quarta-feira, 4 de maio de 2016

As abobrinhas da Socialista Morena - Revolução x Reação.


Foto – Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad), Jair Bolsonaro, Alexandre Frota, Silas Malafaia, Raquel Sheherazade, Marco Feliciano e companhia limitada: os reacionários de hoje.

Na edição nº228 da Revista Caros Amigos, Cynara Menezes publicou o artigo intitulado “A Revolução datou”. Nesse artigo, a Socialista Morena (como ela mesma se autodenomina), ingenuamente, disse, entre outras coisas, “Parece-me uma contradição em si mesma que matar gente seja condição sine qua non para se chegar ao paraíso. Só admito o uso da violência contra a tirania”. Também diz que não aceita a ideia de pegar em armas para chegar ao socialismo, tal como Darcy Ribeiro e Salvador Allende pensavam, repetindo assim as sandices ditas anteriormente em seu próprio blog em artigo sobre a visita de Fidel Castro ao Chile durante o governo Allende (1970 – 1973).
Em que mundo será que a Socialista Morena vive para ter dito uma barbaridade dessas? A mesma Socialista Morena que lançou um livro intitulado “Zen Socialismo”. Quando ouvimos as palavras Zen (Chan na China e Sun na Coréia) e Budismo, as imagens que vêm para um ocidental médio são de pessoas religiosas e pacíficas, adeptas da não-violência total e irrestrita e que passam horas e horas meditando em um templo. Entretanto, mal elas sabem (e certamente a Socialista Morena se enquadra entre elas) que Buda pertencia à casta guerreira da sociedade da Índia Antiga (chamada de Kshatriya), e como tal sabia manejar armas como arco e flecha e lança. Além disso, o próprio fundador da filosofia Zen, Boddhidharma (também conhecido na China como Ta Mo), o 28º patriarca do Budismo Mahayana, teria sido, de acordo com o manuscrito Yi Jin Jing[1], aquele que criou e ensinou o Kung Fu Shaolin aos monges do templo de mesmo nome para ajuda-los a se defender de animais e de bandoleiros. Na China, o Kung Fu também é conhecido como Wushu, ou em português a arte da guerra. E, na história do Japão, mais precisamente entre os séculos X a XVIII, havia ordens como a dos Yamabushi e dos Sohei, que eram compostas por monges guerreiros budistas e que manejavam armas como a nagitana[2] (arma similar a uma alabarda, composta de uma haste com uma lâmina recurvada em sua parte superior) e a katana (espada nipônica com lâmina recurvada, onde apenas o lado da frente é cortante). Esses guerreiros são comumente vistos como os equivalentes nipônicos dos guerreiros pertencentes a ordens militares monásticas da Europa Medieval como os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Teutônicos.
Socialista Morena, por favor, fale essas tuas sandices pacifistas para Lenin, Stalin, Sükhbataar, Getúlio Vargas, Mao Tsé Tung, Kim il-Sung, Enver Hoxha[3], Gamal Abdel Nasser, Fidel Castro, Muammar al-Kadaffi, aiatolá Ruhollah Khomeini[4] e outros tantos líderes revolucionários para ver o que eles vão pensar disso. Com toda certeza vão rir da tua cara e te achar uma imbecil completa. Com esse comentário, ela demonstrou uma tremenda falta de conhecimento a respeito da história dos processos revolucionários da história da humanidade (entre eles o francês, o russo, o brasileiro, o chinês, o norte-coreano, o egípcio, o cubano, o líbio e o iraniano, entre outros). Mao Tsé Tung define a palavra revolução da seguinte maneira: “A revolução não é o convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado, ela não pode ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda e tão afável e cortês, comedida e generosa. A revolução é uma insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra”. Sempre que a velha ordem em determinado país é destruída e substituída por uma nova, os elementos da velha ordem invariavelmente reagem e não raro tentam por meios violentos fazer o que for possível para manter e/ou restaurar seu status quo. Assim, para esmagar essas forças reacionárias, a força das armas se faz necessária. Ou vocês acham que os elementos da velha ordem e seus aliados estrangeiros vão ficar parados e de braços cruzados vendo seu status quo ruindo como se fosse um castelo de cartas?
