Foto – Moïse Kabagambe.
No último sábado,
dia cinco de fevereiro de 2022, o Brasil presenciou uma cena dantesca: a Igreja
Nossa Senhora do Rosário, de Curitiba, foi invadida por militantes de esquerda
em protesto pela morte do jovem congolês Moïse Kabagambe, ocorrido no Rio de
Janeiro no dia 24 de janeiro. Outros protestos similares ocorreram em outras
cidades brasileiras, entre elas Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Os protestos
na Igreja foram liderados pelo vereador petista Renato Freitas, e nas imagens
dos mesmos podem ser vistas bandeiras de partidos como o PT (Partido dos
Trabalhadores) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e cartazes pedindo por
justiça ao finado congolês.
Durante a
invasão à Igreja (construída em 1737 para negros escravizados, que não podiam
entrar em outras Igrejas da cidade) Freitas, ignorando os pedidos do padre de
que queria continuar a missa, fez um discurso inflamando dizendo que os
católicos tinham apoiado um “policial que está no poder” e que o caso da morte
do jovem congolês teria uma suposta relação com a conivência de pessoas de fé
católica a autoridades “fascistas”, e que tais assassinatos teriam sido
provocados por um suposto “racismo estrutural”.
Primeiro de
tudo: esse episódio vem a se somar a outros ataques similares à fé cristã que
vimos nos últimos anos no Brasil e no mundo. Como, por exemplo, o episódio
ocorrido no natal de 2019 em que o canal do YouTube Porta dos Fundos representou
Jesus Cristo como um homossexual (e nisso o que o Porta dos Fundos faz nada
mais é copiar aqui no Brasil o que o Charlie Hebdo, o mesmo Charlie Hebdo que
foi alvo de ataques terroristas em 2011 e 2015 depois de fazer charges
desrespeitosas ao profeta Maomé, faz na França). E, a nível internacional, a
episódios como as queimas de Igrejas no Chile durante as manifestações de 2019 e
2020 e no Canadá no ano passado após as descobertas de túmulos de crianças
indígenas em 2021.
Segundo o
artigo 208 do Código Penal brasileiro, escarnecer de alguém publicamente por
motivo de crença religiosa; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto
religioso, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso (como o
que se viu em Curitiba) configura em crime contra o sentimento religioso, com
pena prevista de detenção de um mês a um ano ou o pagamento de multa, podendo
ser ampliada em caso de uso de violência.
E segundo:
será que em algum momento passou pela cabeça desse pessoal que chamou os fiéis
que na missa estavam de racistas e fascistas e que foi fazer essa passeata na
Igreja que entre as pessoas que lá rezavam a missa podia haver pessoas que em
2018 votaram no Haddad e em eleições presidenciais anteriores votaram no Lula e
na Dilma, como também em outros candidatos petistas em eleições municipais e
estaduais do Paraná? Que depois eles não se queixem de que esses votos
eventualmente venham a migrar para políticos como Bolsonaro e outros afins.
O fato é que
o jovem de 24 anos foi espancado e morto por cinco pessoas no quiosque
Tropicália, e que de acordo com informações da própria família de Moïse
Kabagambe, ele foi ao quiosque em questão para cobrar diárias que somavam a
quantia de cerca de R$ 200,00.
Para além do
fato vergonhoso da invasão à Igreja por si mesmo, manifestações como essa e
tantas outras mostram que uma parte da esquerda brasileira quer fazer do caso
de Moïse Kabagambe uma espécie de versão brasileira do caso George Floyd (que
pouco antes de vir a óbito estava sob o efeito de narcóticos e tentara passar
uma nota falsa de US$ 20,00 a um supermercado), ocorrido no ano retrasado nos
EUA. Caso esse que, como nós sabemos, gerou uma comoção tal que no fim das
contas ajudou a influenciar as eleições americanas de 2020 em favor de um
representante orgânico do sistema americano, o democrata Joe Biden.
E também é
demonstrativo do fato de que os manifestantes dessas passeatas estão
protestando pelos motivos errados. É bem evidente que Kabagambe não foi morto
por questão de ódio racial contra negros, e sim por conta de questões ligadas a
dívidas do local em que ele trabalhava. Em outras palavras, pode-se dizer que o
que realmente matou Kabagambe não foi o racismo, e sim a precarização das
relações de trabalho que temos visto no Brasil desde o segundo governo Dilma.
Foto – Invasão à Igreja Nossa Senhora do Rosário, 05/02/2022.
Também salta
aos olhos a linguagem que eles empregam. Palavras de ordem como “2022 e o
racismo ainda mata”, “vidas negras importam” (logo o nome de um grupo
supremacista negro conhecido por suas agressões a cidadãos brancos americanos,
não raro submetidos a situações vexatórias e que é financiado pelo
megaespeculador George Soros), “racismo sistêmico” e outras parecidas são
vistas aos montes. Fica evidente que se trata de um copia e cola das passeatas
ocorridas nos Estados Unidos em 2020, que foram na verdade uma revolução
colorida com vistas a influenciar o pleito eleitoral daquele ano em favor dos
representantes orgânicos do sistema americano.
