segunda-feira, 5 de junho de 2017

O atentado em Londres e a kosovização da Europa.


Foto – Hašim Taçi e George W. Bush em Washington.
Em três de junho de 2017 mais um atentado ocorreu na Inglaterra. Em Londres a ponte da capital (onde os terroristas atropelaram os pedestres com uma van) e o Borough Market (onde pessoas que estavam nos restaurantes e bares do local foram esfaqueadas) foram alvos de ataques. Saldo da tragédia: 10 mortos (sete vítimas e três terroristas) e 48 feridos. Assim como o atentado em Manchester, o Estado Islâmico também o reivindicou por meio de sua agência AMAQ.
No dia seguinte, a premiê Theresa May, em pronunciamento à imprensa após reunião com o comitê de segurança, disse que “temos que ter uma estratégia robusta. Temos que revisar a estratégia contra-terrorista no Reino Unido. Se tivermos que aumentar as penas, faremos isso. Chegou a hora de dizer: basta. Nossa sociedade precisa continuar com os nossos valores”. Ainda disse que os ataques em Manchester e em Londres não estão conectados entre si, mas mostram uma nova “onda” onde “terrorismo gera terrorismo” e evidencia que eles estão “copiando uns aos outros e usando as mais cruéis formas de ataque”.
Ora, do que adiantará aumentar o rigor da lei se a Inglaterra, a França e outros países europeus não mudar sua políticas no Mundo Islâmico? Ou seja, parar de apoiar Arábia Saudita e as outras petro-monarquias locais (algo que remonta ao século XVIII) e de se envolver em guerras de saqueio imperialistas a reboque dos Estados Unidos, como a guerra contra a Líbia em 2011? Nada, de nada adiantará. Isso é apenas atacar os sintomas de uma doença, mas não a causa. Arrancar a erva daninha que está a vista no solo, mas não a raiz que está abaixo do solo. Nada mais que isso. E quem não garante que alguns desses terroristas presos na Inglaterra eventualmente depois não serão utilizados pela mesma Inglaterra em guerras no Mundo Islâmico onde esses sujeitos cerrarão fileiras em grupos como o Estado Islâmico e a Al Qaeda contra regimes que eles queiram derrubar, tal como fizeram com Kadaffi na Líbia e que vem fazendo com Assad na Síria desde 2011? Até por que o que realmente gera terrorismo não é o terrorismo em si, e sim a política de caos e de quanto pior melhor do Ocidente no Mundo Islâmico.
Além disso, tal atentado, assim como outros que antes aconteceram e outros que ainda estarão por vir, é o sintoma do início de um processo de kosovização da Europa. Tal questão foi levantada pela primeira vez em novembro de 2008 quando Andreas Melzer, então deputado pelo Partido da Áustria Livre, durante a reunião do Parlamento europeu que a Europa futuramente possa ter o mesmo destino que os sérvios de Kosovo tiveram nas mãos de grupos terroristas como o Exército de Libertação de Kosovo durante os anos 1990 e 2000. Kosovo sempre foi uma terra pertencente à Sérvia desde os primórdios da história da nação eslava meridional, até que em 2008, por meio de um referendo (o qual teve o beneplácito do Ocidente “livre e democrático”. O mesmo Ocidente “livre e democrático” que posteriormente repudiou o referendo que fez a Criméia voltar a ser parte da Rússia em 2014), teve sua secessão em relação à Belgrado. Isso foi possível por que a população albanesa, antes minoritária, se tornou majoritária devido a altas taxas de natalidade, imigração da Albânia para Kosovo, políticas de limpeza étnica (como as expulsões de sérvios durante a Segunda Guerra Mundial, quando Kosovo era parte da Grande Albânia e mais recentemente o terrorismo promovido por grupos como o Exército de Libertação de Kosovo a partir de 1989).
Segundo dados de várias fontes (entre eles censos oficiais otomanos, sérvios, iugoslavos e austro-húngaros), a população albanesa de Kosovo em 1455 era de apenas 2%, cresceu para 30% em 1878, 50% em 1913, 70% em 1945 e 90% em 1991. Hoje em dia, quase a totalidade da população kosovar é de etnia albanesa, enquanto que os sérvios são uma minoria em vias de extinção. E não é só isso: após a secessão de Kosovo da Sérvia, os EUA lá instalaram a base militar de Camp Bondsteel, e se tornou uma das principais rotas de imigração da Península Balcânica para a Europa central, principalmente para a Hungria e a Áustria, e de lá para a Alemanha, a França, a Suécia e outros países europeus mais ricos. Obviamente, buscando melhores condições de vida, algo que o estado-máfia kosovar não pode oferecer. E junto com todo esse êxodo de kosovares Europa adentro, tradições como as vinganças de sangue viajaram.

