódio que ele nutria por seu irmão gêmeo, e assim intentava transformá-lo em uma máquina de guerra cruel e sanguinária. Os oligarcas ucranianos fazem a mesmíssima coisa se aproveitando do secular ódio que eles nutrem em relação à Rússia, a ponto de usá-los como bucha de canhão em seu intento de meter a mão nas indústrias do Donbass. Que uma coisa fique bem clara: os oligarcas judeus da Ucrânia nenhuma simpatia em realidade nutrem por esses elementos. Para eles, jogá-los contra os russos do Donbass é a mesma coisa que matar dois coelhos com um golpe só. Em outras palavras, unir o útil ao agradável.
Ante essa situação, vendo-se privado de alguns de seus direitos e acima de tudo temendo sofrer uma chacina nas mãos desses elementos e temendo sofrerem o mesmo destino que sofreram os sérvios de Krajina (região sul da Croácia) em 1995, os russos da Criméia organizaram um referendo onde se perguntava a população se eles queriam continuar sendo parte da Ucrânia ou se voltariam a ser parte da Rússia após um hiato de 60 anos. O resultado não poderia ser outro: os habitantes da Península do Mar Negro em sua esmagadora maioria decidiram pela reintegração à Rússia. Em maio do mesmo ano, houve ainda os referendos que fizeram as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk se separarem de Kiev. Ambos os referendos foram mal-vistos pelo mesmo Ocidente “livre e democrático” que seis anos antes foi favorável à independência de Kosovo em relação à Sérvia, por supostamente terem violado a soberania ucraniana.
Desde então, a Ucrânia se encontra esfacelada como país, com uma situação de guerra civil que não tem previsão para chegar ao fim e que tem levado milhares de pessoas a buscarem asilo na Rússia e nos outros países vizinhos da Ucrânia. Economicamente, o país está cada vez mais falido e endividado e que agora não vive sem a ajuda de empréstimos do FMI e do Ocidente. No Donbass os esforços de Kiev para esmagar as repúblicas de Donetsk e Lugansk são cada vez mais infrutíferos. No fim das contas, o que representou o Euromaidan para a Ucrânia? Saiu do poder um corrupto e em seu lugar entrou um sujeito tão ou mais corrupto quanto o antecessor. Para piorar ainda mais a situação, chegou-se a ponto de estrangeiros ocuparem cargos importantes no novo governo ucraniano (entre eles o ex-presidente georgiano Mikhail Sakashvili, que hoje é o governador da província de Odessa). Hoje em dia a Ucrânia não passa de uma falida e caótica colônia ianque no coração da Europa.
A Primavera Árabe começou com liberais protestando nas ruas e desembocou em Al Qaeda, Estado Islâmico e outros grupos terroristas de matiz wahhabita-salafista. O Euromaidan começou com liberais protestando nas ruas e desembocou em Setor de Direita, Svoboda, Batalhão Azov e outros grupos terroristas de Extrema Direita. Pergunto a não apenas a essa imbecil que carregou a bandeira ucraniana com os dizeres em questão como também ao Alexandre Seltz e a todos aqueles que, consciente ou inconscientemente, querem que o exemplo ucraniano se repita em terras tupiniquins: é isso que vocês querem para o Brasil? Ou seja, que o país se torne uma terra de caos, guerra civil, ódios raciais e anarquia interminável, além de um estado zumbi? Pois eu não quero isso. Se isso vier a acontecer, vocês carregarão a culpa pela tragédia que irá se abater sobre o país.


Foto – Dilma e Yanukovych. Encontro em Brasília, 2011.

Fontes:
Amarilis Demartini & Caimmy de Sá – O ensaio do golpe da direita globalista no Brasil. Disponível em: http://legio-victrix.blogspot.com.br/2015/12/amarilis-demartini-caimmy-de-sa-o.html
Crise Ucraniana: os crimes de Stepan Bandera. Disponível em: http://apaginavermelha.blogspot.com.br/2014/06/crise-ucraniana-os-crimes-de-stepan.html
Direita brasileira quer repetir receita ucraniana. Disponível em:
Espectros da Maidan: Manifestantes pedem golpe à la Ucrânia no Brasil. Disponível em: http://br.sputniknews.com/brasil/20160317/3847890/maidan-manifestantes-golpe-ucrania-brasilia.html
Lava Jato monitora ligação entre Lula e Dilma Rousseff nesta manhã. Disponível em: http://odia.ig.com.br/brasil/2016-03-16/lava-jato-monitora-ligacao-entre-lula-e-dilma-rousseff-nesta-manha.html
Notícias sobre a Ucrânia (em russo com legendas em português). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Kvb75WEYmEo
O Brasil de hoje é a Ucrânia de ontem... Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZcOV_eb8G34
O que é Olavo de Carvalho? Quem já sabemos... Disponível em: http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2016/03/o-que-e-olavo-de-carvalho-quem-ja.html
O verdadeiro Holodomor que o capitalismo trouxe para a Ucrânia. Disponível em: http://mundoalternativo360.blogspot.com.br/2013/04/o-verdadeiro-holodomor-que-o.html.
Será tão absurdo comparar Brasil atual com a Ucrânia? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3fD9qRdVKDg
Sobre o golpe na Ucrânia – Euromaidan. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k2gNcrucQFs
Study proves Maidan snipers were western-backed opposition’s false flag (em inglês). Disponível em:
Ucrânia: a classe operária, como classe, não participa de modo algum desses acontecimentos. Disponível em: http://apaginavermelha.blogspot.com.br/2014/01/ucrania-classe-operaria-como-classe-nao.html
Ukrainian nationalism – its roots and his nature (em inglês). Disponível em:


NOTAS:


[1] Leia-se “Rrarkoff”, pois no russo, assim como em idiomas como o farsi, o árabe e o mongol, a partícula kh (cirílico х) tem o mesmo valor do ch no alemão e no polonês, do j no espanhol e do h no inglês e no húngaro: r aspirado. E, quando uma palavra termina em v, este ganha o som de ff.
[2] Leia-se Iosafat, pois em idiomas como o polonês, o alemão, o holandês, o húngaro, as línguas escandinavas e bálticas, o servo-croata, o bósnio, o esloveno, o eslovaco e outros do leste, norte e centro da Europa, a partícula j tem valor de i.
[3] Leia-se Stepinats, pois no servo-croata, assim como em idiomas como o polonês, o húngaro, o esloveno, o eslovaco, o mandarim, o lituano, o letão e o tcheco, a partícula c tem valor de ts.
[4] Leia-se Jukov, pois no russo a partícula zh (cirílico Ж) tem valor de j.

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