sábado, 3 de dezembro de 2022

Militância de mais, futebol de menos - considerações sobre o vexame germânico na Copa 2022

 

Foto – Seleção alemã fazendo protesto por direitos humanos no Qatar, antes do jogo com o Japão.

A fase de grupos da Copa 2022 enfim chegou ao fim, e tivemos algumas surpresas.

No grupo D, a França quebrou a maldição dos campeões e passou para as oitavas-de-final junto com a Austrália ao terminá-lo na liderança com seis pontos. Dessa forma, a França é a primeira campeã da copa anterior que logrou passar da fase grupos na copa seguinte desde 2006.

Mas se a França logrou escapar da maldição dos campeões de Copas anteriores, o mesmo não pode se dizer da Alemanha, a campeã da Copa de 2014.

O selecionado teutônico jogou no grupo E, junto com Espanha, Japão e Costa Rica. É a segunda vez seguida que a Alemanha é eliminada ainda na primeira fase, tal qual aconteceu na Copa de 2018 (na qual foi eliminada junto com a Coreia do Sul em um grupo com Suécia e México).

Os comandados do técnico Hans Dieter-Flick, auxiliar-técnico de Joachim Löw entre 2006 e 2014 que teve passagens como técnico por clubes como o Red Bull Salzburg e o Bayern de Munique, primeiro perderam para o Japão por 2 a 1. Em seguida, empataram com a Espanha por 1 a 1 e venceram a Costa Rica por 4 a 2. Quatro pontos marcados, seis gols marcados, quatro tomados. Saldo de gols dois positivo.

Entretanto, o selecionado germânico foi eliminado da competição máxima do futebol mundial por conta do saldo de gols, e assim terminou em terceiro lugar no grupo E.

O que dizer sobre o vexame germânico na Copa de 2022? Duas coisas. Duas não, três coisas.

Por um lado, é triste ver uma seleção de tradição como a Alemanha, quatro vezes campeã e que junto com o Brasil e a Itália é a seleção que mais disputou finais na história das Copas do Mundo, ser eliminada dessa maneira. Um selecionado que já disputou oito finais, foi terceiro colocado quatro vezes (1934, 1970, 2006, 2010) e que em três outras ocasiões (1962, 1994, 1998) chegou até as quartas-de-final (e, diga-se de passagem, entendam uma coisa: uma coisa é seleções como Costa Rica, Panamá e Honduras amargarem esse tipo de resultado em Copas do Mundo. Outra bem diferente é o mesmo ocorrer com seleções como Brasil, Itália, Argentina, Alemanha e França).

E ainda por cima repetindo os fiascos da Itália nas duas últimas copas que disputou: em 2006, sob Marcelo Lippi, a Squadra Azzurra foi tetracampeã do mundo ao vencer a França na final. Mas em 2010 (na qual foi eliminada junto com a Nova Zelândia em um grupo com Paraguai e Eslováquia) e 2014 (na qual foi eliminada junto com a Inglaterra em um grupo com Costa Rica e Uruguai) não repetiu o mesmo desempenho e foi eliminada ainda na primeira fase. E para piorar ainda mais as coisas, em 2018 e 2022 o selecionado italiano nem participou da Copa do Mundo por ter sido eliminado ainda na fase classificatória (em 2018 pela Suécia e em 2022 pela Macedônia do Norte).

Talvez seja um reflexo do fato de que a seleção alemã já não é mais tão alemã assim. Em outras palavras, não tem a mesma essência germânica de antes, do tempo de jogadores como Beckenbauer, Rummenigge, Fritz Wagner e outros. Um time agora um número considerável de jogadores estrangeiros (entre eles árabes, turcos e africanos), alguns dos quais mal conseguem cantar o hino alemão. Talvez um indicativo de que as políticas de integração de integração de imigrantes de fora do país fracassaram.

Mas, por outro lado, bem feito para eles, que foram ao Qatar para lacrar (a começar pelo avião que fretou a seleção alemã com a mensagem “a diversidade vence”) e fazer certos ativismos.

Sentindo-se silenciados pela FIFA pelo fato de que o uso da braçadeira de capitão com os escritos “OneLove” foi impedido pela organização máxima do futebol mundial (alegando que iria penalizar os jogadores que se atravessem a isso com cartões amarelos e outras sanções esportivas), antes de o jogo contra o Japão começar eles cobriram as bocas com as mãos, como se estivessem com as bocas amordaçadas.

A questão que fica no ar é a seguinte: por que não fizeram todo esse boicote ao Qatar quando a nação árabe foi escolhida como sede da Copa do Mundo, ainda em 2010?

Foto – Avião que transportou a seleção alemã para o Qatar. “A diversidade vence”.

No fim das contas, isso que os alemães foram fazer no Qatar nada mais é que uma espécie de neocolonialismo. Sim, neocolonialismo, no qual eles, os ditos “iluminados”, vão ao terceiro mundo mostrarem o quão os árabes e outros povos são “atrasados”, “medievais” e “bárbaros” e que eles são o modelo a ser seguido pelo resto do mundo. É o “fardo do homem branco” do imperialismo do século XIX sob uma nova embalagem, a embalagem dos direitos humanos e da proteção às minorias (da forma mais demagógica e cínica possível, obviamente).