Foto – Andreas Melzer (foto ilustrativa).
Segundo a opinião do deputado austríaco e de muitos demógrafos europeus, não apenas a Áustria, mas a maior parte de toda a Europa irá experimentar tal flagelo nos próximos 50 anos, pois ao mesmo tempo em que a população europeia nativa declina em termos numéricos, os imigrantes vindos de lugares como a África e a Ásia, por terem taxas de natalidades maiores, se tornarão majoritários em meados do século XXI. Segundo estudos do Departamento de Estatísticas do Estado Britânico, em 2066 a Inglaterra terá mais imigrantes que habitantes nativos. Mais recentemente, tal possibilidade foi aventada pelo professor sérvio Vladislav Sotirović, professor da Universidade Mykolas Romeris em Vilna, Lituânia, no artigo “Europe between Kosovization and Jihadization (Europa entre Kosovização e Jihadização)”, publicado em seu blog em 14 de março de 2015.
Primeiro o Ocidente “livre e democrático” desestabiliza o Mundo Islâmico, derruba e mata governantes como Saddam Hussein e Muammar al-Kadaffi, coloca em sua mira Bašar al-Assad e os aiatolás iranianos e cerca a Rússia e a China por meio de um “cinturão verde”. Kadaffi disse que caso fosse deposto a Europa seria flagelada por imigração em massa e o Mediterrâneo se tornaria um mar de caos. Agora que o dique de contenção foi destruído, a Europa está literalmente vivenciando o mesmo que o Império Romano vivenciou a partir dos anos 370, quando milhares de refugiados godos foram deslocados da atual Ucrânia para as fronteiras romanas após terem sido vencidos pelos hunos (os quais séculos antes tinham sido vencidos pelos chineses em uma série de guerras na Ásia Central): um novo volkerwanderung. Ou seja, uma nova grande migração de povos.
Passado um tempo esses imigrantes desesperados e ideologicamente fanatizados por seu envolvimento em conflitos no Mundo Islâmico ao lado de grupos salafistas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, em solo europeu, se organizarão em grupos que farão pressões para que se implante uma teocracia ao estilo saudita em seus respectivos países. Se nada for feito contra tal tendência, fatalmente aparecerá um Emirado do Cáucaso na Alemanha, um Boko Haram na Suécia, um Exército de Libertação de Kosovo na França, um Estado Islâmico na Inglaterra, um Front Al Nusra na Holanda ou uma Al Qaeda na Noruega. Se nada for feito contra isso, a aparição de tais grupos que vão fazer as mesmas chacinas e intimidações que o Exército de Libertação de Kosovo fazia com os sérvios de Kosovo e o Emirado do Cáucaso fazia contra os russos do Cáucaso é apenas questão de tempo. E assim crises como a que a Síria e a Líbia hoje se debatem vão se repetir e desta vez não será no Oriente Médio, no norte da África ou em algum rincão periférico da Europa, e sim em grandes metrópoles do coração da Europa como Berlim, Paris, Hamburgo, Hannover, Londres, Copenhagen, Amsterdã, Oslo, Turim, Milão, Berna, Zurique, Estocolmo, Helsinque, Trondheim, Viena, Munique, Nice, Manchester, Eindhoven, Dortmund, Estrasburgo, Liverpool, Barcelona, Marselha e outras tantas. Algumas dessas cidades que em suas áreas periféricas já têm seus guetos onde a situação é tal que nem mesmo a polícia entra, as chamadas no-go zones.
E se algum governante europeu eventualmente resolver propor-se a combater tal flagelo, que nem Slobodan Milošević[1] fez na Bósnia e em Kosovo nos anos 1990 e mais recentemente Marine Le Pen nas eleições francesas, fatalmente será demonizado e achincalhado pelos grandes meios de comunicação com porretes linguísticos tais como “fascista”, “nazista” e “racista”. Ou mesmo sofrer as ditas “intervenções humanitárias” da OTAN, como a que ocorreu em 1999 contra a Iugoslávia. A situação é tal que o prefeito de Londres, uma das principais capitais europeias, não é um inglês nativo e sim um paquistanês cujo nome atende por Sadiq Khan[2], e o atual presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou uma vez que não existe cultura francesa, e sim cultura na França. Por aí vemos que na hora em que a situação apertar, a Europa que nós conhecemos estiver na bacia das almas e atolada na lama de tal maneira que não dará mais para ser salva, como se estivesse com um câncer em estágio de metástase celular, pouca ou nenhuma resistência efetiva poderá oferecer a tal problema. Com uma elite político-econômica dessas, que não tem o menor pudor em importar centenas ou milhares desses imigrantes para usá-los como exército industrial de reserva em suas fábricas contra reivindicações trabalhistas e como massa de manobra eleitoral para que vote em candidatos que não terão o menor pudor em fazer políticas de austeridade e redução/extinção de direitos como as que Michel Temer (vulgo Conde Drácula) tem feito na Terra Brasilis, não se dá conta do perigo civilizatório em que se encontra, a Europa se encontra condenada a ter o mesmo destino que Roma teve nos séculos IV e V. Ou os europeus se livram dessa gente ou a kosovização da Europa será algo inexorável. Os últimos atentados em países como França e a Inglaterra nada mais estão mostrando que o preço do envolvimento europeu nessas guerras de saqueio imperialista já está sendo cobrado. Esse tipo de coisa, como já dito anteriormente, não se combate com pedidos de amor, paz e compreensão e muito menos cantando músicas do tipo “Imagine” de John Lennon como muitos ingênuos pensam, e sim enfrentando essa gente no campo de batalha e ao mesmo tempo denunciando a todos a histórica relação espúria do terror salafista com o Ocidente “livre e democrático”, assim como exigir que as nações europeias deixem de participar de tais guerras no Mundo Islâmico. Ou seja, tal combate não se faz com flores e corações, e sim com fuzis, espadas, lanças, baionetas, metralhadoras e bombas.
E me pergunto será que essa kosovização da Europa não faz parte da agenda de gente poderosa dentro dos círculos de poder que mandam nas nações europeias por trás das cortinas do poder, assim como do Pentágono, do Departamento de Estado norte-americano e outras altas instâncias de poder dentro dos EUA para o Velho Continente (que estão acima do presidente, diga-se de passagem), de forma a fazer com que futuramente a Europa se torne a fronteira ocidental do “cinturão verde”[3] contra a Rússia? Ainda mais levando em conta que historicamente o grande temor geopolítico das potências anglo-saxônicas sempre foi o de uma articulação entre a Europa e a Rússia?

