sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O Partido dos Trabalhadores NÃO é um Partido Comunista.


Foto – Imagem ilustrativa representando algumas pessoas carregando bandeiras do Partido dos Trabalhadores.
Recentemente, em uma discussão no Facebook, perdi as estribeiras depois que vi uma usuária dizendo que o PT é comunista e que nesses anos todos estabeleceu uma ditadura comunista no Brasil. Pessoalmente, não acho que esse seja um espaço adequado para se lavar roupa suja de discussões em fóruns e redes sociais. Mas como se trata de um discurso bem difundido entre a direita reacionária brasileira, principalmente entre os discípulos de Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim) e seu séquito do Mídia sem Máscara (assim como por jornalistas reacionários como o finado Luís Carlos Alborghetti), abrirei uma exceção para esse caso. Tais elementos que acusam o PT de comunista não raro vêm com a conversa falaciosa do marxismo cultural baseado nas ideias de figuras como Antonio Gramsci[1], Heribert Marcuse, Albert Horkheimer e outras figuras ligadas à escola de Frankfurt. Aqui será feito uma espécie de FAQ informativo que tentará ser o mais didático possível, onde será listado alguns motivos pelos quais o partido de Lula, Dilma, José Dirceu, José Genoíno, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Wadih Damous e companhia limitada não pode ser considerado em hipótese alguma comunista.
1 – As raízes ideológicas do PT: Primeiro de tudo, dizer que o PT é comunista implica em dizer que ele é partidário das idéias de Karl Marx e Friedrich Engels[2], expostas em obras como o Manifesto do Partido Comunista (1848) e o Capital (1867), onde o sistema capitalista seria substituído primeiramente pelo socialismo. A burguesia seria alijada do Estado pelo proletariado por meio de um processo revolucionário (e assim se instauraria o que Marx e Engels chamam de a “ditadura do proletariado”), e após o socialismo se alcançaria o comunismo, uma sociedade igualitária que seria o ápice da evolução história do homem onde não haveria mais divisão em classes sociais e a propriedade privada dos meios de produção (tais como fábricas e indústrias, que por sua vez seriam estatizados e geridos através de cooperativas) e o Estado seria abolido. Para tal, o primeiro passo seria a organização da classe trabalhadora e sua conscientização enquanto classe revolucionária. Entretanto, muito embora o PT seja de fato um partido de esquerda, isso não quer dizer que seja um partido comunista obrigatoriamente. E aí eu pergunto a esses reaças de plantão que acham que o PT é comunista: será que o PT, desde que Lula foi eleito pela primeira vez em 2002, instituiu a ditadura do proletariado ou algo similar? E será que sob o PT o Estado brasileiro mudou seu caráter de classe, a ponto de não ser mais o balcão de negócios dos grandes capitalistas (como o próprio Marx define o Estado moderno em uma passagem do Manifesto do Partido Comunista) e estes não serem mais a máquina de governar desse mesmo Estado? A resposta para ambas as perguntas é um sonoro não.
Além disso, os próprios petistas em sua fundação em 1980 não demonstrava grande apreço pelas experiências socialistas do século XX. O PT foi fundado no ano de 1980 por um grupo ideologicamente heterogêneo, que englobava sindicalistas, intelectuais, militantes de oposição ao Regime Civil-Militar brasileiro e figuras ligadas à Teologia da Libertação, no Colégio Sion em São Paulo, fruto da aproximação entre os movimentos sindicais da região do ABC paulista (onde ocorreu uma série de greves entre 1978 a 1980) e militantes antigos da esquerda brasileira. Na época o petismo rejeitava tanto as tradicionais lideranças do sindicalismo brasileiro, como também os modelos soviético e chinês.
