quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Por que a Revista Veja apoia Marcelo Freixo?


Por Lucas Novaes

Um fato que ocorreu nos últimos dias e que surpreendeu muitos incautos foi uma capa da revista semanal VEJA publicada apenas no Rio de Janeiro que retrata uma suposta prisão do político Marcelo Bezerra Crivella (que atualmente disputa o cargo de prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno, contra o PSOLista Marcelo Freixo). A famigerada revista relata um antigo incidente (ocorrido em 1990), onde, de acordo com a versão da revista, Marcelo, acompanhado de homens armados, teria expulso uma família de um terreno que pertencia a Igreja Universal. Após o ato, ele teria sido levado a delegacia e passado o dia preso. Logo após a repercussão da capa, o político carioca publicou um vídeo em página no Facebook para dar a sua versão dos fatos. Crivella nega ter sido preso. O objetivo deste texto não é o de discutir se o incidente ocorreu ou não, mas sim o de discutir o que, para muitos de nós, já se mostrou óbvio: por que a  VEJA está empenhada em eleger Marcelo Freixo contrariando o “senso comum” que nos diz que a famosa revista representa o reacionarismo político (constantemente rotulada como sendo conservadora) e o político do PSOL representa a luta pelo progressismo e pelo socialismo?

Primeiramente, deve-se lembrar que essa não é a primeira vez em que a revista de maior alcance no país (que é também parte de um conglomerado midiático chamado Grupo Abril) tenta interferir nos resultados de alguma eleição. Em 2014, na véspera do segundo turno da eleição presidencial ela, em um esforço monumental para tirar o Partido dos Trabalhadores do poder, publicou uma capa bombástica incriminando Lula e Dilma Rousseff (então candidata e que viria a ser eleita para seu segundo mandato na presidência do Brasil) pelos crimes de corrupção na Petrobrás conhecidos como “Petrolão”. A preferência da revista por Aécio Neves (que viria a ser derrotado) é bastante fácil de entender: o PT sempre possuiu características as quais o tornou odiado pela VEJA: interesse na democratização da mídia, apoio por parte das camadas mais populares da sociedade e a defesa de uma política externa menos submissa aos interesses norte-americanos (interesses esses promovidos abertamente pelos colunistas do site da publicação semanal da Abril).  


Figura - Na foto, uma das capas mais vergonhosas já produzidas pela nossa grande mídia.

Mas, você poderia indagar, o mesmo ódio direcionado aos petistas não se aplicaria com a mesma intensidade ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)? A resposta é não. São dois partidos muito diferentes. Primeiro, o PSOL é um partido minúsculo, com poucos políticos eleitos e não representa ameaça alguma a grande imprensa. Além disso, o apoio dado ao PSOL não é concentrado demograficamente nas camadas populares (classes menos abastadas) e sim no público de classe média alta, progressista e universitária, como já foi confirmado pelas últimas pesquisas do DATAFOLHA antes do primeiro turno (não que seja necessário a pesquisa de um instituto famoso para comprovar o óbvio). É valido lembrar também que o PSOL, de maneira geral, junto com a grande imprensa, apoiou o Golpe (impeachment de Dilma Rousseff) pois o mesmo ficou em “em cima do muro” até o último minuto e, quando a realização do impeachment no congresso já se demonstrava um acontecimento inevitável, resolveu dar os seus insignificantes 6 votos na contramão da derrubada de Dilma Rousseff do poder. O recente apoio de Luciana Genro dado a operação “Lava Jato”, logo após a prisão de Eduardo Cunha (prisão essa feita para criar uma suposta visão de imparcialidade por parte da operação), demonstra que estamos falando de um partido que não vê problema algum no fato de que seus principais quadros sejam crentes na arbitrária justiça do estado brasileiro. E isso para não falar de posturas similares no tocante à política externa (haja vista, entre outras coisas, eles se posicionaram a favor da derrubada de Kadaffi em 2011 e do golpe na Ucrânia no ano retrasado sob a alegação de que se tratava de levantes populares contra regimes autoritários e repressores).

