Foto
– O eclipse da inocência (imagem ilustrativa).
No dia 26 de abril de
2014 publiquei o seguinte texto em uma das minhas notas do meu perfil do
Facebook, intitulado “O levantamento da direita raivosa – Golpe a vista no
Brasil?”:
Recentemente,
vimos a Ucrânia e a Venezuela serem assoladas por manifestações contra seus
respectivos presidentes, os quais foram ambos democraticamente eleitos por seus
respectivos povos. O que se vê em ambos os países não são revoluções, e sim
golpes de Estado orquestrados e financiados por poderosas ONGs internacionais.
E uma vez consumado o golpe de Estado, os grupos que assumem o poder pouco ou
nada fazem para melhorar a situação do país, não raro a piorando. Nos últimos
anos a direita brasileira tem se organizado e a se fortalecido cada vez mais, a
ponto de no aniversário dos 50 anos do golpe de 1964 terem sido feitas em
algumas cidades do Brasil as famigeradas Marchas da Família com Deus pela
Liberdade. Muito embora tais manifestações tenham reunido pouca gente, ainda
assim é um presságio perigoso. Estaria o Brasil caminhando para um novo golpe
civil-militar como o de 1964, ou então uma Revolução Colorida, similar as que
ocorreram na Sérvia em 2000, na Geórgia em 2003, na Ucrânia em 2004 e no
Quirguistão em 2005?
Como
todos nós sabemos 2014 é um ano eleitoral, e mais uma vez o PT vai disputar o
pleito contra os partidos da tradicional direita do nosso país, como tem feito
desde 1989. Há anos afastada da chefia da nação, a direita golpista de tudo
fará para voltar ao poder, nem que para isso recorra a expedientes como
difamações, calúnias e histórias falsas. Basta ver que em 2010 a grande
imprensa nacional tratou de explorar histórias como a de uma suposta ligação do
PT com as FARC, e em 2012 partidarizou o julgamento do mensalão a ponto de
colocar os réus do caso como se fossem culpados antes mesmo de sair o resultado
final do inquérito. A respeito disso, José Dirceu, em uma entrevista ao portal
UOL no dia 9 de abril de 2013, afirmar que o julgamento do mensalão teve um
caráter político e de exceção. Em outras palavras, linchamento. Mais
recentemente, usou-se do episódio da vinda dos médicos cubanos para trabalhar
em regiões do Brasil e agora está usando os recentes problemas na Petrobrás com
o mesmo intuito, entre outros.
Mas por
que será que isso está acontecendo? O que está permitindo toda essa situação
pré-golpe? A grande verdade é que no Brasil a esquerda, mesmo tendo o poder
político em suas mãos, ainda assim não tem o poder midiático que a direita,
através de grandes veículos de comunicação como a revista Veja, possui. Muito
menos possui em mãos o poder econômico do país. Assim sendo, um partido como o
PT, quando assume o poder no nosso país, acaba ficando de mãos atadas diante
disso tudo, e para poder governar precisa fazer uma série de conchavos com a
direita. E isso implica em compromissos com tais grupos. Fora que o Partido dos
Trabalhadores, desde que assumiu a chefia da nação em 2003, tem feito quase
nada contra a reação direitista. De forma similar, na Ucrânia o ex-presidente
Viktor Yanukovych prendeu em 2011 uma de suas principais opositoras, Yuliya
Tymoshenko (recentemente libertada do cárcere), mas não fez o mesmo com gente
como o líder do Setor de Direita, Dmitriï Yarosh, e nem com Oleh Tyagnybok, o
líder do partido Svoboda, ambos neonazistas e russófobos convictos. E estes
neonazistas, sem a devida punição, acabaram sendo decisivos para a derrubada de
Yanukovych na sequência dos protestos da Euromaïdan. Talvez sem eles na linha
de frente das manifestações Yanukovych estaria no poder até agora e as
rebeliões não teriam chegado aonde chegaram.
