Foto – O dublador Caio
César e alguns de seus personagens.
Hoje, 30 de setembro de
2016, completaram-se um ano do falecimento do dublador e PM carioca Caio César.
Caio César deu sua voz a personagens como Harry Potter na série de filmes
baseada na obra de J.K. Rowling, Diego Bustamante em Rebelde, Sokka em Avatar e
TK em Digimon, entre outros tantos trabalhos. Caio César tinha apenas 27 anos
de idade (nasceu em 28 de setembro de 1988), e morreu em decorrência de
ferimentos ocasionados por uma bala de fuzil durante uma operação policial no
Morro do Alemão. Caio César foi levado ao hospital Getúlio Vargas e foi
atendido pelos médicos, porém não resistiu aos ferimentos. O que dizer sobre
isso?
Por um lado, muito
triste. Muito triste ver que uma pessoa que tinha toda uma vida pela frente e com
esposa e filho morrer desse jeito. Fica aqui minha homenagem e espero que agora
no além esteja junto com muitos outros dubladores que também já se foram tais como
Newton da Matta (dublador do Lion em Thundercats e de atores como Bruce Willis
e Dustin Hoffman), Eleu Salvador (pai da Bulma em Dragon Ball Z, Doutor Brown
em De volta para o futuro, Rei Tut em Batman anos 1960), Darcy Pedrosa (Higgins
em Magnum, Ricardo Montalban, Coringa em várias produções do Batman), Paulo
Flores (Taz Mania, Doutor Hibert da temporada 2 a 14 em Simpsons, Simiano em
Thundercats), Aldo César (Bender nas duas primeiras temporadas de Futurama, Doutor
Maki Gero em Dragon Ball Z, Rex Harrison), Daoiz Cabezudo (narrador de Dragon
Ball Z, Lula Molusco nas quatro primeiras temporadas de Bob Esponja, Tohru em
As aventuras de Jackie Chan), Sônia Ferreira (Doutora Blight em Capitão
Planeta, Rainha Marlena em He-Man, Luna em Thundercats), João Batista (Cell em
Dragon Ball Z, Shendu em As Aventuras de Jackie Chan, Thundarr em Thundarr o
bárbaro), Borges de Barros (Moe Howard em Três Patetas, Edin em Jaspion, Gigars
em Cavaleiros do Zodíaco), Mário Vilela (Seu Barriga em Chaves, personagens
interpretados por Edgar Vivar em Chapolin, Pirata Espacial Buba e Gyodai[1] em Changeman), Chico
Borges (narrador de seriados como Batman anos 1960, Jaspion, Changeman e os 10
primeiros episódios de Flashman), Marcelo Gastaldi (primeira voz do Chaves e do
Chapolin Colorado), Helena Samara (Dona Clotilde em Chaves, Vovó Uranai em
Dragon Ball Z, Mamãe em Futurama), Miguel Rosenberg (Senhor Burns nas
temporadas 2 a 8 e 18 a 27 em Simpsons, Zé Colméia em algumas produções da Hannah
Barbera), Sílvio Navas (Mumm-Ra em Thundercats, Papai Smurf, Vaidoso e
Fazendeiro em Smurfs, Rei Cold e Rei Cutelo em Dragon Ball Z, Bender na 3ª e 4ª
temporadas de Futurama), entre tantos outros. A própria J.K. Rowling deixou uma
mensagem no Twitter em homenagem a Caio César na ocasião:
Foto
– “Desesperadamente triste de ouvir que Caio César, a voz brasileira de Harry
Potter, morreu com a idade de 27 anos. Meus sentimentos estão com sua família”
(tradução do Inglês para o Português da mensagem da criadora de Harry Potter). Print da postagem no Twitter da autora de Harry Potter quando soube da notícia do falecimento de Caio César.
E por outro, revoltante.
Revoltante pelo fato de ele ter morrido nas mãos dos traficantes que a
playboyzada carioca, do alto de sua estupidez e de seu hedonismo sem limites,
vive dando dinheiro quando sobe o morro para comprar a maconha que eles fumam
em suas casas nos bairros nobres do Rio de Janeiro. É essa mesma playboyzada
que muitas vezes defendem bandidos tratam a polícia como se fosse uma
instituição composta só de homens corruptos que argumenta a favor da
legalização de drogas como a maconha falando que a “guerra contra as drogas”
que o sistema promove falhou e que agora é hora de se adotar uma nova política
para com drogas, similar às experiências da Holanda e do Uruguai. Mas, será que
a guerra contra as drogas foi perdida mesmo ou o sistema na verdade nunca quis
vencê-la, ainda mais tendo em vista que o tráfico de drogas, dentro do mundo
capitalista em que vivemos, é um dos negócios mais lucrativos que existem?