Lembremos que no ocaso do século XVIII, os franceses, após a revolução de 1789, tiveram que pegar em armas para lutar contra as forças reacionárias que almejavam a restauração da monarquia dos Bourbon[5] e que contaram com o apoio de países como Áustria, Prússia, Inglaterra, Sacro-Império Romano-Germânico e Rússia. Com a queda dos Bourbon na França, os reis e imperadores desses países temiam que eles poderiam ser os próximos da lista a terem suas cabeças cortadas na guilhotina tal como aconteceu com Maria Antonieta e Luís XVI. Para afastar o espectro do fantasma da volta dos Bourbon ao poder, os franceses tiveram que enfrentar guerras contra duas coalizações (a primeira entre 1792 a 1797 e a segunda entre 1798 a 1802) contra as principais potências europeias (as quais tinham do seu lado emigrados monarquistas franceses). Depois, sob Napoleão Bonaparte, novas coalizações das principais potências europeias da época se formaram contra a França, as quais culminaram com a derrota do general corso na Batalha de Waterloo para o general inglês Wellington e o general prussiano Blücher e o exílio final de Napoleão na ilha de Santa Helena.
No Japão de meados do século XIX, para que a Restauração Meiji[6] se consolidasse, uma longa e sangrenta guerra civil que se arrastou por 15 anos, conhecida na historiografia nipônica como Bakumatsu (fim do Shogunato, 1853 – 1868), teve que acontecer opondo os monarquistas (favoráveis à centralização do poder nas mãos do imperador) e o decadente Shogunato e seus partidários (entre eles o famoso grupo Shinsengumi, citado em vários animes e mangás como Rurouni Kenshin [Samurai X no Ocidente] e Peace Maker Kurogane). Na Rússia, após o sucesso da revolução de outubro de 1917, os bolcheviques, sob a liderança de Lenin, tiveram que enfrentar a reação dos partidários da velha ordem tzarista, e a invasão de 14 países ao território russo (entre eles Japão, Inglaterra, França, Estados Unidos, Canadá, Polônia, Finlândia, Romênia, Itália, Ucrânia e China) em apoio aos brancos. Antes que a ordem revolucionária se consolidasse na Rússia, uma sangrenta guerra civil que durou cinco ao todo (ou seja, quase todo o governo Lenin) opondo vermelhos de um lado e de outro os brancos e a coalização invasora estrangeira teve lugar. Na Mongólia, Damdin Sükhbaatar teve que vencer as tropas chinesas que ocuparam o país em 1919 e 1920 e logo em seguida o barão Roman Ungern von-Sternberg e seus partidários para alcançar o poder. Aqui no Brasil, Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930 e apeou do poder a oligarquia cafeeira que até então reinava no país e tratava o estado brasileiro como seu balcão de negócios particular. Dois anos depois, essa mesma oligarquia cafeeira tentou retomar o poder através do levante constitucionalista paulista, que no fim foi esmagado por Vargas e as tropas federais. Essa oligarquia voltaria ao poder em 1964 com o golpe civil-militar daquele ano.
Mao Tsé-Tung, antes de chegar ao poder na China, teve que enfrentar seguidos confrontos contra o Kuomitang de Chiang Kai-Shek e contra as tropas japonesas que ocupavam grande parte das regiões leste e norte da China. Em decorrência da perseguição do Kuomitang, em 1934/1935 Mao e seus partidários tiveram que fazer a Grande Marcha, que percorreu 9600 quilômetros através do interior da China. Na Coréia do Norte, Kim il-Sung teve que organizar movimentos de resistência contra o ocupante nipônico e seus lacaios nativos, e por causa disso teve que se exilar da Coréia ocupada para a Manchúria e para a União Soviética. Com a ajuda do Exército Soviético, os ocupantes nipônicos nos meses finais da Segunda Guerra Mundial foram enxotados da parte norte da Península Coreana e só assim que o Presidente Eterno tornou-se o líder da Coréia do Norte. No