domingo, 11 de dezembro de 2022

Empáfia e salto alto demais, futebol de menos - considerações sobre a eliminação da seleção brasileira na Copa 2022

 


Foto – Imagem postada no dia 9 de dezembro de 2022 na página do sindicalista Hélio Rodrigues.

Como resultado da decisão por pênaltis, a seleção brasileira foi eliminada pela Croácia em jogo válido pelas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2022, disputada no Catar.

Os comandados do técnico Tite empataram no tempo normal por 0 a 0, depois na prorrogação empataram em 1 a 1 e por fim perderam na decisão por pênaltis por 4 a 2. Com essa eliminação o Brasil volta para casa mais cedo, como em anos anteriores.

Um desempenho, diga-se de passagem, um tanto quanto previsível, visto o desempenho do Brasil em Copas anteriores. Eu mesmo achava que o Brasil ia chegar à terceira fase da competição máxima do futebol mundial, mas que dali em diante era uma incógnita. E fiz essa previsão com base no desempenho do Brasil em Copas anteriores. Mas não é sobre isso em específico que vim falar nesse artigo.

Para além da eliminação não só do Brasil, como também de outras seleções tradicionais como Portugal, Bélgica, Espanha, Dinamarca e Alemanha, algo que nessa Copa do Mundo me chamou muito a atenção é o salto alto e o clima de já ganhou e de oba oba que vi principalmente entre petistas (e já vou antecipando que não entrarei no mérito de polêmicas como o bife de ouro de alguns jogadores, os comentários do Casagrande e outros, nem análise do jogo).

Em redes sociais vi petistas compartilharem imagens do ex-presidente reeleito Luís Ignácio Lula da Silva, lembrando que em 2002 o Brasil venceu a Copa do Mundo daquele ano e que Lula foi eleito Presidente da República e achando que a história se repetiria 20 anos mais tarde. Claramente, nessa e em outras imagens vemos um clima de já ganhou da parte deles (que nem aconteceu na final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu para o Uruguai em casa por 2 a 1).

Foto – Imagem compartilhada no Facebook por petistas, que demonstra o clima de já ganhou da parte deles e o esquecimento da parte deles dos resultados de 1994, 2006, 2010 e 2014.

Quando vi me deparei com essa imagem em redes como o Facebook, eu imediatamente pensei com meus botões: eles vão quebrar a cara bonito. E não é que eles queimaram a língua no fim das contas?

Confesso que foi bonito vê-los queimando a língua, achando que só porque o Lula foi eleito Presidente da República pela terceira vez que a história de 2002 repetir-se-ia. Sendo que o se repetiu não foi 2002, e sim 2006. Naquele ano Lula foi reeleito Presidente da República depois de vencer o tucano Geraldo Alckmin, seu atual vice-presidente, mas o hexa não veio meses antes pelo fato de que na segunda Copa da Alemanha os comandados do então técnico do escrete canarinho Carlos Alberto Parreira foram eliminados nas quartas-de-final pela França de Zidane e Henry.

Eles também esqueceram que em 1994 o Brasil foi tetracampeão na Copa dos Estados Unidos e que o Lula perdeu a eleição para o FHC ainda no primeiro turno. E que em 2010 e 2014 a Dilma foi eleita e reeleita e em nenhuma das duas Copas do Mundo o hexa veio. Amnésia coletiva, ou memória seletiva da parte deles? Ou talvez algum fanatismo exacerbado em torno da figura do Ex-Presidente? Vai saber...

Foto – Outra dessas imagens compartilhadas por petistas no Facebook e outras redes sociais.

E por fim, como não poderia deixar de esquecer, a empáfia do PCO (Partido da Causa Operária). Para mim, o partido de filiação trotskista deveria ser rebatizado como PBN (Partido dos Bajuladores do Neymar), de tanto que eles bajulam o ex-santista que hoje joga pelo Paris Saint Germain.

É por causa de pessoas que tanto o bajulam, inflam o ego dele e passam pano para as atitudes dele em campo e fora dele tanto na grande imprensa quanto em meios alternativos que ele é o que é. O Peter Pan do futebol.

Podemos ver a empáfia do PCO em vários artigos no site Diário da Causa Operária (DCO) publicados tanto antes quanto depois da eliminação do Brasil na Copa. Citemos dois deles, um de antes e um de depois.

