Foto – José Eduardo Cardozo (vulgo Zé
da Justiça).
No
texto “a sexta coluna”, Alexandr Dugin divide a oposição russa
em dois grupos distintos: a quinta coluna e a sexta coluna (em russo pjataja
kolonna/пятая колонна e šestaja kolonna/шестая колонна, respectivamente). A
quinta coluna é a oposição a Putin que se encontra nas ruas e é encarnada por
figuras como o político liberal Boris Nemcov[1] (morto em 2015) e os
manifestoches de lá que pretendem incendiar o país por meio de uma versão russa
do Euromaidan (entre eles o grupo Pussy Riot, que fez manifestações obscenas
contra Putin em uma Igreja Ortodoxa há alguns anos). Já a sexta coluna é a
oposição a Putin que se encontra dentro do próprio círculo do supremo
mandatário russo e do Partido Rússia Unida. Lá estão alguns dos oligarcas que
fizeram fortuna durante os tenebrosos anos 1990 e que não foram expropriados e
exilados durante a Era Putin, entre eles figuras como Anatolij Čubajs (um dos
artificies da privataria pós-soviética), Oleg Deripaska e outros.
Dugin
fala no mesmo texto que nos anos 1990 a quinta coluna e o regime de reformistas
liberais que vigorou na Rússia na época eram uma coisa só que trabalhava como
um instrumento de controle externo do país pelo imperialismo anglo-americano.
Em comum, os dois grupos advogam uma integração subordinada da Rússia com o
Ocidente (tal como aqui no Brasil figuras como FHC, José Serra e Jair Bolsonaro
advogam) e com origens que remontam à Era El’cin e à debacle do sistema
soviético que vigorou na Rússia até 1991 (nas palavras de Dugin, são uma rede
de agentes da influência atlantista na Rússia moderna). Com a diferença que
enquanto a quinta coluna é abertamente crítica de Putin e totalmente contrária
a ele, a sexta coluna tem uma atitude diferente: não é abertamente oposta a
Putin, embora não esteja de fato de seu lado, a ponto de não o apoiar em tudo
que faz. A despeito de suas diferenças, tanto a quinta quanto a sexta coluna na
Rússia são partes de uma mesma rede que trabalha geopoliticamente contra a
Rússia enquanto nação soberana e civilização terrestre.
No
ano passado Lenin Moreno (vulgo Gorby Moreno) se elegeu como presidente do
Equador com uma plataforma de continuidade com o governo de Rafael Correa (antes
de ser eleito, Lenin Moreno rasgava elogios à
Rafael Correa e a Revolução Cidadã, a ponto de dizer que era um presidente do
movimento iniciado por Rafael Correa na década passada) e depois de eleito o
traiu a tal ponto que os dois se tornaram inimigos ferozes (no que gerou um
racha no Alianza Pais). Com os auspícios do imperialismo anglo-americano, Gorby
Moreno tenta prender Rafael Correa (cujos aliados ainda não foram autorizados a
registrar um novo partido – e duvido muito que encontrem autorização para tal)
por meio de um processo de lawfare
tal como feito contra Jorge Glas (último vice-presidente de Rafael Correa),
contra Lula e contra Cristina Kirchner. Além disso, se aliou não apenas à
direita mais reacionária equatoriana para aprovar políticas de austeridade e
liberação como também ao imperialismo (a tal ponto que ele está cooperando com
os governos do EUA e da Inglaterra para a captura de Julian Assange, que
durante o governo Correa refugiou-se no Equador). Tendo em vista tais fatos,
não duvido nem um pouco sobre a existência de uma sexta coluna dentro do
próprio PT.
Foto – Rafael Correa e Gorby Moreno
juntos.
