Figura 1 - PT e PSDB: na atualidade, os principais focos de
poder ideológico e partidário.
Por Lucas Novaes.
Neste último domingo, dia 13
de março de 2016, ocorreu o que foi considerada pelos grandes meios de comunicação
a maior manifestação antigovernista até o momento. Foi um ato que reuniu
diversas manifestações e passeatas contra Dilma Rousseff e Luís Inácio Lula da
Silva e que foi encaminhado tanto por setores direitistas como o “Movimento
Endireita Brasil” e por políticos da família Bolsonaro como também por
apartidários em geral. O público presente nos protestos é formado,
principalmente, por pessoas de classe média descontentes com o governo atual. O
discurso oficial desses manifestantes é o velho sentimento udenista “contra a
corrupção” presente nos falsos moralistas da mídia e reproduzido entre aqueles
que não possuem entendimentos profundos sobre estratégia geopolítica.
Principal força
político-partidária anti-PT no momento, o PSDB decidiu que se faria presente nessas
manifestações. Aécio e Alckmin planejavam discursar na Avenida Paulista, mas
foram surpreendidos com a resposta negativa vinda por parte da população. Em certos
meios midiáticos alternativos, os tucanos são duramente criticados pelo seu
oportunismo. Seria isso um sinal de que essa onda anti-governo é apartidária ou
considera todos os políticos corruptos? A resposta é não. Existe um setor de
direita radical que participou das manifestações e é representado por políticos
que apoiam medidas repressivas contra o comunismo, o populismo e os movimentos sociais.
Este setor está alinhado com políticos ultradireitistas e também admira
fundamentalistas evangélicos.
VOLTANDO
NO TEMPO: SITUAÇÃO POLÍTICA DOS ANOS 1990
Inicialmente, o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB) tinha como objetivo representar a social
democracia no Brasil, o que compreende uma postura de centro-esquerda liberal próxima
dos grandes partidos europeus. Os tucanos originais seriam facilmente
reconhecidos como parte da esquerda caso disputassem as eleições em países como
os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido. Felizmente, a ascensão do Partido dos
Trabalhadores e de Lula no final dos anos 1980 e início dos 1990 fez com que o
partido abocanhasse a esquerda política nacional de forma consistente. Isso
acabou “empurrando” os tucanos para a direita mesmo contra sua vontade pois os
petistas nos anos 1990 eram os maiores representantes da retórica populista
latino-americana.
Isso fez com que o Brasil
dos anos 1990 testemunhasse um embate entre a esquerda latina, influenciada
pelo Socialismo, Teologia da Libertação e populismo latino-americano, contra a
esquerda europeia e anglo-americana, representada pelo liberalismo social e
econômico e pelo elitismo academicista. Foi um embate entre o nacional (PT) e o
estrangeiro (PSDB).
Além da já crescente dicotomia
petucana, os anos 1990 também proporcionaram alternativas válidas. Um bom
exemplo é o pró-desenvolvimentista Ciro Gomes, terceiro colocado nas eleições
presidenciais de 1998, representante do que podemos chamar de esquerda saudável
e trabalhista. Outra alternativa positiva foi Enéas Carneiro, também terceiro
colocado, só que nas eleições de 1994. Sua rejeição às ideias privatizantes dos
liberais de direita, condenação das ideias morais liberais da esquerda
principal, bem como sua insistência na noção de que o Brasil deveria construir
sua própria bomba atômica, contrariando interesses internacionais fez de Enéas
um representante da direita “saudável”, nacionalista, antiliberal e
anti-imperialista.
A
SITUAÇÃO POLÍTICA DOS ANOS 2000: FORTALECIMENTO DO PETUCANATO - A PRIMEIRA
ETAPA DA AMERICANIZAÇÃO
Na década seguinte (anos
2000), ocorreu o enfraquecimento das alternativas pró-nacionais e um
fortalecimento do bipartidarismo (a forma de pensar no Brasil se tornou mais
similar ao do cidadão europeu). O PT que chegou ao poder nos anos 2000 é
diferente do que foi nos anos 1980 e 1990, agora disposto a fazer concessões ao
capital internacional e às grandes empresas, além de reduzir sua atenção aos
problemas de classe, focando também nos problemas de grupos específicos, tais
como ocorre na Europa e EUA. O PSDB se tornou o principal líder da oposição com
seu discurso centrista e acabou se tornando o partido “oficial” da classe
média. As fortes denúncias contra os interesses americanos, presente nos anos
1990 em discursos de Ciro Gomes e Enéas foram, pouco a pouco, desaparecendo do
cenário político brasileiro. As alternativas ao PT e PSDB agora são muito menos
profundas (Marina Silva) e não representam nenhuma ameaça à elite dominante.
A
SITUAÇÃO POLÍTICA NOS ANOS 2010: DA PRIMEIRA À SEGUNDA FASE DA AMERICANIZAÇÃO
Na década atual, já podemos
ver sinais de desgaste na hegemonia petucana. Porém, isso não é sinal de que
devemos comemorar. A principal alternativa à hegemonia PT-PSDB não é como as
alternativas nacionalistas e desenvolvimentistas de Enéas e Ciro Gomes, mas sim
um avanço da extrema-direita pró-americana. Pseudonacionalistas e “cristãos”
liberais pretendem ocupar o espaço atualmente ocupado pelo PSDB. Isso poderá
representar a troca entre a centro-esquerda progressista (similar ao Partido
Democrata nos EUA) pela direita liberal e religiosa (similar ao Partido
Republicano nos EUA). No campo da esquerda, o enfraquecimento da popularidade
petista está intimamente ligado ao crescimento do esquerdismo cosmopolita e
liberal. Isso pode representar a troca entre o populismo (hoje nas mãos do PT)
pela esquerda liberal (similar ao Partido Democrata nos EUA). Ao final, se
essas trocas se concretizarem, iremos ao estágio final da “americanização da
política brasileira”: primeiramente, nos anos 2000, nosso pensamento se tornou
similar ao do europeu (primeira etapa). Agora, nos anos 2010, nosso pensamento
está se tornando similar ao do cidadão americano (segunda etapa).
E
PARA ONDE VAI O PSDB?
Para muitos, a possível
queda do PT representa a volta do PSDB aos seus “anos de dominação” ocorridos
entre 1994 a 2002. Porém, uma análise mais profunda que leva em consideração a
geopolítica nos mostra que o PSDB está cotado para ser o segundo partido a cair
(depois do PT, caso sua destruição seja consumada, obviamente). Os tucanos não
somente não são populares entre o eleitorado esquerdista devido a seu histórico
de privatizações e uniões com políticos religiosos como também está perdendo
força entre a direita devido ao seu progressismo centrista. Resumindo: a
direita prefere Jair Bolsonaro. O PSDB atualmente está encurralado e não está
autorizado a fazer movimentos bruscos. Conclui-se que a queda do PT não é algo
bom para os tucanos e também não é boa para o povo brasileiro. Se o “Status
Quo” mudar, algo muito pior pode tomar seu lugar.
Os movimentos dissidentes
ainda não são fortes o suficiente para representar uma ameaça real ao domínio
PT-PSDB. Uma possível queda dessa bipolarização atual representará o surgimento
de uma nova bipolarização que apenas reforçará o que há de pior na dinâmica do
imperialismo global. Portanto, deve-se ter cuidado e cautela na hora de
criticar algum partido que represente poder na atualidade. Não adianta
enfraquecer a situação ao custo de fortalecer uma falsa oposição.
REFERÊNCIAS:
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