segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Lobby inglês no Senado mudou regras do pré-sal (texto postado por Roberto Requião em seu site)

Uma potência estrangeira, a Inglaterra, se achou no direito de participar diretamente de uma sessão da Comissão Mista da Câmara e do Senado Federal para estabelecer os principais tópicos da medida provisória que visa a regular a exploração do pré-sal no país. Não só participou como  mandou na votação. E a fonte da notícia dessa aberração não é nenhum oposicionista, mas o próprio The Guardian, principal jornal da Grã-Bretanha.
Segundo esse jornal, citado pelo blog Brasil 247, o governo inglês fez lobby, com sucesso, junto ao governo golpista de Temer, apelidado de Misshell, para mudar as regras de exploração do pré-sal em favor das inglesas Shell, BP e Premier Oil. O operador externo do lobby foi o ministro do Comércio inglês, Greg Hands, que veio ao Rio de Janeiro onde se reuniu com o operador interno, Paulo Pedrosa, secretário do Ministério de Minas e Energia.
Pedrosa disse que estava pressionando seus homólogos do governo brasileiro sobre as questões suscitadas pelos ingleses, de acordo com um telegrama diplomático britânico obtido pelo Greenpeace. Essa organização acusou o Governo britânico de “agir como braço de pressão da indústria de combustíveis fósseis”, a despeito de compromissos assumidos com metas de controle ambiental defendidos em Bonn.
Como resultado, a Inglaterra conseguiu que o governo brasileiro eliminasse exigências de compra de conteúdo local nos investimentos no pré-sal, reduzisse exigências ambientais e isentasse as grandes multinacionais de pagamento de impostos. Um representante da Shell comandou pessoalmente o lobby na comissão, sendo identificado e denunciado, na hora, pelo senador Lindberg Farias.
O ministro inglês esteve no Brasil em março e não se limitou a ir ao Rio de Janeiro. Esteve também em São Paulo e Belo Horizonte. Seu foco era justamente o de ajudar empresas britânicas a ganharem negócios de petróleo e água no Brasil. Sabe-se que, na conversa com Paulo Pedrosa, levantou “diretamente” as preocupações das empresas petrolíferas Shell, BP e Premier Oil britânicas sobre tributação e licença ambiental.
A pressão para flexibilizar regras de proteção na área crítica ambiental suscitou interesse do Greenpeace, que questionou as empresas e o Ministério do Comércio. Os esclarecimentos foram vagos e escamoteados. Curiosamente, os britânicos tem posição aparentemente ativa nas discussões da ONU sobre o controle de poluição, o que pode ter suscitado a reportagem do The Guardian.
É extravagante que comissão do Senado se sujeite a pressões internacionais nesses três campos vitais para o futuro do país. Conteúdo local, tributação justa e defesa ambiental são questões ligadas à soberania nacional. É fundamental que o Ministério das Minas e Energia seja questionado sobre mais essa medida de entrega a estrangeiros de bens que deveriam ser protegidos pela soberania.
As estimativas de isenção tributária para os contratos do pré-sal já negociados se elevam a cerca de um trilhão de dólares. Abrir mão desses recursos é um crime contra as gerações atuais e futuras. Eliminar exigências de conteúdo local é abrir mão da geração de emprego nos setores industriais de maior salário e maior geração de tecnologia. Por fim, a redução das regras ambientais significa simplesmente permitir que as grandes petroleiras poluam descaradamente o nosso mar e nosso território enquanto levam para suas matrizes os produtos limpos.
É difícil classificar os senadores que votaram por essa aberração na comissão. Seriam entreguistas da soberania nacional? Seriam negocistas cooptados pelo dinheiro inglês? Ou seriam apenas ignorantes, distraídos, incapazes de compreender o processo histórico que vivemos na era Temer, o Misshell? Não consigo me inclinar por nenhuma dessas classificações. Mas ainda tenho a expectativa de que, na votação do Senado, uma maioria se coloque a favor do Brasil, sobretudo depois que veio a público essa inacreditável ingerência estrangeira em nosso processo legislativo.

Comentário meu: Será que a Inglaterra permitiria algo similar com os campos de petróleo da Escócia? Será que a Coroa britânica permitiria que os campos de petróleo da Escócia fossem entregues à empresas como a Petrobrás, a Gazprom, a PDVSA ou qualquer outra petroleira estrangeira que nem estão fazendo agora com os campos do pré-sal? Tal ato acima de tudo é a Inglaterra mais uma vez praticando o velho protecionismo de sua economia que ela pratica desde o tempo do tratado de Methuen. Ou seja, desde os séculos XVII e XVIII. Foi por meio do protecionismo de sua economia e de sua indústria que a Inglaterra se tornou a senhora dos mares no século XIX, e não por meio da falácia do livre mercado que grupos como o MBL defendem. E protecionismo esse que após impor tarifas e impostos alfandegários sobre os têxteis indianos que vinham à Inglaterra posteriormente ajudou a destruiu com a indústria têxtil indiana no século XVIII.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Geopolítica felina (por Daniel Jur).