Segundo
matérias do Duplo Expresso, quem estaria à frente dessa sexta coluna dentro do
PT seria a tendência “Mensagem ao Partido”, da qual fazem parte figuras como
José Eduardo Cardozo (cuja atuação no governo Dilma era criticada por pessoas
de esquerda como Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif e tido pelos colunistas do
Duplo Expresso como a “laranja podre do PT”), Tarso Genro, o deputado Paulo
Teixeira e até recentemente Fernando Haddad. Na administração dos ex-ministros
da Justiça Tarso Genro e José Eduardo Cardozo enorme aproximação foi promovida
com o sistema de justiça dos EUA e um fortalecimento excessivo do Judiciário,
da PF e do MPF em prejuízo do Legislativo e do Executivo. Sem o que o professor
Luiz Moreira (ex-membro do Conselho Nacional do Ministério Público) chama de o
“petismo jurídico” e a parceria dos já citados órgãos com a ENCCLA (“Estratégia
Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro”) o golpe de 2016 não
teria sido viável por vias jurídicas. E não apenas isso, como também segundo o
tal do plano B em realidade seria a coroação do golpe caso venha a se consumar.
Fazendo
uma analogia com o que se passa no Brasil no presente momento, a quinta coluna
seria composta pela Operação Lava Jato, os manifestoches que periodicamente se
manifestam nas ruas prestando apoio ao juiz Moro e a Lava Jato (que como bem
frisa Osvaldo Bertolino em seus vídeos nada mais é que uma operação de
ocultação de corrupção), os candidatos que defendem uma integração subordinada
do Brasil ao poder atlantista, o governo Temer e seus vários tons, Raquel
Dodge, o ministro Barroso, Carmen Lúcia, grupos como o MBL e o Vêm para a Rua, os
empresários que apoiaram o golpe contra Dilma. E a sexta coluna, figuras como
José Eduardo Cardozo e Tarso Genro. Tal como na Rússia, o modus operandi das duas colunas de sabotadores no Brasil são bem
parecidos: a quinta coluna é hostil abertamente hostil ao PT e o ataca por
fora, enquanto que a sexta coluna ataca o PT por dentro ao mesmo em que não
manifesta hostilidade aberta ao partido de Lula, José Dirceu, José Genoíno,
Dilma Rousseff e Gleisi Hoffmann. Por isso que ela é ainda mais insidiosa e
perniciosa que a quinta coluna. E assim como na Rússia, a quinta e a sexta
coluna no Brasil possuem o mesmo fim: trabalham contra o Brasil enquanto nação
soberana e civilização terrestre em favor do poder atlantista.
Em
“Stalin – um novo olhar”, o marxista belga Ludo Martens (falecido em 2011) dedica
as páginas 237 a 248 aos processos de Moscou, ocorridos em 1937 e 1938. Os processos
foram iniciados com o beneplácito de uma decisão-chave assinada em 2 de julho
de 1937 por Stalin e Molotov após revelação da conspiração militar de
Tuchačevskij ligada a frações oportunistas do Partido Comunista da União
Soviética (a época infestado de carreiristas e inimigos infiltrados). Diz-se
que os expurgos visavam a eliminação da velha guarda, só que segundo o
professor J. Arch Getty (citado por Martens) em sua obra “Origins of the Great Purge” (“Origens dos grandes expurgos”), o
grande expurgo:
“Ele
não foi o resultado de uma burocracia petrificada que eliminou dissidentes e
destruiu velhos revolucionários radicais. De fato, é possível que os expurgos
tenham sido justamente o contrário. Não é incompatível com os dados disponíveis
argumentar que os expurgos foram uma reação radical, e mesmo histérica, contra
a burocracia. Os funcionários bem situados foram destruídos de alto a baixo em
uma onda caótica de voluntarismo e puritanismo”.
Ainda
segundo Martens, a depuração de 1937/1938 (que também foi acompanhada de uma
campanha permanente de preparação política e ideológica dos trabalhadores para
a guerra de resistência) alcançou seu objetivo, a despeito de alguns erros que
não foram possíveis de serem evitados devido à situação interna do PCUS: a
quinta coluna de infiltrados nazistas foi eliminada durante a depuração de tal
forma que quando a Alemanha invadiu a União Soviética os alemães não tiveram a
mesma sorte que tiveram, por exemplo, na França, já que encontraram
pouquíssimos colaboradores no aparelho de Estado e no partido (lembrando que na
França o socialista Henri de Man fez uma declaração oficial de felicitações a
Hitler e que na Bélgica o presidente do partido socialista belga, crítico da
depuração stalinista, aclamou os nazistas em Bruxelas).