2 – O PT e a classe dominante: Se os petistas fossem comunistas como essa gente vive insinuando, no mesmo nível de grandes lideranças históricas de países socialistas tais como Lenin, Stalin, Khoorlogin Choibalsan[3], Kim il Sung[4], Mao Tsé Tung, Ho Chi Minh, Enver Hoxha[5], Fidel Castro, Erich[6] Honecker e tantos outros, não teria feito a política social extremamente limitada feita nesses anos todos. Uma política social onde ao mesmo tempo em que se deu certa atenção aos setores subalternos da sociedade brasileira e certo alívio da situação de miséria extrema, não mexeu em momento algum com os privilégios da classe dominante. Do contrário, a classe dominante nacional teria destino similar ao que teve, por exemplo, a nobreza e a aristocrata tzarista e os exércitos brancos na Rússia após a Revolução de 1917, a aristocracia lamaísta na Mongólia após a Revolução de 1921, os latifundiários e colaboradores dos japoneses na Coréia do Norte após 1948, a burguesia compradora[7] e os traficantes de ópio na China após a Revolução de 1949 e a elite criolla em Cuba após a Revolução de 1959. Seus privilégios teriam sido extirpados, seus bens expropriados e teriam no mínimo se exilado em massa do país, tal qual fizeram, por exemplo, os emigrados tzaristas que fugiram em massa para a Europa ocidental após 1917, Chiang Kai Shek e seus partidários que fugiram em massa da China para Taiwan em massa após 1949 e a elite cubana que após a Revolução de 1959 fugiu em massa para Miami. Sendo que nada disso aconteceu no Brasil desde que Lula foi eleito em 2002 (diga-se de passagem, nem mesmo a Venezuela bolivariana, o mais avançado experimento da esquerda latino-americana desde 1998, botou a elite local para correr, muito menos estatizou em massa os meios de produção do país). Isso tudo ao ponto de em discurso proferido em 2010, Lula ter dito que não tinha a intenção de tirar um milímetro de benefícios que os ricos têm, apenas na ascensão do pobre na escala social do sistema de castas brasileiro.
3 – Politização das massas: A política social petista desde 2003, além de não ter mexido nos privilégios da classe dominante, também padeceu de outro mal. Não houve preocupação em momento algum com a politização das massas que eles beneficiaram com programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, em fazer uma integração dessa gente toda através da cidadania tal como Vargas (que nem era comunista, diga-se de passagem) pretendia nos anos 1930, nem nada disso. Tanto é que se formos ver alguns discursos de Lula sobre essa questão, ele fala apenas em integrar o pobre na sociedade através do consumo e nada mais. E é daí que nascem aberrações como aquilo que muitos chamam de o pobre de direita (a ponto de no último pleito eleitoral paulistano parte considerável do eleitorado de Dória ter sido de beneficiados pelos programas sociais petistas), ou mesmo a gente das periferias das cidades que periodicamente fazem rolezinhos, os quais estão muito mais interessados em comprar o tênis da moda no Shopping Center mais próximo que em consciência de classe ou coisa do tipo.
Se o PT fosse um partido comunista de verdade, teria investido na politização dessa gente toda, tal qual, por exemplo, os processos de Revolução Cultural em países como Rússia, Mongólia, China, Cuba, Coréia do Norte e Vietnã, ou mesmo o que foi feito na Venezuela com Hugo Chávez, onde a política de inclusão social era acompanhada de círculos bolivarianos que promoviam, entre outras coisas, discussões sobre a constituição venezuelana entre os beneficiados pelos programas sociais. E certamente, não teria inventado o conto fantasioso da nova classe média composta por pessoas que recebem por mês entre R$ 741,00 a 1019,00 (que em realidade não passa de classe pobre com um pouco mais de dinheiro e com um rótulo elegante. Em outras palavras, pobreza gourmetizada).