Ao
passo que na vizinha Belarus os golpes que se tentaram fazer em 2006 e em 2010
contra o presidente Aleksandr Lukashenko (conhecidos como Revolução Branca),
fracassaram graças a enérgica ação da polícia e do KGB bielorrusso. Não
obstante, em 2007, na cidade de Nesvizh[1]
foram presos cinco jovens que foram até lá comemorar o centésimo aniversário de
Mikhail[2]
Vitushka, que nada mais foi que o equivalente bielorrusso de Stepan
Bandera. Assim como o líder da OUN-UPA[3],
Vitushka também colaborou ativamente com os nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial, a ponto de ter liderado uma tropa anti-guerrilha a serviço dos
alemães, a Chorny Kot/Чорны кот[4]
(Gato Negro). Aliás, vale ressaltar que durante a fracassada Revolução Branca,
assim como em outras manifestações anti-governo, seus líderes usavam a mesma
bandeira branca com uma faixa vermelha no meio que os colaboradores
bielorrussos dos nazistas usavam. A Rússia, por vez, proibiu em 2012 a
propaganda e o uso de simbologias nazistas, e a Venezuela durante as eras
Chávez e Maduro também fizeram medidas contra a oposição reacionária.
E o PT, o que tem feito
para conter vozes reacionárias tais como Jair Bolsonaro (notório por sua
simpatia pelo Regime Civil-Militar instaurado em 1964 e condenações a política
externa do governo brasileiro, entre outras), o pessoal da Revista Veja, Raquel
Sheherazade, Lobão, entre outros? Nada, absolutamente nada. E também não fez
nada para impedir a realização das marchas da família desse ano em homenagem
aos 50 anos do golpe Civil-Militar de 1964 e que pediam intervenção militar. E
o que será feito com o professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, que em uma aula
no dia 31 de março de 2014 na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco
exaltou o golpe de 1964, alegando que teria salvado o Brasil de um suposto
golpe comunista? Isso tudo mostra a falta que faz para um país a existência de
um órgão de segurança interna eficaz e combativo, a exemplo da FSB na Rússia e
do KGB bielorrusso.
Qual
será o prognóstico disso tudo? E o que será que a direita golpista tentará
fazer para retirar o PT do poder? Ainda estamos em maio e faltam cinco meses
para a realização das eleições. Estamos vendo a grande mídia nacional
promovendo uma campanha de ódio e desgaste da imagem do governo petista perante
a opinião pública nacional e assim abrir o caminho para que volte ao poder o
tucanato ou algum grupo político mais afinado com seus interesses. Em outras
palavras, aqui no Brasil a direita reacionária, diferente do que acontece na
Ucrânia e na Venezuela, ou mesmo na Líbia e na Síria, está tentando promover um
golpe branco, de forma a derrubar a presidente dando uma aparência de
normalidade institucional. Foi assim o golpe perpetrado contra Manuel Zelaya em
Honduras em 2009, assim como o contra Fernando Lugo no Paraguai em 2012. E caso
a direita perca para o PT nas urnas pela quarta vez consecutiva, certamente
aparecerão acusações de que as eleições foram fraudadas, tal como fez Viktor
Yushchenko na Ucrânia em 2004, os opositores de Aleksandr Lukashenko em Belarus
em 2006 e em 2010 e os opositores de Mahmoud Ahmadinejad no Irã em 2009. Assim
mais uma vez a história se repete.
Muitos dos prognósticos apontados
nesse meu texto de 2014 infelizmente acabaram se tornando realidade. No fim,
Dilma teve o mesmo destino que Yanukovych teve dois anos antes. E não só eu que
fiz previsões a respeito de um cenário golpista no Brasil antes mesmo de 2016.
Rui Pimenta Costa fez previsão similar em 2013. Na previsão que o político do
PCO (Partido da Causa Operária) fez na ocasião, ele diagnosticou o seguinte:
que o PT não controlava de fato nenhuma instituição (entre elas a Polícia
Federal, as Forças Armadas e a ABIN), que a esquerda não vinha dando a devida
seriedade quanto às ameaças golpistas da direita e que o PT e que o combate à
ameaça golpista da atualidade perpassa pela punição dos torturadores da época
do regime civil-militar e assim fazendo uma limpeza do entulho reacionário da
época (se bem que não basta apenas punir e prender os torturadores da época.