Talvez,
sem a depuração de 1937/1938, o que teríamos visto não seria o Exército
Vermelho virando o jogo contra os nazistas a partir de Stalingrado, hasteando a
bandeira soviética no Reichstag em Berlim e expulsando os japoneses da
Manchúria, do norte da Coréia, do sul da ilha Sachalin e das ilhas Kurilas ao
final da Segunda Guerra Mundial, mas os nazistas hasteando seus estandartes em
Leningrado, Moscou, Stalingrado, Kazan, Samara e outras grandes cidades russas,
talvez avançando a leste além dos Urais, até a Sibéria Ocidental e assim
fazendo das terras russas algo similar ao que a Inglaterra fez com a Índia um
século antes. E quem sabe até os japoneses, se aproveitando da queda da União
Soviética, tomando não apenas a Mongólia como também Vladivostok, Chabarovsk,
Blagoveŝensk, Irkutsk, Ulan Udė, Čita, Petropavlosk-Kamčatskij e outras cidades
importantes da parte asiática da União Soviética (e nelas hasteando sua
bandeira branca do sol raiado vermelho) e a Finlândia tomando a Karélia. E,
evidentemente, a historiografia mainstream
distorce a verdade dos fatos sobre o que realmente aconteceu nos expurgos de
1937/1938 (e o mais grave de tudo é ver setores expressivos da esquerda fazendo
coro. Com uma esquerda como essa que fala como se fosse direita e aceita
acriticamente as narrativas produzidas pelo sistema, quem precisa de direita?
Mais uma vez aqui alerto a respeito desse problema da parte da esquerda
brasileira).
Foto – Stalin ao lado de Nikolaj
Ivanovič Ežov, chefe da NKVD, em 1937.
E
ai eu pergunto: será que não está na hora de o PT fazer um expurgo a la Stalin
dentro de seus quadros e afastar tais elementos? Não está na hora da dona
Gleisi Hoffmann chamar o José Eduardo Cardozo e outros de sua laia para uma boa
conversa? Talvez sem um bom expurgo da sexta coluna instalada nos quadros do PT
Lula e Gleisi Hoffmann venham a tomar a mesma punhalada nas costas que Rafael
Correa tomou de Gorby Moreno em uma eventual eleição de Haddad, por exemplo. Sem
um bom expurgo da sexta coluna dentro do PT, nunca que o jogo contra os
golpistas capitaneados pelo governo Temer, a Operação Lava Jato, a Rede Globo e
o olho gordo imperialista será devidamente virado. Em outras palavras, o que
vai acontecer é o “Fica Temer”.
Dentro
do esforço da guerra híbrida promovida não apenas contra o Brasil como também
contra os demais países sul-americanos com o intuito de reafirmar sua secular
posição hegemônica no continente americano, não é de surpreender que o
imperialismo anglo-americano tenha empreendido uma ofensiva em duas frentes (e
talvez até em mais), com a quinta coluna atacando por fora como se fosse um
aríete demolindo os portões e muralhas de uma cidade e a sexta coluna atacando
por dentro como se fosse um ácido corroendo uma estrutura metálica. Talvez isso
ajude em parte a explicar o motivo da paralisia que o PT demonstrou diante da
ofensiva reacionária iniciada a partir das manifestações de junho de 2013 e da
resistência pouco efetiva aos esforços golpistas e ao lawfare empreendido pela camarilha de Curitiba desde então, ainda
mais se compararmos, por exemplo, com casos como o da Venezuela e a resistência
que o regime bolivariano tem demonstrado diante dos golpistas de lá e o da
Turquia (que também tem sido alvo de uma guerra híbrida desde no mínimo 2016).