Caso os fatos citados acima não sejam suficientes para lhe convencer, vamos falar um pouco sobre o que a VEJA e Marcelo Freixo tem em comum e que os diferencia de Crivella. Sabe-se que Crivella, sendo bispo evangélico e cantor gospel, é um homem religioso de matriz neopentecostal. É membro da Igreja Universal do Reino de Deus. A VEJA, por sua vez, é dirigida por André Petry, um crítico da intromissão da Igreja no Estado. Não só isso, a VEJA dá total apoio a pautas progressistas como os direitos homossexuais e o direito ao aborto, mesmo que o faça de maneira mais discreta do que a sua correlacionada “Brasil Post” (versão brasileira da famosa Huffington Post). Ambas são patrocinadas pelo mesmo grupo (Grupo Abril).

Sendo assim, a VEJA pode apoiar o candidato Marcelo Freixo sem medo. Ele dificilmente irá vencer, mas caso vença não irá ameaçar o monopólio da imprensa e ainda poderá avançar algumas pautas importantes defendidas pela mesma.


REFERÊNCIAS:
https://psolriodasostras.wordpress.com/2011/02/27/a-revolucao-chega-a-libia-fora-kadaffi/
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/2016/noticia/2016/10/revista-publica-fotos-que-seriam-da-prisao-de-crivella-ha-26-anos-ele-nega.html
http://eleicoes.uol.com.br/2016/noticias/2016/10/07/crivella-tem-votos-dos-pobres-crivela-os-dos-ricos-aponta-datafolha.htm
https://luizmuller.com/2014/03/01/psol-chama-golpe-neonazista-na-ucrania-de-revolucao-popular-alguem-se-surpreende/
http://www.revistaforum.com.br/2016/10/19/luciana-genro-comemora-prisao-de-cunha-e-da-vivas-a-lava-jato/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Petry
http://causaoperaria.org.br/sou-golpista-e-fecho-com-freixo/

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dedicatória a Muammar al-Kadaffi, o eterno leão do deserto.