Egito, Nasser botou para correr o rei Faruk I e seus partidários e ainda teve que enfrentar a reação anglo-franco-israelense na questão do Canal de Suez. Em Cuba, Fidel Castro assumiu o poder após uma sangrenta guerra de guerrilha contra as tropas leais a Fulgencio Batista e ainda teve que vencer a invasão a Baia dos Porcos em 1961. Na Líbia, Kadaffi botou para correr o rei Idris I e seus partidários, assim como muitas das petroleiras ocidentais que exploravam o petróleo líbio. No Irã, Khomeini botou o xá e seus partidários para correr e depois disso enfrentou uma guerra de oito anos contra o vizinho Iraque. Entre tantos outros exemplos que aqui podem ser mencionados.
E ai eu pergunto a Socialista Morena: é dando flores e lambendo as botas do opressor que se faz revolução? Os revolucionários franceses e depois Napoleão assumiram o poder lambendo as botas e comendo cassoulet junto com os Bourbon e as potências que queriam riscar do mapa a França revolucionária? Os monarquistas assumiram o poder e concentraram o poder nas mãos do imperador comendo sushi, temaki e yakissoba junto com o Shogun e seus partidários durante o Bakumatsu? Lenin e os revolucionários russos assumiram o poder comendo strogonoff e tomando vodka junto com os Romanov, os brancos e as potências imperialistas que invadiram o país durante a Guerra Civil de 1918 a 1922? Vargas assumiu o poder aqui no Brasil e depois esmagou a contrarrevolução de 1932 tomando café e comendo pão de queijo junto com a oligarquia cafeeira? E a intentona integralista de 1938, foi vencida dando-se flores e gritando anauê junto com Plínio Salgado e sua turma? Mao Tsé Tung e os revolucionários chineses assumiram o poder conchavando com o Kuomitang e os japoneses? Kim il-Sung e os revolucionários norte-coreanos assumiram o poder tomando chá junto com o ocupante nipônico (que promoveu uma política de niponificação da Coréia, onde se proibiu o uso do idioma coreano e os próprios coreanos eram obrigados a niponificarem seus nomes e sobrenomes) e seus lacaios coreanos? Nasser e os revolucionários egípcios assumiram o poder fumando narguilé e comendo kafta junto com os colonialistas franceses e britânicos e com o rei Faruk I e sua gangue? Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e os revolucionários cubanos assumiram o poder tomando rum e fumando charuto junto com Fulgencio Batista e a máfia cubana? Kadaffi e os revolucionários líbios assumiram o poder lendo livros e comendo esfiha junto com o rei Idris e sua patota? Khomeini e os revolucionários iranianos assumiram o poder recitando poesias para o xá em um tapete persa? Na Síria, o presidente Assad aguentou meia década de guerra civil e agora está se recuperando dando flores para o Estado Islâmico, a Al Qaeda e outros grupos terroristas wahhabitas? E no Donbass, Igor Strelkov, Motorola, Mozgovoï e companhia limitada proclamaram as repúblicas de Donetsk e Lugansk e conseguiram várias vezes vencer as tropas ucranianas no campo de batalha implorando favores feito mendigos à junta russófoba estabelecida em Kiev? A resposta para todas essas perguntas é um sonoro e retumbante não.
E, pelo visto, ela se esquece de que o mesmo Brizola que ela no mesmo texto diz admirar na época do golpe quis resistir aos golpistas junto com o Terceiro Exército baseado no Rio Grande do Sul e que em 1966 e 1967 liderou um movimento de resistência guerrilheira ao Regime Civil-Militar na Serra do Caparaó, baseado na experiência cubana. E ela, que se diz bolivariana, pelo visto mal sabe que o finado Comandante Chávez descrevia a sua revolução como “pacífica, porém armada”. Do contrário, ele jamais teria vencido junto com o povo os golpistas que assumiram brevemente o poder em 2002 e assim voltar ao poder. E não é agora que, sendo mole com os sabotadores e golpistas que querem que a Venezuela volte a ser o país miserável que era nos tempos da Quarta República que Maduro, aos trancos e barrancos, está conseguindo manter-se no poder.