Estamos
falando de um inimigo que não brinca em serviço. Que almeja manter e zelar por
sua posição hegemônica sobre o globo, perpetuá-la ad eternum e que para exercer seu poder e fazer valer seus
interesses não tem o menor pudor em recorrer aos mais sórdidos expedientes (e
que não fez todo o investimento que fez para depois na frente abdicar de mão
beijada de seus ganhos). Nem que para isso seja preciso matar pessoas que não
lhe convém por meio de acidentes misteriosos ou por envenenamento lento e
gradativo, pagar subornos e propinas polpudas, cooptar membros importantes de
um partido antagônico a seus interesses para seu lado, infiltrar agentes duplos
que se passam por membros confiáveis do partido, perpetrar atentados (como o
feito recentemente contra Nicolás Maduro na Venezuela) e golpes de Estado (como
o feito no Irã com Mohammed Mossadeq em 1953), entre tantas outras coisas.
Com
os recursos que o inimigo possui em mãos, não é nenhuma surpresa que ao mesmo
tempo em que criaram uma quinta coluna composta por juízes e procuradores reacionários
até a medula como Sérgio Moro e Claudio Bonadio (o juiz argentino que encabeça
o lawfare contra Cristina Kirchner) para
promover lawfare contra lideranças
populares e golpes de Estado na América Latina também tenham plantado e
alimentado de forma concomitante e sorrateira uma sexta coluna tanto no Partido
dos Trabalhadores (por meio da já citada aproximação com o sistema de justiça
dos EUA feita pelo “petismo jurídico” da qual eles na certa se aproveitaram) quanto
no Alianza Pais. Quem sabe até mesmo ataca por meio de uma terceira frente por
meio da criação de desavenças e fissuras dentro de grupos de esquerda, de forma
a enfraquecer sua reação às iniciativas dos golpistas por eles apoiados e em
flautistas de Hamelin que encantam setores da esquerda com conversas do tipo
“Não vai ter golpe”, “Lula não vai ser preso”, “Haddad vai vencer” e afins
mencionados em recente vídeo do Duplo Expresso (a propósito, daqui a pouco só
faltam daqui a pouco começarem a falar que “não vão matar o Lula na prisão” e
de repente o homem aparece morto de forma misteriosa em sua cela, em
circunstâncias similares às da morte de Slobodan Miloševiċ [e depois disso
sendo inocentado um decênio depois de sua morte tal como aconteceu com o finado
líder sérvio] e que “não vão prender a Gleisi Hoffmann” e daqui a pouco ela
aparece presa nas masmorras de Curitiba. Se é que eles já não pensam assim). Infelizmente,
não vejo a maioria da esquerda brasileira dando a verdadeira atenção que a isso
deveria ser dada. E certamente talvez isso se deva em grande medida a
incompreensão em torno de eventos como os processos de Moscou.
Fontes:
Martens,
Ludo. Stalin – um novo olhar. Revan: Rio de Janeiro, 2004.
A grande traição no Equador.
Disponível em: https://outraspalavras.net/mundo/america-latina/a-grande-traicao-no-equador/
As alas golpistas dentro do PT.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sTNvFHW0NCk&ab_channel=CausaOperariaTV
A direita traiçoeira ataca a Rafael
Correa. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/361308/A-direita-trai%C3%A7oeira-ataca-a-Rafael-Correa.htm
Cardozo, o maior mistério da era
Dilma. Disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/cardozo-o-maior-misterio-da-era-dilma
Delcídio: Mercadante (e zé) traíram
Lula. Disponível em: https://www.conversaafiada.com.br/politica/delcidio-mercadante-e-ze-trairam-lula
Dez anos depois, tribunal de Haia
inocenta Miloševiċ. Disponível em: http://www.carosamigos.com.br/index.php/cotidiano/7520-dez-anos-depois-tribunal-de-haia-inocenta-milosevic
Lenin
Moreno: “este presidente es de la Revolución ciudadana, que quede claro” (em espanhol).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=j2HsWaGP-qo&ab_channel=MediosP%C3%BAblicosEP
Luiz Moreira denuncia o “petismo
jurídico”. Disponível em: https://www.ocafezinho.com/2018/07/24/luiz-moreira-denuncia-o-petismo-juridico/
O golpe contra Lula da ala direita do
PT. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=56n5XC-Gr5E&t=12s&ab_channel=CausaOperariaTV
PCO, Duplo Expresso e Nocaute explicam
lugar de Haddad na traição de Lula dentro do PT. Disponível em:
Excelente texto.
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