Foto – Muammar al-Kadaffi (1942 – 2011).
Em 20 de outubro de 2016 completaram-se cinco anos do falecimento do coronel Muammar Muhammad Abu Minyar al-Kadaffi, o homem que governou a Líbia entre os anos de 1969 a 2011.
Nascido em 7 de junho de 1942, em sua juventude Kadaffi foi influenciado pelos ideais pan-arabistas do líder egípcio Gamal Abdel Nasser (com os quais teve conhecimento através do programa de rádio “Voz dos Árabes”, que transmitia do Cairo os discursos do presidente egípcio a todo o mundo árabe), chegou ao poder na Líbia em 1969 ao derrubar o Rei Idris I através do movimento dos oficiais livres. Antes de Kadaffi ascender ao poder, a Líbia era um país extremamente miserável (tal qual, por exemplo, a Venezuela antes de Hugo Chávez), cuja renda per capita era estimada em 40 dólares por pessoa em seus primeiros anos após a independência. E isso para não falar da forte ingerência ocidental nos assuntos internos líbios. Em 1959, quando Kadaffi ainda estava no colegial, foi descoberto petróleo na Líbia, que trouxe para o país grande quantidade de divisas, mas que pouco ou nada melhorou na qualidade da vida do povo (e isso para não falar do fato de que a exploração do petróleo líbio estava na mão de companhias petrolíferas ocidentais, as quais viviam maquinando para conseguir favores da parte da monarquia), no que só ajudou a reforçar com o ímpeto revolucionário de Kadaffi.
Tal cooperação com o Ocidente (que incluía, entre outras coisas, a corrupção moral de sua população através da exposição aos estilos de vida ocidentais, o estabelecimento das bases militares britânicas em Tobruk e El Adem e a base norte-americana de Wheelus, situada nas cercanias de Trípoli, que serviu de base de treinamento para a Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN], elo de ligação do Comando Aéreo Estratégico e quartel-general da 17ª força aérea dos Estados Unidos, além da criação de uma Estação de Rádio em Benghazi que transmitia propaganda pró-ocidental para o mundo árabe, em contraposição à “Voz dos Árabes” e uma missão de apoio ianque onde conselheiros e técnicos operavam em todos os setores do governo e administrações regionais), além da repressão política, foi com o tempo corroendo com a popularidade do rei Idris I entre o povo líbio.
Enquanto isso, Kadaffi desenvolveu uma grande atividade revolucionária, onde discutia seus planos visando à derrubada da monarquia em encontros secretos, assim como o governo que seria instaurado depois disso. E, a partir de 1963, fundou o Movimento Secreto dos Oficiais Sindicalistas Livres, nomeado em homenagem ao movimento liderado por Nasser que em 1952 derrubara o Rei Faruk. Após receber a patente de tenente do Exército Líbio e breve uma passagem na Inglaterra (onde estudou táticas de comunicações em Beaconsfield), iniciou suas conspirações contra o rei e sua autoridade. Nesse ínterim, colheu de forma oculta informações sobre o aparato de repressão do rei (incluindo sua polícia secreta e suas forças de segurança), e soube que eram minados por corrupção, ineficiência e eram dados a bebedeiras. E seu movimento, composto principalmente por pessoas dos estratos sociais subalternos da sociedade líbica, cresceu. E assim, em 1º de setembro de 1969, quando o rei Idris estava de férias na Turquia, Kadaffi agiu. Ao fim de uma conspiração que se alastrou pelo país todo, o rei Idris foi deposto e Kadaffi se tornou o novo senhor da Líbia. E, junto com a deposição do rei, aboliu também a Constituição de 1951 e instituiu um novo regime, que ele mais tarde viria a chamar de Jamahiriya, o estado das massas, norteado pelas ideias do livro que ele mesmo escreveu, o Livro Verde, orientado por um conjunto de ideias as quais ele deu o nome de Terceira Teoria Universal.

Foto – Exemplares do Livro Verde de Kadaffi (em inglês e em russo).
Sob Kadaffi, a Líbia se tornou o país mais rico e com maior IDH de toda a África. Diferente do que fazem, por exemplo, os monarcas dos Estados do Golfo Pérsico, Kadaffi não usava o dinheiro do petróleo para enriquecimento próprio. Nunca construiu palácios luxuosos, muito menos iates e carros importados. Muito pelo contrário, utilizou a renda do petróleo (após esse ser devidamente nacionalizado) para reconstruir o país e garantir melhores condições de vida para o povo. O país e sua infraestrutura foram modernizados, e inúmeros avanços sociais foram alcançados. A Líbia tinha uma altíssima taxa de alfabetização, saúde e eletricidade eram gratuitos, empréstimos bancários eram livres de juros, recém-casados recebiam cerca de €50 mil para construir uma nova casa, mães recebiam cerca de €5 mil por filho, os cidadãos recebiam uma percentagem de todas as vendas do petróleo (que era €0,14 por litro), o governo pagava a metade do preço do seu carro, desempregados líbios recebiam o salário médio por sua profissão em benefícios, entre outros.
Para terem ideia da situação, em 1970, logo após a subida de Kadaffi ao poder, a Líbia tinha um IDH um pouco pior ao do Brasil (0,541 contra 0,551 do Brasil), que com o passar dos anos foi sendo superado. Em 2007, a situação era outra: o IDH líbio (então o maior de toda a África) era de 0,810, enquanto que o IDH brasileiro era de 0,764 (e que mesmo com os avanços sociais dos governos Lula e Dilma pouco ou nada reduziu com o abismo entre ricos e pobres).