Pensando por esse prisma, a guerra contra as drogas, pelo que se propôs a fazer
realmente, não fracassou de forma alguma. Muito pelo contrário.
E segundo que, de forma
análoga a elementos como Jean Wyllys de um lado e Marco Feliciano de outro na
questão dos direitos e militância GLBT, a guerra contra as drogas e esses
drogadistas inconseqüentes são que nem o Yin e o Yang[2] do Taoísmo, as duas faces
do deus Janus[3]
na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami Sama de Dragon Ball: dois
elementos opostos entre si, mas que se completam um ao outro ao ponto de um não
existir sem o outro e vice-versa. Em outras palavras, duas faces da mesma moeda,
na medida em que um justifica a existência do outro e vice-versa. Como disse o
escritor russo Maksim Gorkiï em sua obra “Humanismo Proletário”, em 1934:
“Unichtozhte[4]
gomoseksualizm – Fashism ischesnet/Уничтожьте гомосексуализм – Фашизм исчезнет
(Destrua o homossexualismo[5] – Fascismo desaparecerá)”.
Foto
– A máxima de Gorkiï.
Nessa
frase em questão, o que Gorkiï quer dizer? Imaginemos uma moeda. Uma moeda tem
dois lados. Se um dos lados é destruído, o outro é automaticamente destruído junto
e vice-versa, já que a dialética que retroalimenta os dois lados é destruída.
Se um dia a guerra contra as drogas acabar e em seu lugar for efetuado um
verdadeiro combate a essa chaga (como o feito na China durante o governo de Mao
Tsé Tung [1949 – 1976], que resolveu com o problema do ópio que assolava com o
antigo Império do Meio em poucos anos destruindo ao mesmo tempo com a demanda,
a fabricação e a comercialização da droga, assim como a eliminação dos
traficantes e o tratamento dos drogados. Ou seja, acabou com o problema pela
raiz), os drogadistas não terão mais a guerra contra as drogas para ficar
soltando suas patranhas. E vice-versa.
Entretanto,
o tráfico de drogas não é o único responsável pelos problemas sociais do Rio de
Janeiro. Desde pelo menos os tempos da República Velha (1889 – 1930) a questão
social é tratada como caso de polícia por parte da politicalha carioca.
Episódios como o da Revolta da Vacina em 1904 e a Reforma Urbanística promovida
pelo então prefeito Pereira Passos entre 1904 a 1906 (apelidada de “Bota
Abaixo” pelo povo na época e inspirada na reforma urbanística feita pelo Barão
Haussmann[6] em
Paris) ilustram muito bem isso. E essa mentalidade higienista persistiu com o
tempo até chegarmos aos dias de hoje, ainda que tenha assumido roupagens mais
modernas com o passar do tempo. Encontra-se presentes em políticos como Moreira
Franco, Pezão, Eduardo Paes, Saturnino Braga, Sérgio Cabral Filho, Pezão,
Marcelo Crivella e tantos outros. Os mesmos que abandonaram com o projeto dos
CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) de Brizola e Darcy Ribeiro sob a
alegação de que eram muito caros. E esses são os políticos que os pais da
playboyzada maconheira carioca vivem votando e ajudando a perpetuar no poder no
Rio de Janeiro, ao passo que esses jovens maconheiros ajudam a perpetuar na
política carioca elementos tão ou mais execráveis como Jean Wyllys, Fernando
Gabeira e Carlos Minc (que nada mais são que a cara-metade político-ideológica
dos primeiros).
E
que interesses a politicalha carioca e seus associados têm na perpetuação dessa
situação de verdadeira guerra civil no Rio de Janeiro? Interesses de ordem
político-eleitoreira (quando um candidato para prefeito ou governador usa o
problema como forma de conseguir votos, afirmando que o outro candidato foi
displicente com o problema, mas que quando chega no poder apenas faz algumas
pedidas paliativas), econômica (da parte da indústria armamentista, interessada
na violência urbana, e de empresas de segurança particular, com interesse em
vender seus planos e produtos para as pessoas. Essa mesma indústria também
financia políticos e até tem sua representação no Congresso com a Bancada da
Bala), midiática (notícias desse tipo para seus noticiários sensacionalistas),
policiais corruptos (através de esquemas de extorsão das comunidades mais
carentes) e outros conspiram para isso. Alguém que queira realmente resolver o
problema terá de enfrentar isso tudo, além do fato de essa gente toda ter a seu
favor o poder midiático local. O próprio Brizola, quando foi governador do Rio,
sofreu e muito com isso através de histórias falaciosas como a de que ele não
queria que a polícia subisse o morro para prender traficantes (sendo que o que
ele realmente queria é que a polícia não se misturasse com os traficantes).