Também se faz necessário fazer o mesmo com os apoiadores civis dos
torturadores). E ainda em 2012 Samuel Pinheiro Guimarães falou em entrevista
que aqui no Brasil estava em curso um golpe de caráter jurídico seguindo a
tendência golpista vista no Paraguai naquele mesmo ano e o crescente
fortalecimento do poder judiciário. Segundo as palavras do diplomata
brasileiro, “eles estão se arrogando, com o apoio fortíssimo da mídia, essa
função de órgão supremo do sistema político brasileiro”, que isso é
extremamente perigoso e que havia uma campanha de exaltação do judiciário e
execração dos outros órgãos legislativos. Algo que a própria Operação Lava Jato
mostrou ao país desde 2014.
O fato é que
infelizmente a esquerda brasileira “paz e amor” está tomada por uma cegueira a
ponto de achar que é com flores, corações em forma de origami que se enfrenta
gente como Michel Temer, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Paulo Skaf, Jair
Bolsonaro, Sérgio Etchegoyen, Kim Kataguiri e toda sua patota do MBL e outros
dessa laia. Ingenuidade essa que pode ser vista na mensagem postada pela
senadora petista Gleisi Hoffmann no dia sete de fevereiro desse ano, contendo
uma frase do finado cantor Renato Russo e dizendo que o amor prevalecerá. Esquerda
essa acha que vive na Escandinávia e não no Brasil, um país atravessado desde
os primórdios de sua história por uma grande desigualdade social entre os cima
e os de baixo e um dos mais atrozes conflitos sociais do planeta. Conflito esse
que a política social petista nesses anos todos anestesiou por meio de seus
programas sociais e que voltou com força total a partir dos eventos de junho de
2013.
Aí eu pergunto para
esses desmiolados: Nicolás Maduro na Venezuela combate os distúrbios promovidos
pelos elementos reacionários de lá pedindo paz e amor a Capriles e companhia
limitada? Bashar al-Assad na Síria combate a fina flor do terror wahhabita
pedindo paz e amor a Estado Islâmico, Al Qaeda, Al Nusra e outros grupos que
tocam o terror em seu país desde 2011? Saddam Hussein venceu os levantes separatistas
que flagelaram o Iraque logo após o término da Primeira Guerra do Golfo pedindo
paz e amor aos grupos reacionários al-Dawah e al-Badr no sul e aos separatistas
curdos no norte? Hugo Chávez venceu o golpe perpetrado contra ele em 2002 e
retomou o cargo de Presidente da Venezuela pedindo paz e amor aos golpistas? Os
comunistas enfrentaram os integralistas na Batalha da Praça da Sé em 1934
pedindo paz e amor aos partidários de Plínio Salgado? Getúlio Vargas venceu as
intentonas de 1935 e 1938 pedindo paz e amor a Luís Carlos Prestes e Plínio
Salgado? A União Soviética venceu os brancos na Guerra Civil de 1918 a 1922
pedindo paz e amor para Kolchak, Denikin, Vrangel e as potências vencedoras da
guerra que vieram em auxílio dos brancos e depois a Alemanha nazista na Segunda
Guerra Mundial pedindo paz e amor a Hitler e seus aliados? Mao Tsé Tung
expulsou os japoneses da China pedindo paz e amor a Hirohito? Kim il-Sung
estabeleceu a República Popular Democrática da Coréia pedindo paz e amor as
autoridades coloniais japonesas lá estabelecidas? Fidel Castro e os
revolucionários cubanos rechaçaram o ataque à Baía dos Porcos em 1961 pedindo
paz e amor aos invasores reacionários? A resposta para essas perguntas todas é
um rotundo e contundente não. Essa esquerda deve abandonar esse republicanismo
e esse humanismo tacanho e medíocre e acordar para a realidade, do contrário
continuará fazendo o papel de saco de pancada da direita. Há momentos em que o
uso da força contra inimigos é inevitável e certa quantidade de sangue terá de
ser vertida, e a esquerda brasileira parece que não se dá conta disso. Prefere
viver em seu mundo colorido de suas fantasias de paz e amor. Pelo visto essa
gente nada aprendeu com o martírio que a Dona Marisa sofreu diante do terrorismo
psicológico-jurídico-midiático perpetrado pelo conluio mídia de massa-Operação
Lava Jato.