.4 – Questão agrária: Se há algo digno de nota que não foi feito nesses anos todos no Brasil desde que Lula assumiu a presidência da República é a reforma agrária, a despeito das ligações do Partido dos Trabalhadores com movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ainda mais levando em consideração a grande fanfarra que certos elementos da direita brasileira fazem em torno disso. Mas como explicar o fato de que durante os 13 anos de PT não ter tido reforma agrária alguma no Brasil? O fato é que durante os anos dos governos Lula e Dilma, a fronteira agrícola do chamado agronegócio (que nada mais é que o velho latifúndio de extração colonial e baseado na monocultura agroexportadora com uma roupagem moderna) teve um grande crescimento, assim como recebeu mais investimentos do governo federal que a própria agricultura familiar (que é de onde vem a maior parte do alimento que vai à mesa do cidadão brasileiro). Chegou-se a tal ponto que em seu segundo governo Dilma Rousseff (que assentou menos pessoas que o último presidente da ditadura civil-militar, João Batista Figueiredo) colocou Kátia Abreu, notória ruralista, como ministra da agricultura. A mesma Kátia Abreu que, na contramão de outros notáveis ruralistas como Ronaldo Caiado, posteriormente votou contra o impeachment de Dilma. Em um país realmente comunista, esses ruralistas teriam o mesmo destino que teve, por exemplo, os kulaks na União Soviética nos anos 1930, durante o processo de coletivização do campo durante o governo Stalin.
5 – Questão midiática: O que um comunista de verdade, caso fosse estivesse no poder, faria com grandes conglomerados midiáticos como a Rede Globo e o SBT? No mínimo, faria uma série de medidas para regular a mídia, de forma a tornar a guerra de informação com os grandes monopólios, em especial nos tempos de crise, pelo menos um pouco menos desigual (será que Lula e companhia limitada acharam que a mídia de massa não ia fazer com eles o mesmo que foi feito outrora com Getúlio, Jango, Brizola, Enéas e tantos outros?). Ou então teriam suas concessões cassadas, tal qual Brizola queria fazer com a Rede Globo caso assumisse a presidência do Brasil, ou mesmo o que Hugo Chávez fez com a RCTV na Venezuela em 2007. Lula e os petistas nada disso fizeram enquanto ocuparam o Palácio de Planalto. Pelo contrário, fizeram grandes investimentos na mídia de massa: entre 2003 a 2013, segundo reportagem do site DCM, a Rede Globo recebeu R$ 6 bilhões do Governo Federal (e isso mesmo com a Rede Globo os sangrando diante da opinião pública). Também nada fizeram para fortalecer veículos de mídia alternativa como as rádios comunitárias. Em dois de agosto de 2015, quando foi no Instituto Barão do Itararé em São Paulo ao evento organizado para o lançamento do livro “Cultura do Silêncio”, de autoria do professor Venício Lima, Roberto Requião contou que durante o primeiro governo Lula foi até ao Palácio do Planalto e propôs a Lula uma iniciativa de democratização da mídia. Ele falou sobre o que fez com as comunicações quando foi governador do Paraná: cortou todas as verbas de publicidade para a mídia de massa, investiu na TV Educativa (estatal) e fez um acordo com Hugo Chávez para distribuir o sinal pela Telesur. O político pernambucano então encaminhou Requião para conversar com José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, sobre assunto. Dirceu respondeu que isso era desnecessário, pois o governo federal já tinha a Globo como sua TV oficial, certamente achando que domariam a fera através de subsídios econômicos e que ela em momento se voltaria contra eles. O que se mostrou um erro crasso com o tempo.
6 – O Plano Real, a ordem vigente e a questão da dívida: Diferente do que a boiada que vive do senso comum que os grandes veículos de mídia vendem por aí, o maior sorvedouro de recursos do país não é a corrupção envolvendo políticos e empresários que periodicamente aparece no noticiário televisivo, e sim o que o país perde todo ano através dos pagamentos dos juros e amortizações do serviço das dívidas interna e externa. Ou seja, aquilo que Brizola em vida chamava de perdas internacionais. O endividamento interno brasileiro, que em 1994 era de cerca de R$ 64 bilhões, passou para R$ 720 bilhões na virada do governo FHC para o governo Lula, para R$ 1,5 trilhão na virada do governo Lula para o governo Dilma e ao final de 2015, segundo dados do site Auditoria Cidadã da Dívida, beirava os R$ 4 trilhões (e a dívida, cuja auditoria foi vetada pela própria presidente Dilma em janeiro de 2016, apesar de paga religiosamente todo santo ano, não para de crescer).
