sexta-feira, 21 de junho de 2024

Homenagem - 20 anos sem Leonel de Moura Brizola

 

Hoje, dia 21 de junho de 2024, completam-se 20 anos do falecimento daquele que foi certamente um dos maiores homens públicos que o Brasil já produziu e o único a governar dois estados diferentes em toda a história brasileira. Trata-se de Leonel de Moura Brizola, nascido no município gaúcho de Carazinho no dia 22 de janeiro de 1922 e dotado de uma inconfundível retórica inflamada e exaltada.

Oriundo de uma família humilde, Brizola, graças a Getúlio Vargas, iniciou sua carreira política com sua entrada no PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Foi prefeito de Porto Alegre entre 1º de janeiro de 1956 até 29 de dezembro de 1958. No ano seguinte tornou-se governador do Estado do Rio Grande do Sul, cargo esse que manteve até 25 de março de 1963. Dias mais tarde após o fim de seu mandato como governador do Rio Grande do Sul, tornou-se deputado pelo estado da Guanabara no dia 14 de maio, cargo esse que manteve até 14 de maio de 1967.

Durante o seu governo no Rio Grande do Sul, notabilizou-se por, entre outras coisas, fazer uma ampla reforma agrária, nacionalizar duas multinacionais estrangeiras que atuavam em solo gaúcho (Bond & Share e ITT – que anos antes esteve envolvida em negócios com os nazistas e apoiou o golpe contra Allende no Chile) e em 1961 ter liderado ao lado do general José Machado Lopes a campanha da legalidade que colocou João Goulart, o vice de Jânio Quadros, na presidência do país, afastando assim temporariamente o fantasma do golpismo no Brasil por parte de setores militares e conservadores. Com Jango no poder, pressionou para que seu cunhado (a esposa de Brizola, Neusa, era irmã de Jango) colocasse em prática as reformas de base. Reformas essas que enfureceram as mesmas elites que tentaram dar o golpe três anos antes, e estas, vendo-se ameaçadas em seus privilégios e acusando Jango de ser comunista por causa de sua visita à China, apoiaram os militares golpistas e a deposição de Jango em 1964.

 Durante os tenebrosos anos do Regime Civil-Militar (1964 – 1985), Brizola foi um dos principais opositores dos fardados instalados em Brasília. Foi um dos primeiros a ter seus direitos políticos cassados, isso já no AI-1, junto com nomes como Jango, Luís Carlos Prestes, Jânio Quadros, Darcy Ribeiro, Miguel Arraes, Nelson Werneck Sodré e outros. Em 1965 se exilou no Uruguai e de lá tentou montar movimentos de resistência aos militares em locais como o Rio Grande do Sul e a Serra do Caparaó no Espírito Santo, mas essa iniciativa acabou não tendo sucesso.

Depois de passagens por Estados Unidos e Portugal, Brizola pode voltar ao Brasil em 1979 com a anistia feita pelo então presidente Ernesto Geisel. Três anos mais tarde, elegeu-se governador do Estado de Janeiro, eleição essa que foi marcado pelo escândalo Proconsult, que consistia de transferir votos brancos e nulos para Moreira Franco. Mas, graças à denúncia de tal esquema por parte do Jornal do Brasil, esse esquema foi desbaratado e Brizola se elegeu governador do Rio de Janeiro. Ao lado de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, Brizola deu início ao projeto dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública, também conhecidos como Brizolões), em que consistia de escolas públicas nas quais os alunos permaneciam das 7 da manhã até as 5 da tarde, assim fazendo com que muitas crianças saíssem das ruas.

Infelizmente, após o fim dos dois mandatos de Brizola, os CIEPs foram abandonados por seus opositores, os quais acusavam tal projeto de serem de manutenção custosa e de Brizola usá-los com intenções eleitoreiras. Também se notabilizou pela construção do Sambódromo Marquês do Sapucaí em 1983, da Linha Vermelha e da Universidade Estadual do Norte Fluminense, assim como foi em seu governo que o Rio de Janeiro sediou a Eco 92.

Suas passagens pelo governo do estado do Rio de Janeiro (a primeira entre 1983 a 1987 e a segunda entre 1990 a 1994) também foram marcadas por atritos com a Rede Globo. Isso a ponto de em 1984 ter quebrado o monopólio da emissora do clã Marinho nas transmissões do carnaval e no dia 15 de março de 1994 no próprio Jornal Nacional, após Roberto Marinho ter chamado Brizola de “senil”, ter sido lida um direito de resposta do próprio Brizola, onde ele fala, entre outras coisas, sobre a relação da emissora de Roberto Marinho com o Regime Civil-Militar. Já os governos petistas, por sua vez, não mostraram o mesmo peito que Brizola mostrou para com a Rede Globo, ou mesmo Hugo Chávez na Venezuela para com emissoras como a RCTV.

Brizola também se candidatou a presidência da República, em 1989 e em 1994. Ambas perdidas, a primeira para Fernando Collor de Mello e a segunda para Fernando Henrique Cardoso. Em 1998 foi o vice de Lula, mas este mais uma vez foi vencido nas urnas por FHC, e em 2002 apoiou Ciro Gomes. Em seus últimos anos de vida, Brizola mostrou-se crítico às políticas neoliberais adotadas por Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso, como também inicialmente apoiou o governo Lula, mas em dezembro de 2003 rompeu com Lula ao ver que seu antigo aliado continuou com a política econômica de seu antecessor e suas alianças espúrias com nomes que antes os próprios petistas tanto criticavam, a exemplo de José Sarney e Renan Calheiros. Um homem como Brizola sem sombra de dúvida faz uma falta imensa ao nosso país, tão carente de homens de peito e fibra como ele. E o Brasil sem dúvida perdeu muito com a morte de Brizola.

LEONEL DE MOURA BRIZOLA, PRESENTE!

Um comentário:

  1. Não sou esquerdista, mas tenho profundo respeito por Brizola. Era um dos poucos - senão o único - que batia de frente com os grandes conglomerados de mídia. De fato, faz muita falta alguém como ele nos dias de hoje. Ah, e o campus da UENF, criado por ele, em Campos dos Goytacazes, cidade natal da minha mãe, eu conheço, já estive lá.

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