Foto – Salvador Allende (1908 – 1973), presidente do Chile entre 1970 a 1973.

O próprio Allende mencionado por ela em seu texto também enfrentou agitações reacionárias em seus quatro anos de governo no Chile. Entre essas forças reacionárias estavam o grupo paramilitar de Extrema Direita Patria y Libertad, fundado por Pablo Rodríguez Grez (o qual após a redemocratização do Chile foi advogado de Pinochet), advogado de várias empresas multinacionais, entre elas a estadunidense ITT[7] (a mesma ITT que anos antes teve sua filial gaúcha estatizada por Leonel Brizola). Esse grupo periodicamente fazia ataques de sabotagem e terrorismo e apoiava greves de caminhoneiros. Como também houve as peruas dondocas da elite chilena que periodicamente faziam panelaços por causa da falta de produtos nos supermercados provocada pela mesma elite chilena em um esforço de guerra econômica contra o governo central (o mesmo que hoje acontece na Venezuela). E, o mais importante de tudo: o apoio dos EUA à agitação golpista, principalmente depois que Allende nacionalizou a produção de cobre chilena, até então explorada pelas empresas Kennecott Corporation e a Anaconda Copper Company. No já mencionado artigo de seu blog, a Socialista Morena chega a dizer que a visita de Fidel Castro ao Chile teria precipitado a queda de Allende e da via chilena ao socialismo, por supostamente acirrar os ânimos das classes dominantes chilenas contra o governo da Unidad Popular. E o que é pior: ela em momento algum fala sobre o Patria y Libertad ou a ingerência dos Estados Unidos. No fim das contas, Allende pagou o preço por seus conchavos com os golpistas (a ponto de ter colocado Pinochet como comandante das forças armadas após o episódio do Tanquetazo) e não ter armado o povo contra as forças reacionárias internas e externas que conspiravam contra seu governo (o que grupos de esquerda como o MIR[8] queriam).
Por outro lado, em Belarus, antiga república soviética, Aleksandr Lukashenko, presidente do país desde 1994, venceu em 2006 a Revolução Jeans não sendo condescendente com seus opositores (os quais usavam como símbolo a mesma bandeira branca com uma faixa vermelha no meio que o país usava antes de Lukashenko se tornar presidente). Muito pelo contrário, se valendo da força da polícia e dos serviços de inteligência, Lukashenko pode esmagar esse golpe, que tal como todas as revoluções coloridas, são teleguiadas de fora através de ONGs estrangeiras e financiamento pesado vindo de multimilionários como o narcotraficante George Soros (o mesmo Soros que é o grande financiador da campanha mundial para a liberação das drogas e que foi um dos grandes beneficiários da privataria[9] na América Latina nos anos 1990). Resumindo a ópera: a força das armas não é uma condição obrigatória para se derrubar a velha ordem e erigir uma nova, mas a partir do momento em que a nova ordem estiver ameaçada ante a ofensiva de forças reacionárias vindas tanto de fora quanto de dentro, ela será necessária para a manutenção e sobrevivência da revolução. Nem que para isso seja preciso matar, prender ou exilar os conspiradores e sabotadores. Era a isso que Fidel queria alertar Allende quando de sua visita ao Chile. Ou seja, que cedo ou tarde Allende teria que enfrentar as forças reacionárias contrárias a seu governo. E a história mostrou que o líder cubano estava certo em seu diagnóstico. O que ia acontecer com ou sem visita de Fidel ao Chile, ainda mais dentro do contexto da Guerra Fria onde havia o temor da parte dos Estados Unidos de que o exemplo cubano contagiasse o resto da América Latina.


Foto – Como os reacionários brasileiros geralmente se definem (conservadorismo político-moral combinado com liberalismo econômico e um patriotismo bem demagógico, assim como uma raivosa retórica anticomunista).

