sábado, 11 de fevereiro de 2017

Os próximos anos da União Europeia.

Por Leonid Savin (Traduzido por Lucas Novaes)
Depois do Brexit e do avanço significativo da influência dos eurocéticos e dos populistas na Europa, a incerteza no rumo da União Europeia parece não ser mais questionada. Entretanto, o futuro permanece aberto e, portanto, há mais de um cenário possível.
O Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos propõe três opções para o desenvolvimento dessa situação: duas negativas e uma positiva.
Um Cenário de Colapso tem baixa possibilidade de ocorrer, mas implicaria altos riscos internacionais. Nesse cenário, empresas domésticas e as famílias respondem a indicações de uma iminente mudança no regime monetário com corrida para retirar seus euros depositados em empresas nacionais. Seguindo-se do contágio para outros estados-membros e dano econômico para os países principais, o euro seria a primeira vítima a cair. A União Europeia como instituição seria provável vítima colateral, porque o mercado único e a liberdade de movimento por toda a Europa ficariam ameaçados pela reinstituição de controles sobre capitais e fronteiras. Nesse cenário, deslocamento econômico severo e fratura política levariam a uma ruptura na sociedade civil. Se o colapso for repentino e inesperado, muito provavelmente disparará uma recessão global ou outra Grande Depressão.
Num Cenário de Declínio Lento, a Europa consegue escapar dos aspectos piores da atual crise, mas não consegue fazer as reformas estruturais necessárias. Como os estados-membros já vêm de vários anos de baixo crescimento, mantêm-se unidos para evitar maiores rupturas políticas e econômicas. As instituições da UE são mantidas, mas o descontentamento das populações mantém-se alto. O euro sobrevive, mas não a ponto de rivalizar com o dólar ou o renminbi. Dados os muitos anos de baixo crescimento econômico, a presenta internacional da Europa é reduzida; os países renacionalizam as respectivas políticas exteriores.
Nosso terceiro cenário, de Renascimento, baseia-se no padrão bem conhecido de crise e renovação, que a Europa já conheceu muitas vezes no passado. Tendo olhado diretamente na cara do abismo, muitos líderes concordam com promover um "salto federalista". A opinião pública apoia esse passo, dados os riscos iminentes que advêm de se manter o status quo. Uma Europa mais federal pode começar com apenas um grupo central de países da zona do euro que escolham, optem ou adotem política de 'esperar-para-ver'. Ao longo do tempo, apesar de haver uma Europa de várias pistas de velocidade, o mercado único ainda seria completado; e definir-se-ia uma política de segurança mais unida, com elementos reforçados da democracia europeia. Influência europeia aumentaria, reforçando o papel da Europa e das instituições multilaterais no palco mundial.
Ilaria Maselli, economista sênior para a Europa na The Conference Board (associação independente de pesquisa de negócios), propôs quatro cenários possíveis para a União Europeia:
Estagnação Continuada. Uma combinação de reforma inadequada e baixo crescimento global prolonga o clima presente. Esse cenário traz vantagens principalmente para empresas focadas na demanda doméstica, e muito do crescimento lento advém do gasto dos europeus em consumo. O investimento do setor privado hesita ante a alta incerteza política, enquanto o investimento público fica paralisado pelo medo de se separar com firmeza e para sempre, da 'austeridade' [de fato, é arrocho].
Um reset Uma combinação de reforma e crescimento global mais alto resulta num 'reset'. Sob o guarda-chuva da UE, os governos renovam seu compromisso com investimento futuro e removem barreiras comerciais. Renovam também a atenção à desigualdade de renda e de riqueza, dentro de cada país e entre os países. Ventos de popa de crescimento global ajudam a financiar o esforço, bem como a decisão de pôr fim ao quadro da 'austeridade' [de fato, é arrocho] e aumentar os gastos do estado mediante um orçamento único menos rígido. Porque muitas diferentes fontes e fatores contribuem para o crescimento, businesses de todos os setores beneficiam-se nesse ambiente. A vida é bela, mesmo que não seja igualmente bela em todos os pontos. Esse cenário exige também que um subconjunto dos 27 países mova-se na direção de uma união política.