Foto – Os êxitos sociais do governo Kadaffi na Líbia (em inglês).
E, como não poderia deixar de ser, Kadaffi (que em seu governo apoiou várias lutas de libertação como na Nicarágua, em Angola e Moçambique, além de ter dado apoio à Iugoslávia na década de 1990 ante a ofensiva germano-americana-saudita-turca-iraniana em apoio aos separatismos bósnio, croata, esloveno e kosovar), tal qual também aconteceu com líderes como Saddam Hussein, Hugo Chávez, Fidel Castro, Thomas Sankara, Mahmoud Ahmadinejad, Slobodan Miloševiċ[1], Evo Morales, Kim Jong-il, Bashar al-Assad, Nicolás Maduro e todos aqueles que não seguem e comungam com a cartilha geopolítica do poder atlantista ocidental, foi extremamente demonizado nos grandes meios de comunicação (que obviamente são partidários em favor do poder atlantista). Acusações de envolvimento com terrorismo foram uma constante em seus 42 anos de governo, assim como a periódica submissão do país à sanções econômicas (entre elas uma que vigorou entre 1992 a 1999) pela ONU e até mesmo a ataques aéreos ocidentais (como os que atingiram Tripoli e Benghazi em 1986 e que ceifaram com a vida de sua filha caçula, Hanna).
Entretanto, em seus últimos anos de vida Kadaffi cometeu o erro de abandonar os investimentos no desenvolvimento bélico de seu país em troca de melhores relações diplomáticas com o Ocidente (foi a partir daí que Kadaffi teve seus inúmeros encontros com chefes de Estado ocidentais, entre eles Silvio Berlusconi, Nicolas Sarkozy, Tony Blair e George W. Bush). O que Kadaffi certamente não previu é que esse mesmo Ocidente, mais ou mais tarde, iria lhe aplicar uma punhalada pelas costas do mesmo jeito. O que veio a acontecer a partir de 19 de março de 2011, em meio à Primavera Árabe (que não passou de uma grande revolução colorida) através de uma invasão da OTAN, com Estados Unidos, Inglaterra e França à frente. Tal invasão, que também contou com o apoio da Turquia e das corruptas e vendidas monarquias do Golfo Pérsico, foi feita com o objetivo de reconquistar a produção de petróleo do país (na época superior a 45 bilhões de barris em reservas) para as companhias petroleiras ocidentais e meter a mão no Banco Central Líbio (que em sua época não era ligado ao Sistema Financeiro Internacional, o qual ficou extremamente incomodado após Kadafi propor e quase conseguir que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar e lastreada no ouro [e assim protegida das flutuações cambiais do dólar]).


Foto – Bandeira da Líbia entre 1977 a 2011.
Durante a invasão da OTAN á Líbia em 2011 (onde foi imposta uma zona de exclusão área ao país), diversas cidades foram destruídas (entre elas Sirte, onde Kadaffi foi martirizado), assim como o Grande Rio Verde (a maior obra arquitetônica dos tempos modernos e que transportava água potável para dezenas de cidades líbias) e o aeroporto de Trípoli (que foi construído por empreiteiras brasileiras).
Kadaffi recusou diversas propostas para deixar seu país, onde ficou e lutou até o seu martírio no dia 20 de outubro de 2011 nas mãos dos terroristas do Conselho Nacional de Transição (cuja bandeira é a mesma que a Líbia usava no tempo do Rei Idris I). E vejam a diferença: enquanto que para destruir o Iraque foi preciso duas massivas invasões anglo-americanas, sanções econômicas seguidas de uma longa e sangrenta guerra civil, para destruir a Venezuela e a Síria foi preciso uma guerra civil teleguiada desde o Ocidente e para destruir a Líbia foi preciso uma guerra civil combinada com uma invasão do “exército democrático da OTAN” (referência ao título de uma música sérvia de mesmo nome, feita em 1999, quando a Iugoslávia foi flagelada por um ataque da OTAN. A melodia dessa música é a mesma da música da guerra civil russa “Exército Branco, Barão Negro” [em russo Belaïa Armiïa, Chïornyï Baron/Белая Армия, Чёрный Барон]), aqui no Brasil foi preciso apenas algumas manobras de uma camarilha de políticos corruptos e entreguistas somado à ação da mídia de massa e do judiciário igualmente corrupto para Dilma Rousseff sofrer impeachment. E isso ainda mais levando em consideração que para a destruição da Líbia (um pequeno país que a época contava com cerca de 6 milhões de habitantes) e sua infraestrutura, foi preciso a OTAN reunir 70 países e infiltrar mercenários estrangeiros (ligados a grupos terroristas como a Al Qaeda) em várias cidades do país.
Desde que Kadaffi se foi, a Líbia se encontra esfacelada, abrigando três diferentes governos: um em Tobruk (que domina a região oriental e que controla os principais recursos petroleiros) e dois em Tripoli, capital nacional, que competem pela supremacia na parte ocidental do país. Sem contar com o fato de que atualmente existem na Líbia células de grupos terroristas wahhabitas como o Estado Islâmico e a Al Qaeda e o fato de ser um dos principais países por aonde refugiados vindos do norte da África se dirigem à Europa. Segundo diversos organismos internacionais, desde 2015 mais de 15 mil pessoas têm sido mortas nas regiões costeiras do país tentando atravessar o Mar Mediterrâneo em direção à Europa. Diga-se de passagem, o próprio Kadaffi, em seus últimos meses de vida, alertou ao mundo que caso viesse a ser deposto pelos grupos wahhabitas apoiados pelo Ocidente e pelas petro-monarquias do Golfo Pérsico haveria imigração em massa para a Europa e o Mar Mediterrâneo se transformaria em um mar de caos (e isso para não falar do fato de que o atual candidato Republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, ter dito que o mundo seria um lugar melhor caso Saddam Hussein e Muammar al-Kadaffi estivessem no poder até hoje em seus respectivos países).
Kadaffi infelizmente não está mais entre nós há meia década. Ele pode ter sido destruído fisicamente por seus algozes, mas as ideias de um líder de seu porte, que em vida foi um gigante que pisou na face da Terra (ainda mais se comparado a figuras medíocres como Bill Clinton, George W. Bush, Felipe Gonzáles, Barack Obama, Sarkozy, Hollande, Tony Blair, Merkel e David Cameron, os quais em seus respectivos países não passam de gerentes que administram o Estado burguês em nome dos grandes capitalistas), jamais serão esquecidas, assim como sua história de vida e todo seu esforço para libertar não só a Líbia como também a África inteira do jugo imperialista ocidental e a espoliação dele decorrente (que infelizmente se manteve mesmo após as independências formais das nações africanas).
Muammar Muhammad Abu Minyar al-Kadaffi, PRESENTE!

Foto – A profecia de Kadaffi.
Fontes:
Libia: caos y pobreza, cinco años después de la muerte de Gadafi (em espanhol). Disponível em: http://www.telesurtv.net/news/Libia-caos-y-pobreza-cinco-anos-despues-de-muerte-de-Gadafi-20161020-0001.html
Muamar Kadafi, o eterno, jamais morrerá. Disponível em: http://www.marchaverde.com.br/2016/10/muamar-kadafi-o-eterno-jamais-morrera.html
Muammar Khadafi (sim x não). Disponível em: http://www.resistenciabr.org/kadaf1.htm
Музика Војске Југославје – “Демократска” НАТО армија (em sérvio). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SeToJ831uug
Benjamin, Kyle. Os grandes líderes: Kadafi. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

NOTA:


[1] Leia-se “Milochevitch”, pois no servo-croata as partículas š e ċ tem valor de ch e tch, respectivamente.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Eleições municipais 2016 - Hegemonia liberal se intensifica