Como também o
desserviço que essa gente faz ao atribuir essa morte a questões de racismo. E essa,
diga-se de passagem, não foi a primeira vez eles assim agiram: isso aconteceu
em 2018 na sequência da morte de Marielle Franco. À época, muitos dos mesmos
que hoje falam que Moïse Kabagambe foi morto por causa de racismo disseram que
a deputada psolista foi morta por homofobia, racismo e por machismo, pelo fato
dela ser mulher, negra e lésbica. Quando na verdade ela, ao que tudo indica,
foi morta por cruzar o caminho de esquemas das milícias cariocas. Tanto no caso
de 2018 quanto no caso desse ano vemos a mesma retórica alienante e
emburrecedora dessa gente.
Parece-me que
para tais setores da esquerda brasileira que agem como se fossem macacos
amestrados do Partido Democrata dos EUA e do Partido Trabalhista da Inglaterra
toda e qualquer morte violenta de um negro é motivada por questões de racismo.
Nem que o assassino em questão tenha sido outro negro e sem qualquer relação
com racismo. Da mesma forma que essa mesma gente pensa que qualquer morte
violenta de um homossexual é motivada por questões de homofobia. Nem que o crime
em questão tenha sido cometido por outro homossexual e tenha sido motivado por
questões como motivos passionais ou disputa de pontos de prostituição.
Tal episódio
é sintomático e revelador do fato de que amplos setores da esquerda brasileira
adoram copiar o que há de pior na esquerda americana e na esquerda europeia. É
uma esquerda que não raro pensa os problemas raciais brasileiros com base na
dinâmica dos problemas raciais norte-americanos, não levando em consideração
que os dois países têm suas particularidades que os distinguem entre si e que
no Brasil (a despeito do fato de que ambos os países tiveram um passado de
escravidão negra) houve uma maior miscigenação entre brancos, negros e
indígenas, nunca houve grupos racistas como a Ku Klux Klan e não houve
legislações discriminatórias como aquelas existentes no sul dos EUA (leis de
Jim Crow). Com uma esquerda dessas, quem precisa de Bolsonaro, Moro e companhia
limitada?
E fica no ar
a seguinte pergunta: em um eventual próximo incidente de morte violenta de um
negro (ou quem sabe até de um homossexual), quem não me garante que essa mesma
gente resolva repetir a dose e fique ainda mais ousada e mais atrevida e
resolva fazer atos similares ao que vimos no último fim de semana, dessa vez com atos de vandalismo, invasões e protestos ainda mais massivos contra Igrejas como aquelas vistas no
Chile em 2019 e 2020 e no Canadá em 2021? O que mais me incomoda a respeito do ocorrido da semana passada é exatamente isso. Hoje eles fizeram uma passeata em uma
Igreja em plena missa na qual chamaram os fiéis de fascistas. Dai para começarem a incendiar Igrejas é praticamente um pulo.
E mais uma
pergunta no ar: se no lugar de um congolês um norueguês, um italiano ou um
alemão tivesse sido assassinado da mesma forma, com os mesmos requintes de
crueldade e sadismo, nós veríamos os mesmos protestos e a mesma tentativa de
aproveitamento político por parte de políticos da esquerda brasileira? Em minha
humilde opinião, não.
Foto – Igreja queimada no Canadá durante as manifestações de 2021. Será que veremos isso chegar ao Brasil algum dia?
Fontes:
Black Lives
Matter (em inglês). Disponível em: Black
Lives Matter: An Activist Facts Organizational Profile
Grupo que
pedia justiça pela morte de Moïse invade igreja e interrompe missa durante
manifestação, diz padre; vereador que participava disse que ato foi pacífico.
Disponível em: Grupo
que pedia justiça pela morte de Moïse invade igreja e interrompe missa durante
manifestação, diz padre; vereador que participava disse que ato foi pacífico |
Paraná | G1 (globo.com)
Morte de
congolês Moïse Kabagambe gera protestos em várias capitais do Brasil neste
sábado. Disponível em: Morte
de congolês Moïse Kabagambe gera protestos em várias capitais do Brasil neste
sábado | Jovem Pan
Vereador do
PT lidera invasão de igreja católica durante missa. Disponível em: Vereador
do PT lidera invasão de igreja católica durante missa (gazetadopovo.com.br)
Não duvido nada que logo vamos ver igrejas, sinagogas e outros templos religiosos a ser queimados no Brasil. Espero eu que isso não aconteça, mas, como a esquerda está cada vez mais intolerante com tudo...
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