Algo
também sintomático dessa notícia é o fato de o morto em questão ser PM e
dublador ao mesmo tempo. Assim como acontece com os professores do nosso país e
outras tantas profissões, os profissionais da dublagem muitas vezes são mal
remunerados. Não raro é comum os dubladores passarem mais da metade do dia
trabalhando para conseguir algum dinheiro para se sustentar. Ou então exercerem
mais um de uma profissão. E o pior de tudo é ver a propaganda governista ficar
falando em “Brasil – Pátria Educadora”, sendo que um título muito mais adequado
seria “Brasil – Colônia de Banqueiros” (clara alusão à obra homônima do
historiador Gustavo Barroso, publicada originalmente em 1934), ou então “Brasil
– Pátria Rentista”. Esses são os elementos que nadam na grana no Brasil
enquanto que o povão passa fome.
Espero
que um dia esse problema da violência no Rio de Janeiro um dia venha a ser
solucionado, de forma que notícias como essas não venham mais a aparecer nos
Datenas e Marcelos Rezendes da vida. O que percebo nessas operações da PM é que
eles arrancam a erva daninha do solo, mas não fazem questão de arrancar fora
sua raiz junto. De nada adiantará a polícia pacificar o morro sem ao mesmo tempo
fazer uma política de inclusão social que, entre outras coisas, afaste os
jovens do tráfico e lhes dê oportunidades na vida. E não será com medidas
paliativas como Bolsa Família e Fome Zero que esse problema será resolvido (as
quais tem o perverso efeito de criar no seio da juventude mais humilde uma
geração de jovens fúteis e consumistas que não raro vão aos shoppings centers
fazer seus rolezinhos), e sim através da cidadania e da educação das massas. Isso
é o que Brizola e Darcy Ribeiro queriam com os CIEPs. Em outras palavras, para
o bandido já formado, a devida repressão e a força da lei. E para os bandidos
ainda em formação, as escolas e os programas de verdadeira inclusão social.
Sem
arrancar a raiz da erva daninha do solo, cedo ou tarde ela crescerá novamente e
voltará a causar problemas, gerando um círculo vicioso que continuará a ceifar
mais e mais vidas com o problema da violência urbana no Rio de Janeiro. Do
contrário, no momento em que os traficantes se organizarem, em poucas horas
eles, com o armamento pesado que eles têm em mãos, sairão de suas tocas,
tocarão o terror e dominarão a antiga capital federal. E esse problema jamais
será resolvido se o Rio de Janeiro continuar sendo governado por esses políticos
que tratam a cidade da mesma forma que Pereira Passos a tratava na virada do
século XIX para o XX: como um espaço destinado para o desfrute único e
exclusivo das elites abastadas. E se um dia o Rio de Janeiro estiver todo
dominado pelas quadrilhas de criminosos do morro, que as elites cariocas e os
políticos que eles tanto votam não venham com choradeira e não se incomodem de
serem vítimas dos mesmos monstros que eles tanto criaram e alimentaram durante
todo esse tempo.
Foto – Frase sobre a
miopia dos jovens cariocas de bairros abastados como a Zona Sul quanto às
consequências de seus atos.
Fontes:
J.K. Rowling lamenta
morte de PM dublador de Harry Potter: “Triste”. Disponível em:
Morre
Caio César, dublador do Harry Potter. Disponível em: http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/morre-caio-cesar-dublador-do-harry-potter/
“Morreria feliz em
combate”, disse à família policial que dublou Harry Potter. Disponível em:
RW: How Maoist Revolution wiped out drug addiction in China (Em Inglês).
Disponível em: http://revcom.us/a/china/opium.htm.
Teoria: Humanismo
Proletário. Disponível em:
“Уничтожьте гомосексуалисм – Фашизм исчезнет” (em Russo). Disponível
em:
NOTAS:
[1] Leia-se “Guiodai”, pois no japonês,
assim como em idiomas como o alemão e o russo, a pronúncia da partícula g não
muda em função da vogal seguinte tal qual nos idiomas latinos e no inglês.
[2] Leia-se “Yan”, pois no mandarim, assim
como no francês, quando uma palavra termina em consoante esta é muda.
[3] Leia-se “Ianus”. No latim, assim como
em idiomas como o alemão, o holandês, o húngaro, o polonês, o servo-croata, as
línguas escandinavas e bálticas, o tcheco, o eslovaco e outros tantos, a
partícula j tem valor de i.
[4] Leia-se “Unitchotojte”. No russo as
partículas zh (cirílico ж) e ch (cirílico ч) tem o mesmo valor do j e do tch no
português.
[5] Quando Gorkiï fala em homossexualistas
nesse trecho em questão, ele está se referindo não aos homossexuais enquanto
pessoas, e sim ao ativismo GLBT.
[6] Leia-se Ôssmann, pois no Francês a
partícula h é muda como no Português e no Espanhol e a partícula au tem valor
de ô.