Esse é um texto que encontrei navegando no Facebook originalmente postado pelo usuário Daniel Jur e que achei interessante postar aqui no blog. Desde tenra idade sempre tive grande fascínio por grandes felinos, os quais por seu turno exercem um fascínio no imaginário humano que remonta desde no mínimo as pinturas em cavernas rupestres tais como Chauvet e Lascaux na França e Altamira na Espanha (cerca de 35 mil anos atrás). E que trata dos grandes felinos, em especial o tigre, a onça pintada (que, diga-se de passagem, era chamada de tigre pelos primeiros colonizadores europeus das Américas) e o leão. Animais esses que dentro do ambiente em que vivem ocupam o topo da cadeia e assim neles exercem uma função muito importante (a de regular o número das populações de animais herbívoros), dentro de uma perspectiva cultural e geopolítica.

Foto – Da esquerda para a direita: leão (Panthera leo), onça pintada (Panthera onca) e tigre (Panthera tigris).
A onça pintada é pra mim o mais fascinante animal brasileiro, o terceiro maior felino, só atrás do tigre e do leão, uma onça destroçaria facilmente um leão da montanha norte americano (puma), algo que é carregado de simbolismo: a onça é a rainha da América, o Leão é o rei africano, e o tigre um grande anarca eurasiático. A priori, quando pensamos em um mundo multipolar a primeira divisão é a continental, a felina. E o maior felino de todos é o tigre siberiano, que caminha livremente na Eurásia, significando o poder máximo terrestre, dominando a Rússia e China, é definitivamente a encarnação animalesca do Heartland.

Mackinder nos diz que a conquista russa da Sibéria teve consequências quase tão profundas e drásticas quanto as grandes navegações, usando a lógica de Schmitt poderíamos dizer que aquilo que foram as Grandes Navegações para os espanhóis e portugueses, e que acarretou em uma Revolução Espacial Planetária, que mudou a forma de ver o mundo, ocorreu de forma semelhante na conquista da Sibéria, uma Revolução Espacial Regional. As grandes navegações exigiram a vitória sobre a baleia, o domínio da dominadora dos mares, a sua caça, já a conquista siberiana exigiu o enfrentamento do maior felino da Terra, a Sibéria impunha coletivismo para viver, exigia austeridade, a frieza do ambiente exige frieza psicológica, era necessário hierarquia social, heroísmo, valores solares, fidelidade e honra, resultando em uma estruturação social bem distinta da marítima. É na Eurásia Central que se funda o primado da força terrestre, local da principal disputa geopolítica na qual se debatem Brzezinski, Haushofer e tantos outros, também na Eurásia que se fez milênios atrás a rota da seda, passando pela estrada real persa e pelo baixo tigre. Hoje a Eurásia Central, pela magistral ferrovia Transiberiana, interliga Europa e Ásia, o audacioso projeto falado por Putin conectando "Lisboa a Vladivostok" significaria o reerguimento total da força terrestre, muito embora seja uma ideia Geopolítica bem mais antiga que Putin, praticamente orgânica e oferecida pela própria geografia, tal como novas rotas da seda, porém mais acima e mais diversificadas, como o monumental projeto CAREC de transporte de recursos. Uma Eurásia interligada por terra, com a gama de recursos e economia que tem, significaria instantaneamente um rival a altura e uma ferida quase mortal ao atlantismo, que tenta fazer valer sua influência estabelecendo rotas marítimas e tragando a Europa Ocidental e Oriental para si. 

Foto – Área de distribuição do tigre. Em laranja, áreas onde se encontra extinto. Em vermelho, áreas onde ainda se encontra presente.

Um outro simbolismo pode ser notado, onde persistem as Tradições, persistem os grandes felinos, a Europa Ocidental não mais os possui, estão extintos ou enjaulados, tal como as forças da Tradição, a forma de encontrar alguma vida é permitindo a fusão, permitindo o grande Tigre Siberiano caminhar sobre suas terras, para, como num sopro ou rugido, trazer novamente as antigas forças europeias, fazendo sair à luz solar o Leão da Caverna que um dia ali reinou, animal antigo e gigantesco, adorado e cultuado na pré história européia e gravado em diversas pinturas rupestres. Rapidamente o Leão da Caverna, extinto e congelado na última era do gelo, seria descongelado pelo rugido do Tigre siberiano, trazido de volta à vida com toda sua força e vigor, espantando as pilhagens e saques da águia norte americana, que não mais pousaria em tais terras, apenas sobrevoaria, como um urubu esperando novamente forças mortas, carcaças para se alimentar, porém incapaz de enfrentar vida em seu pleno vigor. 