Na corda bamba. Uma combinação de reforma institucional no nível europeu com fraco crescimento global leva a alta incerteza. A decisão de reformar vem em resposta a pressões por todo o continente, incluindo o Brexit. Resultado disso, os estados-membros e a União Europeia têm de andar numa corda bamba entre gerenciar aspirações e criar crescimento suficiente. Reformas demoram a gerar os resultados que se esperam, e no meio tempo, o crescimento da produtividade pode tornar-se mais lento. Por causa da fraca demanda externa, os gastos do governo desempenham papel substancial para estimular a economia. Assim sendo, esse cenário mais favorece os negócios do que garante o provimento de serviços públicos
Só Conversa (promessas verbais, mas nenhuma ação). Publicamente, os países não se cansam de 'promover' a integração europeia, mas na realidade encontram as respectivas fontes de financiamento fora do bloco. Nesse ambiente, negócios bem-sucedidos incluem principalmente os exportadores localizados na Europa Continental – seus empregados, fornecedores e também os acionistas. Numa combinação com reforma inadequada, a existência do Mercado Único só beneficia alguns países, enquanto a renda em outros torna-se estagnada; assim só crescem as fraturas que dividem a Europa.
Se a situação é considerada objetivamente, nesse caso os dois cenários positivos (um Renascimento, na versão dos EUA; e um Reset(na versão da UE) mostram-se praticamente irrealizáveis. As instituições políticas da UE estão tomadas por controvérsias. A burocracia não consegue dar conta dos desafios correntes, e o impacto das forças externas (por exemplo, a situação na Romênia) pode ainda desempenhar papel crítico. O evidente esfriamento das relações entre EUA e Alemanha, mesmo no plano retórico, além do colapso da Parceria Trans-Pacífico exacerbam a atual situação.
Quais são as expectativas russas e qual o prognóstico para o provável futuro da Europa? Ironicamente, a Rússia está interessada numa Europa unida e estável. Mas só há uma condição: tem de ser ator independente, mesmo sendo coletivo. Até agora Bruxelas tem sido uma das peças com que Washington joga no tabuleiro de xadrez da Eurásia. As sanções contra a Rússia, o Projeto da Parceria Ocidental, a Operação "Decisão Atlântica" [Atlantic Resolve] da OTAN – nenhum desses arranjos ou combinações são decisões autenticamente europeias.
Mesmo que se considere uma possível melhora nas relações Rússia-EUA, é indispensável alguma espécie de revisão da integração euroatlântica, para que possa haver relação de confiança entre Moscou e Bruxelas. Idealmente, a integração euroatlântica tem de ser substituída pela integração eurasiana.
Mas a Rússia deve estar preparada para o cenário possível do colapso da UE.
Nesse caso, relações bilaterais com países chaves na região têm de ser intensificadas, embora isso não signifique que as preferências se façam à custa de outras partes. Antes da imposição das sanções, o principal núcleo das relações de exportação-importação entre Rússia e a UE estava na Alemanha, Países Baixos e Itália. As novas condições dos tempos (segundo Fernando Braudel) podem alterar o equilíbrio do poder e as preferências.
Além disso, a base demográfica da UE mudou. Os problemas dos refugiados e migrantes dificilmente serão resolvidos no futuro próximo. Enquanto dentro da UE há algumas ilhas liberais, africanos e asiáticos continuarão a entrar na península europeia e a ali criar seus ghettos e enclaves étnicos. Isso, por sua vez, afetará as políticas sociais e econômicas em vários países. Como a experiência já mostrou, a assimilação baseada no multiculturalismo não é viável. Mas a liderança da UE não parece pronta a tomar quaisquer medidas radicais, por causa da natureza das culturas políticas da UE. Basta isso para levar ao poder na UE novas forças da contra as elites? No mínimo, essa parece ser a tendência. Esse cenário pode, talvez, ser alcançado mediante procedimentos democráticos.

Um comentário:

  1. A grande "pedra no sapato" me parece ser justo a questão populacional. Como não parece haver sinal algum de que Bruxelas irá parar de insistir em matar a cultura européia tanto a nível genético quanto memético, é inevitável que a população estrangeira, em especial muçulmanos, continue crescendo, com muitos valores incompatíveis com as tendências contemporâneas. Inevitavelmente políticos muçulmanos começarão a alçar o poder com cada vez maior frequências, e isso, em contrapartida, terminará por promover um aumento ainda maior da xenofobia, conflitos étnicos, eurosceptism e nacionalismo.

    Acho difícil a UE sobreviver a esse quadro.

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