Um deles é o artigo “Quartas de final: Brasil enfrenta a Croácia rumo ao hexa”, publicado no dia do jogo (09/12/2022). No qual eles achavam que só porque o Brasil nunca perdeu antes para o selecionado eslavo que ia ganhar a partida. É PCO, como diz o ditado, sempre há uma primeira vez para tudo. Incluindo para a seleção brasileira perder para times como Camarões e Croácia em Copas do Mundo...

E também citam que a Croácia vinha fazendo uma das piores campanhas da presente Copa do Mundo. Eles são umas toupeiras ou o que? Caso eles não saibam, na Copa de 1982 a Itália também teve um começo bem apagado e só foi crescer depois que venceu o Brasil. Entre outros exemplos que podemos citar.

E mais essa pérola:

“A expectativa é alta e, ao que tudo indica, o Brasil continuará trazendo o melhor futebol do mundo para dentro de campo. Finalmente, já ficou claro que quem sabe, de fato, jogar futebol, é o brasileiro, uma vez que, até o momento, as outras seleções – em especial as europeias – não chegaram nem aos pés da Canarinha no que diz respeito a habilidade, garra e, é claro, ginga.

A classe operária já garantiu a eleição de Lula e a consequente derrota parcial do golpe de Estado no País. Agora, é hora de torcer pela Seleção e trazer o Hexa para casa, derrotando o imperialismo não só no campo da política, como também em campo. É onde o Brasil mostra sua cultura e se isola no topo do esporte como o maior de todos, liderando e inspirando os países oprimidos de todo o mundo em sua luta contra a ditadura imperialista que assola a humanidade”.

Os outros não sabem jogar futebol? É isso que eu li? As outras seleções podem ser inferiores em alguns quesitos em relação à seleção brasileira, mas quem não me garante que em outros quesitos elas sejam superiores? Incluindo nos quesitos que em jogos decisivos de Copa do Mundo fazem toda a diferença? Sobre o Lula, nem vou falar nada.

E agora falemos um pouco sobre outro artigo, publicado no mesmo site após a derrota da seleção brasileira, intitulado “Obrigado rapazes. Vocês são um orgulho para o Brasil”. Abaixo algumas das pérolas do referido artigo. Pérolas que falam por si mesmas de tão absurdas:

“Cabe ressaltar que a esmagadora maioria das casas de aposta, bem como os analistas esportivos de todo o mundo, apontavam o Brasil como o favorito da Copa, a Seleção que estava a anos luz das demais. Algo que deixa ainda mais evidente o roubo contra o País”.

Deixe-me refrescar a memória de vocês: o Brasil historicamente sempre ganhou Copa do Mundo desacreditado, nunca entrou como favorito. Assim foi em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 (eu mesmo lembro que nos idos de 2000, 2001 o pessoal do finado programa humorístico Casseta e Planeta ironizava direto a seleção brasileira e sempre se referiam ao escrete canarinho como seleção entre aspas – dado que a seleção brasileira, à época, chegou a perder em competições como Copa América até para times como Honduras).

“De qualquer forma, a Seleção brilhou. O jogo brasileiro é, de longe, o melhor do mundo e, apesar de uma derrota, seguirá sendo assim enquanto um adversário à altura não se apresentar. O gol de Neymar ao final do segundo tempo da prorrogação é prova disso e de que ele permanece sendo o melhor jogador do mundo, mostrando-se um elemento indispensável para o time. O completo oposto do que disse a imprensa burguesa”.

Nunca que o Neymar será melhor que o Messi ou o Cristiano Ronaldo. Nunca. Talvez nem mesmo melhor que o M’bappé.

“Apesar da tristeza, é preciso relembrar a campanha magnífica da Canarinha na Copa deste ano com uma Seleção que, sem sombra de dúvidas, entrará para a história como uma das melhores que o mundo já viu. Afinal, o Brasil tem muito do que se orgulhar pelo futebol, e não é a Copa que vai tirar isso do povo brasileiro”.

Sim, o Brasil tem muito que se orgulhar pelo futebol. Mas dizer que a seleção da Copa 2022 é uma das melhores que o mundo já viu... acho que vocês estão vendo coisas.