Foto – Leões das Cavernas (Panthera leo spelaea).
Nas Américas, a Onça Pintada reinou e reina, nos antigos impérios americanos, nas civilizações Maia, Asteca e Inca sempre possuiu posição sagrada, de destaque, admiração e força. Hoje a Onça une a força Latino Americana, vivendo por quase toda essa região e fincando as garras mais fortemente no Brasil, também tivemos a nossa "conquista da Sibéria", o bandeirismo, a conquista do Oeste com as bandeiras, tal como a "bandeira de limites" de Raposo Tavares. Conquistadores que viajaram por mais de 10 mil quilômetros a pé, é aqui que ganhamos nossa força terrestre, a coroação da rainha, a conquista da Onça, esta representando o dinamismo, a adaptabilidade, a força unida à exuberância, uma certa flexibilidade e fluidez na lida com o meio, a Onça é astuta, ágil, indecifrável, camuflada e mortal. A Onça que os mitos e contos amazônicos e pantaneiros ressoam, aquela que é capaz de quebrar o mais duro casco de tartaruga com uma mordida, ela trás o espírito felino mais profundo da América Latina. Extinta na América do Norte, local do âmago das forças de dissolução, a Onça pintada é uma América Latina Unida, diversificada, fluida, exuberante e forte, que estraçalharia facilmente o Puma norte americano, caso este tentasse uma invasão, o Puma de pouca cor, massificado e homogeneizado, pode mesmo representar a diminuição das forças da Tradição nos EUA, sua sobrevida.

Por fim, o Rei da Savana, os leões Africanos fazem lembrar as disputas de clãs sanguinolentos africanos, uma África de milhares povos pulverizados, de milhares de Reis, distribuídos em pequenas povoações, hoje a África é dividida artificialmente, clãs e povos são unidos de forma forçosa, em fronteiras e linhas artificiais, os leões igualmente são restringidos e delimitados às reservas ambientais, fazendo com que destruam uns aos outros. A África é pilhada de forma condizente com a brutal diminuição das populações leoninas, o rei encontra-se ajoelhado, espremido, cercado, sem sua juba e potência. Porém, é possível um renascimento, um exército de Reis, um exército de leões novos que se juntam para expulsar o forasteiro, fazendo renascer das antigas lendas africanas o leão que sabia voar, e que assim era capaz de caçar qualquer animal, seus ossos não mais estariam quebrados pelo Grande Sapo, trazendo o leão de pele impenetrável para mortais, tal como o Leão de Nemeia, uma África impenetrável à ingerência. 

Foto – Área de distribuição do leão. Em vermelho, áreas onde se encontra extinto. Em azul, áreas onde ainda se faz presente em estado selvagem.
A Multipolaridade é em primeira instância Felina, é a América do Norte e Inglaterra cercadas ao sul por uma Onça, ao leste e sudeste por um Leão, e à oeste, leste e norte pelo Tigre Siberiano. Aqui os grandes felinos não representam forças de dissolução, mas forças caóticas originárias que formam os povos, que dão seu espírito e essência e que andam lado a lado, e só se deixam montar por aqueles o qual respeitam, para realizar ataque e defesa, a montaria no fundo sendo uma integração, o Guerreiro é então em parte Onça, em parte Tigre, em parte Leão.

Por último, uma última coisa que me fascina é a área de vida de uma onça, que pode ser muito mais que 100 quilômetros quadrados, na vida moderna estamos habituados a falar que nosso quintal é um cubículo que possui quando muito uma balança e uma árvore, é uma visão de mundo distorcida, sempre considerei meu quintal a profunda mata atlântica que começa no Horto florestal e se estica por toda Serra do Mar, a liberdade felina nos diz muito, o Sertão é o quintal do sertanejo, o mar o quintal das populações litorâneas, o interior e mata atlântica o quintal do paulista, o pampa o quintal gaúcho e assim por diante, perdemos a nossa conexão com a terra, a ligação com o espaço se dá como um visitante, um estrangeiro, um estranho, e não como alguém que domina e vive também neste ambiente, que considera a terra como sua, a terra que era pública e era nossa, a cada dia é de ninguém e das grandes corporações e nós voltamos a ficar em apartamentos, assim como bichos em suas reservas, mortos e espremidos, mas carregando sempre o vigor da terra, pronto a renascer a qualquer instante, dependendo unicamente de coisas que muitas vezes chegam a ter entonação sagrada: a vontade e a ação.

