segunda-feira, 30 de abril de 2018

Eu acuso! (J'accuse!)



Foto – “J’Accuse...! – Lettre au Président de la République, par Émile Zola (Eu acuso...! Carta ao Presidente da República, por Émile Zola)’’
Em 1894 teve início o caso Dreyfus na França. Tal escândalo dividiu a França no último decênio do século XIX e centrou-se na condenação por alta traição do oficial de artilharia do exército francês Alfred Dreyfus (de origem judaica) com base em um processo conduzido à portas fechadas por entrega de segredos militares franceses à Alemanha. Posteriormente, descobriu-se que Dreyfus (que foi condenado à prisão perpétua na ilha do Diabo [região costeira da Guiana Francesa], sendo de lá solto e reabilitado apenas em 1906) era inocente e que as tais provas de sua culpa eram baseadas em documentos falsos.
O caso Lula, em minha humilde opinião, entrará para a história como o equivalente tupiniquim do que foi o caso Dreyfus para a história da França. Da mesma forma que hoje em dia o Brasil está dividido entre aqueles que querem a prisão de Lula (em especial os coxinhas da classe média que apoiam a Lava Jato e suas arbitrariedades em nome de um fictício combate à corrupção) e aqueles que são contra a prisão do ex-presidente, na época a França estava dividida entre os dreyfusards (apoiadores de Dreyfus) e os anti-dreyfusards (detratores de Dreyfus). Tal caso também foi marcado por uma forte de antissemitismo, já que Dreyfus era judeu.
Em 1897 um segundo julgamento foi feito após Mathieu Dreyfus, irmão de Alfred Dreyfus, descobrir que o verdadeiro culpado era Charles Esterhazy. Entretanto, a pena de Dreyfus não foi revista. Diante dessa situação o escritor francês Émile Zola, indignado com essa situação, publicou uma carta aberta ao então Presidente da França, Félix Faure, no jornal literário L’Aurore, intitulada J’accuse! (Eu acuso!) em 13 de janeiro de 1898. Nessa carta Zola, se apoiando no trabalho de Georges Picquart (chefe do serviço secreto francês) que chegou a conclusão de que os documentos contra Dreyfus foram falsificados, denunciou o Alto Comando Militar francês, os tribunais e todos aqueles que condenaram Dreyfus.
Pelos recentes ocorridos de violência (que um dia pode desembocar em uma situação de guerra civil, similar ao que se passa hoje em dia em países como a Líbia, a Síria, a Ucrânia e a Venezuela), entre eles o atentado à caravana de Lula e os tiros ao acampamento Marisa Letícia em Curitiba, eu, inspirado na famosa carta de Émile Zola, acuso as seguintes pessoas:
Rede Globo – Acuso a Rede Globo como a grande responsável por toda essa situação que o país vivencia. Como é sabido por todos nós, a emissora da família Marinho tem todo um histórico de guerra midiático-informativa contra governos populares que remonta ao segundo governo Vargas e que perpassa por JK, Jango e Brizola (quando o político gaúcho era governador do Rio de Janeiro) e chega aos dias de hoje com Lula e Dilma. A seguinte frase, dita por Joseph Pulitzer no século retrasado, resume bem o papel da Rede Globo nisso tudo exerce: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. Será que no fundo a Rede Globo tem é receio de vir a ter o mesmo destino que a RCTV teve na Venezuela há 11 anos (a mesma RCTV que foi a grande organizadora do fracassado golpe de 2002 contra o comandante Chávez) caso Lula seja eleito, tendo em vista que a concessão da emissora dos Marinho termina em 31/12/2018?
Juiz Sérgio Moro – Acuso o Juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato, seus procuradores, juízes e operadores não só pelo clima de ódio que ajudou a criar no país em conluio com a Vênus Platinada como também pelo clima que punitivismo que ele, Brêtas, Dallagnol e companhia limitada injetaram na população, a ponto de pensarem que tudo vale para supostamente combater a corrupção, incluindo até mesmo passar por cima da Constituição Federal e dela fazer pouco caso, como se fosse um mero compêndio de leis e tratados. A tal ponto que quando o STF quer colocar uma rédea curta nas ações da Lava Jato e fazer com que a Constituição seja obedecida seus apoiadores acharem que é sinônimo de impunidade. Um dia espero vê-los sendo julgados em uma Comissão da Verdade sobre a Lava Jato.
