sexta-feira, 11 de março de 2016

Eleições presidenciais nos EUA: qual a melhor opção para o resto do mundo?


Figura 1 - Sanders, Clinton, Trump, Rubio e Cruz: os principias concorrentes a esta altura.

Por Lucas Novaes

2016 é ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos. Muitos podem não se importar com tal fato, mas, infelizmente, o que ocorre no país norte-americano possui grande influência fora do mesmo e apresenta poder para influenciar os rumos de todos os continentes. Nesta publicação, explicaremos um pouco sobre o governo atual, o processo eleitoral e o que está em jogo: o que pode mudar e o que provavelmente continuará do mesmo jeito.


O GOVERNO ATUAL CHEGA AO FIM

2016 marcará o fim da administração presidencial de Barack Hussein Obama do Partido Democrata, consolidado por dois mandatos (2008-2012 e 2012-2016) e um legado com tendências um pouco mais progressistas (do ponto de vista interno) do que os Estados Unidos estiveram acostumados sob administrações anteriores. Obama, que venceu suas duas eleições com relativo conforto, teve um apoio massivo da mídia mainstream americana, das minorias étnicas, dos estudantes universitários e das grandes corporações tecnológicas. Resumindo sua campanha em pontos chave, Obama buscou reformas que aumentassem o alcance dos sistemas de saúde, favoreceu a regulamentação no comércio de armas, foi crítico da brutalidade policial, além de dar apoio ao liberalismo social crescente na sociedade americana. Isso foi o suficiente para que muitos na direita americana questionassem a sua alegada fé cristã. Muitos teóricos da conspiração inclusive acreditam que o futuro ex-presidente é algum tipo de muçulmano ou comunista disfarçado. Dentre os crentes desta sandice está o astrólogo conspiracionista conservador Olavo de Carvalho (que nasceu no Brasil e atualmente mora no estado da Virgínia, nos Estados Unidos).

Apesar de sua tonalidade populista (para os padrões dos EUA), a administração do democrata não refletiu essa positividade para com os países do resto do mundo (em especial, os pobres e emergentes). Durante o governo de Obama, a política externa de seu país continuou seguindo a rota unilateral presente nos tempos em que o republicano George Bush ocupava o cargo. O número de ataques feitos por drones em países de maioria muçulmana como o Paquistão ultrapassou a casa das centenas. Na maioria dos casos, os strikes mataram cidadãos inocentes. Os EUA também financiaram e apoiaram a oposição na Ucrânia ao governo pró-russo eleito democraticamente do Viktor Yanukovych, eclodindo nos protestos de 2013 conhecidos como “Euromaidan” (protestos esses que contaram com a participação de inúmeros grupos neonazistas exigindo a substituição do até então governo atual por um governo pró-americano). Outro exemplo de agressão imperialista no regime de Obama inclui a participação dos EUA na intervenção militar na Síria, sob o pretexto de combater os terroristas do Estado Islâmico (ISIS). O que acabou acontecendo com essa participação foi o aprofundamento ainda maior da crise no país árabe e a sua desestabilização definitiva, por meio do financiamento ocidental de diversos grupos terroristas rotulados como “moderados”.

NOVAS ELEIÇÕES, NOVOS CANDIDATOS: O PENSAMENTO IDEOLÓGICO DOMINANTE

Com o indefensável regime de Barack Obama chegando ao fim, o país americano iniciou seu processo político para a decisão de quem será seu novo líder. Nos EUA, existem dois grandes partidos que monopolizam as eleições nacionais: o Partido Democrata e o Partido Republicano. O primeiro deles possui uma orientação geral mais centrista com caráter diplomático. Devido ás suas políticas mais inclusivas, são considerados como a “esquerda” americana no sentido mais liberal do termo, tendo um apoio massivo entre estudantes e minorias raciais. O outro partido (republicano) é dominado por neoconservadores e defende irrestritamente os interesses econômicos das grandes corporações. O Partido Republicano também possui uma forte participação de cristãos evangélicos com orientação moral conservadora, fazendo com que muitos religiosos pobres (especialmente brancos do Sul) votem no partido por acreditarem que os poderosos por trás de seu partido preferido compartilhem sua fé. Os religiosos caipiras nos EUA são utilizados como massa de manobra do Partido Republicano, assim como as minorias étnicas (negros e latinos) são usadas como massa de manobra do Partido Democrata. Ambos os partidos compartilham o interesse de expandir a influência cultural americana e seu poderio militar para o resto do mundo.