Foto – De cima para baixo: Leão (Panthera leo), Onça pintada (Panthera onca), Leopardo (Panthera pardus), Tigre (Panthera tigris), Leopardo das Neves (Panthera uncia).

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O grito de desespero da Veja contra os desejos do povo (por Lucas Novaes)



Figura 1 - Mais uma para a coleção de capas vergonhosas da revista Veja
A revista Veja e seus ataques contra as vontades do povo não param: a mais nova capa da revista de maior circulação no Brasil (cuja 2555º edição estará nas bancas dia 08 de novembro de 2017), apresenta mais um vergonhoso ataque contra políticos que não se adequam a sua visão de mundo liberal: Lula e Jair Bolsonaro.
Na capa, Lula e Bolsonaro são apresentados como “extremistas políticos” de esquerda e direita, respectivamente, e então se propõe a ideia de que existe uma busca por nomes de “centro” como os do apresentador global Luciano Huck e do atual ministro da fazenda Henrique Meireles. O que estaria por trás dessa ideia mentirosa?
O que a Veja considera como o centro político (o lado supostamente mais racional e sem paixões ideológicas) na realidade é a hegemonia liberal pseudodemocrática que já controla o Brasil por meio de seu mais novo fantoche: o golpista Michel Temer, além de seus aliados do congresso e do senado. O atual governo, entretanto, é muito frágil em uma democracia pois possui apoio popular quase nulo (fato reforçado por pesquisas apontando que Temer tem apoio de apenas 3% dos brasileiros).
Considerando que não há a menor chance de Temer vencer as próximas eleições (provavelmente sequer irá disputa-las), a Veja e outros veículos da grande imprensa já pensam em possíveis nomes para dar continuidade a essas políticas em 2018. O que esses veículos midiáticos não poderiam esperar (e agora estão com dificuldades de manipular) é que os políticos mais populares no Brasil atualmente representam desvios ideológicos da hegemonia liberal. Um deles é o maior inimigo político da Veja: Luís Inácio Lula da Silva, um grande populista da esquerda nacional que, apesar de seus defeitos, continua tendo apoio quase absoluto das camadas mais pobres do Brasil. Apesar de todas as ofensivas da mídia contra Lula, ele continua sendo o político mais popular do Brasil, como apontam as pesquisas mais recentes onde ele lidera com folga. Isso ocorre porque seus dois mandatos ainda são lembrados como tempos onde havia crescimento econômico, diminuição das desigualdades sociais, estabilidade política e o Brasil era um país respeitado no cenário mundial. Já do outro lado, temos Jair Bolsonaro. Sem dúvidas, trata-se de um direitista que deseja submeter o Brasil aos interesses estadunidenses da pior forma possível. Entretanto, Jair Bolsonaro é um neoconservador que conseguiu sua atual popularidade não graças ao seu “entreguismo” geopolítico ou pela sua defesa de pautas econômicas liberais, mas pela sua defesa de causas morais consideradas conservadores e que possuem uma ampla ressonância entre os cidadãos deste país, tais como a defesa de penas duras contra os bandidos, apoio ao armamento civil da população, e a oposição ao ensino de conteúdos com temática LGBT nas escolas. Jair Bolsonaro não representa a direita que a grande imprensa está disposta a aceitar, pois sua visão no que tange ás questões morais não se adequa ao progressismo elitista defendido por nossa classe empresarial, artística ou da nossa mídia (tanto a principal como a alternativa de esquerda).
Tanto Lula como Bolsonaro (cada um a seu modo) defendem bandeiras “populistas” que não são mais aceitadas pela grande imprensa e por isso são tanto os políticos mais populares do Brasil, capazes de arrastar massas para suas aparições pelo país, como também os mais atacados.
Figura 2 - Exemplo de pesquisa recente colocando os populistas no topo
Com o PSDB (partido político preferido da Veja) enfrentando uma contínua queda de popularidade perante ás massas, parte da burguesia brasileira passou a apostar suas fichas no então outsider João Dória, atual prefeito de São Paulo. Porém, diversos fatos sobre seu governo (tais como suas diversas viagens inúteis ao redor do Brasil e do mundo ou a distribuição de “ração” para os pobres) tem diminuído sua popularidade. Agora, a imprensa sente a necessidade de encontrar outro nome que represente seus interesses e que seja capaz de desbancar os principais populistas de esquerda e de direita. Está aberta a temporada de procura ao novo representante da hegemonia liberal.
FONTES: