quinta-feira, 23 de julho de 2020

Quem chocou o ovo da serpente chamada Jair Bolsonaro? (resumo do livro "A guerra contra o Brasil", de Jessé Souza, 2/6).



Foto - Moro chocando o ovo da serpente.
Reflexão IV – Hoje a Globo, que foi a ponta de lança midiática do golpe contra Dilma, fala em pedir perdão ao PT. O mesmo PT que encheu a Globo de dinheiro por meio de investimentos em verba publicitária nos 13 anos em que ficou no poder. Será que a Globo falaria em pedir as pazes com o Partido dos Trabalhadores caso Bolsonaro continuasse a encher as burras da Rede Globo, que nem os governos anteriores a ele fizeram? Óbvio que não. Bem feito para a emissora da família Marinho, que agora se encontra em uma situação de contingenciamento financeiro a tal ponto que vem fazendo uma série de demissões e cortes de salários dos funcionários.
Reflexão V – Imaginemos o seguinte cenário: suponhamos que o golpe de 2002 contra Hugo Chávez na Venezuela tivesse triunfado, e no caos gerado por esse mesmo golpe surgisse um coronel de Extrema Direita, uma espécie de Órban venezuelano, que com o tempo resolvesse tomar medidas contra a RCTV. A mesma que foi o braço midiático do fracassado golpe de 2002 contra Chávez e que em 2007 não teve sua concessão renovada pelo mesmo Chávez. E ai a RCTV, no desespero, resolve pedir perdão a Chávez. O que a Globo faz hoje no Brasil é a mesmíssima coisa. No desespero, resolve pedir perdão até mesmo para aquele que ela derrubou lá atrás, da forma mais cínica possível.
Reflexão VI – Nos últimos anos, não foram poucos os partidos e/ou políticos de esquerda que chegaram ao ponto de prestar apoio à Lava Jato, como o caso da psolista Luciana Genro. A mesma Luciana Genro que chegou ao ponto de apoiar o golpe de Extrema Direita na Ucrânia e a se posicionar a favor da queda de Maduro na Venezuela. Também tivemos o caso de Fernando Haddad, que chegou a dizer que Moro vinha fazendo um bom trabalho a despeito de erros na prisão de Lula. Isso foi o que me motivou a anular meu voto no segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Como uma esquerda que, salvo raras exceções, não viu desde o início todo o jogo politiqueiro da Lava Jato e não enfrentou Moro, Dallagnol, Palludo e companhia limitada em seu campo, o campo da política, é que o golpe aconteceu como aconteceu e Lula ficou preso por um ano e meio. Quem precisa de Moro e Dallagnol com uma esquerda como essa que se auto-sabota, só para começo de conversa?
Reflexão VII – Muitos dos quadros que atuaram na Lava Jato também atuaram no caso Banestado no tempo do FHC. Que foi o maior esquema de desvio de divisas para o exterior da história do Brasil, que movimentou um montante de dinheiro muito maior que qualquer mensalão do PT – cerca de R$ 124 bilhões (valores da época) foram para o ralo por meio das contas CC5. Tal escândalo foi abafado por Sérgio Moro quando lá apareceram tucanos de alta plumagem como FHC e Serra e empresas de mídia. Isso para não falar dos esquemas denunciados por Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, comandados por figuras como Carlos Zucolotto (padrinho de casamento de Sérgio Moro e ex-sócio da esposa de Moro) e Marlus Arns e as boladas bilionárias da Petrobrás e da Odebrecht (que Lula chamou de “criança esperança do Dallagnol”). O que mostra muito bem que Moro, Dallagnol, Palludo e companhia limitada têm seus corruptos de estimação. Seria o Zucolotto e Arns o Queiroz e o Wasseff da família Moro, respectivamente? E o DD, seria o (ou um dos) Queiroz da Lava Jato como um todo?
Reflexão VIII – Os partidários da Lava Jato volta e meia falam que ela recuperou cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos, sendo que os prejuízos foram centenas de vezes maiores, fora os milhões de desempregados. E mesmo que tais coisas sejam ditas a eles, ainda assim defendem as ações da Lava Jato, sob a alegação de que isso foi culpa dos corruptos investigados por Moro, Dallagnol, Palludo e companhia limitada. E ainda te acusam de ser conivente com a corrupção, sendo que uma coisa não tem nada haver com a outra. Por causa dessa brincadeira toda, muitos engenheiros viraram motoristas de Uber e a economia brasileira cada vez mais se desindustrializa. Custava a Lava Jato ser cirúrgica e punir apenas os culpados, deixando o corpo das empresas intacto (como se faz em países sérios como os EUA, a França e a Alemanha)? Haja vista que na Alemanha, por exemplo, muitas das empresas que na época colaboraram e apoiaram Hitler estão até hoje no mercado, tais como a Hugo Boss, a BMW e outras tantas.
- A Lava Jato teve seu ovo chocado graças a um aparato legal que a ela permitiria posteriormente, com a conivência da imprensa elitista, pavimentar o caminho eleitoral para a queda do PT. Nisso desempenha papel importante idéias do pseudomoralismo da elite brasileira e a influência que estas exercem até mesmo na esquerda brasileira (página 142).
- Zé da Justiça chegou a dizer em artigos de jornal, na época dos protestos que levaram à queda de Dilma, que o povo brasileiro é culturalmente corrupto e que a corrupção é generalizada no Brasil. Um prato cheio para a Lava Jato, na medida em que legitima suas narrativas (página 143-144).
- O governo Dilma enfiou no próprio ventre a faca envenenada da balela da corrupção patrimonialista criada para criminalizar os partidos populares. Com o apoio do Ministério da Justiça petista, foram criadas leis de exceção que transformaram a Lava Jato em uma máquina golpista. O golpe tornou-se questão de tempo dado a fragilidade do campo popular, desprovido de uma narrativa que fizesse contraponto ao moralismo de fancaria da Lava Jato (página 144).
Reflexão IX – Ciro Gomes, na UNE no ano passado, proferiu um discurso no qual falou como se fosse um bolsominion. Disse “o Lula tá preso, babaca” e fez coro ao moralismo de fancaria da Lava Jato ao dizer que não foi preso por ser honesto – e assim não vendo toda a politicagem que a prisão do ex-Presidente envolveu. Depois dessa, perdi todo o respeito que tinha pelo político cearense, hoje do PDT. 