Segundo Nildo Ouriques, o Plano Real em realidade foi um pacto de classes que envolveu as distintas frações do capitalismo brasileiro (entre eles fundos de pensão, capital agrário, capital industrial, capital comercial e capital bancário) e que se sustenta sobre três pilares: o superendividamento interno e externo do Estado brasileiro (e do qual os capitalistas brasileiros se aproveitam para assaltar continuamente o Estado brasileiro e dele fazer seu balcão de negócios particular), superexploração da força de trabalho através de mecanismos como as altas taxas de juro e o reforço da posição do país como um país subalterno dentro da engrenagem capitalista mundial. Ainda em 1995, Enéas disse que o se criou no Brasil com o Plano Real (o qual o finado político do PRONA na ocasião classificou como cínico, desumano e destruidor) foi uma agiotagem institucionalizada pelo governo, a ponto de Adriano Benayon ter cunhado o termo economia de cemitério. Com a Carta aos Brasileiros em 2002, Lula, certamente acuado ante os ataques especulativos que levaram a uma alta do dólar, mostrou aos donos do poder econômico que aceitou ser um mero gerente do Estado burguês brasileiro e que não ia mudar as regras do jogo do processo de acumulação de capital estabelecidas em 1994. E assim as administrações Lula e Dilma em momento algum fizeram uma auditoria dessa dívida tal qual Rafael Correa fez no Equador em 2007, ou mesmo um calote, e não desarmaram essa bomba que agora está começando a explodir nas costas do povo (e que cujo ônus os plutocratas brasileiros pagarão no dia de São Nunca). Ou será que um país consegue desenvolver-se sofrendo tamanha sangria financeira ao mesmo tempo?
7 – O PT, a privataria tucana e o capital transnacional: Diferente das reformas de base do presidente João Goulart (que nem comunista era, diga-se de passagem) ou do que Leonel Brizola fez ao nacionalizar as filiais gaúchas da ITT e da Bond and Share quando foi governador do estado do Rio Grande do Sul entre 1959 a 1963, os governos petistas em momento algum fizeram uma oposição frontal à presença do capital transnacional aqui estabelecido, nem ao menos colocaram tal questão em pauta. E em momento algum vimos os governos Lula e Dilma fazerem algo no sentido de reverter os efeitos nocivos da privataria dos anos Collor e FHC, que implicaram em uma grande transnacionalização da economia brasileira. A meu ver, se há algo que deveria ser também investigado na Comissão da Verdade e que acho que é até mais importante que os crimes cometidos pelos militares no período entre 1964 a 1985, é abrir a caixa preta do Plano Real, das privatizações dos governos Collor e FHC e da carta aos brasileiros (e assim desvendar todos os mistérios nele envoltos, suas negociatas e seus conchavos e seus personagens nebulosos).
8 – Políticas de austeridade: Em 2015, Dilma Rousseff escolheu para ministro da Fazenda Joaquim Levy. Joaquim Levy é um Chicago Boy (a mesma gente que fez a política econômica de Pinochet no Chile), e era tido até mesmo pelo tucanato como o núcleo racional de seu segundo governo. Enquanto foi Ministro da Fazenda, Joaquim Levy importou para o Brasil as políticas de austeridade que ajudaram a levar os países periféricos da União Européia como Espanha, Portugal, Grécia e Itália à situação de calamidade sócio-econômica em que se encontram no presente momento. Um tipo de política em que se aperta o cinto no povo mais humilde para garantir os lucros dos banqueiros e outros agiotas em tempos de crise (e ainda sob o pretexto de equilibrar as contas públicas e retóricas afins). Em outras palavras, nada para Antonio, tudo e mais um pouco para Shylock (quem leu o Mercador de Veneza sabe do que estou falando). E o que é a PEC 241/55 (recentemente aprovada no Senado) que o governo Temer está enfiando goela abaixo na população senão que a continuação dessa política que já vinha sendo feita na administração Dilma, só que de uma forma mais branda e sem a intensidade que o processo de acumulação capitalista brasileiro requer em um período de crise econômica como que vivemos agora? É um tipo de política que de comunista nada tem na medida em que atende apenas aos interesses de grandes rentistas, banqueiros e agiotas e lesa ao povo em seus direitos mais básicos.