E os jogadores alemães, da parte deles, fazem o marketing barato deles declarando apoio a certas causas e assim sinalizando certas virtudes perante o público ao manifestar apoio às mesmas.

Como não poderia deixar, a eliminação precoce da Alemanha na Copa do Qatar foi objeto de ironia por parte de jornalistas e comentaristas locais. Em um programa de TV local, comentaristas fizeram o mesmo gesto que os jogadores alemães fizeram no jogo contra o Japão, só que acenando um adeus para eles.

E a questão que fica no ar é a seguinte: como impedir que o Brasil chegue ao mesmo fundo do poço em que a Itália e a Alemanha chegaram no futebol? Que lições o Brasil (que ontem sofreu sua primeira derrota para um time africano na história das Copas do Mundo – e não esquecendo que no Mundial de Clubes em três ocasiões times brasileiros perderam para times africanos) deve tirar para que não se chegue a esse ponto? Pois se o Brasil, que desde 1990 não sabe o que é ser eliminado antes das quartas-de-final em Copas do Mundo, não tomar cuidado, é capaz de repetir o mesmo fracasso dos italianos e dos alemães em futuras Copas do Mundo.

Algo também digno de nota é que após a eliminação da Alemanha na Copa do Mundo memes de brasileiros apareceram em diversos sites meio que celebrando a eliminação do selecionado teutônico na Copa do Mundo.

Foto – Meme publicado por internautas brasileiros ironizando a eliminação da Alemanha na Copa do Qatar.

Uma delas pelo Twitter postou a seguinte mensagem: “Esse é o karma por meter o 7x1 na gente, Alemanhaaaaaa. Deus é pai, não é padrasto não, com os filhos dele ninguém mexe. Pau no cu dos alemão”.

Por favor, pessoal, só lhes peço uma coisa: evitem de ficar zombando do fracasso germânico na Copa, ainda mais com mensagens desse teor. Isso é tripudiar, e não ironizar, a eliminação deles no Mundial. Continuem com essa empáfia que logo chegará a vez de o Brasil, em uma futura Copa, repetir os mesmos fiascos da Alemanha e da Itália nas quatro últimas Copas.

E mais uma coisa: recentemente vi na Internet alguns petistas compartilhando em redes sociais como o Facebook a seguinte imagem, na qual vemos o Presidente reeleito pela segunda vez Luís Ignácio Lula da Silva vestindo a camisa da seleção brasileira com a seguinte mensagem:

Pelo visto alguns deles acham que a Copa está ganha pelo fato de que o Lula foi eleito Presidente. Mas será que eles se esqueceram que em 1994 o Brasil foi tetracampeão na Copa dos EUA e o Lula perdeu a eleição daquele ano para o FHC? Que em 2006 o Lula foi reeleito e o hexa não veio pelo fato de o Brasil ter sido eliminado nas quartas-de-final da Segunda Copa da Alemanha para a França? E que em 2010 e 2014 a Dilma foi eleita e em ambas as Copas do Mundo o hexa também não veio? E de brinde, mais esse: que em 2016 a Dilma foi deposta por meio de um processo de impeachment e o Brasil foi campeão olímpico no futebol? Menos petistas, menos.

Fontes:

Copa do Mundo 2022: Alemanha faz protesto por direitos humanos e contra proibições do Qatar. Disponível em: Copa do Mundo 2022: Alemanha faz protesto por direitos humanos e contra proibições do Catar - ISTOÉ Independente (istoe.com.br)

Copa do Qatar: avião que levará seleção alemã exibirá frase “Diversidade vence”. Disponível em: Copa do Catar: avião que levará seleção alemã exibirá frase “Diversidade vence” (observatorioracialfutebol.com.br)

Jornalistas do Qatar detonam Alemanha após a eliminação. Disponível em: Jornalistas do Catar detonam Alemanha após eliminação (yahoo.com)

Seleção alemã é eliminada e vira meme entre brasileiros nas redes. Disponível em: Seleção alemã é eliminada e vira meme entre brasileiros nas redes (poder360.com.br)

TV do Qatar ironiza protestos da seleção alemã após eliminação na Primeira Fase. Disponível em: TV do Catar ironiza protestos da seleção alemã após eliminação na primeira fase da Copa do Mundo (terra.com.br)

Um comentário:

  1. Pra começo de conversa, um país como o Qatar, que tem todo um histórico de violação dos direitos humanos, de trabalhadores que são mantidos em condições análogas à escravidão, e que financia grupos terroristas na Europa e na África subsaariana jamais devia ter sido escolhido sede de Copa do Mundo. E no caso da Alemanha, concordo, todo castigo é pouco para quem lacra. Deviam saber muito bem que esse papo de direitos humanos e diversidade no Oriente Médio - exceto em Israel - não cola. Portanto, mereceram a surra que tomaram, bem como as piadas que se sucederam. Que sirva de lição para criar vergonha na cara, e parar de lacrar no futuro.

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