TRUMP E SANDERS: VENTOS DE MUDANÇA

Por décadas, o pensamento político nos Estados Unidos seguiu dominado principalmente por dois lados: a direita liberal (defensora da economia capitalista sem regulações, conservadorismo social e política externa militarmente intervencionista: a submissão dos países anti-imperialistas por meio da força bruta) e a esquerda liberal (defensora da economia capitalista com regulações, liberalismo social e política externa suavemente diplomata: a submissão dos países anti-imperialista por meio de sanções e da influência de ONGs internacionais). Porém, neste novo ciclo eleitoral, suspeita-se que foi encontrada uma brecha nesta dominância: a ascensão de Donald Trump (pela direita) e Bernie Sanders (pela esquerda).

Primeiramente falaremos de Sanders, senador do estado de Vermont que se filiou ao Partido Democrata em 2015 para concorrer nas primárias do partido. Bernie Sanders é um ponto fora da curva pelo fato de denunciar com veemência a falta de regulação presente nas grandes corporações de Wall Street. Bernie se descreve como um “socialista democrático”, algo raro no país em que vive, marcado por décadas de propaganda anticomunista. Ele representa uma dissidência com os democratas tradicionais, apoiadores de um livre mercado com poucas regulações e onde grandes bancos estão autorizados a terem um grande controle sobre a política do país. É necessário lembrar, entretanto, que Sanders não é, em qualquer forma, um comunista revolucionário. Ele não pretende abolir a propriedade privada nem estatizar os principais meios de comunicação. Ele é uma espécie de Luciana Genro americano, porém muito mais relevante, o que não é algo bom, mas já representa um certo avanço na decadência no pensamento corporativista na esquerda dominante.

Já em relação ao lado direito, Donald Trump resolveu se aventurar no processo político em 2015 e após diversos comentários rotulados como xenófobos e sexistas reproduzidos pela grande mídia, acabou ficando ainda mais popular (lembra um certo político tupiniquim?). Trump pode até parecer um político republicano qualquer, mas sua retórica é considerada bastante infantil e agressiva, não possui a certa etiqueta e modo de discurso considerado ideal para políticos. Donald Trump é um outsider (forasteiro) dentro do partido republicano e não possui apoio da mídia (seja ela a grande mídia pró-democrata e mesmo da mídia neoconservadora pró-republicana). Trump demonstra um caráter mais populista e nacionalista em seus discursos e parece não estar tão preocupado em manter a hegemonia militar americana sobre o resto do mundo, o que assusta os neoconservadores que dominam o Partido Republicano.

Os outros candidatos são os típicos do estabilishment: Hillary Clinton, a favorita da mídia e das grandes corporações, pretende continuar com a política externa agressiva dos governos anteriores. Ela também deseja a queda do governo de Assad e comparou Putin com Adolf Hitler. Assim como Obama (primeiro negro da história na presidência), o fato de Clinton ser mulher pode amaciar ainda mais a realidade da violência americana no terceiro mundo por meio de propagandas progressistas (afinal, os EUA podem ser responsáveis pela morte de milhares de inocentes ao redor do mundo, mas se possuírem uma mulher na liderança, devem ser vangloriados pelo seu progressismo de acordo com a esquerda pós-moderna). Além de Hillary, os outros dois candidatos apoiados pelo estabilishment político são Marco Rubio e Ted Cruz. O primeiro é um neocon “robótico” tradicional no estilo de George Bush e o segundo é um ultradireitista fundamentalista evangélico: o anticomunismo americano em esteroides.

CONCLUSÃO:
A julgar pelo perfil detestável de três dos candidatos (Hillary Clinton, Marco Rubio e Ted Cruz), só no resta esperar que Bernie Sanders e Trump consigam a nominação em seus respectivos partidos. Porém, ilusões não devem ser geradas. Mesmo que esses candidatos forasteiros consigam a nominação em seus respectivos partidos, as chances de eles serem cooptados pelo estabilishment de seus partidos e, mais tarde, pelos interesses corporativos são enormes. O que vale a pena observar nestas eleições é que mesmo o sistema ideológico dos Estados Unidos está sujeito a crises e pode ter seu monopólio desafiado.

REFERÊNCIAS:

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