“O jogo contra Camarões, apesar de uma derrota, mostrou que o time reserva do Brasil é muito melhor que muitas seleções que estavam jogando na Copa. Àquela altura do campeonato, como o Brasil já estava classificado para as eliminatórias, Tite escolheu poupar os titulares da Seleção. Decisão que se mostrou acertada tendo em vista que Gabriel Jesus e Alex Telles tiveram de ser retirados do torneio em decorrência de lesões”.

Só se for as seleções mais fracas da Copa, né PCO? Grande coisa o time reserva do Brasil ser melhor que times como a Costa Rica, o Panamá e o Canadá. É o Brasil fazendo a obrigação dele. E ainda assim perdeu o jogo para um time que nem se classificou para as oitavas-de-final da Copa do Mundo.

“No final, Tite foi espetacular. Sua atuação na Copa deste ano deixou claro que tem sim a capacidade e a coragem de dirigir a Canarinho, provando que a Seleção é a melhor de todo o mundo. Obrigado, Tite!”.

É isso que eu li? A melhor de todo o mundo? Uma seleção que taticamente depende do Neymar é a melhor do mundo? Se for assim, então o nível do futebol a nível global baixou muito de uns anos para cá. E ainda por cima uma seleção que pela segunda vez seguida foi eliminada por um time europeu de segundo escalão na Copa do Mundo? Não sei não, mas às vezes acho que o Tite é um técnico de clube.

E mais uma coisa: o Brasil tem sua história nas Copas do Mundo e é o maior campeão da competição máxima do futebol. Mas será que isso é garantia de que no futuro o país continue sendo uma potência futebolística? Lembremo-nos do caso do Uruguai. O Uruguai ganhou as Copas de 1930 e 1950 (e antes disso os jogos olímpicos de 1924 e 1928), mas depois disso nunca mais venceu e o máximo que conseguiu foi ser semifinalista em 1954, 1970 e 2010. Amargou ausência nas Copas de 1978, 1982, 1994, 1998 e 2006 e eliminações na primeira fase em 1962, 1974, 2002 e 2022, e dessa forma não demonstra a mesma regularidade que o Brasil vem demonstrando em Copas do Mundo.

 “Jogadores da Canarinha: vocês foram, são e sempre serão um orgulho imenso para o Brasil. A sua garra, raça e coragem representaram o povo brasileiro em campo e colocaram o Brasil, mais uma vez, em local de destaque, a imprensa burguesa nunca vai conseguir apagar esse legado. Seu futuro é brilhante, e podem ter certeza que os trabalhadores de todo o País estarão ao seu lado”.

Sinceramente, é por causa de pessoas como os lunáticos do PCO que às vezes torço para que em uma futura Copa do Mundo (quem sabe na próxima) a Seleção Brasileira venha a ser eliminada por um time da África, da Ásia ou um europeu de terceiro escalão. Talvez só assim para eles baixarem a bola.

Não sei se eles viram. Mas na presente Copa do Mundo, o Brasil sofreu sua primeira derrota para um time africano, o Camarões (o mesmo Camarões que eliminou o Brasil nas quartas-de-final dos jogos olímpicos de 2000), na terceira partida da Primeira Fase. Uma derrota histórica, a primeira derrota do escrete canarinho em Copas do Mundo para um time de fora da Europa e da América do Sul.

E agora nas quartas-de-final foi eliminado pela Croácia, um time de segunda linha do futebol europeu. E essa não é a primeira vez que o Brasil é eliminado em Copas do Mundo por um time europeu de segundo escalão: há quatro anos foi eliminado também nas quartas-de-final pela Bélgica.

E a história por aí não para: para não ficarmos limitados à Copa do Mundo, no Mundial de Clubes da FIFA não foram poucas as oportunidades em que times brasileiros perderam não para times europeus, e sim para times mexicanos e africanos.

Em 2010, o Internacional perdeu nas semifinais para o time congolês Mazembe por 2 a 0, naquilo que entrou para a história como o Mazembe Day. Em 2013 o Atlético mineiro (com Ronaldinho Gaúcho em campo) perdeu para o marroquino Raja Casablanca por 3 a 1 nas semifinais. E em 2020/2021 o Palmeiras perdeu primeiro para o mexicano Tigres nas semifinais por 1 a 0 e na disputa de terceiro lugar perdeu para o egípcio Al Ahly, nos pênaltis, por 3 a 2. Anotem aí: não tenham dúvidas de que essas não serão as únicas e nem as últimas derrotas de times brasileiros para times não europeus no Mundial de Clubes. Outras virão, e talvez se tornem cada vez mais comuns com o tempo.