Um ano antes, o irmão de Ciro Gomes, Cid Gomes, em encontro do PT no Ceará que ocorreu logo após a vitória de Bolsonaro, também disse “o Lula tá preso, babaca” e repetiu mentiras ventiladas pela grande imprensa e pela direita, como a de que o PT precisa fazer autocrítica e que aparelhou o Estado brasileiro em seu favor. Como sair do pesadelo bolso-lavajatista falando como se fosse um deles e com retóricas que legitimam as ações deles (incluindo um processo de lawfare contra os próprios irmãos Gomes), só para começo de conversa?

Reflexão X – Se a Lava Jato chocou o ovo da serpente chamada Jair Bolsonaro, o Governo Dilma, por meio de uma série de leis de exceção criadas sob os auspícios do então ministro Zé da Justiça, chocou o ovo da serpente chamada Operação Lava Jato. Portanto, pode-se que dizer que o Zé da Justiça indiretamente chocou o ovo da serpente chamada Jair Bolsonaro e que essa foi a verdadeira contribuição do PT para a ascensão de Bolsonaro ao poder, ao contrário do que grupos como a Nova Resistência, a Legião Nacional Trabalhista ou os ciristas falam.
Reflexão XI – Ainda em 2010, no ocaso do segundo governo Lula, foi promulgada a Lei da Ficha Limpa, e o único partido de esquerda que posicionou-se contrário a lei foi o PCO, para o qual tal lei não é para caçar corruptos, mas para punir, encarcerar e perseguir a esquerda. Não deu outra, pois tal foi usada em 2018 para impugnar a candidatura Lula. O que é o juiz, senão um político que veste toga, que comumente ganha salários muito acima do teto legal e que geralmente vem de famílias abastadas, por vezes até de dinastias jurídicas? É de não entender tais coisas elementares que a esquerda brasileira chegou ao ponto em que se encontra hoje.

Reflexão XII – A adesão de setores expressivos da esquerda brasileira ao identitarismo inspirado pelo Partido Democrata dos EUA, por si só, não criou as condições necessárias para a ascensão de Bolsonaro ao poder. E o mesmo pode ser dito, por exemplo, a respeito do IBOPE que apresentadores como Danilo Gentili (hoje p* da vida com o Bozo) e programas como o CQC deram a ele nesses anos todos, ou mesmo a maneira como José Padilha retratou políticos como Lula no seriado do Netflix "O mecanismo" (onde atribuiu a Lula uma fala que na verdade foi proferida por Romero Jucá). Isso tudo jogou lenha na fogueira, mas as condições para a ascensão do miliciano carioca ao poder foram criadas pela Lava Jato: primeiro, inoculando na população um ódio visceral à política e a ela atribuindo toda sorte de mazelas (em conluio com a grande imprensa, obviamente). E segundo, prendendo Lula sem provas, com clara intenção politiqueira. Portanto, a narrativa da Nova Resistência e da Legião Nacional Trabalhista é uma meia-verdade. Pois se a adesão da esquerda ao identitarismo e o IBOPE na TV jogaram lenha na fogueira, a Lava Jato jogou gasolina na mesma fogueira. A mesma fogueira que virou um incêndio e agora, ironicamente, a consome.


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