O que o discurso tipicamente menchevique da Socialista Morena (que pensa a socialdemocracia ser uma etapa para a implantação do socialismo), que é um verdadeiro canto da sereia para todos nós, transparece é que o socialismo do novo milênio será implantado só fazendo justiça social nos marcos do capitalismo para os grupos minoritários da sociedade e sem precisar destruir gente perniciosa como os clãs Rockefeller e Rotschild (os mesmos Rotschild com os quais o Barão de Mauá era mancomunado no século XIX), George Soros, JP Morgan, Rupert Murdoch, irmãos Koch (os mesmos que financiam grupos como o Movimento Brasil Livre) e outros grandes tubarões das finanças internacionais. O fim do capitalismo não acontecerá conchavando com essa gente, e sim exterminando-os sem dó nem piedade. Esse foi o erro que o PT cometeu aqui no Brasil nesses anos todos, ao ter feito um governo de conciliação com as classes dominantes e não de enfrentamento tal como Chávez fez na Venezuela com as classes dominantes de lá. Ao não enfrentar o poder da classe dominante, o Partido dos Trabalhadores foi engolido pela política burguesa e assim não pode fazer as reformas estruturais que o país há tempos necessita. Conchavando com as classes dominantes, o máximo que o PT pode fazer foi algumas políticas paliativas como o Bolsa Família (cujo gasto para os cofres da nação é ínfimo). Enquanto que no Mundo Islâmico líderes como Nasser, Kadaffi, Saddam Hussein e Khomeini foram capazes de fazer mudanças profundas em seus respectivos países enfrentando o poder das grandes petroleiras ocidentais e de seus lacaios locais (assim como investindo em infraestrutura, forças armadas e educação e não construindo palácios suntuosos que nem os monarcas do Golfo Pérsico fazem).
No meio do texto, ela ainda fala sobre Bernie Sanders, o potencial candidato democrata ao pleito presidencial dos EUA desse ano e se indaga sobre qual é o problema de ele ser socialdemocrata. O fato é que, independentemente da corrente político-ideológica ao qual ele alegue afiliação, isso não muda o fato de que Bernie Sanders, tal qual Barack Obama, Bill Clinton, Bush pai, Bush filho, Reagan e todos aqueles que ocuparam a Casa Branca nesses anos todos, não passa de um homem do sistema político norte-americano. Nos EUA, apenas através de um processo revolucionário é que um homem de fora do sistema assumirá o poder, nunca pela via eleitoral. Pois tal qual um leão quando é desafiado por outro luta para manter sua posição de chefe de um bando (e que terá sua prole morta caso seja vencido pelo rival), o poder por trás do trono de tudo fará para a manutenção de seu status quo. Nem que para isso tenha que recorrer a fraudes eleitorais, terrorismo midiático e até mesmo a assassinatos e operações de falsa bandeira. E não vamos esquecer que Bernie Sanders foi favorável, entre outras coisas, ao bombardeio da OTAN à Iugoslávia em 1999 em apoio aos terroristas do Exército de Libertação de Kosovo, a liberação de fundos para guerra ao Afeganistão em 2001 e ainda a ajuda bilionária ao governo golpista na Ucrânia pós-Euromaidan. Uma coisa é certa: caso Sanders chegue à Casa Branca, ele invariavelmente terá de dançar conforme a música do sistema de poder norte-americano (formado pelo tripé Pentágono, Wall Street e FED).
Ela justifica sua opção pela socialdemocracia alegando que os países mais igualitários do mundo são socialdemocratas. Por favor, sem ilusões baratas. Pelo visto ela ignora que esses países em questão (tais como Noruega, Islândia, Suécia, Dinamarca e Finlândia) fazem parte de blocos imperialistas como a OTAN e a União Européia. Na política da Alemanha, o país central da União Européia e uma das principais economias capitalistas do planeta, o Partido Social-Democrata, a agremiação a qual pertence o ex-premiê Gerhard Schroeder, divide o bolo republicano germânico junto com a democracia cristã de Merkel e Helmut Kohl. Na França, o partido que hoje ocupa o palácio do Eliseu é o Partido Socialista, mas isso não mudou o fato de que a França continua sendo um país capitalista e imperialista (haja a vista que foi sob o governo Hollande que houve a intervenção francesa no Mali e o apoio ao terrorismo wahhabita na Síria contra Assad). E o mesmo vale para a Inglaterra quando esteve sob o comando do trabalhista Tony Blair (1997 – 2007), que invadiu o Iraque em 2003 junto com os Estados Unidos. Ou seja, o partido pode ter a sigla que for e os discursos mais bonitos possíveis, mas uma vez que tenha um comprometimento de classe com o establishment que manda no país por trás das cortinas, não passará de uma fraseologia barata e demagógica.
Cynara finaliza seu texto com as seguintes palavras: “Por favor, velhos camaradas, não os espantem com dogmatismo”. A ela, eu respondo com as seguintes palavras: Por favor, Socialista Morena, não nos espante com sua ingenuidade e seu idealismo torpe e infantil. O mundo em que vivemos não é o do grande arco-íris cor-de-rosa das tuas fantasias pacifistas onde você acha que os elementos da velha ordem ficarão quietos em seu canto vendo passivamente seu mundo ruir. Com elementos reacionários não se brinca. Allende brincou com o Patria y Libertad e os militares golpistas e no fim pagou com sua vida e o Chile teve que amargar uma sangrenta ditadura que perdurou por 17 anos. No fim vemos que ela, que se diz bolivariana, está política e ideologicamente muito mais próxima de figuras como Obama, Mujica e Hollande que de Brizola, de Allende e do Comandante Chávez.