Jair Bolsonaro – Eu acuso Jair Bolsonaro por tais ocorridos, mas não por causa de sua retórica truculenta ou por ter apoiado o golpe de 2016. O acuso por sua miopia política e péssima leitura da situação que o país vivencia. Bolsonaro mal se dá conta de que ele pode muito bem ser o próximo a ser vítima desse estado judicial-policial-midiático que tomou conta do país desde que Dilma Rousseff foi deposta naquele impeachment fraudulento. Dilma Rousseff não foi apeada do poder pela articulação PSDB-PMDB para depois o poder ser entregue de mão beijada a um operário como o Lula e muito menos a um forasteiro como o Bolsonaro. O que essa gente quer é seus representantes orgânicos (ou seja, figuras tipo Serra, Alckmin, Temer e políticos afins) na Presidência da República, não operários ou forasteiros do sistema. Tivesse ele pelo menos um pouco de bom estaria agora defendendo o Estado de direito e as leis do país, estaria defendendo a liberdade de Lula a despeito de suas discordâncias ideológicas e não dando apoio a essa farsa toda. Bolsonaro, você que se cuide, que daqui a pouco a cobra que picou o Lula fará o mesmo contigo. Não duvido nem um pouco que possam usar esse episódio do atentado ao acampamento Marisa Letícia (assim como outros anteriores em que teu nome está envolvido) para te fritar e te colocar fora do páreo. Como também não descarto a possibilidade de que tal atentado possa ter sido uma operação de falsa bandeira perpetrada por essa gente que te quer ver fora do páreo justamente para te fritar e queimar teu filme perante a população.
Manifestoches – Acuso vocês, manifestoches, que desde as manifestações de junho de 2013 vêm abrindo a caixa de Pandora de uma futura guerra civil que possa vir a flagelar o país que talvez se arraste por muitos anos, tal como os manifestoches da Primavera Árabe e do Euromaidan na Ucrânia ajudaram a fazer em seus respectivos países. Haja vista que a guerra civil na Síria já se arrasta por sete longos anos e que suas raízes remontam à Primavera Árabe, assim como a situação de falência da autoridade do poder central que a Líbia vivencia desde a queda e morte do coronel Kadaffi em 2011 (que também começou dentro do contexto da Primavera Árabe), a guerra civil que a Venezuela vivencia desde a morte do comandante Chávez (alimentada em grande medida pela queda dos preços do petróleo no mercado internacional e a guerra econômica promovida pelos donos do poder econômico local, similar ao que foi feito no Chile durante o governo Allende) e a guerra civil que a Ucrânia vivencia desde o Euromaidan (que em realidade não foi mais que uma briga entre oligarcas).
Vocês, que jogam confetes ao Sérgio Moro e acham que a Lava Jato está combatendo a corrupção (sendo que ela, tal qual a Operação Mãos Limpas na Itália, apenas está ajudando a corrupção a se sofisticar ainda mais). Vocês, que vaiaram a Dilma no jogo de abertura da Copa do Mundo 2014 em pleno Itaquerão, chamaram o José Trajano de “vendido” em pleno Itaquerão após o fim do jogo Uruguai 2 x 1 Inglaterra e ficaram furiosos com o Juca Kfouri depois que ele falou que foi uma “elite branca” que vaiou a presidente Dilma no jogo em questão. Vocês, que bateram panelas toda vez que tinha horário político do PT e pronunciamento da Dilma. Vocês, que foram para as ruas com a camisa da seleção brasileira (que carrega o símbolo da corrupta CBF, que há anos vem arruinando com o futebol brasileiro) pedirem intervenção militar e prestaram apoio ao Sérgio Moro e a Lava Jato, mal sabendo do quão sujo essa gente é e que a Lava Jato só existe porque a chamada “elite do dinheiro” assim deseja (e o que ela está fazendo em realidade é combater aquilo que Jessé Souza chama de a “corrupção dos tolos” para reforçar e fortalecer a real corrupção, que envolve justamente a intermediação financeira. Fazendo uma analogia com o xadrez, é o mesmo que sacrificar os peões para fortalecer o rei e a rainha). Vocês, que apoiaram o impeachment fraudulento de Dilma Rousseff e ajudaram a colocar a quadrilha que agora está no poder. Vocês, que festejaram com fogos de artifício primeiro a condenação no TRF4 e depois a prisão do Lula, sem se dar conta de que aquilo tudo é um jogo de cartas marcadas. Vocês são a prova viva de que o Brasil é um país onde as pessoas são criadas não para serem cidadãs, e sim telespectadoras e que a frase dita por Pulitzer e citada anteriormente continua atualíssima. Vocês são um bando de analfabetos políticos.
Polícia Federal – O que será que a Polícia Federal está fazendo para conter toda essa onda de truculência direitista contra aqueles que se manifestam a favor da liberdade de Lula? Ou será que a Polícia (ou ao menos setores expressivos dela) também não está envolvida nessa conspiração toda? Ao que tudo indica, o Brasil está vivendo no presente momento seu período de distúrbios, similar ao que a Rússia vivenciou entre 1598 a 1613.
Fontes:
Carta de Émile Zola sobre o caso Dreyfus. Disponível em: http://www.omarrare.uerj.br/numero12/pdfs/emile.pdf
Caso Dreyfus. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Dreyfus
Jessé Souza: a Lava Jato só existe porque a elite financeira quer. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HZTvc4dqKi8&ab_channel=TV247
Motivos não faltam para a concessão da Globo ser cassada. Disponível em:

Um comentário:

  1. Embora eu não seja petista nem partidário de ninguém da esquerda, infelizmente vejo que essa direita é tão cínica e hipócrita quanto a própria esquerda. Ou seja, a briga entre ambos é falsa, como dizia o imortal Dr. Enéas Carneiro.

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