Foto – “J’Accuse...! – Lettre au Président de la
République, par Émile Zola (Eu acuso...! Carta ao Presidente da
República, por Émile Zola)’’
Em
1894 teve início o caso Dreyfus na França. Tal escândalo dividiu a França no
último decênio do século XIX e centrou-se na condenação por alta traição do
oficial de artilharia do exército francês Alfred Dreyfus (de origem judaica)
com base em um processo conduzido à portas fechadas por entrega de segredos
militares franceses à Alemanha. Posteriormente, descobriu-se que Dreyfus (que
foi condenado à prisão perpétua na ilha do Diabo [região costeira da Guiana
Francesa], sendo de lá solto e reabilitado apenas em 1906) era inocente e que
as tais provas de sua culpa eram baseadas em documentos falsos.
O
caso Lula, em minha humilde opinião, entrará para a história como o equivalente
tupiniquim do que foi o caso Dreyfus para a história da França. Da mesma forma
que hoje em dia o Brasil está dividido entre aqueles que querem a prisão de
Lula (em especial os coxinhas da classe média que apoiam a Lava Jato e suas
arbitrariedades em nome de um fictício combate à corrupção) e aqueles que são
contra a prisão do ex-presidente, na época a França estava dividida entre os
dreyfusards (apoiadores de Dreyfus) e os anti-dreyfusards (detratores de
Dreyfus). Tal caso também foi marcado por uma forte de antissemitismo, já que
Dreyfus era judeu.
Em
1897 um segundo julgamento foi feito após Mathieu Dreyfus, irmão de Alfred
Dreyfus, descobrir que o verdadeiro culpado era Charles Esterhazy. Entretanto,
a pena de Dreyfus não foi revista. Diante dessa situação o escritor francês
Émile Zola, indignado com essa situação, publicou uma carta aberta ao então
Presidente da França, Félix Faure, no jornal literário L’Aurore, intitulada
J’accuse! (Eu acuso!) em 13 de janeiro de 1898. Nessa carta Zola, se apoiando
no trabalho de Georges Picquart (chefe do serviço secreto francês) que chegou a
conclusão de que os documentos contra Dreyfus foram falsificados, denunciou o
Alto Comando Militar francês, os tribunais e todos aqueles que condenaram
Dreyfus.
Pelos
recentes ocorridos de violência (que um dia pode desembocar em uma situação de
guerra civil, similar ao que se passa hoje em dia em países como a Líbia, a
Síria, a Ucrânia e a Venezuela), entre eles o atentado à caravana de Lula e os
tiros ao acampamento Marisa Letícia em Curitiba, eu, inspirado na famosa carta
de Émile Zola, acuso as seguintes pessoas:
Rede
Globo – Acuso a Rede Globo como a grande responsável por toda essa situação que
o país vivencia. Como é sabido por todos nós, a emissora da família Marinho tem
todo um histórico de guerra midiático-informativa contra governos populares que
remonta ao segundo governo Vargas e que perpassa por JK, Jango e Brizola
(quando o político gaúcho era governador do Rio de Janeiro) e chega aos dias de
hoje com Lula e Dilma. A seguinte frase, dita por Joseph Pulitzer no século
retrasado, resume bem o papel da Rede Globo nisso tudo exerce: “Com o tempo,
uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão
vil quanto ela mesma”. Será que no fundo a Rede Globo tem é receio de vir a ter
o mesmo destino que a RCTV teve na Venezuela há 11 anos (a mesma RCTV que foi a
grande organizadora do fracassado golpe de 2002 contra o comandante Chávez) caso
Lula seja eleito, tendo em vista que a concessão da emissora dos Marinho
termina em 31/12/2018?
Juiz
Sérgio Moro – Acuso o Juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato, seus
procuradores, juízes e operadores não só pelo clima de ódio que ajudou a criar
no país em conluio com a Vênus Platinada como também pelo clima que punitivismo
que ele, Brêtas, Dallagnol e companhia limitada injetaram na população, a ponto
de pensarem que tudo vale para supostamente combater a corrupção, incluindo até
mesmo passar por cima da Constituição Federal e dela fazer pouco caso, como se
fosse um mero compêndio de leis e tratados. A tal ponto que quando o STF quer
colocar uma rédea curta nas ações da Lava Jato e fazer com que a Constituição
seja obedecida seus apoiadores acharem que é sinônimo de impunidade. Um dia
espero vê-los sendo julgados em uma Comissão da Verdade sobre a Lava Jato.