Foto – Membros do grupo terrorista de Extrema Direita Patria y Libertad, ativos no Chile durante a era Allende: os reacionários de ontem.

Fontes:
40 anos do golpe no Chile – Fidel Castro: amigo ou muy amigo de Allende? Disponível em: http://www.socialistamorena.com.br/fidel-castro-amigo-ou-muy-amigo-de-allende/
A voz do comunismo: Realidade x Puritanismo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NLaKgFLtErU
Bernie Sanders’ troubling history of supporting US Military violence abroad (em inglês). Disponível em: http://www.alternet.org/election-2016/bernie-sanders-troubling-history-supporting-us-military-violence-abroad
Boddhidharma. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bodidarma
Chile: anatomia de um golpe II. Disponível em: http://www.cut.org.br/noticias/chile-anatomia-de-um-golpe-ii-854f/
Colour revolution (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Colour_revolution
Há 40 anos o terrorismo de direita chamava a derrubada do governo Chile. Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/ha-40-anos-o-terrorismo-de-direita-chamava-a-derrubada-do-governo-no-chile/
Mao Tsé Tung. Disponível em: https://pt.wikiquote.org/wiki/Mao_Ts%C3%A9-Tung
Privatización y Privatería (em espanhol). Disponível em:
The Buddha as a warrior (em inglês). Disponível em: http://www.wildmind.org/blogs/on-practice/the-buddha-as-warrior

NOTAS:

[1] Leia-se “Tzin”, pois no mandarim a partícula j tem valor de tz e a consoante final de uma palavra, tal como no francês, é muda.
[2] Leia-se “Naguinata”, pois no japonês, assim como em idiomas como o russo, o alemão, o polonês e o mongol, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte tal como nas línguas latinas e no inglês.
[3] Leia-se “Rrodja”, pois no albanês a partícula xh tem valor de dj.
[4] Leia-se “Rromeini”, pois no persa, assim como em idiomas como o árabe, o russo e o mongol, a partícula kh (cirílico х) tem o mesmo valor do ch no alemão e no polonês, do h no inglês e do j e do g quando sucedido por e ou i no espanhol: r aspirado.
[5] Leia-se “Burbon”, pois no francês a partícula ou tem valor de u.
[6] Leia-se “Medji”, pois no japonês, assim como em idiomas como o inglês, o árabe e o farsi, a partícula j tem valor de dj.
[7] International Telephone and Telegraph (Telefone e Telegráfo Internacional em português).
[8] Movimiento de Izquierda Revolucionária (em espanhol “Movimento de Esquerda Revolucionária).
[9] O termo privataria é um neologismo que une as palavras “privatização” e pirataria. Foi criado pelo jornalista brasileiro Hélio Gaspari e popularizado pelo também jornalista Amaury Ribeiro Júnior (autor do livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas do processo de privatização no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso [1995 – 2002]).

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