9 – Republicanismo excessivo: Ao longo desses anos todos, o PT também se caracterizou por seu republicanismo excessivo. Isso ao ponto de, entre outras coisas, ter indicado figuras golpistas para o Supremo Tribunal Federal tais como Joaquim Barbosa e Ayres Brito e ter fortalecido o Ministério Público e a Polícia Federal (cujo comando continuou nas mãos de delegados raivosamente anti-petistas) no combate à corrupção (algo que muitos petistas se gabam) sem levar em consideração que essas instituições são grandes antros reacionários (será que eles acharam que o monstro que eles ajudaram a criar em algum momento não ia se virar contra eles?). Também nada fizeram contra delegados da Operação Lava Jato que publicaram nas redes sociais absurdos sobre Dilma Rousseff. A própria presidente Dilma, diante da ameaça de ser deposta, pouco ou nada fez para manter sua posição. E após sua deposição, o próprio partido nada faz no sentido de criar um movimento para a reconquista de seu cargo perdido. Apenas falam em Lula 2018 (como se a política se resumisse a pleitos eleitorais). O que será que um comunista no nível de Stalin ou Mao Tsé Tung faria no lugar de Lula ou Dilma? Certamente a mesma coisa que um leão faz quando é desafiado por outro na posição de chefe de um bando (aonde ele, caso venha a ser vencido, não só será deposto como também terá sua prole aniquilada pelo desafiante): defender sua posição. Assim Hugo Chávez procedeu em 2002 diante do golpe que ele sofreu naquele ano e Nicolás Maduro tem procedido desde o início das agitações golpistas em seu país.
10 – O PT, os milicos e a comissão da verdade: Após a Segunda Guerra Mundial, os colaboradores dos alemães e dos japoneses na União Soviética, na Europa oriental, na China, na Coréia do Norte e no Vietnã foram severamente punidos. Muitos deles mortos e executados. A exemplo do que aconteceu com figuras como Andreï Shkuro e Pyotr Krasnov (o tio-avô de um dos torturadores de Pinochet), colaboradores cossacos dos alemães que após a guerra foram mortos e executados pelas autoridades soviéticas. Agora e os militares, será que tiveram destinos similares durante os governos Lula e Dilma? Não, não tiveram. Enquanto que na Argentina tivemos o caso do ex-presidente Jorge Rafael Videla levado ao banco dos réus e preso, a Comissão da Verdade teve apenas resultados tímidos no Brasil. Não levou ao banco dos réus nenhuma figura chave do regime. Foi para isso que nos idos de 2009 e 2010 Jair Bolsonaro tanta fanfarra fez quanto à subida de Dilma Rousseff ao poder, a ponto de dizer que ela não podia assumir o poder por causa de seu passado como guerrilheira (sendo que ela em seu governo aprovou uma lei anti-terrorismo que certamente o faria ter orgasmos múltiplos)? No fim, o que o político carioca fez se mostrou como uma grande tempestade em copo d’água.
