terça-feira, 15 de março de 2016

PSDB em xeque: as modificações no cenário geopolítico.

Figura 1 - PT e PSDB: na atualidade, os principais focos de poder ideológico e partidário.

Por Lucas Novaes.


Neste último domingo, dia 13 de março de 2016, ocorreu o que foi considerada pelos grandes meios de comunicação a maior manifestação antigovernista até o momento. Foi um ato que reuniu diversas manifestações e passeatas contra Dilma Rousseff e Luís Inácio Lula da Silva e que foi encaminhado tanto por setores direitistas como o “Movimento Endireita Brasil” e por políticos da família Bolsonaro como também por apartidários em geral. O público presente nos protestos é formado, principalmente, por pessoas de classe média descontentes com o governo atual. O discurso oficial desses manifestantes é o velho sentimento udenista “contra a corrupção” presente nos falsos moralistas da mídia e reproduzido entre aqueles que não possuem entendimentos profundos sobre estratégia geopolítica.

Principal força político-partidária anti-PT no momento, o PSDB decidiu que se faria presente nessas manifestações. Aécio e Alckmin planejavam discursar na Avenida Paulista, mas foram surpreendidos com a resposta negativa vinda por parte da população. Em certos meios midiáticos alternativos, os tucanos são duramente criticados pelo seu oportunismo. Seria isso um sinal de que essa onda anti-governo é apartidária ou considera todos os políticos corruptos? A resposta é não. Existe um setor de direita radical que participou das manifestações e é representado por políticos que apoiam medidas repressivas contra o comunismo, o populismo e os movimentos sociais. Este setor está alinhado com políticos ultradireitistas e também admira fundamentalistas evangélicos.

VOLTANDO NO TEMPO: SITUAÇÃO POLÍTICA DOS ANOS 1990

Inicialmente, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) tinha como objetivo representar a social democracia no Brasil, o que compreende uma postura de centro-esquerda liberal próxima dos grandes partidos europeus. Os tucanos originais seriam facilmente reconhecidos como parte da esquerda caso disputassem as eleições em países como os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido. Felizmente, a ascensão do Partido dos Trabalhadores e de Lula no final dos anos 1980 e início dos 1990 fez com que o partido abocanhasse a esquerda política nacional de forma consistente. Isso acabou “empurrando” os tucanos para a direita mesmo contra sua vontade pois os petistas nos anos 1990 eram os maiores representantes da retórica populista latino-americana.

Isso fez com que o Brasil dos anos 1990 testemunhasse um embate entre a esquerda latina, influenciada pelo Socialismo, Teologia da Libertação e populismo latino-americano, contra a esquerda europeia e anglo-americana, representada pelo liberalismo social e econômico e pelo elitismo academicista. Foi um embate entre o nacional (PT) e o estrangeiro (PSDB).

Além da já crescente dicotomia petucana, os anos 1990 também proporcionaram alternativas válidas. Um bom exemplo é o pró-desenvolvimentista Ciro Gomes, terceiro colocado nas eleições presidenciais de 1998, representante do que podemos chamar de esquerda saudável e trabalhista. Outra alternativa positiva foi Enéas Carneiro, também terceiro colocado, só que nas eleições de 1994. Sua rejeição às ideias privatizantes dos liberais de direita, condenação das ideias morais liberais da esquerda principal, bem como sua insistência na noção de que o Brasil deveria construir sua própria bomba atômica, contrariando interesses internacionais fez de Enéas um representante da direita “saudável”, nacionalista, antiliberal e anti-imperialista. 

A SITUAÇÃO POLÍTICA DOS ANOS 2000: FORTALECIMENTO DO PETUCANATO - A PRIMEIRA ETAPA DA AMERICANIZAÇÃO

Na década seguinte (anos 2000), ocorreu o enfraquecimento das alternativas pró-nacionais e um fortalecimento do bipartidarismo (a forma de pensar no Brasil se tornou mais similar ao do cidadão europeu). O PT que chegou ao poder nos anos 2000 é diferente do que foi nos anos 1980 e 1990, agora disposto a fazer concessões ao capital internacional e às grandes empresas, além de reduzir sua atenção aos problemas de classe, focando também nos problemas de grupos específicos, tais como ocorre na Europa e EUA. O PSDB se tornou o principal líder da oposição com seu discurso centrista e acabou se tornando o partido “oficial” da classe média. As fortes denúncias contra os interesses americanos, presente nos anos 1990 em discursos de Ciro Gomes e Enéas foram, pouco a pouco, desaparecendo do cenário político brasileiro. As alternativas ao PT e PSDB agora são muito menos profundas (Marina Silva) e não representam nenhuma ameaça à elite dominante.

A SITUAÇÃO POLÍTICA NOS ANOS 2010: DA PRIMEIRA À SEGUNDA FASE DA AMERICANIZAÇÃO

Na década atual, já podemos ver sinais de desgaste na hegemonia petucana. Porém, isso não é sinal de que devemos comemorar. A principal alternativa à hegemonia PT-PSDB não é como as alternativas nacionalistas e desenvolvimentistas de Enéas e Ciro Gomes, mas sim um avanço da extrema-direita pró-americana. Pseudonacionalistas e “cristãos” liberais pretendem ocupar o espaço atualmente ocupado pelo PSDB. Isso poderá representar a troca entre a centro-esquerda progressista (similar ao Partido Democrata nos EUA) pela direita liberal e religiosa (similar ao Partido Republicano nos EUA). No campo da esquerda, o enfraquecimento da popularidade petista está intimamente ligado ao crescimento do esquerdismo cosmopolita e liberal. Isso pode representar a troca entre o populismo (hoje nas mãos do PT) pela esquerda liberal (similar ao Partido Democrata nos EUA). Ao final, se essas trocas se concretizarem, iremos ao estágio final da “americanização da política brasileira”: primeiramente, nos anos 2000, nosso pensamento se tornou similar ao do europeu (primeira etapa). Agora, nos anos 2010, nosso pensamento está se tornando similar ao do cidadão americano (segunda etapa).

E PARA ONDE VAI O PSDB?

Para muitos, a possível queda do PT representa a volta do PSDB aos seus “anos de dominação” ocorridos entre 1994 a 2002. Porém, uma análise mais profunda que leva em consideração a geopolítica nos mostra que o PSDB está cotado para ser o segundo partido a cair (depois do PT, caso sua destruição seja consumada, obviamente). Os tucanos não somente não são populares entre o eleitorado esquerdista devido a seu histórico de privatizações e uniões com políticos religiosos como também está perdendo força entre a direita devido ao seu progressismo centrista. Resumindo: a direita prefere Jair Bolsonaro. O PSDB atualmente está encurralado e não está autorizado a fazer movimentos bruscos. Conclui-se que a queda do PT não é algo bom para os tucanos e também não é boa para o povo brasileiro. Se o “Status Quo” mudar, algo muito pior pode tomar seu lugar.

Os movimentos dissidentes ainda não são fortes o suficiente para representar uma ameaça real ao domínio PT-PSDB. Uma possível queda dessa bipolarização atual representará o surgimento de uma nova bipolarização que apenas reforçará o que há de pior na dinâmica do imperialismo global. Portanto, deve-se ter cuidado e cautela na hora de criticar algum partido que represente poder na atualidade. Não adianta enfraquecer a situação ao custo de fortalecer uma falsa oposição.

REFERÊNCIAS:



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