Por Lucas Novaes

Anteontem, dia 2 de outubro de 2016, dezenas de milhões de brasileiros foram ás urnas exercer seu suposto direito democrático de escolher aqueles que os irão representar na câmara municipal e no comando da prefeitura. A câmara legislativa já está formada e já temos acesso ao nome da maioria dos novos (ou seriam velhos?) prefeitos. Com os resultados do primeiro turno já confirmados, o que será que podemos dizer a respeito das eleições deste ano?
Primeiramente, deve-se destacar o fato de que o partidarismo político e ideológico no Brasil está sob grave ameaça devido ao fato de estar se tornando uma força cultural decadente. Os motivos são claros: uma rígida burocracia a qual os partidos são submetidos pelo estado por meio de leis rigorosas e arbitrárias impostas aos mesmos. Para piorar, o tempo de campanha eleitoral foi reduzido pela metade (de 90 para 45 dias), assim como o período de propaganda na TV e rádio. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, as manifestações partidárias são vigorosamente reguladas e observadas por aparatos de segurança estatais. Alguns podem pensar que esses processos ajudam as campanhas a não extrapolar os limites aceitáveis de manifestação, mas, em minha opinião, eles reprimem a verdadeira vontade da população de expressar seus descontentamentos por meio do partidarismo político. A única politicagem permitida e incentivada no território nacional é a politicagem apartidária, com foco em coisas como a diminuição do estado em áreas importantes para a população ou a demanda hipócrita por Direitos Humanos, geralmente associada e financiada por Organizações Não Governamentais estrangeiras.
Tudo isso que está acontecendo no país torna-se fácil de entender quando levamos em consideração o fato do Partido dos Trabalhadores estar sofrendo fortes ataques tanto da mídia principal como do judiciário com seus mandos e desmandos visivelmente parciais. O PT é, sem dúvidas, a maior força da política partidária no Brasil, pois possui os dois principais atributos que um partido político forte deve ter: ideologia objetiva e coerente (mesmo que fragmentada em diversos segmentos e alas) e militância massiva. O PSDB tem ideologia, mas não tem militância. O PMDB não tem militância e nem ideologia (visto que já se aliou aos tucanos e petistas em tempos diferentes, sempre remando para o caminho mais tranquilo). O PSOL e o PSC possuem ideologia, mas não militância de massas. É também assim para todos os outros partidos não citados aqui. Nenhum deles justificou a validade de sua existência como fez o Partido dos Trabalhadores. Sendo assim, destruir o PT é destruir os partidos políticos como um todo, na forma como os entendemos. Com a criminalização do petismo, não há mais política desafiadora.
Quando nos damos conta de que o partidarismo no Brasil teve e ainda têm uma grande importância social e cultural no solo brasileiro, caracterizando um dos poucos fenômenos não egoístas sobreviventes na cultura tupiniquim, é fácil de descobrir o porquê de a ideologia liberal querer o fim de tudo isso. De acordo com a lógica dessa ideologia, todo o coletivismo deve ser enfraquecido e ficar de fora da vida do “cidadão médio”, inclusive o partidarismo.
Os resultados dessa aliança macabra entre a grande mídia, o sistema judiciário e as empresas e ONGs se refletem no primeiro turno destas eleições: 

Em meio a discursos vazios de candidatos sem convicções preocupados com a própria imagem, o Partido dos Trabalhadores se enfraquece e seu legado eleitoral vai tanto para o PSDB e PMDB como para outros partidos insignificantes. O Brasil, assim, caminha a passos largos para uma utopia individualista e liberal do pior tipo possível.



REFERÊNCIAS:
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Janeiro/confira-as-principais-datas-previstas-no-calendario-eleitoral-do-pleito-deste-ano

http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/psdb-e-psd-crescem-em-n-de-prefeituras-pt-encolhe.html