Foto – Mazembe Day, 2010. Primeira derrota de um time brasileiro para um time não-europeu no Mundial de Clubes.

E aí PCO, como que você explica essa? Cadê toda a superioridade do futebol brasileiro sobre o futebol praticado em outras partes do mundo? Sendo que a seleção brasileira não vence uma seleção europeia em jogos eliminatórios de Copa do Mundo desde a vitória sobre a Alemanha na final da Copa do Mundo de 2002 (ou seja, lá se vão 20 anos, e pelo menos mais quatro virão) e times brasileiros não vencem o Mundial de Clubes desde o título do Corinthians em 2012? As seleções europeias podem ter tido seus tropeços e deslizes nessa Copa do Mundo e em outras anteriores, mas isso não muda o fato de que o Brasil também não tenha tido os seus.

Já são seis copas seguidas que o Brasil não passa de europeu em Copa do Mundo, e agora já está perdendo para europeu de segundo escalão. E de brinde, derrota para um time africano na Primeira Fase da presente Copa do Mundo (e não me venham com essa de time reserva – isso não muda o fato de que foi uma derrota histórica para a seleção brasileira). Do que adianta toda essa superioridade, sendo que ela não se traduz em resultados? No fim das contas, é uma superioridade inútil.

Entenderam, ou precisa desenhar? 2006 – França 1 x 0 Brasil, 2010 – Brasil 1 x 2 Holanda, 2014 – Brasil 1 x 7 Alemanha, 2014 (disputa de terceiro lugar: bonus track) – Brasil 0 x 3 Holanda, 2018 – Bélgica 2 x 1 Brasil, 2022 (primeira fase; bonus track II) – Camarões 1 x 0 Brasil, 2022 – Croácia 1 x 1 Brasil (vitória do escrete eslavo do sul nos pênaltis).

Anotem o que estou dizendo: a Itália e a Alemanha de hoje são o Brasil de amanhã, se as coisas continuarem como estão agora e nada for feito para reverter essa tendência. É como se os italianos e os alemães estivessem dizendo a nós o seguinte: “eu sou você e você sou eu, amanhã”.

Se hoje o Brasil foi eliminado por um time europeu de segundo escalão na Copa do Mundo, quem não me garante que em uma futura Copa do Mundo veremos o Brasil ser eliminado por um escrete africano, asiático ou europeu de terceiro escalão (e confesso que quero ver muito que o PCO vai ladrar quando isso ocorrer)? E ainda sendo eliminado não em quartas-de-final, e sim em oitavas-de-final ou mesmo primeira fase (coisa que o Brasil não conhece desde a Copa de 1990)? Talvez só assim para esses petistas e o PCO baixarem a bola.

Fontes:

Quartas de final. Brasil enfrenta a Croácia rumo ao Hexa. Disponível em: Quartas de final: Brasil enfrenta a Croácia rumo ao Hexa • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

Obrigado rapazes. Vocês são um orgulho para o Brasil. Disponível em: Obrigado, rapazes. Vocês são um orgulho para o Brasil • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

3 comentários:

  1. No tocante ao Lula, em época de Copa; uma vez pé-frio, pé-frio sempre.

    E realmente, essa turminha do PCO, embora eles tenham razão no concernente ao skinhead de toga - vulgo Alexandre de Moraes - eles defecaram muita sandice, ao elogiar essa seleção de mercenários que tem como "estrela principal" o Peter Pan do futebol de nome Neymar. De fato, dia chegará em que veremos o Brasil ser eliminado de uma Copa - e ainda na primeira fase - por seleções inexpressivas como Costa Rica, El Salvador, Togo, Burkina Faso, Emirados Árabes Unidos, Índia, quiçá Vietnã. Aí quero ver a cara de bunda desses canastrões.

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    1. Não acho que o Brasil vá perder para algumas das seleções que você sim. Acho mais provável perder para times africanos de primeiro escalão, como Nigéria, Camarões, Marrocos e Egito. Ou asiáticos de primeiro escalão.

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    2. Sim, também, mas, como o futebol em si é uma caixinha de surpresas...

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