Resumo da ópera: Como insistir nesse conto da carochinha de que o PT é comunista e queria instalar a ditadura do proletariado no Brasil diante de todos esses fatos? Sendo que o PT nem ao menos nesses anos todos tirou da gaveta as reformas de base de João Goulart (que também não era comunista, mas que era considerado como tal por seus opositores) e que nunca chamou o povo para uma única e mísera luta sequer? Falar que o PT é comunista só porque é um partido de esquerda faz tanto sentido quanto dizer que Jair Bolsonaro é fascista só porque ele é truculento e reacionário: nenhum. O fato de o PT ser um partido de esquerda, nascido de lutas populares contra o regime civil-militar e que cuja liderança máxima iniciou sua trajetória política em sindicatos, não exime o fato de que desde no mínimo a Carta aos Brasileiros aceitou fazer parte do jogo da ordem dominante brasileira, a ponto de fazer uma política de conciliação de classes onde devido aos tempos de prosperidade econômica global foi possível ao mesmo tempo fazer políticas de inclusão social e atender aos interesses da classe dominante. Isso tudo nos autoriza a dizer que o PT é um partido de esquerda que acabou se tornando o principal partido da ordem dominante no Brasil (tal qual aconteceu com o PRI no México no século passado), e daí a falar que ele é comunista no mesmo nível de Lenin, Stalin, Choibalsan, Mao Tsé Tung, Kim il Sung, Enver Hoxha e outros tantos há um abismo enorme.
Mas, se Lula e os petistas desde que subiram ao poder não se mostraram nem um pouco comunistas, o que dá margem a essa gente chama-los assim? O PT é um partido de extração popular que enquanto estava na oposição defendia bandeiras como a reforma agrária e que enquanto foi governo promoveu uma política de integração social que a despeito de suas limitações, deixou a classe média (que tanto quer se misturar com a classe dominante) enraivecida. Para a direita mais raivosa, reacionária e conspiracionista, isso soa como comunismo, que historicamente tem sido utilizado como espantalho retórico no Brasil para designar todo aquele que se opõe ao status quo vigente desde 1856, quando o imigrante suíço Thomaz Davatz, que trabalhava na fazenda de Ibicaba (cujo proprietário era o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, que entre 1847 a 1857 trouxe cerca de 180 famílias europeias para sua propriedade através do sistema de parceria), liderou uma revolta de imigrantes (a qual ficou conhecida na história como a Revolta dos Parceiros e/ou a Revolta dos Imigrantes) exigindo melhores condições de trabalho da parte dos senhores de terra. Mais adiante, voltou a ser utilizado dessa forma em 1964 durante manifestações como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, assim como mais recentemente nas diversas manifestações contrárias ao PT dos últimos anos. Isso a ponto de terem se registrados casos de manifestantes raivosos, do alto de sua histeria e tacanhice costumeira, agredirem pessoas só por vê-las vestir roupa vermelha.
E a respeito da discussão que tive em questão, algo também digno de nota e que cabe aqui registrar é que eu, após ter listado uma série de motivos pelos quais o PT não pode ser considerado como um partido comunista, um sujeito ter desqualificado meus argumentos dizendo que eu não sabia de nada e alegando que ele era professor com PHD em ciência política (ou seja, se utilizando daquele velho artifício do “sabe com quem você está falando?”, muito utilizado no Brasil por gente como juízes e desembargadores para escapar de punições, como em 2011 quando uma agente de trânsito foi multar um juiz que estava com o carro sem placa e sem documentos após uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro). O fato de uma pessoa ter as mais altas graduações universitárias não é impedimento algum para ela ser um imbecil alienado que só vomita pela boca o discurso mentiroso dos grandes meios de comunicação. Um imbecil alienado pode ser tanto o pobre que mora na favela quanto o professor que tem doutorado e pós-doutorado e que dá aulas em universidades renomadas. Com a diferença que o pobre favelado pode se dar ao luxo de se defender alegando que não tem formação e diploma universitário. O professor doutor e pós-doutor, por sua vez, não.