Foto – Kosovo é Sérvia.
Fontes:
A verdade sobre Kosovo. Disponível em:
Claudio Mutti – uso ocidental do islamismo. Disponível em:
Estado Islâmico assume autoria do ataque em Londres. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/estado-islamico-assume-autoria-do-ataque-de-londres.ghtml
Kosovo – a verdade oficial e oculta (I). Disponível em:
Kosovo independence precedent (em inglês). Disponível em:
No-go area (em ingles). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/No-go_area
The real history of Zbigniew Brzezinski that the Media isn’t telling (em inglês). Disponível em: http://theantimedia.org/real-story-zbigniew-brzezinski/
Was Kosovo deliberately created as an enemy base for launching Moslems into Europe? (em inglês). Disponível em: https://www.dailystormer.com/was-kosovo-deliberately-created-as-an-enemy-base-for-launching-moslems-into-europe/


NOTAS:

[1] Leia-se “Milochevitch”. Em idiomas da Europa centro-oriental como o servo-croata, o tcheco, o eslovaco, o esloveno, o lituano e outros, as partículas š e ć tem o mesmo valor do ch e do tch no português e no francês, respectivamente.
[2] Leia-se “Rran”. Em idiomas como o russo, o mongol, o farsi e o persa a partícula kh (cirílico х) tem o mesmo som do j no espanhol e do ch no alemão: r aspirado.
[3] Idéia geopolítica norte-americana que consiste do fomento a grupos fundamentalistas islâmicos reacionários em países de maioria islâmica no entorno da União Soviética como meio de enfraquecer o país no médio e longo prazo, de forma a cercar Moscou com regimes teocráticos de estilo saudita em suas fronteiras meridionais. Um dos principais teóricos dessa ideia foi o recém-finado polaco-americano Zigbiniew Brzezinski, assessor de segurança nacional durante o governo Carter.

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