Aliás, falando em Lava
Jato e pegando um gancho na previsão de Rui Pimenta Costa feita em 2013, eu
defendo que não só o período de 1964 a 1985 como também a privataria tucana, a
carta aos brasileiros e a própria Operação Lava Jato também devem futuramente
ser submetidas ao escrutínio de uma Comissão da Verdade. Que sejam abertos seus
arquivos e que mostrem ao país a serviço de quem Moro, Dallagnol e companhia limitada
agem. Que venha a tona ao país toda a cooperação que Moro e sua equipe tiveram
com autoridades norte-americanas, entre tantas outras coisas. Até porque o que
está em jogo aqui no Brasil, para além de um processo golpista, é um crescente
processo de judicialização da política, onde os juízes exercem o mesmo papel
que os militares exerceram no período de 1964 a 1985: o de capatazes da classe
dominante contra as lutas populares, os quais utilizam os dispositivos legais
do Estado para tal e assim dar um verniz de legalidade a tal estado de coisas.
Algo que irá se consolidar caso Lula eventualmente seja preso.
Foto
– A frase de Renato Russo mencionada na postagem da página do Facebook da
senadora Gleisi Hoffmann. Uma parte significativa da esquerda nacional pelo visto acha que é com uma
fraseologia barata dessas que se combate os elementos reacionários da sociedade
brasileira.
Fontes:
Antecipação do golpe em
2013 pelo PCO e a cegueira da esquerda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vjd7gXmxfLA
O levantamento da
direita raivosa – Golpe a vista no Brasil? Disponível em: https://www.facebook.com/notes/eduardo-consolo-dos-santos/o-levantamento-da-direita-raivosa-golpe-a-vista-no-brasil/315528695152775
Os aiatolás do Irã
ajudaram a minar a soberania do Iraque. Disponível em: http://blogak-47.blogspot.com.br/2012/06/os-aiatolas-do-ira-ajudaram-minar.html
Samuel Pinheiro
Guimarães (2012) – Há um golpe em curso: o golpe jurídico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NY9TLDjz3sc
NOTAS:
[1] Leia-se Niesvij, pois no bielorrusso, assim como no russo e no ucraniano, a partícula zh (cirílico ж) tem valor de j.
[2] Leia-se Mirrail, pois no bielorrusso, assim como no russo, no ucraniano, no árabe, no persa e no mongol, a partícula kh (cirílico х) tem valor de r aspirado.
[3] Em ucraniano Organizatsiya Ukraïns’kikh Natsionalistiv-Ukraïns’ka Povstans’ka Armiya (Organização dos Nacionalistas Ucranianos-Exército de Libertação da Ucrânia/cirílico ucraniano Органiзацiя Украïнських Нацiоналiстiв-Українська Повстанська армія).
[4] Leia-se Tchorny Kot, pois no bielorrusso, assim como no russo, no ucraniano, no espanhol, no inglês, no mandarim, no mongol e outros idiomas, a partícula ch tem valor de tch.
[2] Leia-se Mirrail, pois no bielorrusso, assim como no russo, no ucraniano, no árabe, no persa e no mongol, a partícula kh (cirílico х) tem valor de r aspirado.
[3] Em ucraniano Organizatsiya Ukraïns’kikh Natsionalistiv-Ukraïns’ka Povstans’ka Armiya (Organização dos Nacionalistas Ucranianos-Exército de Libertação da Ucrânia/cirílico ucraniano Органiзацiя Украïнських Нацiоналiстiв-Українська Повстанська армія).
[4] Leia-se Tchorny Kot, pois no bielorrusso, assim como no russo, no ucraniano, no espanhol, no inglês, no mandarim, no mongol e outros idiomas, a partícula ch tem valor de tch.