Fontes:
Alborghetti – lugar de comunista é na cadeia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eiRjOHYd4BY
Auditoria cidadã da dívida. Disponível em: http://www.auditoriacidada.org.br/
Bolsonaro – Leitura do verdadeiro curriculum vitae de Dilma Rousseff. Disponível em:
Brasil: crise financeira ou fiscal? Disponível em:
Casos de agressão por uso de vermelho se multiplicam; por que autoridades se calam? Disponível em: http://outraspalavras.net/alceucastilho/2016/03/19/casos-de-agressao-por-uso-de-vermelho-se-multiplicam-por-que-autoridades-se-calam/
Conferência Estadual dos Bancários (2012). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0fqoD0RDzY4
De produtores a “compradores”. Disponível em: http://anovademocracia.com.br/no-43/1696-de-produtores-a-qcompradoresq
Escândalo: Dilma veta a realização de auditoria da dívida pública com participação de entidades civis. Disponível em: http://www.auditoriacidada.org.br/blog/2016/01/14/dilma-veta-auditoria/
Especial PRONA – Doutor Enéas – Parte 5/8. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fMe-UviyDgo
Fiscal condenada por dizer “juiz não é Deus” se diz “enojada” após nova condenação. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/11/1547105-fiscal-condenada-por-dizer-que-juiz-nao-e-deus-se-diz-enojada-apos-nova-decisao.shtml
José Dirceu teria dito: “A Globo é a TV do governo”. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/08/04/jose-dirceu-teria-dito-globo-e-tv-governo/
Lula fala da economia e de como a classe média é cega e preconceituosa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ozGbBd6wgRs
Lula na Rocinha: pobre só era gente em tempo de eleição. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pSaKgcBufwQ
Lula: “provei que tenho mais competência que a elite brasileira para governar o Brasil”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a0dgJPxCK7I
Plano Real: o mito da estabilidade e do crescimento. Disponível em: https://www.diplomatique.org.br/print.php?tipo=ar&id=1698
Repatriation of Cossacks after World War II (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Repatriation_of_Cossacks_after_World_War_II
Requião: o grande capital não quer derrubar a Dilma. Disponível em: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2015/08/04/requiao-o-grande-capital-nao-quer-derrubar-a-dilma
Sérgio Mamberti: “por que perseguem Lula? Cadê as provas? Cadê?” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1xI9YOdCP4k
Partido dos Trabalhadores. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Trabalhadores
Por que João Dória venceu até nas periferias? Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/10/por-que-joao-doria-venceu-periferias.html
Por que o governo coloca tanto dinheiro na Rede Globo? Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre-os-gastos-de-publicidade-do-governo/
Requião: Dirceu achou que podia controlar Globo com dinheiro de publicidade. Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/requiao-dirceu-achou-que-podia-controlar-globo-com-dinheiro-de-publicidade/
Uma perspectiva latino-americana para as políticas sociais: quão distante está o horizonte? Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rk/v9n2/a04v09n2

Foto – O paradoxo petista em 2015.


NOTAS:


[1] Leia-se “Gramchi”, pois no italiano a partícula sc, quando sucedida por e ou i, ganha o mesmo som do ch no português e no francês.
[2] Leia-se “Enguels”, pois no alemão, tal qual em idiomas como o russo, o mongol, o polonês e o japonês, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte tal qual no inglês e nos idiomas latinos.
[3] Leia-se “Tchoibalsan”. No mongol, assim como em idiomas como o russo, o mandarim, o espanhol, o inglês e outros, a partícula ch (cirílico Ч) tem valor de tch.
[4] Leia-se “Sun”, pois no coreano, assim como em idiomas como o chinês e o francês, quando uma palavra termina em consoantes como g, t e d, essa é muda.
[5] Leia-se “Rrodja”, pois no albanês a partícula xh tem valor de dj.
[6] Leia-se “Erirr”. No alemão, assim como em idiomas como o holandês, o polonês e o tcheco, a partícula ch tem o mesmo valor do h no inglês, do kh no russo e no mongol (cirílico х) e do j no espanhol: r aspirado.
[7] Conceito criado por Mao Tsé Tung nos anos 1920 para designar o setor da burguesia burocrática chinesa que agia em associação com o capital europeu, revendendo na China os produtos que eles adquiriam no exterior. Dentro do marxismo, é utilizado para designar um setor da classe média de um país que é mancomunado com o capital transnacional (tais como investidores internacionais, banqueiros e corporações transnacionais), que age em seu país como testa-de-ferro de seus sócios internacionais.

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