Jair
Bolsonaro – Eu acuso Jair Bolsonaro por tais ocorridos, mas não por causa de
sua retórica truculenta ou por ter apoiado o golpe de 2016. O acuso por sua
miopia política e péssima leitura da situação que o país vivencia. Bolsonaro
mal se dá conta de que ele pode muito bem ser o próximo a ser vítima desse
estado judicial-policial-midiático que tomou conta do país desde que Dilma
Rousseff foi deposta naquele impeachment fraudulento. Dilma Rousseff não foi
apeada do poder pela articulação PSDB-PMDB para depois o poder ser entregue de
mão beijada a um operário como o Lula e muito menos a um forasteiro como o
Bolsonaro. O que essa gente quer é seus representantes orgânicos (ou seja,
figuras tipo Serra, Alckmin, Temer e políticos afins) na Presidência da
República, não operários ou forasteiros do sistema. Tivesse ele pelo menos um
pouco de bom estaria agora defendendo o Estado de direito e as leis do país, estaria
defendendo a liberdade de Lula a despeito de suas discordâncias ideológicas e
não dando apoio a essa farsa toda. Bolsonaro, você que se cuide, que daqui a
pouco a cobra que picou o Lula fará o mesmo contigo. Não duvido nem um pouco
que possam usar esse episódio do atentado ao acampamento Marisa Letícia (assim
como outros anteriores em que teu nome está envolvido) para te fritar e te
colocar fora do páreo. Como também não descarto a possibilidade de que tal
atentado possa ter sido uma operação de falsa bandeira perpetrada por essa
gente que te quer ver fora do páreo justamente para te fritar e queimar teu
filme perante a população.
Manifestoches
– Acuso vocês, manifestoches, que desde as manifestações de junho de 2013 vêm
abrindo a caixa de Pandora de uma futura guerra civil que possa vir a flagelar
o país que talvez se arraste por muitos anos, tal como os manifestoches da
Primavera Árabe e do Euromaidan na Ucrânia ajudaram a fazer em seus respectivos
países. Haja vista que a guerra civil na Síria já se arrasta por sete longos
anos e que suas raízes remontam à Primavera Árabe, assim como a situação de
falência da autoridade do poder central que a Líbia vivencia desde a queda e
morte do coronel Kadaffi em 2011 (que também começou dentro do contexto da
Primavera Árabe), a guerra civil que a Venezuela vivencia desde a morte do
comandante Chávez (alimentada em grande medida pela queda dos preços do
petróleo no mercado internacional e a guerra econômica promovida pelos donos do
poder econômico local, similar ao que foi feito no Chile durante o governo
Allende) e a guerra civil que a Ucrânia vivencia desde o Euromaidan (que em
realidade não foi mais que uma briga entre oligarcas).
Vocês,
que jogam confetes ao Sérgio Moro e acham que a Lava Jato está combatendo a
corrupção (sendo que ela, tal qual a Operação Mãos Limpas na Itália, apenas
está ajudando a corrupção a se sofisticar ainda mais). Vocês, que vaiaram a
Dilma no jogo de abertura da Copa do Mundo 2014 em pleno Itaquerão, chamaram o José Trajano de “vendido” em pleno Itaquerão após o fim
do jogo Uruguai 2 x 1 Inglaterra e ficaram furiosos com o Juca Kfouri depois
que ele falou que foi uma “elite branca” que vaiou a presidente Dilma no jogo
em questão. Vocês, que bateram panelas toda vez que tinha horário político do
PT e pronunciamento da Dilma. Vocês, que foram para as ruas com a camisa da
seleção brasileira (que carrega o símbolo da corrupta CBF, que há anos vem
arruinando com o futebol brasileiro) pedirem intervenção militar e prestaram
apoio ao Sérgio Moro e a Lava Jato, mal sabendo do quão sujo essa gente é e que a
Lava Jato só existe porque a chamada “elite do dinheiro” assim deseja (e o que ela
está fazendo em realidade é combater aquilo que Jessé Souza chama de a
“corrupção dos tolos” para reforçar e fortalecer a real corrupção, que envolve
justamente a intermediação financeira. Fazendo uma analogia com o xadrez, é o
mesmo que sacrificar os peões para fortalecer o rei e a rainha). Vocês, que apoiaram
o impeachment fraudulento de Dilma Rousseff e ajudaram a colocar a quadrilha
que agora está no poder. Vocês, que festejaram com fogos de artifício primeiro
a condenação no TRF4 e depois a prisão do Lula, sem se dar conta de que aquilo
tudo é um jogo de cartas marcadas. Vocês são a prova viva de que o Brasil é um
país onde as pessoas são criadas não para serem cidadãs, e sim telespectadoras
e que a frase dita por Pulitzer e citada anteriormente continua atualíssima.
Vocês são um bando de analfabetos políticos.
Polícia
Federal – O que será que a Polícia Federal está fazendo para conter toda essa
onda de truculência direitista contra aqueles que se manifestam a favor da
liberdade de Lula? Ou será que a Polícia (ou ao menos setores expressivos dela)
também não está envolvida nessa conspiração toda? Ao que tudo indica, o Brasil
está vivendo no presente momento seu período de distúrbios, similar ao que a
Rússia vivenciou entre 1598 a 1613.
Fontes:
Carta
de Émile Zola sobre o caso Dreyfus. Disponível em: http://www.omarrare.uerj.br/numero12/pdfs/emile.pdf
Caso
Dreyfus. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Dreyfus
Jessé
Souza: a Lava Jato só existe porque a elite financeira quer. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HZTvc4dqKi8&ab_channel=TV247
Motivos
não faltam para a concessão da Globo ser cassada. Disponível em: